31 março 2006

 

O "grito de liberdade"


A 10 de Fevereiro um pasquim execrável fazia 30 anos. Esse pasquim, o Diabo, demonstrou ao longo dos anos o pior de uma direita pestilenta. Trago-vos um excerto de uma notíca no DN na altura, polvilhada de uma história sobrevalorizada e mal contada. Desculpem-me o atraso.

"Aniversário: 'O Diabo' completa 30 anos de 'combate ao sistema'
Um grito de liberdade desde o primeiro momento em que ganhou forma às mãos de Vera Lagoa, precisamente a 10 de Fevereiro de 1976. Uma publicação de combate que se recusa a ser conotada com o sistema vigente. No dia em que completa 30 anos, o jornal O Diabo garante serem muitos os que o enxovalham, poucos os que realmente o conhecem.

«É o preço a pagar por quem insiste em fazer jornalismo interventivo, fora do circuito fechado que impede a comunicação social de se renovar», afirma João Naia, chefe de uma redacção composta por ele e mais duas jornalistas, que conta ainda com «várias colaborações de colegas» do meio. Ainda assim, sublinha, «fazemos questão de não alinhar pelo politicamente correcto. Somos um jornal de combate.»

A história d´O Diabo começa a 10 de Fevereiro de 1976, em Lisboa, pela mão da jornalista Vera Lagoa, conhecida pelas manifestações do 1º de Dezembro «que chegava a ter mais de 100 mil pessoas a descer a Avenida da Liberdade». E assumiu-se logo como uma voz «contra a corrente do PREC», até que o julgamento e retirada do título à fundadora ditaram o fim. Provisório. A 16 de Janeiro de 77 Lagoa rumou ao Porto e retomou os trabalhos d´O Diabo. Para ele escreveram Natália Correia e Fernanda Leitão, o cartoonista Cid integrou a equipa. «Mal ou bem, não temos 30 anos à toa», conclui o responsável."

Pois não.

 

Mandelay (2005)


O novo episódio da aventura brechtiana de Lars Von Trier tem de título Manderlay. Como em Dogville, um armazém na Dinamarca alberga um cenário minimalista para uma lição alegórica sobre a América. Lars Von Trier é um incómodo experimentador. Ao subverter convenções cruzando géneros, denuncia o quão ossificada e formulada a arte cinematográfica se tornou. E apesar da estrutura por capítulos, apesar de um cenário inexistente, e apesar da claustrofobia do estúdio onde se dá o enredo, a heterodoxia do filme não pesa no espectador.

É por não ferir que Mandelay é menor a Dogville. A experimentação de Von Trier torna-se meramente académica se não for condutora de violência emocional, reduz-se o incómodo. Von Trier fascina-me por ser militante antagonista da sanitização do cinema, que pretende dar ao meio a função de confortar com escapismo. Mas a narrativa deste filme não oferece o crescendo emocional, imprevisível e destrutivo de Dogville, faz-se antes de uma soma de episódios-eventos cozidos a uma reflexão distante, quase sociológica, em que as personagens não nos envolvem.

A temática é a submissão dos negros nos EUA. Seguimos Grace, que após a sua desgraçada jornada em Dogville, depara-se no Alabama com uma herdade feudal onde a escravatura não foi ainda abolida. Grace decide com recurso à forca de armas impôr sobre os habitantes da plantação, brancos e negros, uma nova ordem social. Grace redige uma constituição, dita as regras de nova economia livre e monetária, e ensina a democracia aos infantis escravos. É uma referência não tão velada às aventuras imperialistas americanas. O campo de significado político complica-se quando Von Trier releva a incapacidade e resistência dos negros em gerir os seus novos poderes. Entendemos que os ex-escravos nutrem uma atracção ao seu passado ditatorial.

Tal como Von Trier reconfigura géneros na sua cinematografia, semelhante criatividade se revela na narração politica. Mandelay ensina que o mundo não está preparado para os negros livres, que uma opressão se logo substitui por outra, e a liberdade é meramente ilusória. Temperando este saudável cepticismo está um niilismo para com qualquer mudança, qualquer engenharia das nossas sociedades. Quero interpretar este niilismo como dirigido somente a emancipações impostas e paternalistas, como a que Grace inflige à força de bala. Mas Von Trier não permite às suas personagens o mínimo desejo emancipador, algo que justificam quando dizem ao branco opressor: “foram vocês que nos fizeram assim!”

A direita vê o negro como um incapaz genético. Uma pretensa esquerda vê o negro como incapaz por imposição histórica. Em ambos os casos é um incapaz. Em ambos os casos o mundo recusa a mudança. Mas em ambos é o branco a contar a história, e o negro fala através do seu guião. Será que o dinamarquês (Von Trier), do alto da sua orgulhosa social-democracia, sabe interpretar os desejos do “outro”, dos muçulmanos, dos negros?

30 março 2006

 

CPE em inglês


Para quem não está tão à vontade com a língua francesa mas quer saber o que se passa em França nestes dias de contestação ao Contrato do Primeiro Emprego, aqui fica um site dinamarquês/sueco de solidariedade com a luta de estudantes e sindicatos.

 

A baba do camelo


O circo Berlusconi continua em campanha. A grande besta política italiana vai somando calinadas no manual dos bons modos políticos. Na sua última oferta, após ter deixado escapar num comício que acredita que os chineses comiam criancinhas, Berlusconi corrigiu que os chineses não as comem, mas cozinham-nas para fertilizar os campos.

A BBC fez uma selecção da parvoeira que pinga da prodigiosa mente de Berlusconi. Reproduzo algumas das mais notáveis...
Interrogado sobre o conflito de interesses entre ser um magnata e primeiro-ministro, respondeu: “Se eu, cuidando dos interesses de todos, também cuido dos meus, não pode dizer que há um conflito de interesses.” Continuando com o seu gosto pela história, notou que “Mussolini nunca matou ninguém. Mussolini costumava mandar as pessoas para férias em exílios internos”. Mas o prémio do grotesco vai para uma piada, oferecida num encontro de campanha: “Um paciente com SIDA pergunta a um médico se o tratamento de areia prescrito o vai ajudar. “Não” replica o médico, “mas ficará acostumado a viver debaixo da terra.””

É uma bestinha! É de um reaccionarismo que brota sem contenção. É agressivo de tão vil, estúpido, e desumano. Mas é também um sucesso. Na lista da Forbes, o ranking dos super-ricos, Berlusconi é o primeiro magnata de Itália (ou 37 da tabela mundial, com 11 mil milhões de dólares). E esgueira-se ainda para mais um mandato a primeiro-ministro. Um sistema político e económico que faz rei do camelo, e que nos entrega ao veneno da sua babugem, exige ser desmantelado.

29 março 2006

 

Eles comem tudo,...


O New York Times, citando um estudo, noticia que os EUA tem 8,9 milhões de famílias cujo património excede um milhão de dólares (excluindo o valor da residência).

Eles comem tudo,...

 

Deificação moderna


O Marcelo Rebelo de Sousa, o "Professor", já faz parte dos nossos hábitos televisivos. De tal maneira que a importância que lhe era dada diminui a cada semana - felizmente. No entanto, o culto da figura continua forte, provavelmente uma reminescência cultural dos tempos do paizinho Salazar. Pois para além da sua oração dominical, eis que vejo ontem o "Professor" a comentar o jogo entre o Benfica e o Barcelona na RTPN. A dar notas aos jogadores, como se espera de um "Professor". Um dos aspectos mais perturbadores nesta figura é a sua posição de especialista instantâneo em todas as áreas e em todos os assuntos. Mas mais grave ainda é que alguém lhe reconheça essa capacidade e lhe dê espaço para arremessar baboseiras em todas as direcções...Parece ser um caso de reconhecida omnisciência, qual deus tuga dos tempos modernos. Mas quem é que reconhece essa divindade e com que fim?

 

Checkpoint


A RTP surpreendeu. Correcção, a 2 surpreendeu. Ontem fomos premiados com um documentário israelita sobre os checkpoints, os postos de controlo que Israel coloca nas estradas que ligam a Faixa de Gaza e a Cisjordânia a Israel.

O realizador Yoav Shamir limitou-se a deixar a câmara filmar o que ia acontecendo nos checkpoints: as conversas entre soldados e palestinianos a tentar chegar a casa depois de terem ido ao médico, a tentarem visitar a irmã porque o marido desta morreu, a implorarem que os deixem passar, a pontuar a sua humilhação com shallom, na vã esperança de que as palavras em hebraico lhes abram o caminho.

Vemos jovens israelitas, notoriamente de classes mais baixas, putos a brincar aos soldados. Vingam-se da chatice da tarefa nos que passam. Gozam com velhotes que pedem que os soldados lhe olhem nos olhos, assediam raparigas a fazerem-se esquivas, deixam passar as mães mas não os filhos que nem 10 anos têm. Os homens jovens que se aproximam sozinhos têm que mostrar o tronco nu, levantando as várias camisolas que trazem vestidas.

Os soldados mal falam inglês, pouco sabem de árabe. Se queres passar, hebraico deverás falar.

Mas o que impressiona é que percebemos que a câmara é um actor na cena. Muitas das vezes em que a coisa está a azedar, há um soldado de patente superior que se aproxima do soldado que não quer deixar passar um palestiniano ou um israelita árabe, sussurra-lhe brevemente ao ouvido, e este durante mais uns segundos faz-se difícil mas lá deixa passar a pessoa.
Há um soldado que pede a quem filma que não o deixe ficar mal, que antes faça os oficiais ficarem mal vistos. Outro que diz que deixou passar o palestiniano porque ele disse que era a véspera do casamento, tinha que passar por causa dos preparativos da festa, pelo meio explicou que esse era o costume do seu povo.

Outros nem esse pudor têm: declaram abertamente que os israelitas são melhores, que são pessoas e os outros animais. Sem tirar nem pôr.

Uma das cenas finais mostra na perfeição o papel que o registo da câmara desempenha: os palestinianos entendem a arma que têm por uns momentos, ignoram os soldados que disparam para o ar, e avançam para onde quer que queiram ir. Estes entendem que nada podem fazer, e deixam as pessoas ir.

E se a câmara não estivesse lá?

28 março 2006

 

Demokratia


O que se passa neste momento em França e os relatos que ouvimos pela comunicação social vêm mais uma vez mostrar quão distorcida está esta ideia que nos tentam passar de democracia. A burguesia cilindra-nos constantemente com a ideia de que manifestações são erradas, deselegantes e não levam a lado nenhum. Paralelamente, o maior horror da burguesia reinante sempre foi que "o poder caia rua". Como aconteceu na Revolução Francesa em 1789, como aconteceu na nossa Primeira República, como aconteceu por momentos em 1974. Dizem então que se o poder cai à rua, não se sabe quem o agarra. É a reacção de quem vê o rebuçado a ser levado. O valor do poder no povo está na capacidade de retirar o poder que condicionalmente cedeu a alguém sempre que quiser. Portanto, se quem agarrar o poder não for quem o povo quer, ele cairá novamente. Podemos chamar-lhe o determinismo do poder do povo.
A manifestação é a forma maior de política, é a expressão fundamental do poder político assente no povo. Por isso é que a burguesia detesta manifestações, são demasiado democráticas...

