04 março 2006

 

Resistir ao saque


Este post é uma reacção ao comentário recente de Spartakus sobre o nosso apelo às jornadas de luta de 18-20 Março.

Neste blog interrogamo-nos como reagir perante à ocupação ilegal do Iraque pelas forças armadas americanas? Ao ler o comentário de Spartakus não encontro resposta a esta questão. Não elucidam o emaranhado de considerações afectivas, e o que me parece algum ajuste de contas revanchista, por exemplo: “Não me lembro de ver o senhor Al Kukaysi ou a CGTP organizarem jornadas de solidariedade com a maioria xiita do Iraque.” À revelia da memória de Spartakus, a esquerda destas jornadas de luta é a mesma que se opôs à guerra Irão-Iraque financiada por Washington, e que denunciou o extermínio xiita no pôs primeira Guerra do Golfo, feito sobre a vigilância do exército ianque.

Não nos apraz aplaudir uma democracia vigiada, censurada, imposta. Democracias desta ordem são desenhadas meramente para dar legitimidade as forcas ocupantes, aos contractos que estas ratificam com o governo da nação, para perpetuar um saque sancionado em contrato. A lógica da ocupação Americana oportunistamente utiliza as divisões étnicas e religiosas do Iraque para enfraquecer o seu Estado, seccionado em três: curdos, sunitas, xiitas. É um modelo com que nos já habituaram, pós-Jugoslávia, em que os micro-estados são supostamente mais genuínos. Não vamos esquecer estas questões para nos curvarmos às propagandas dos media sobre o maná da democracia que descende sobre o Iraque.

Spartakus aponta que: “Apelar de "resistência" um punhado de terroristas é insultuoso.” É verdade! É insultuoso chamar de terroristas à resistência diária do povo iraquiano. Todos os dias nas ruas, a resistência força o exército americano a ser refém nas suas próprias bases militares. Face a um povo que não aceita a sua subjugação o padrão de acção militar americana é cada vez mais exercício de uma forca insana de assassínio em massa e tortura, enquanto a sua prioridade primeira permanece proteger poços de petróleo e pipelines.

É face a tudo isto que respondemos: não à ocupação Americana. Face a tudo isto só podemos aplaudir a coragem do povo iraquiano na sua luta, e não nos perdemos em pudores sobre a forma que essa resistência decida tomar.

Comments:
Ó Spartakus, mas porque achas que esses líderes "eleitos" estão lá? Por serem xiitas? Ou antes por serem umas marionetas de Bush e afins?

Como em tempos foi Saddam a aposta dos EUA para afastar influências soviéticas. Como eles fizeram e continuam a fazer pelo mundo fora. Basta olhar para a história.

Não compreendo é como pessoas honestas e sinceras sejam
"enganadas" tantas vezes. Uma vez está bem, duas vezes, vá lá, mas mais...
 
zézé, o meu aplauso... sem vocabulário técnico nem "diz que não diz que foi que disse..." é mesmo isso...
 
Spartakus,
Interpretar o que se passa no Iraque recorrendo a uma matriz religiosa e' demasiado simplista. Se e' assim tao matematico o padrao de voto, entao ate podiamos dispensar o plesbicito, fazia-se um censo religioso e distribuiam-se lugares no parlamento. O que se passou nas eleicoes foi bem mais complexo. O mapa politico iraquiano alem da matriz religiosa tem tb a relacao das forcas politicas com a ocupacao - a linha politica do Moktada Al Sadr por exemplo e' proscrta do plesbicito porque e' contra a ocupacao, apesar de ser xiita! Ganha quem agrada ao ocupante, quem aceita as regras de umas eleicoes vigiadas, e de um estado manco que em tudo precisa de avalo de Washington. Como pode haver democracia sem soberania? E' por isso que estas eleicoes sao uma farsa porque foi censurada a opcao de ser contra a ocupacao e nisso nao foram livres!


P.S. Se acreditamos que o Al Zarquawi (o jordano) e' lider da resistencia, porque nao dizer logo que o Bin Laden e' quem manda. O Zarqawi e' mais um conveninente monstro para ligar a resistencia 'a Al Quaeda. Nao vou nessa!
 