 

RTP


A apresentação da nova grelha da 2 mostra o nível duma boa parte da classe dirigente e o despudor com que o apregoam.

"Referência "gay" incomoda Almerindo

Quando falava das futuras propostas da 2: para o late-night (horário depois das 23.30) o subdirector do canal, Bruno Santos, apresentou a série The L Word (Mundo Lésbico) como futura aposta do canal. Mas mal pronunciou a palavra "gay", o presidente do Conselho de Administração da RTP, Almerindo Marques, interrompeu dizendo "isso não ponham". Paula Moura Pinheiro tentou amenizar a situação mas o mal-estar foi indisfarçável na sala de administração da televisão pública. A referência "são gays mas são lésbicas" terá aligeirado o clima e Bruno Santos prosseguiu a sua exposição. No entanto, Almerindo Marques acabou por deixar a conferência de imprensa (...) antes do seu final, dizendo que a sua atitude não tinha a ver com o episódio. " Cá para mim foi mas é preparar o video...

 

Tweedle Dee, Tweedle Dum


Duas pequenas notícias no DN de hoje revelam a loucura instalada e tolerada de Bush e Blair.

"Num encontro na Casa Branca, a 31 de Janeiro de 2003, o Presidente americano, George W. Bush, informou o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, de que estava determinado a invadir o Iraque mesmo sem resolução da ONU e sem provas da existência de armas de destruição maciça. A informação foi avançada, ontem, pelo jornal americano New York Times."

"(...) Em maré de confissões, Blair admitiu que os EUA podem ser "um amigo difícil", mas considerou que o anti americanismo existente na Europa é uma "loucura"." Será mesmo que lhe resta ainda alguma réstia de credibilidade?

 

César das Neves, o travesti


“Algo vai podre na intelectualidade portuguesa.” A traição que assombra este Hamlet foi perpetrada por uma classe académica, e o seu crime é perpetuar o nosso pasmado provincialismo.

Quis saber como descrever os intelectuais portugueses e a sua vassalagem às grandes obras do pensamento anglo-saxónico. A minha primeira hipótese foi que os intelectuais lusos são caricaturas. Mas a caricatura tem funções educativas. Ao sublinhar expressões, e características físicas, o lápis do caricaturista parece revelar uma personalidade escondida. O caricaturista sugere algo de novo sobre o seu objecto, descobre, inventa. Os intelectuais portugueses decalcam, não caricaturam. O que pretendem é uma reprodução fiel do objecto mas oferecem só uma copia barata e sem forma.

Assentei que talvez sejam transformistas, como num show vestido de Marilyn Monroe e bambolendo ao som de uma asmática gravação da voz da actriz. João César das Neves escolhe como a sua Marylin Monroe, o economista Milton Friedman – Prémio Nobel da Economia, sumo-sacerdote do movimento Monetarista e neo-liberal. Até o título das crónicas de César das Neves é decalcado das séries do "grande homem" para a Newsweek. É um plágio que ninguém protesta porque ninguém quer saber dos tugas. É um decalque que vem com três décadas de atraso, sendo argumentos esgrimidos nas lutas ideológicas dos EUA-RU nos anos 60 e 70. Como a defunta Monroe, é um defunto liberalismo. César das Neves veste a peruca, e abana umas penas para ensaiar a ilusão espectular, mas nunca cobre totalmente um outro que acena por detrás dos enfeites. A espreitar por entre a pretensa sofisticação anglo-saxónica está um paternalista católico, de ténue e encolhido liberalismo. Indo mais longe com a metáfora, deduzo que o Diário de Noticias, o palco para o show César das Neves, só pode ser um cabaret. Eis uma teoria social com promessa...

27 março 2006

 

The Man in Black


Não há muito tempo, fez-se aqui um comentário ao filme sobre o Johnny Cash. Por o ter visto, e por o seu percurso me ter impressionado, tenho-me dedicado a ouvir as músicas dele até quase à exaustão.

Se por um lado, Cash escreveu sobre a vida comum das pessoas comuns, as suas amarguras e alegrias, por outro foi mostrando também como isso reflectia as suas ideias, pontilhadas aqui e ali por referências de cariz religioso mas acima de tudo de uma humanidade imensa.

A sua imagem de marca foi o preto da roupa. Aqui fica a explicação, que creio ser um reflexo bem claro de quem foi Johnny Cash.


 

Roubados mas orgulhosos


Vem este post como aperitivo para alguns que se hão-de seguir. Não tendo tempo para mais, venho só picar nalguns pontos (e com sorte sai um picotado decente)...

A inclusão do Belmiro de Azevedo na lista da Forbes serviu de razão para um certo orgulho nacional, contido em alguns campos, é verdade, mas é um orgulho que vai correndo maneirinho na cabeça de muita gente. Parece que tal inclusão deveria servir de motivo para algum regozijo, algo como o fenómeno "Mourinho", o de termos alguém a jogar alto e bem. Acredito que muitos regozijem pelas razões certas, outros pelo provincialismo de ter um português em qualquer lista que seja. Outros por pensarem que tal fenómeno é um bom sinal da nossa economia. Mas ninguém entra na lista da Forbes por ajudar uma economia ou criar emprego. Na verdade, se formos fazer a aritmética de contar os postos de trabalho existentes antes da agregação de qualquer empresa a esse Império, é fácil ver um gordo "menos" à frente de um não menos gordo número. E as empresas que foram criadas, fossem divididas para fora do Império, iriam criar mais emprego. O efeito nos salários é igualmente inverso. A criação de monopólios ou de impérios económicos, e especialmente a subserviência artificial dos estados a esses poderes leva a uma diminuição do poder de compra, favorecendo ainda mais o desempenho desses montros. Pode-se argumentar, "mas pois claro, trata-se da competitividade". Mas Belmiro é o único a tirar dividendos dessa competitividade.

O círculo está montado, quanto mais competitivo é o Império, menos irá esse Império empregar ou pagar pela força que conta nos seus quadros. E mais irá subir Belmiro na lista da Forbes, porque o copo nunca transborda, só cresce.

 

Na praia plantados


Portugal é um país asfixiado pela insularidade. Quando nos vemos no mapa viramo-nos de frente para o imenso oceano, e com costas para a vizinha Espanha. Se somos europeus é por imposição interesseira das nossas elites, que se fornecem na União com uma perfeita chantagem e suborno para perpetuar o nosso atraso social. Com cândida franqueza, não queremos saber do que se passa por fora e até adormecemos das lutas cá de dentro.

Por sermos uma ilha na Europa, e no mundo, quando contemplamos o “outro” ficamos deslumbrados. Em transe de espectador ouvimos os relatos das guerras no Médio Oriente, ou dos combates em França, ou das “grandes tendências” culturais e sociais das metrópoles. E somos divididos entre os que temem em pesadelo, e os que sonham em fantasia que estas convulsões um dia cheguem à nossa pacata ilha. Como naúfragos sonhamos com a viagem a esses mundos distantes mas cremos não ter jangada para o trajecto. Entrentanto, vamos sonhando de pés enterrados na areia.

Portugal tem que esquecer as suas fronteiras. Portugal tem que se perder de si num grande passeio. Eis uma nova palavra de ordem: deambular!

25 março 2006

 

Sopa política


Fazem três décadas sobre o golpe militar na Argentina que ao longo de sete anos matou mais de 30 mil pessoas, ainda hoje desaparecidas. A par da inauguração de placas nomeando as vítimas e a par das ocupações de fábricas pelos trabalhadores, vão acontecendo na Argentina outros episódios de que há muito não ouvíamos falar. Abriu recentemente uma cozinha comunitária para dar pão, sopa e cozidos aos pobres. Aonde? Mesmo em frente dos restaurantes mais caros e hotéis de luxo de Buenos Aires. O objectivo não podia ser mais claro. Tal como está escrito à porta do centro comunitário: lutamos por uma Argentina onde os cães dos ricos não comam melhor do que as crianças dos pobres.

24 março 2006

 

Esquadrões da morte


A notícia tem mais de um ano mas a verdade é que nunca se ouviu nada sobre isto no lado europeu do Atlântico.

“Isto” é o uso de esquadrões da morte no Iraque, treinados por forças especiais americanas, à laia do que foi feito em El Salvador. O seu principal objectivo seria acabar com a resistência sunita (como se a resistência fosse de um grupo religioso) treinando grupos curdos e xiitas.

As suspeitas sempre foram mais que muitas. Aliás, certezas também as há, não fosse o perpetrador quem fosse. Há muito que vem fazendo outras patifarias como mostra o seu longo historial de opressão de povos inteiros a seu bel-prazer com o fim único de assegurar os seus interesses fora do seu território.

 

Vemo-nos em Paris?



23 março 2006

 

Sem ânimo


O diagnóstico à saúde da economia mundial é um convite a negligência, qualquer examinação fracassará numa descrição parcial e pouco iluminada do organismo económico. Conhecemos só as apalpadelas, toldados pela vastidão da aldeia global e pelas escolhas indeterminadas dos seus ocupantes, mas sobretudo pela falta de uma economia politica que abandone a gestão do nacional para pensar no global. Reflexo da confusão é que as categorias clássicas de “expansão”, “recessão”, “depressão” vão perdendo significado.

Em 2001 tivemos uma vocalmente proclamada crise mundial, uma “recessão”, as cotações bolsistas escorregaram em todas as praças financeiras, o desemprego acresceu com as quebras de produção em todos os países, até o tirano Dólar desvalorizou-se face ao estreante Euro.

A recessão foi de curta duração. Em 2003, por propaganda da reserva federal Americana como por realidade do crescimento industrial na China e na Índia, as grandes economias mundiais retomaram passo. Em 2003 foi também o inicio da guerra do Iraque, que injectando milhares de milhões de dólares na indústria de armamento e nas logísticas securitárias aliviou as queixas da economia Americana. Outro efeito talvez não tão agradável para o negócio industrial mas que entusiasmou os jogadores financeiros, foi a especulação no preço do petróleo, a combatividade de Chavez na Venezuela, a resistência no Iraque, a determinação do Irão, sugerem aos analistas que o fornecimento do petróleo nem à lei da bala é garantido.

Estas foram as notícias que se reportam, os sintomas do organismo económico. Mas o ocorre nas entranhas, das mutantes bioquimicas que se recombinam, pouco ou nada sabemos. Porque é esta retoma tão frágil? Os EUA continuam com um dólar enfraquecido e um crescimento irrisório, inscrevem recordes por ser tão diminuto. A guerra de ocupação demora a se auto-financiar, tão cedo os iraquianos não saldarão os empréstimos e contratos impostos pelo ocupante. O astronómico défice orçamental dos EUA, impede uma politica económica expansionista ou uma politica social que estanque as feridas da desigualdade social. Mesmo o gigante Chinês da sinais de fraqueza, com crescendos inflacionários a exigir um ataque aos sectores agrícolas, em busca de mercados e novas rentabilidades e assim abrindo a economia chinesa na sua totalidade ao Capital mundial. Os avanços e recuos abruptos da história económica dão lugar a lentas recuperações, e mais longas recessões, enquanto a lista dos bilionários se estende, e se consolidam grandes grupos económicos. Eis o meu diagnóstico: a economia mundial padece de um parasita, que imperceptível na sua lenta acção vai se nutrindo cada vez mais saudável e dominante, enquanto o corpo da multitude se cansa febril.

22 março 2006

 

Contabilizar o desperdício


A grande notícia dos “mercados” é uma queda acentuada das cotações das empresas de tecnologia. Segundo os analistas trata-se de uma resposta ao anúncio da Microsoft de que o seu novo sistema operativo - Vista, será publicado em Janeiro de 2007, três meses depois da expectativa inicial de Novembro de 2006. O breve atraso implica que o novo sistema operativo não estará nas lojas a tempo do Natal.

O lucro desta indústria faz-se da obsolescência, dos produtos que vendo a garantia terminada se desmembram em defeitos, e do fascínio da novidade, em que vão pingando pequenos e fascinantes acrescentos. Sem o chamariz do novo sistema operativo, os mercados prevêem um Natal magro, ‘tadinhos...

 

Aves raras


Já não é a primeira vez que se ouve falar neste grupo de judeus ultra-ortodoxos anti-sionistas. Sim, leram bem: ANTI-sionistas. Consideram que Israel não deveria existir antes da vinda do messias, e por isso auto-proclamam-se palestinianos.

Aqui fica uma notícia que talvez valha a pena acompanhar: o seu apoio ao governo palestiniano formado pelo Hamas.

21 março 2006

 

Lisboa contra a guerra


A concentração em Lisboa pelos três anos de ocupação, três anos de resistência no Iraque foi fraca. Encheu talvez meia-lua do largo de Camões e ao fim de duas horas o pessoal dispersava. O PCP enviou para o palco uma jotinha com um discurso colado com cuspo. Só disse banalidades e repetiu umas duas vezes que estávamos ali pelo trigésimo aniversário da guerra. Ou eu estava distraída ou os militantes do PCP não traziam uma única faixa, só bandeiras do partido, o que me leva a pensar que o partido comunista português não tem nada a dizer sobre a guerra. A concentração valeu pelo poema “Vão-se embora” de um poeta palestiniano que o Zé Mário Branco declamou.

Ao fim da noite, no telejornal que ignorou a concentração, uma reportagem merece nota. Um jornalista português no Iraque contou que, falando com uma família iraquiana, lhes perguntou se a ocupação tinha valido a pena. Responderam mais ou menos isto: “Os americanos só trouxeram duas coisas boas para o Iraque, os telemóveis e a internet. Levem os dois de volta e tragam o Saddam”. Não acredito que a maioria dos iraquianos apoiasse e defendesse Saddam há três anos atrás, mas acredito que, face ao terror em que agora vivem, o regime de Saddam seja um mal menor comparado à ocupação americana e britânica. Para os iraquianos este é o pior dos mundos.

 

Cães de guarda com pouco equipamento


Há pelo menos um partido preocupado com a insegurança dos nossos policiazinhos, os quais enfrentam “grandes dificuldades no cumprimento das suas missões, decorrentes de gritantes carências em matéria de instalações e equipamentos”. Assim, propõem a aprovação de uma Lei de Programação de Investimentos das Forças e Serviços de Segurança, de forma a racionalizar o investimento nesta área (p.e. evitando o pendor do reequipamento para missões no estrangeiro). Tal é noticiado no DN de 17 de Março.

O Porta-voz deste partido lembra a simpatia do ministro da Administração Interna, a jóia do António Costa, por uma lei deste género. Não tenho dúvidas que António Costa queira ver as polícias melhor equipadas. Para além do mais quando lhes dá ordem para matar. Esqueci-me de mencionar que o autor do projecto de lei referido é o Partido Comunista Português.

E assim vai a política em Portugal.

 

A cínica fobia do racismo


Assinala-se hoje o Dia Internacional contra o Racismo. As nossas televisões apressam-se a chutar estatísticas (parece que somos o quarto país mais racista da UE, e não dizem quem são os primeiros), e a correr para a rua entrevistar o transeunte incauto. E daí me surge uma questão, levantada por uma entrevista a um cidadão negro que se insurgia contra o facto de os colegas de trabalho o tratarem frequentemente como "preto" em vez do Manuel como atestaria o B.I.: racismo não é o reconhecimento da diferença, é a actuação sobre essa diferença. Não se pode falar de racismo por se chamar alguém de preto, indiano, judeu, árabe ou muçulmano. A diferença existe e deve ser saudada. O que é óbvio é que associada a estas expressões existe normalmente um intuito perjurativo, e não contesto sequer que o dito entrevistado não tivesse razões para se dizer vítima de racismo, mas os excessos são também frequentes. Lembro-me de ler (ou ver) recentemente um caso de um casal que num restaurante (creio que nos EUA) havia sido classificado pela empregada que os atendera como "o casal judeu". Tinha usado essa classificação para identificar a mesa, e isso apareceu na conta que entregou ao cliente. O casal sentiu-se ofendido, protestou e acusou a empregada de racismo. A questão é, foram maltratados? O serviço foi diferente do que o que tiveram os outros clientes? Este cínico tabu da diferença é podre e falso. A assumpção da diferença só é considerada racismo porque se continua a recear essa diferença. E esse parece-me um sinal de imaturidade ou de cinismo social.

 

Propriedade intelectual da tortura


No Verão de 2003, primeiros meses da campanha iraquiana, o embaixador britânico no Uzbequistão, Craig Murray, foi afastado do posto. Meses após a demissão, os argumentos do governo de “conduta indecorosa” por parte do embaixador foram perdendo credibilidade, ao juntarem-se a outras mentiras com que a campanha EUA-RU contra o terrorismo se fora fazendo. Murray foi despedido por ter denunciado repetidamente, desde 2001, que a CIA estava a obter as suas informações sobre os movimentos islâmicos na região através da tortura de dissidentes. Embora o embaixador não dispusesse de provas da participação directa de agentes da CIA nas interrogações, conseguiu confirmação por parte dos seus colegas americanos de que as informações recebidas (e depois utilizadas nos memorandos do Departamento de Estado Americano) eram obtidas sob tortura pelas agências de segurança Uzbeques. Como bom funcionário publico, Murray lamenta que estes procedimentos distorcem a realidade política do Uzbequistão, catalogando de islâmico ou Al Quaedista forcas de oposição pró-ocidentais da simpatia do embaixador.

Mais interessante e consequente neste episódio é tratar-se de mais uma evidência de que a “guerra contra o terrorismo” assenta no terrorismo. É com o terror da tortura que a justificação falaciosa para o pânico global, de um islamismo omnipresente e expansionista se fabrica. E depois vemos os Jack Straws e as Condoleeza Rices deste mundo imaculados, com um sorrir de dentes alvos. Estes, quando interrogados sobre as origens das informações que perfazem os seus dossiers de guerra, não comentam ou respondem que “não instigam a tortura”. Com o re-frasear sofista da questão - não instigar não significa que se rejeite ou desaprove - julgam-se ilibados do crime.

A última táctica de intimidação a que o governo britânico recorre para calar Murray, é de reclamar todos os memorandos a que este teve acesso, copiou, e agora quer publicar em livro, como propriedade intelectual da Coroa Britânica. Estabelecendo uma analogia entre o funcionário público e um programador de software, o governo britânico argumenta que o saber adquirido na função diplomática deve pagar direitos de propriedade (chorudos e proibitivos) pré-publicação. Assim se pretende intimidar a editora do livro, o que parece estar a resultar numa dose substancial de auto-censura sobre a edição desta história. Trata-se da propriedade intelectual sobre o conhecimento da tortura, a privatização da verdade, porque a mentira não paga alfândega e compra-se e vende-se barata e sem taxas.

 

Baghdad

20 março 2006

 

O verdadeiro movimento sexy



 

Movimento sexy...


Parece afinal que a música foi feita à medida para um slogan do CDS/PP. Pois vem o deputado Pires de Lima afirmar que o partido deve tornar-se "mais sedutor e sexy". O que significará isto? Estará o deputado a transferir os seus desejos ou frustrações pessoais para a vida partidária? Ou deveremos esperar ainda mais demagogia "sexy" da nossa direita, baseando-se ainda mais em preconceitos do que em reflexão?

17 março 2006

 

Bolsa recheada


Diz a TSF hoje que a bolsa portuguesa tem transacionado nos últimos dias uma média de 300 milhões de euros. O ano passado a média era de 130 milhões de euros diários.

Miguel Ataíde Marques, presidente da Bolsa de Valores de Lisboa, não consegue esconder a satisfação.

Eu, por outro lado, não consigo deixar de mostrar a minha indignação perante os lucros fáceis das trocas financeiras que não revertem para a riqueza nacional.

 

Luto


Os blogs íntimos não me entusiasmam. Vejo o meio blog como um espaço público, adequado à performance e à política. Daí que envergue uma máscara para desarmar qualquer análise pseudo-biográfica do que escrevo. Neste post faço uma pausa no auto-domínio do que deixo ver de mim, preciso dar um grito através da máscara.

A minha avó morreu. Deu-se em mim uma mudança que mal entendo. Não são as lágrimas de tristeza e raiva ou as memórias que magoam porque não podem ser revividas. É um terrífico eco que me ressoa no peito como se algo tivesse sido arrancado.

Penso que talvez me tenham levado a meninice, é que agora já não ficou mais ninguém que me chame de neto.

16 março 2006

 

Iraque em Lisboa (continuação)


Na sessão referida em Iraque em Lisboa mais coisas foram ditas. Fica aqui o registo do que consegui tomar nota a partir das várias intervenções, incluindo a de Al Kubaishi.