Nao vejo que o fim da ocupacao seja equacao directa com catastrofe politica, com guerra civil. Na ausencia de armas de destruicao massica, arrumado o saddam, esta e' a nova justificacao: que os arabes sao uns infantis ou barbaros que sao incapazes de se governarem por si.

Nos no ocidente que gostamos tanto de louvar democracia, somos incapazes de deixar os iraquianos fazer o seu caminho. Se fosse Portugal ocupado pelos Americanos, sera' que pediamos ao exercito americano para ca ficar "a tomar conta da gente" porque a malta do Norte nao se entende com a malta do Sul?

Abracos
 
Sabes bem que nao "e' errado."! O Moktada nao pode participar em direito completo nas eleicoes por motivo da milicia que preside, o Makdi army. A forca ocupante exigiu que ele abandonasse a accao de ruas para que participasse, e' nesse sentido que eles ditam regras.

Foi nesse momento de impasse que o Al Sistani entrou na historia e so' nesses casos extremos para que o Al Sadr desse um passito atras, mas mesmo este parece precario se prestares atencao ao que se passa actualmente no Parlamento Iraquino.

O Sistani permanece mediador, e ao contrario dos apelos dos Americanos que o veem como possivel cabeca moderada para as faccoes, este nao quer participar directamente no jogo politico. Parece-me que se intervisse de forma mais directa perdia a legitimidade que tem hoje. Mesmo os grupos xiitas que parecem na sua globalidade etnica beneficiar da actual situacao, estao divididos (fundamentalmente sobre como lidar como os americanos), sao diversos e nao sao o bloco politico que os media fazem crer.
 
Zeze,

Ha uma serie de pontos no teu comentario que me chocam, pelo seu racismo:

1. O paternalismo com que falas do povo do medio oriente, como umas bestas que se matam uns aos outros, se forem entregues a si proprios. Todos os povos tem direito a ser entregue a si proprios, e' a isso que se chama soberania. Os arabes sao tao inteligentes e capazes como nos. Nao precisam de paizinhos ou policia a tomar conta deles. Ainda menos precisam de Abu Ghraibs, Shells, BPs ou Halliburtons a sugar-lhes o tutano.

2. A tua escolha de exemplos, como a Turquia e os Curdos, nao e' nada feliz, porque quem financiou os massacres levados a cabo pela Turquia (ou o Irque) sobre os Curdos foi o ocidente: EUA 'a cabeca, Inglaterra, Alemanha e outros lacaios como Portugal. E mais uma vez assim se ve o teu racismo. Afinal todos os males do mundo vem do oriente, nao e' assim?

3. E nao venhas com essa historia do uranio e das armas nucleares no medio oriente. Como todos sempre soubemos, nunca foram encontrados sequer vestigios no Iraque. O pais que mais investe, que ameaca e o unico que usou e continua a usar armas nucleares sao os EUA.
 
ah! se tem amigos la entao calo-me, de facto isso muda tudo!!!
 
as amizades nao sao "argumentos de autoridade", nao sabes que nomes tenho na minha lista telefonica, nao sabes quem eu sou, nem onde estou ou o que faco... esse e' um jogo retorico facil, e que nos faz de imediato abandonar o discurso politico.

pergunto-me que solidariedades sao estas que vos deixam ir aos copos e conversar, mas quando se trata de devolver a soberania a estes povos, de acabar com a ocupacao pirata do seu territorio arrepiam caminho!
 
Meus amigos, chamaram-me aqui racista.

Dei-vos então a opinião que recolhi em primeira mão de algumas pessoas que são meus amigos pessoais. E que são kurdos. Dois deles vindos de lá há poucos meses. Todos eles, não são muitos (6) mas são de várias zonas e diferentes backgunds, concordam que ainda é cedo para a saída dos Americanos.

Se a vossa opinião é melhor que a deles e minha não sei. Sei que ao menos os gajos são de lá, viveram o Sadam e agora vivem o que vivem. Reportam esperança e noto que estão confiantes no futuro.

O que sei é que chamarem-me racista e paternalista é algo que não posso deixar passar em claro. Eles têm as mesmas opiniões que eu. Sao de lá. São racistas e paternalistas em relação a quem? A si próprios?

É só isso. Abraço
 
Só para não me pensarem que comi e calei venho reafirmar a linha do Cabral e Dolores aqui definida.
 
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