Para que conste:
- em Julho de 2005 estavam contabilizados 220 mil mortos civis (a administração americana não faz esta contabilidade);
- foram lançadas em solo iraquiano 3 mil toneladas de urânio, o que é 126 mil vezes o poder radioactivo da bomba atómica lançada sobre Hiroshima. Os níveis de radioactividade resultantes perdurarão por 4500 milhões de anos (a idade da Terra), e estão esperados mais 25 milhões de cancros;
- há esquadrões da morte apoiados pelos EUA e por Israel que já mataram 350 professores e intelectuais iraquianos. Mais de 1000 foram assim obrigados a sair do país;
- conhecem-se 82 mil presos nas prisões do Iraque, entre eles 400 raparigas da resistência;
- há mais de 11 mil presos em prisões das bases militares ocupantes (são ao todo 29 mas os media só falam em Abu Graib, na do aeroporto e ainda numa outra terceira);
- 70% da população activa encontra-se desempregada, o que explica que muitos jovens vejam como única saída o alistamento na polícia, mesmo contra o seu próprio povo;
- dezenas de jovens com 12-16 anos de idade iniciaram a resistência, a qual compunha-se de 100 mil pessoas em 2004, ascendendo agora a 300 mil pessoas;
- foi dado um exemplo da falta de escrúpulos dos ocupantes: pretendendo chegar a uma casa em particular, destruíram 169 outras casas que encontraram pelo caminho...
- actualmente, nenhum jornalista pode entrar em Fallujah, americano ou não. As pessoas de Fallujah têm um livre-conduto. Se saírem da cidade sem ele não as deixam voltar a casa;
- há 2 milhões de famílias a ganhar menos de $5 por mês. Esta informação consta de um relatório do Ministério do Trabalho iraquiano.

Há ainda uma questão que achei particularmente importante e que foi mencionada pelo presidente da Aliança Patriótica usando mais ou menos estas palavras: "as forças ocupantes devem não só desocupar imediatamente o Iraque mas também indemnizar o país pelos danos causados e pedir desculpa ao povo iraquiano".

No final da sessão foi projectada uma reportagem/documentário da RAI sobre o ataque a Fallujah.

 

Não é nenhum Maio de 68, mas...



... vale a pena seguir. A reacção ao liberalismo de Villepin junto com a opressão de Sarkozy. Mesmo que os temas sejam diferentes e os estudantes que se lançam às ruas tenham outros objectivos, faz bem aos olhos ver os "vampiros" a tremer...

15 março 2006

 

A fingir de esquecido


Hoje, de semblante grave e ameaçador a União Europeia, e notavelmente o Reino Unido, olha com censura para a destruição com que os palestinianos visitam os gabinetes da União Europeia em Gaza.

Ontem, virou a cabeça para que Israel atacasse e humilhasse a soberania palestiniana, num sequestro a uma prisão, que deixou mortes e ruínas. Como ontem estavam distraídos talvez não tenham percebido que os palestinanos atacam o Reino Unido por ter aceite ser cúmplice da agressão Israelita.

 

Iraque em Lisboa


Tivemos no passado sábado, dia 11, a oportunidade de ouvir o Presidente da Aliança Patriótica Iraquiana, Al Kubaishi, em Lisboa, na Casa do Alentejo. Por entre toda a riqueza de uma visão de alguém que está lá dentro e que faz uma análise política da situação, por entre os relatos da barbárie dos atentados e das represálias desumanas das tropas ocupantes, houve algumas informações que se destacaram:
- A presença da Al-qaeda, Al Zarqawi e outros grupos exógenos é pequena, reduzida a cerca de 400 indivíduos, segundo as estimativas da Aliança Patriótica;
- A resistência iraquiana, aquela que está verdadeiramente a resistir à ocupação, conta já com cerca de 400 mil membros organizados;
- Diariamente, a resistência organiza pelo menos 150 ataques contras as tropas de ocupação, chegando por vezes aos 300;
- A divisão entre xiitas e sunitas é totalmente artificial. Segundo o orador, todas as tribos do Iraque têm uma mistura dos dois, sendo esta divisão estimulada pelos ocupantes e pelo governo, forjando até os ataques aos símbolos religiosos de cada um (estratégia em tudo idêntica à usada na Jugoslávia para justificar a agressão e divisão de acordo com os interesses ocidentais);
- Há provas do uso de armas químicas pelos ocupantes, nomeadamente fósforo branco e MK-77 (semelhante ao napalm), que têm a brutal capacidade de incinerar os tecidos vivos, deixando as roupas intactas.

Algo que transparecia da fala de Al Kubaishi, mesmo sem perceber o que dizia, já que falou na sua língua havendo na sala um tradutor, era uma profunda revolta e inconformismo com a ocupação, e a absoluta certeza de que os iraquianos venceriam. A evolução da situação parece estar a dar-lhe razão.

No meio da batalha da propaganda, a dúvida é sempre a melhor companheira de uma mente crítica. Ainda assim, não é difícil aceitar as afirmações feitas em Lisboa, sobretudo se pensarmos no muro de mentira que os ocupantes e a comunicação social ocidental ergueram à volta desta (e doutras) guerra.

14 março 2006

 

A preocupação


Aquando da publicação de novas legislações é frequente ver partidos políticos, organizações sindicais, associações de cidadãos ou estudantes questionarem com cepticismo (muitas vezes de forma fundada) as alterações introduzidas.

Nas últimas semanas, com a proposta de uma nova lei de regulação da comunicação social, vemos os jornais, rádios e outros orgãos, tantas vezes crédulos, reagirem com bastante desconfiança. Quando chega a sua vez, parecem não dar o benefício da dúvida aos nossos "sérios" governantes.

Assim, foi interessante ver a entrevista do "Diga lá Excelência" a Augusto Santos Silva. O governante foi entrevistado por Graça Franco e José Manuel Fernandes, bastante cépticos quanto às eventuais interpretações da lei.

Parece que o fogo queima mais quando é o nosso rabo...

 

Novo crime israelita


As forças militares israelitas atacam a prisão Cisjordana de Jerico. A prisão da autoridade palestiniana encerra o líder da Frente Popular para a Libertação da Palestina, Ahmed Saadat. O líder militante é acusado por Israel do assassínio em 2001 do seu ministro do turismo, Rehavam Zeevi, um extremista de direita, acto cometido em retaliação pelo assassinato do anterior líder da FPLP, às mãos do estado sionista. Israel ataca o complexo prisional com o objectivo de raptar o prisioneiro, e entretanto já levou a vida a guardas prisionais, dos prisioneiros ainda nada sabemos. Zeevi recusa-se a abandonar a sua cela e a entregar-se a Israel, o desfecho adivinha-se trágico.

Como podemos esperar paz no médio oriente quando estes abusos se repetem impunemente? Israel não reconhece qualquer soberania aos palestinianos. O estado israelita de tanques e aviões em riste rapta e assassina sem mero esboço de justificação. Vergonhoso é que os observadores dos Estados Unidos e Reino Unido que por acordo deviam também vigiar a prisão, se ausentaram de imediato para que Israel faça a sua agressão sem testemunhas oficiais. Por dá cá aquela palha, os direitos dos palestinianos inscritos nos “acordos de paz” são prontamente violados.

A resposta só pode ser uma: Gaza incendiou-se e por todos os territórios ocupados os palestinianos levantam-se em revolta. Este é um povo que por mais agredido não se colhe, jamais se submete, de novo a Intifada!

 

A origem do ultra-liberalismo


Temas historiográficos têm animado as mais recentes discussões aqui n’ obitoque. Interrogamo-nos: que explicação é dada na história curricular à tomada de poder de Oliveira Salazar? que justificação se propagandeia na televisão portuguesa para o colonialismo luso? Abandonando o nosso cantinho de temáticas nacionais, quero me referir a uma historiografia estrangeira, Americana.

Quem ler o que vão escrevendo os académicos progressistas sobre a história intelectual e social Americana, encontrará um tema omnipresente: a guerra-fria. Estes são classicamente estudos históricos de uma comunidade intelectual (economistas, climatologistas, biólogos…) que se secciona em controvérsia e combate institucional. A guerra-fria serve de incontornável contexto, exógeno, pré-determinado, que invade a comunidade e que a fractura.

Nem tudo o que está em oferta, é convincente. Há um vício de moda intelectual nestas contribuições, como se atribuir a causalidade à dinâmica da guerra-fria dispensasse discussão, ou análise dos detalhes, dado o volumoso consenso em torno desta explicação. Mas esta historiografia tem dois grandes méritos. Primeiro, previne-nos de esquecer o escaldante domínio que a guerra-fria teve sobre a nossa história recente. É demasiado frequente a vontade de impor sobre o passado a imagem uniforme que temos do presente, e esquecer que há quatro décadas o futuro do capitalismo estava em dúvida, dadas as lutas de autodeterminação no terceiro mundo, e revolta operária e estudantil no primeiro mundo. Nesses tempos também havia terror mas era de outra ordem, não afligia os tripulantes de aviões e comboios, mas os magnatas do imperialismo.

O segundo grande mérito desta historiografia é apontar-nos que o presente não tem um passado muito distante. O inverso de querer fazer o passado à imagem do presente, é igualmente falacioso, querer fazer do presente a herança de um passado milenarmente profundo. É o que ouvimos nas litanias neo-liberais que atribuem para si o prestígio de uma longa tradição intelectual, que viaja do iluminismo escocês do Adão Smith passando pelo austrianismo de Menger, von Mises e Hayek até chegar ao presente. A atribuição é absurda, como movimento intelectual o libertarianismo de direita é uma invenção nascida da crise do capitalismo nos anos 60-70, quando este temia pela vida. Este novo edifício intelectual foi edificado estrategicamente como uma utopia para sarar a crise interna (económica) do capitalismo Americano e como forte com o qual se recolher contra o ataque externo (a guerra fria, e a esquerda). É este o correcto contexto dessa “nova ciência social” que com 30 anos de atraso vai chegando Portugal, via os blogs vedeta da direita.

O conservadorismo torna-se libertário, veste-se com a ficção de estar a propor um novo modelo civilizacional, quando de facto o programa pouco mudou – a privatização total nossa existência social. Assim se entende como os neo-conservadores são o braço militar dos neo-liberais, nasceram do mesmo parto, são gémeos falsos, cuja paternidade não é o liberalismo escocês, mas o cavernoso imperialismo de Richard Nixon.

13 março 2006

 

A segurança em boas mãos


Os Norte-Americanos não se cansam de enunciar os esforços no aumento da segurança no Iraque e na transferência de parte do poder militar para o Governo colaboracionista Iraquiano.

A VI Divisão do Exército, composta por dez mil homens e a mais bem equipada do país, está encarregada de garantir a segurança de Bagdad. Quanto ao seu chefe, o general Mubdir al-Dulaimi, foi morto segunda-feira (dia 7) por um sniper.

Assim acontece no Iraque…

 

Caridadezinha


O suplemento aos idosos carenciados tem sido um dos trunfos apresentado pelo Governo “socialista”. Recentemente, Sócrates referiu-se a este suplemento como a “maior operação de combate a pobreza desde o Rendimento Minimo Garantido”.

Na discussão no parlamento a Direita centrou as suas críticas no excesso de burocracia do procedimento. A esquerda preferiu atacar a demagogia da medida, denunciado a lógica de caridade em vez de aumentar as pensões mínimas. Também o Bitoque já dedicou alguns mimos a esta medida.

Sendo que a pobreza atinge muitos idosos esperava-se com ansiedade novidades. Segundo os últimos números estima-se que os beneficiários desta medida (já de si pouco mais que insignificante) sejam apenas 613! Quanto ao pouco Socialismo que havia já deve ter ido pelo cano abaixo ou ir mesmo em Alcântara...

12 março 2006

 

Enriquecer com a crise


O capitalismo rege-se pela violência da nossa expropriação - sobrevivência com alimento ou assistência medica, mobilidade, educação, até informação sobre o mundo que nos rodeia tem de ser adquirida em troca da nossa força de trabalho. A acrescentar à privatização totalitária da nossa existência que nos aprisiona numa vida de escolhas impostas, há ainda as cadeias subtis da ideologia, que nos convencem a celebrar a nossa miséria.

Portugal vai-se afundando na crise económica que começou em 2000-2001, mas o resto do mundo parte à boleia do crescimento do Oriente (China e Índia) e da retoma da praça financeira Americana. Ouvem-se suspiros de alívio perante um novo momento de fulgor macroeconómico. Perdoem se não partilho o entusiasmo, mas conhecendo a história económica recente não conto ser incluído nas benesses destes novos ventos de progresso. No último quarto de século, crescimento jamais significou aumentos substanciais dos salários reais.

Fazer nota do optimismo sentido pelos investidores não chega para o jornalismo económico internacional, é preciso coroar com pompa (e regularidade) os novos senhores da economia mundial. Esta função cabe por costume à revista Forbes. Este ano fomos surpreendidos por um vasto número de multi-bilionários. A explicação oficial é que se trata de mais um indício do bom momento económico, e do grande empreendedorismo destes titãs. Na mitologia capitalista o multi-bilionário é sempre um self-made man de visão profética, além do seu tempo.

Entre os top-cinco estão Bill Gates (Microsoft) e Ingvar Kamprad (IKEA). O que a análise imediatista da imprensa internacional não aponta é que este súbito sucesso foi preparado nas cavernas da crise. Estas excepcionais acumulações de riqueza não se fizeram de visão futurista e inovadora, mas do emprego de músculo financeiro só disponível a quem que começa gigante. Bill Gates negoceia como se a Microsoft fosse uma nação, dispensa-se de fazer acordos com privados para os substituir com Estados, como o caso Português. Ingvar Kamprad usou a crise económica para esmagar a concorrência, multiplicando as suas lojas por toda a Europa.

Não aplaudo os barões que engordam. Quanto maiores eles ficam, mais pequenos ficamos nós.

 

Civilizadores


José Hermano Saraiva tem sido um baluarte das últimas décadas em Portugal. Figura eminente durante o Fascismo, sobreviveu à democracia, tendo ainda hoje a oportunidade de reescrever a história a seu bel-prazer na televisão. No domingo passado, tive o privilégio de assistir a uma descrição do papel civilizador dos portugueses no Brasil.

Segundo Hermano Saraiva, quando os portugueses chegaram ao Brasil foram encontrar os Índios no Neolítico. Afinal, estes não trabalhavam os metais, não fiavam nem conheciam a cerâmica. Os portugueses estabeleceram a civilização, fazendo a região avançar 10 mil anos.

Eu adicionaria que nós os introduzimos no manejo do engenho de açúcar e muitos mais. Mais, quando verificamos a sua incapacidade para serem escravos, introduzimos mão-de-obra mais produtiva que fomos buscar a África. Que seria do Brasil sem os portugueses?

Quando encontrarem um brasileiro, vejam lá se o fazem agradecer...

11 março 2006

 

Executaram Milosevic!


O interminável julgamento de Milosevic concluiu com a eliminação do réu. O que se sabe é que Milosevic sofria de tensão alta, padecimento comum e não particularmente temível para alguém com 64 anos. Sabe-se que Milosevic pediu repetidamente apoio médico, que recebeu condicionado. Sabe-se que Milosevic foi encontrado morto, esquecido na sua cela, horas depois de ter falecido. Foi executado pela negligência dos seus carcereiros, senão por gestos mais determinados (como sugeriu o seu advogado).

É bem-vinda a morte de um homem tão incomodo. Uma vez acusado, escolhido bode expiatório dos conflitos balcânicos da década passada, Milosevic não se recolheu na aceitação de um destino inevitável. Repetidamente, ouvimos dos salões de Haia como a NATO manipulou o conflito Kosovare, como castigou o povo sérvio, como recortou o mapa dos balcãs. Os justiceiros de Haia mal se esquivaram do embaraço, recorreram a silenciar Milosevic e negar-lhe defesa.

Espera-se na tradição liberal que ao julgamento se siga a execução da sentença, mas o poder está ainda a inventar a nova ordem internacional. Este é o precendente para o novo Direito, a execução que antecede o julgamento. Este último não se fará nas salas dos tribunais, com argumentos de defesa e acusação. Milosevic será julgado culpado pelos livros de história, escritos para esbater com justificação e normalidade o escândalo que é a sua morte. A defesa de Milosevic que é denuncia dos crimes da NATO, essa será esquecida dos registos.

 

Este não é o ministério dele...


Nos tempos de Guterres, quando Alberto Costa era Ministro da Administração Interna, o contra-informação gozava com este ministro, fazendo o seu alter-ego repetir incessantemente “Este não é o meu ministério...”.* Agora como Ministro da Justiça, parece que ainda não é desta que teve sorte...

Recentemente, Alberto Costa [creio que no contexto de um novo serviço de mediação para libertar os tribunais dos processos menos graves] referia que seria uma solução que deixaria contentes quer agressores ou delinquentes, quer as vítimas. Já terá ouvido falar de réus e arguidos? E de presunção da inocência? Afinal, Alberto Costa é ministro da Justiça ou um super-vigilante?

* Na altura ficaram também famosas as declarações (verídicas) da mulher de Alberto Costa. Referindo-se a uma carga policial, comentou que não tinha sido para isto que os dois tinham lutado contra o fascismo.

10 março 2006

 

A água não cai do céu


Este é apenas um dos mil milhões que não tem acesso a água potável ou um dos 3.1 milhões que morrem todos os anos de doenças ligadas à diarreia e malária.


 

Eu também quero!



 

Os aumentos


Os aumentos em Portugal podem-se considerar de pornográficos. São os alimentos a subir, a electricidade, a água, o gás, a gasolina e o raio que os parta. São os descongelamentos das rendas, ameaçam-nos ainda com o pagamento de operações e outras intervenções médicas. Entretanto, ficamos a saber que os aumentos nas taxas moderadoras em Abril podem chegar aos 23%. Mas não se preocupem que os velhinhos com baixos rendimentos estão isentos. Será que serão os 613?

 

O lamento

“O antigo Presidente soviético Mikhail Gorbachev, de 75 anos, afirmou, ontem, lamentar não ter conseguido introduzir as reformas susceptíveis de impedir o fim da URSS, em 1991. Entre os erros cometidos, Gorbachev destacou os atrasos nas reformas do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) e na introdução da economia de mercado.” (DN, 6 de Março)

Mas o que é que ele queria mesmo salvar com a introdução da economia de mercado?

 

Blasfémias e pontapés no livro de História


Dei hoje de manhã de trombas com um post do "rui", digo de trombas pois dá uma boa imagem visual do meu movimento ao dar com o dito-cujo. A pérola está no blog Blasfémias, e dela cito um pedaço:

"Apesar da semelhança de percursos e de formação, Salazar e Cavaco identificam-se sobretudo pelo valor mítico de referência que exerceram e exercem sobre o imaginário nacional: homens rigorosos, austeros, tecnicamente competentes e que dominam as finanças e a economia. A sua durabilidade no poder funda-se, de facto, num arquétipo político nacional, ao qual Pessoa reagia negativamente lembrando que Jesus não «sabia nada de Finanças»."

O tal Professor rigoroso, austero, tecnicamente competente que domina as finanças e a economia foi o mesmo que lançou Portugal para a rectaguarda da Europa, transformando-nos no sereno país de pastores e lavradores (com unhas) do qual andamos a tentar sair há anos? (se agora ficaram presos na dúvida se eu me refiro a Cavaco ou a Salazar, não levo a mal) Fica a pergunta, para que país é que o senhor "rui" anda a olhar? Se calhar com as tendências "atlânticas" andam uns quantos da nossa praça com o cú virado para a Europa e para a nossa história.

Os milagres de Economia que estes dois senhores conseguiram deviam fazer escola. O primeiro, torna-se ditador de uma potência colonial e consegue em menos de meio século transformá-la numa atrasada réplica moderna do pior que o Feudalismo tinha para oferecer. O segundo com as torneiras da Europa abertas a escorrer fundos comunitários, aparenta tê-los deixado escorrer para o mar. Os apoios à Agricultura serviram para remendos sem projecto, não houve aposta na inovação, no desenvolvimento uniforme do país, em vez disso grupos económicos alargaram os tentáculos que hoje, por ser época de vacas magras, nos andam a apertar os colarinhos...

09 março 2006

 

Timor continua a sangrar


O país mais pobre da Ásia continua a empobrecer de dia para dia. O relatório das Nações Unidas para o Desenvolvimento refere que 40% dos cerca de um milhão de habitantes de Timor Leste vive abaixo do nivel de pobreza, com menos de 0.46 euros por dia. O rendimento anual per capita é de 310 euros, 50% da população não tem acesso a água canalizada e perspectivas de emprego, que não na agricultura, não existem. Em cada 1000 bebés, 90 morrem antes de um ano de idade.

Face a esta grotesca realidade, os jornais apenas referem muito brevemente os 25 anos de ditadura duríssima que a Indonésia impôs a este minúsculo país. Sobre os quatro séculos de colonialização portuguesa faz-se silêncio. Só quando o país não tinha mais sangue para sangrar é que a ONU interveio. E só quando a ONU interveio é que se levantou a onda de solidariedade em Portugal, acompanhada por um oportunismo político poucas vezes antes visto.

Agora é a vez da Austrália tomar o lugar de soserano de Timor. Há quatro anos atrás tentou, sem sucesso, tomar o lugar que Portugal e a Indonésia detinham. Mas agora, com a saída dos muitíssimo bem pagos capacetes azuis e administradores internacionais, a Austrália assinou prontamente contractos churudos para explorar o gás natural e o petróleo timorenses. De um colonialismo para uma ditadura para um neocolonialismo - a liberdade para Timor está ainda por conquistar.

A foto foi retirada, sem autorização, mas com amizade, de outro blog.

 

Cow-boy joga cricket


Bush jogou cricket no Paquistão. Foi bonito de se ver. A falta de jeito era óbvia, apesar de tentar disfarçá-la com umas batidas em jeito de basebol. Risadinhas aqui, risadinhas ali, a coisa passou.

Mas o que Bush não gostou mesmo foi que o tivessem atingido com uma bola. De ténis, diga-se. Se tivesse uma Colt no coldre imaginado que traz sempre à cintura, não seria difícil adivinhar um duelo ao pôr-do-sol numa qualquer rua deserta. À falta de melhor, avalentou-se com braços afastados em jeito de ameaça na direcção do infeliz que se lembrou de o atingir. A ameaça estava lá. Em tom de gozo para disfarçar, mas a mensagem foi óbvia: não se atira uma bola de ténis ao Presidente dos Estados Unidos da América!

Mas o que nós temos aprendido desde a sua eleição é bem mais profundo que isto. O Presidente dos EUA pode fazer muito mais que atirar uma inocente bola em tom de brincadeira. Pode ganhar eleições com menos votos que o seu opositor; pode fomentar a paranóia securitária entre os seus e contagiá-la ao resto do mundo (ver aviso no aeroporto de Dar-es-Salaam); pode invadir um país para garantir a segurança num gaseoduto; pode manter prisioneiras pessoas sem acusação formada e em condições desumanas (leia-se tortura); pode invadir um segundo país com base em falsas evidências para assegurar o tão desejado petróleo; pode ameaçar um estado democrático (Venezuela) que considera ameaçador simplesmente por chamar o boi (leia-se, os EUA) pelo nome; etc.

Se ele pode tanto, porque raio é que não há-de um gajo qualquer atirar-lhe uma bola de ténis à cabeça?!

 

Elucidativo


Consultor para assuntos políticos de Cavaco Silva: João Carlos Espada.

 

Um coerente pequeno presidente


Porque ainda temos 10 longos anos pela frente do outro mono, prefiro despedir-me do anterior em conformidade.

Relato televiso na TVI na cerimónia de passagem do "testemunho presidencial"
(enquanto imagens mostram Jorge Sampaio à frente de Maria José Rita):
- Maria José Rita já lá vem ao fundo. Jorge Sampaio ainda não o vejo..."

 

Porque hoje até se fala de futebol...II


Afinal, agora é que o país vai andar para a frente. Com a chegada do novo messias que já anda a endireitar o mundo, e com os problemas fulcrais do país identificados aqui, o futuro do país está assegurado, o equilíbrio cósmico restaurado...Afinal era simples, o futebol resolve tudo.

 

Porque hoje até se fala de futebol...


Convém lembrar algumas tristezas...

 

O Progresso


“Um estudo divulgado pela Nielsen Media Research revelou que actualmente e em média, os lares norte-americanos tem disponíveis nos seus televisores um total de 96 canais. O mesmo estudo refere, no entanto, que apesar da abundância, o telespectador típico vê apenas 15 desses canais. À medida que os canais destinados a nichos de telespectadores se vão multiplicando, as pessoas estão a ver mais televisão que nunca (…) “Em 1985, o número médio de canais por lar era 18. Agora está a aproximar-se dos 100.””

in Público, 5 de Março

08 março 2006

 

Almoçaradas


À laia de despedida do ainda actual Presidente, Jorge Sampaio, tem-se sucedido as almoçaradas com diferentes dirigentes do país. Dos diferentes líderes partidários ao cardeal patriarca, muitos tem passado por lá. Só não soubemos o cardápio...

Nós gostaríamos de recomendar o bitoque, com bastante molho e dentadas.

 

As derrotas das quotas


Está escrito no secreto manual do bom oportunismo político que o Dia da Mulher tem de ser capitalizado de alguma forma. Volta hoje a falar-se das quotas na participação política. A pouca participação das mulheres na vida política portuguesa - ou as discriminações no trabalho, no desemprego, nos salários, nas tarefas domésticas - são reflexo de uma desigualdade social enraizada, e que não pode ser eliminada por decreto. Criem condições para as mulheres se afirmarem, reforçem os direitos de paternidade, tornem o trabalho e os salários iguais, e verão as mulheres a assumir a posição de igualdade social que é suposta. Declarar a necessidade de quotas é assumir duas derrotas: a de que é impossível mudar a estrutura machista da sociedade portuguesa, e assim sendo, perguntem-se, o que andam a fazer na (da) política?; e a outra derrota, a mais grave, é a de presumir que as mulheres não conseguem sem ajuda. E isso, a mim que não sou mulher, ofende-me.

Um dos aspectos mais preocupantes nesta situação é eu concordar com a posição de Ribeiro e Castro (concordo mais ainda com a do PCP, mas isso é informação pouco sensacionalista, dado o contexto, e temos sempre de agradar aos leitores, esquecendo o rigor se necessário).

 

Em todo o mundo


Em Portugal, as vítimas de violação podem abortar. Infelizmente, só mais duas situações estão contempladas na nossa lei: malformação do feto e perigo de vida para a mãe.

No México, as mulheres grávidas em sequência de violações são sujeitas a humilhações várias e abertamente conduzidas a abortos em vão de escada ou a prosseguir as suas gravidezes dulpamente indesejadas. Isto apesar de a lei possibilitar o aborto se a gravidez for sequência de violação.

Mais um triste exemplo da diferença entre o país real e o país legal. Mas são também estas situações que nos vêm lembrar as nossas diferenças. Ser mulher num país é diferente de ser mulher noutro. Se as armas de repressão são as mesmas, a força com que são aplicadas acabam por diferir.

Este é o ponto fulcral: centrarmo-nos nas armas de repressão e não apenas nas consequências. É um trabalho interligado mas que não deve desprezar nenhuma das componentes.

É sobre esta base que deve assentar a solidariedade entre as mulheres de todo o mundo.

 

Ser Mulher


Ser mulher é ser metade da população mundial, ainda que tal não transpareça nas notícias dos jornais e da televisão. Em Portugal, éramos em 2001 precisamente 5.355.976, isto é, havia mais 355.835 mulheres que homens.

A diferença demográfica (há mais 6% “elas” do que “eles”) não se reflecte no dia-a-dia das mulheres. Ganhamos menos, temos empregos mais precários, mais dificilmente chegamos a lugares de chefia e somos mais afectadas pelo desemprego.

Asseguramos a existência da sociedade em que vivemos, mas em troca pouco ou nada recebemos: somos nós que muitas vezes ficamos em casa quando os nossos filhos adoecem, ou os nossos pais precisam de ir ao médico. Entre a casa e o trabalho, cozinhamos mentalmente o jantar. Pensamos na roupa que tem que ser lavada, fazemos a lista de compras para o fim-de-semana. E se há um filho a caminho com o qual nenhum de nós contava (afinal a pílula que vamos buscar ao Centro de Saúde, apesar de gratuita, não é 100% eficaz), nada mais nos resta senão senti-lo crescer dentro de nós, e fazer contas não só aos euros mas, mais que tudo, à vida. Não à que vem aí mas à nossa que vai mudar.

Mas nós somos valentes, fisiologicamente mais tolerantes à dor que eles, multifuncionais, flexíveis, versáteis! Ah, mas não podemos ter celulite porque eles não gostam.

É este o modelo com que somos comparadas - o da mulher subjugada e mais mãe e esposa que companheira. Não nos satisfaz a nós nem a poucos deles.

 

Dia Internacional da Mulher


O dia 8 de Março é há muito celebrado como o Dia Internacional da Mulher. Embora a ideia tenha surgido logo em 1910, com a celebração no final de Fevereiro, só com a 1.ª revolução russa é que a data foi firmada: as mulheres russas tinham escolhido o último domingo de Fevereiro (Março no calendário Gregoriano) como dia de luta por pão e paz, protestando contra a 1.ª Guerra Mundial.

Quatro dias depois o Czar caía e as mulheres conquistavam o direito a votar.

07 março 2006

 

Três casos na vida de Sampaio


Das palhaçadas do PGR a outras inúmeras peripécias, muitos casos poderiam ter sido escolhidos. Escolhi estes três por os achar ilustrativos.

Os fogos
Uma das suas intervenções que mais me marcou e sintomática da sua (in)acção refere-se a um dos piores anos de fogos. Na altura, com várias casas queimadas e vários desalojados (não me recordo se houve mortos), Sampaio acusa os populares de não limparem o mato à sua volta. O representante máximo do país, país esse que se revelava completamente incapaz de prevenir e combater os fogos, responsabiliza o elo mais fraco, os populares. Descrédito 1 – Humanidade 0.

Santana Lopes
Inevitavelmente temos de abordar o caso Santana Lopes. O chamado uso da “bomba atómica” e o seu timing foram motivo de polémica. O Centro-Esquerda exigia a convocação imediata de eleições enquanto a Direita, no poder, dizia que não haveria razões para tal. Sampaio responde nim, propondo uma confiança condicionada à manutenção de determinados princípios. Apesar de Santana começar a dizer e a implementar um programa bastante diferente daquele para que Durão Barroso tinha sido eleito, a confiança condicional manteve-se, prolongando o suplício de Portugal por 5 meses de gags inacreditáveis. Só quando as élites económicas, principais apoiantes de Durão, chegam ao desespero é que Sampaio é forçado a convocar eleições antecipadas.

Canas de Senhorim
Apesar de não ter grande simpatia pela sua reivindicação de ser Concelho, tenho de o eleger como um dos casos mais caricatos. Os Canenses como resultado da sua luta conseguiram ser recebidos pelo Presidente que lhes garantiu mais do que uma vez a resolução dos seus problemas (a satisfação da sua reinvidicação). Aquando da aprovação pela Assembleia da República da elevação de algumas terras a concelho, Sampaio acaba por usar o seu poder de veto (numa das suas fugazes aparições...). Depois de mentir aos Canenses, acabou o seu mandato a brincar ao gato e ao rato. Faltando-lhe unicamente a visita ao Concelho de Nelas, Sampaio andou o tempo todo a fugir dos Canenses: a agenda era só fornecida em cima da hora, várias vezes já com os carros em movimento. Ridículo e lamentável!

 

Sampaio, o Desnecessário


Sampaio, após dez anos de Presidência da República, vai passar o testemunho ao recém–eleito Cavaco Silva. Inevitavelmente, impõe-se um balanço dos seus 10 anos de mandato. Na primeira eleição a sua candidatura derrotou o mesmo Cavaco que então saía de dez anos de 1º Ministro. Sampaio foi eleito com o intuito de afastar Cavaco da Presidência e de responder às necessidades do país. Dez anos depois, com uma vitória inequívoca de Cavaco e o País num dos piores momentos da sua história recente, só poderemos considerar a sua actuação um falhanço.

Sampaio optou em muitos aspectos por fazer uma Presidência “pedagógica”. As suas preocupações sobre tudo e mais alguma coisa ficaram famosas, especialmente a incoerência destas face à sua inacção - um dos sub-editores do Público (creio que Nuno Pacheco) fez uma crónica acutilante sobre a questão há 1 ou 2 anos. Outra das características de Sampaio foi introduzir o lado “humano” do Presidente com ocasionais lágrimas. As primeiras vezes foram um sucesso, mas eventualmente passaram a parecer lágrimas de crocodilo. O enjoo foi tal a ponto de Ana Sá Lopes intitular a sua crónica no DN sobre a recente visita de Sampaio a Timor “Poderia Jorge Sampaio não chorar?”

Depois de muitos episódios caricatos (alguns desses retratados numa peça à parte) Sampaio acaba o mandato associado a um dos piores momentos da história recente de Portugal. Pode-se dizer que se cumpriram os 3 D’s: desemprego; desigualdade; descrédito. Embora muitos das responsabilidades e dos problemas já viessem de tempos anteriores (com destaque para Mário Soares e Cavaco Silva), Sampaio assistiu impávido e sereno (com uma lagrimita aqui e acolá) ao afundamento. Deste modo, pode-se dizer que ele foi, à luz da Constituição, o Presidente do Titanic.

Sampaio afirmou recentemente ser“contra qualquer violência, física ou verbal”. Mas o que é ele pensa que os Portugueses sofreram nestes últimos dez anos, senão violência? Assistimos a um enfraquecimento da sociedade como tal (os 3 D’s mais desalojamentos,...), fortalecimento do Estado musculado. Veja-se a campanha terrorista que visa atribuir a funcionários públicos, professores, etc. a maior parte da responsabilidade pela actual situação. Nem reformados e desempregados escapam, acusados de serem um peso demasiado grande para a Segurança Social. E que faz Sampaio? Corta fitas ou distribui medalhas.

Não é novidade para ninguém a desconfiança das pessoas face aos políticos, nem o crescente alheamento da política partidária pelos portugueses. Os actos de Sampaio não ajudaram a inverter esta tendência, bem pelo contrário. Sampaio reduziu o cargo de Presidente a uma insignificância, para além de alimentar episódios particularmente lamentáveis. Quando o descrédito e a mentira chega ao “garante” da República, a democracia burguesa dá mais um passo em direcção ao abismo.

 

O triunfo do espectáculo


Hollywood conseguiu mais uma vez desarmar o escândalo político, demonstrando os seus infindáveis poderes sedativos. O Óscar de melhor filme foi para Crash, dos mais fracos de entre as escolhas, quer na mensagem social, quer na cinematografia. A causa há quem a explique melhor que eu: “Hollywood sure does love an LA drama which congratulates one and all for surviving in the tough town they have made their own” O mais belo e mais feroz, Brokeback Mountain, ficou-se pelo prémio de melhor realizador e argumento, e foi pouco, foi pouco porque não foi celebrado!

Habituámo-nos a que todos os anos a academia de cinema americana distinga um filme. Neste concurso em que as opções podiam ser escandalosas dado o hegemonico conservadorismo que reina nos Estados Unidos, distribuíram-se os prémios sem distinção. King Kong, essa insuportável chachada de pixels animados por violência, recebeu tantas honras como o Brokeback! Para cúmulo do ridículo, para sarar quaisquer mal entendidos com o poder, o melhor documentário foi para a antropomórfica March of the Penguins, o mais empolado e inferior dos documentários de natureza de que há memória.

Foi o triunfo do espectáculo (a lá Debord) sobre o filme político. Os filmes que Hollywood produziu este ano não são ingénuos ou alienantes, têm dentes. Mas se mordem ou não, depende de como são vistos, de como são vendidos. A “noite dos Óscares” fez para os neutralizar, ao equiparar, misturar e confundir. Esta diluição da experiência cinéfila com os figurinos da passerelle, com a festa de luzes e som e com os agradecimentos que saúdam família e amigos, quer afastar-nos do conteúdo social das obras para aplaudir a sua forma.

Após o ébrio entusiasmo vem uma ressaca de depressão, é um movimento de afectos que não dispenso porque me aquece com uma fagulha de revolta.

 

Pára ou o Mofaz Dispara


O ministro da defesa israelita ameaçou de forma directa o primeiro-ministro palestiniano de eliminação (reparem como o vocabulário é escolhido, ele não vai morrer, vai ser eliminado - o que de certa forma até será um termo mais adequado pois pela forma como Israel tem executado os líderes do Hamas pouco mais tem restado do que as ogivas dos mísseis), caso ataques terroristas a alvos israelitas não cessem (novamente a escolha do vocabulário, são ataques, não é uma resistência, e naturalmente são terroristas, pois afinal são os israelitas que vivem em terror, nas marginais das suas praias ladeadas de palmeiras, e nas ruas da baixa de Tel-Aviv, sempre que entram numa loja Gucci).

Voltando umas semanas atrás, temos o radical corte de fundos por parte de Israel para a Autoridade Palestiniana. Tratava-se de dinheiro em dívida, colocado em mãos israelitas por força do seu cerco à Palestina. Depois, todo o arsenal diplomático que Israel tem utilizado para isolar financeiramente a Palestina do resto do Mundo. E em terceiro lugar, a ameaça de morte sobre o seu líder político (desculpem, eliminação do líder de uma facção terrorista). Quais são exactamente os limites impostos a Israel? Sob que Direito Internacional terá este país de responder? Ou será que este conceito há muito deixou de existir? (curiosamente quase no momento em que nasceu, a história de Israel no Médio Oriente é comparável à Carta das Nações e desde o início as duas mostraram-se incompatíveis)

E o que mais assusta é a normalidade com que a notícia é aceite. Que a política de Israel tenha controle (até mesmo sobre a vida e a morte) absoluto sobre a política da Palestina, mascarada com uns cessar-fogos (não respeitados) e idas ocasionais à Casa Branca, já a maior parte de nós parece ter aprendido a aceitar. E quando o míssel rebentar, lá teremos um puxão de orelhas suave da ONU, um semblante mais carregado de uns quantos líderes europeus e Bush a acenar de longe com umas botas de cowboy. E o sequestro prossegue a sua marcha.

06 março 2006

 

Um mandato divino


O primeiro-ministro Britânico, Tony Blair, às vésperas da invasão do Iraque dizia contar com o apoio popular. Seguiram-se sondagens e a manifestação de mais de um milhão em Londres a 15 de Fevereiro de 2003 para o contradizer. Face à oposição Blair fez uma finta e profetizou que “a História” iria demonstrar que a belicosa decisão era acertada - de uma mandato popular para um mandato histórico. Findos três anos de ocupação com crescente instabilidade no médio Oriente e ataques diários às forças britânicas, Blair arrisca-se com a metafisica. Agora o juíz do primeiro-ministro Britânico será o divino: "If you believe in God (the judgement) is made by God."

Se nos EUA este género de discurso ou passa sem ser notado ou é acarinhado por alguns, no Reino Unido, que só se lembra da religião para oprimir os irlandeses, é discurso de difícil digestão. Este último ardil tem um distinto odor de desespero e decadência. É o partido trabalhista que pede a demissão de Blair e uma transição harmoniosa do poder para o seu chanceler das finanças Gordon Brown, só os conservadores fazem campanha para conservar Blair. Os dois partidos pretendem colocar-se na geneologia das políticas do New Labour, no seu “trabalhismo de direita” ou no seu “conservadorismo humanista.” Ninguém se atreve a assassinar o “pai Blair” porque teria de por em causa o consenso em torno do seu modelo neoliberal com salpicos de estado social. E por isso, vai-se perpetuando este primeiro-ministro de trapos, assombrado, a rezar por apoio.

 

Grazie signor ... grazie di tutta la sua gentilezza


Os EUA dão o aval para a construção de um gasoduto do Irão que permitirá o abastecimento de gás natural para a Índia. Passando pelo Paquistão, a construção do gasoduto poderia levar à execução de sanções contra os paises envolvidos, ameaça que foi levantada esta semana.

São as negociações de um mercado livre.

05 março 2006

 

Olha o passarinho!



04 março 2006

 

Porque eles sabem o que é melhor para os meninosssss...


Hoje trago-vos uma pergunta feito no Local do Público dia 1 ou 2 Março. "Acha que as escolas públicas devem poder ser geridas por pais, empresas ou grupos religiosos?" (meu sublinhado)

Partilho também as eloquentes respostas, autênticas pérolas:

1) Cristina Martins, Arquitecta, 27 anos.
"Grupos religiosos não, mas empresas sim. É melhor que o Estado. Por pais também sim, porque eles querem o melhor para os filhos."

2) Euclides Santos, Estafeta, 22 anos.
"Apenas por pais, porque eles sabem o que é melhor para os filhos."

3) António Silva, Empresário, 48 anos.
"Para maior eficiência, deviam ser geridas por empresas. Pelos pais, há sempre uma carga emocional. E por grupos religiosos não, porque era obrigar as crianças a um caminho sem poderem optar."

4) Vítor Freitas, Desempregado, 22 anos.
"Não. O sistema actual é o melhor. Grupos religiosos é que não, porque vivemos numa sociedade laica."

 

Resistir ao saque


Este post é uma reacção ao comentário recente de Spartakus sobre o nosso apelo às jornadas de luta de 18-20 Março.

Neste blog interrogamo-nos como reagir perante à ocupação ilegal do Iraque pelas forças armadas americanas? Ao ler o comentário de Spartakus não encontro resposta a esta questão. Não elucidam o emaranhado de considerações afectivas, e o que me parece algum ajuste de contas revanchista, por exemplo: “Não me lembro de ver o senhor Al Kukaysi ou a CGTP organizarem jornadas de solidariedade com a maioria xiita do Iraque.” À revelia da memória de Spartakus, a esquerda destas jornadas de luta é a mesma que se opôs à guerra Irão-Iraque financiada por Washington, e que denunciou o extermínio xiita no pôs primeira Guerra do Golfo, feito sobre a vigilância do exército ianque.

Não nos apraz aplaudir uma democracia vigiada, censurada, imposta. Democracias desta ordem são desenhadas meramente para dar legitimidade as forcas ocupantes, aos contractos que estas ratificam com o governo da nação, para perpetuar um saque sancionado em contrato. A lógica da ocupação Americana oportunistamente utiliza as divisões étnicas e religiosas do Iraque para enfraquecer o seu Estado, seccionado em três: curdos, sunitas, xiitas. É um modelo com que nos já habituaram, pós-Jugoslávia, em que os micro-estados são supostamente mais genuínos. Não vamos esquecer estas questões para nos curvarmos às propagandas dos media sobre o maná da democracia que descende sobre o Iraque.

Spartakus aponta que: “Apelar de "resistência" um punhado de terroristas é insultuoso.” É verdade! É insultuoso chamar de terroristas à resistência diária do povo iraquiano. Todos os dias nas ruas, a resistência força o exército americano a ser refém nas suas próprias bases militares. Face a um povo que não aceita a sua subjugação o padrão de acção militar americana é cada vez mais exercício de uma forca insana de assassínio em massa e tortura, enquanto a sua prioridade primeira permanece proteger poços de petróleo e pipelines.

É face a tudo isto que respondemos: não à ocupação Americana. Face a tudo isto só podemos aplaudir a coragem do povo iraquiano na sua luta, e não nos perdemos em pudores sobre a forma que essa resistência decida tomar.

03 março 2006

 

Iraque: três anos de ocupação, três anos de resistência


A 18 de Março, Sábado, realizam-se com expressão planetária protestos contra a ocupação do Iraque. Em Portugal anunciam-se, para já, as seguintes actividades:

  • SESSÃO PÚBLICA, Casa do Alentejo, Lisboa, 11 de Março, 18:30 horas (com a participação do dr. Al-Kukaysi, presidente da Aliança Patriótica Iraquiana).

  • CONCERTOS, música iraquiana pelo Quarteto Mesopotâmia:
    Porto, Teatro Rivoli, 19 de Março, 17:00 horas
    Almada, Fórum Romeu Correia, 20 de Março, 21:30 horas.


    Organiza-se também uma CONCENTRAÇÃO no Largo Camões, Lisboa, a 18 Março 2006 pelas 15 horas. O apelo para a concentração foi já subscrito por uma longa lista de organizações, onde se contam os partidos da esquerda, a CGTP e o Tribunal Iraque. Aqui transcrevemos o apelo:


    “Completam-se a 20 de Março três anos sobre a invasão do Iraque. Completam-se também três anos de resistência do povo iraquiano à ocupação – um direito que a Carta das Nações Unidas e a Constituição Portuguesa consagram.

    A onda de protesto que se levantou nas vésperas do ataque militar não foi suficiente para impedir a agressão, mas revelou o repúdio de milhões de pessoas de todo o mundo pela ilegalidade e pela barbárie que se adivinhava. Dezenas de milhares de portugueses opuseram-se também na mesma altura ao envolvimento de Portugal na agressão, rejeitando o alinhamento com os EUA.

    O Iraque continua ocupado, persiste a destruição e o saque dos seus recursos, as violações cometidas pelos agressores seguem impunes, o direito internacional continua por aplicar. As “eleições” realizadas em clima de guerra e organizadas pelos ocupantes não passaram de uma fraude.

    A política de guerra dos EUA prossegue. Depois da Palestina, do Afeganistão e do Iraque – o Líbano, a Síria e o Irão estão debaixo de mira. Em nome dos interesses imperialistas, as liberdades estão a ser amputadas mesmo nos países que se consideram baluartes da democracia e do direito.

    Quem está contra esta guerra não pode assistir inerte à continuação da ilegalidade e da barbárie. Há que reunir as forças que se juntaram para tentar impedir a invasão – agora com o conhecimento da dimensão das violências cometidas contra o povo iraquiano.

    No próximo 18 de Março juntemos forças

    - para exigir a retirada de todos os ocupantes do Iraque, como primeiro passo para a normalização da vida do país.
    - para reconhecer ao povo iraquiano o direito a resistir e a escolher livremente o seu futuro.
    - para exprimir solidariedade com os povos do Médio Oriente, designadamente o palestiniano e o iraquiano.
    - para exigir do governo português que condene o militarismo, a guerra e a ocupação do Iraque.
    - para exigir o fim de qualquer envolvimento directo ou indirecto de Portugal na ocupação e o fim do uso da Base das Lajes pelos EUA.”

  •  

    Rendimento burguês


    O dado não é novo, já foi várias vezes referido, mas é sempre chocante ver como a burguesia portuguesa conseguiu manter o resto da população na miséria. Os dados são do Eurostat, relativos a 2001 (cliquem na imagem para ampliar). Os 20% mais ricos de Portugal ganham 6,5 vezes mais do que os 20% mais pobres. Cruzando isto com os salários e o custo de vida em Portugal, surgem duas perguntas: alguém tem dúvidas relativamente ao sentido da evolução deste indicador desde 2001 até hoje? E porque é que ainda não emigrámos todos e deixámos esta burguesia a canibalizar-se?

     

    Contra a taxa do Multibanco


    Há uns diazitos registámos queixa à recente iniciativa parasita da banca em cobrar taxa sobre os levantamentos de Multibanco. Um dos nossos vizinhos, no blog oGrunho promove agora uma petição online de reclamação a esta medida e que AQUI divulgamos. A petição peca talvez por ser um pouco minimalista, mas n’ oGrunho oferecem-nos mais justificações que parecem adequadas.

    A banca nacional goza de privilégios quase-nobiliárquicos. Sendo um dos negócios mais rentáveis no país nem por isso se digna a contribuir com o que deve ao Fisco ou a recompensar os seus cativos consumidores. Entretanto espera-nos uma sangria de taxas, juros altos e artimanhas semelhantes. Que o país seja pequeno e que os grupos económicos se coordenem em cartel para nos lixar não pode ser desculpa, há que fazer campanha e provar que do lado de consumidor também pode haver acção coordenada.

    02 março 2006

     

    À noite dá-me para a Conspiração


    Se juntarmos as letras dos tratados ou Organizações que os EUA têm vindo a desrespeitar ou a sabotar, nomeadamente:

    Protocolo de Quioto (KP)

    Tratado de Não Proliferação Nuclear (NPT) - por exemplo, mesmo esta semana ao apoiar a Índia no seu programa nuclear.

    As Nações Unidas (ONU)

    Convenção de Genebra (CG) - Guantanamo, Iraque, pick one!

    International Criminal Court (ICC)

    podemos juntar as palavras:

    NOT PUKING CCCP

    Pois é meus amigos... coincidência?... não me parece...

     

    Roubaram a carteira ao Big Brother


    Tímido confesso um juvenil fascínio pela aventura criminosa. Interessam-me os crimes, os seus géneros, famílias, ordens, classes, filos, reinos, com que faço distinções. O assalto à mão armada, o roubo de puxão, a burla a idosos fazem parte de uma classe de terror que não me agrada. Estes são participantes numa guerra civil dos pobres contra os pobres, em que se acordou que se agridam entre si enquanto as elites vivem protegidas e confortáveis. Refém desta guerra civil, o criminoso é tantas vezes um miserável a que se deve uma culpa circunstancial e desesperada, e que na lógica da incessante agressão tem que ser exemplarmente punido.

    Noutro reino ou pelo menos noutro filo, estão os roubos épicos. Quando alguém foge com 53 milhões de libras (equivalente a 78 milhões de euros) sinto uma nervosa vontade de aplaudir. Ninguém foi morto ou ferido, embora o gerente do depósito da Securitas e a sua família tenham que lidar com o trauma dos eventos da noite, que começou com o seu sequestro. Quem ficou a sangrar foi a companhia de seguros e a empresa Securitas.

    Aos olhos do meu romântico aventurismo, há algum valor simbólico num roubo que humilha uma das grandes empresas da vigilância, Securitas. Dos criminosos, na era do Big Brother, perdeu-se o rasto. Ninguém sabe quem são, nem onde estão. Não nos ensina este roubo que não estamos ainda esmagados pelos olhares policiais, pelo menos não com o totalitarismo que nos querem vender? Ainda é possível iludir a autoridade, e o movimento sem vigilância!

    01 março 2006

     

    Carcaça…


    Crónica verídica de terça-feira de Carnaval:

    (anúncio de TV da Nova Gente ou da Caras)
    - Exclusivo: Novo visual de Lili Caneças!

    (reacção da minha avó com mais de 90 anos)
    - Hum! Carcaça…

     

    Convite à leitura


    A última revista Política Operária apresenta a qualidade a que já nos habituou. Nesta edição aborda assuntos como o rescaldo das eleições presidenciais portuguesas, o congresso proibido do Batasuna ou um debate sobre o capitalismo chinês. Vladimiro Guinot aborda a recente discussão sobre a AutoEuropa, fornecendo dados interessantes sobre o que se passou na SEAT: benesses governativas, cortes “inevitáveis”, corrupção de alguns sindicatos. António Barata descreve a acção do Grupo Direito à Habitação da Associação Solidariedade Imigrante para tentar evitar os recentes desalojamentos de alguns bairros clandestinos. Outros temas são as eleições no Iraque, a Palestina e a situação no Nepal, enquanto Nuno Pereira dá um relato da sua passagem pelo Afeganistão. Ana Barradas descreve o percurso da resistente Enriqueta Otero Blanco sobre o tema Mulheres na Guerra Civil Espanhola e faz também um historial da relação entre os comunistas e a homossexualidade. Dos artigos sobre a América Latina gostava de destacar a contribuição de A. Lobo sobre a base dos EUA no Paraguai. Francisco Martins Rodrigues aborda ainda ao XX congresso do PCUS.

    A secção Visor aborda livros publicados (por exemplo: o livro Conspiradores e Traficantes de António louçã), imprensa, etc. De salientar ainda a habitual acutilância de Telex e Verruma e a escolha de bons e pertinentes poemas para a última página.

    Deixo-vos algumas pérolas:

    «As palavras
    “Os impostos sobre os lucros das empresas deveria ser reduzido para zero. Com isto Portugal seria o primeiro país da UE a ter uma economia competitiva imbatível para trazer mais investimento” (Filipe Botton, industial, Público 15-12)

    Demasiada tolerância
    “O que torna a Inglaterra vulnerável ao terror não é a nossa tolerância para com o multiculturalismo; é a nossa tolerância para com a barbárie cometida em nosso nome” (Naomi Klein, Contradictions)

    (…)

    Antologia
    “A globalização produziu uma nova classe de multimilionários e, ao mesmo tempo, uma subclasse de pessoas que são excluídas das oportunidade criadas supostamente para todos. Será isto uma coisa má? Muita gente pensa que sim. Muita gente vê mal os chefes de empresa que recebem centenas de milhares de dólares… De qualquer modo, ao mesmo tempo que as sociedades livres reconhecem os limites de desigualdade, também aceitam que as desigualdades existem porque isso é um factor de esperança para muitos sobre aquilo que eles próprios podem conseguir. A desigualdade acrescenta cor e variedade às sociedades. Se queremos a liberdade, então as desigualdades sociais e económicas são um preço legítimo e necessário que temos de pagar por ela.” (Ralf Dahrendorf, Público, 21/1)»



       

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