28 abril 2006

 

Escravidão


Com o discurso de Sócrates no parlamento ficámos a saber um pouco mais do que nos espera. Se o provérbio diz que enquanto há vida, há esperança, ontem passámos a conhecer uma nova versão: enquanto há vida, há que trabalhar. Emprego, esse será mais duvidoso, já que o mercado de trabalho rejeita trabalhadores de 50 ou mesmo 40 anos e muitos jovens não têm melhor futuro. A esperança de vida deixa de ser um ganho social, para ser um ganho de exploração, nem que seja pela subida do desemprego e baixa de salários.

Gostava de ilustrar as diferentes facetas/leituras da mesma proposta com a apresentação de alguns títulos de jornais:
- Público: «Trabalhar mais anos, descontar mais e receber menos reforma»
- Diário de Notícias: «Reformas mais baixas para todos já em 2007»
- Jornal de Notícias: «Menos reforma e mais longe»
- 24horas: «Sócrates deixa de garantir reformas aos 65 anos»

Em dois dos jornais económicos, a história é um pouco diferente:
- Jornal de Negócios: «Pensões mudam você escolhe»
- Diário Económico: «Governo garante reformas mas pede mais anos de trabalho»
- Semanário Económico: «Governo estuda carreira contributiva com 42 anos»

Uma vez mais os roubos dos sucessivos governos (já aqui denunciados) são "esquecidos". Quem paga são os mesmos de sempre com a agravante de daqui a uns anos certamente haverá outros Sócrates com a mesma conversa.

E agora toca a trabalhar antes que o Sócrates nos apanhe a conversar...

 

Os deputados mais faltosos


Encerramos com este post o nosso dever de serviço público. Desta vez apresentamos os deputados mais faltosos. Chamamos a atenção de quão enganador é este ranking já que a maioria assina e dá de frosques quando pode, como se viu dia 12. Por outro lado, referem-se apenas às faltas justificadas (como publicado no DN). Diga-se que a justificação tem muito que se lhe diga (baseada na palavra de honra). Há um tempo foi tudo em excursão para Sevilha a um jogo de futebol...

Destaco particularmente Manuel Maria Carrilho, João Soares, Nuno da Câmara Pereira e Paulo Portas por terem assinado e se pirado, o que quer dizer que provavelmente faltaram a bem mais que a 31% a 40% das sessões

Ranking dos dez mais faltosos (das 61 sessões de Março a Novembro de 2005):
1º lugar - Virgílio Costa (PSD) Círculo eleitoral de Braga - 24 faltas (40%)
2º lugar - Manuel Maria Carrilho (PS) 23 faltas
3º lugar - Dias Loureiro (PSD) C. E. de Lisboa - 21 faltas
4º lugar - João Soares (PS) - 21 faltas
5º lugar - Nuno da Câmara Pereira (PSD) CE Lisboa - 21 faltas
6º lugar - Marques Mendes (PSD) CE Aveiro - 20 faltas
7º lugar - Paulo Portas (CDS) - 19 faltas
8º lugar - Gonçalo Santos (PSD) CE Madeira - 19 faltas
9º lugar - Jerónimo de Sousa (PCP) - 18 faltas
10º lugar - Paulo Rangel (PSD) CE Porto - 18 faltas

Só de referir que no Debate da Nação de quarta ou quinta ainda teve de se ouvir alguns deputados, especialmente Pires de Lima (CDS-PP), a queixarem-se que noutros países nem há faltas. Estes senhores que impõem a todos os outros regimes inflexíveis, gostavam de usufruir de um sistema mais flexível. Imagine-se, mais flexível que a sua palavra de honra...

27 abril 2006

 

O mito da retirada


Muito se tem falado da retirada dos colonatos israelitas da Palestina, retirada essa que representa menos de 5% dos territórios actualmente ocupados. Mas silenciosamente, Israel tem-se dedicado à anexação de mais e melhores zonas. Quem é que quer a Faixa de Gaza, deserta e seca, quando se pode ter oasis na Cisjordânia?

O governo israelita quer estabelecer as fronteiras finais de Israel até 2010 e o novo mapa foi recentemente revelado. Inclui os já ocupados territórios de Jerusalém Oriental e os Montes Golã, e vai-se extender, nos próximos anos, aos grandes colonatos na Cisjordânia, como Gush Etzion, no sul, Ariel e Kedumim, no norte, e Maale Adumim, a leste de Jerusalém. O plano inclui também a anexação de Hebron e do Vale do Jordão, que lhes vai dar controlo sobre toda a fronteira com a Jordânia.

Com as novas ocupações, Israel não só alarga ainda mais o seu domínio sobre a população palestiniana, como controla o acesso às preciosas terras férteis e fontes de água. O Sr. Katz-Oz, representante israelita para os assuntos da água, deixou claro: “There is no reason for Palestinians to claim that just because they sit on lands, they have the rights to that water.”

Israel transgride da forma mais brutal todas as leis internacionais, mata uma média de dois palestinianos por dia e já atirou para a miséria mais de 75% da população palestiniana. Tal como ouvi uma mulher israelita dizer: Israel é um exército com um país.

 

IRS



26 abril 2006

 

António Aleixo


Morreu em 1949 e tinha olho para a coisa:

"Condecoro o Presidente...
E sabem por que razões?...
- Por ter posto a tanta gente
Tantas condecorações!"

(In "Inéditos", editado em 1979)

 

Próóóótagonismo


Pedro Rolo Duarte escreveu no DN de hoje sobre o site do Laurentino.

O Secretário de Estado da Juventude parece que abusa na aparição em fotografias no site da Secretaria de Estado.

Um bom exemplo de como a política é entendida por estes brilhantes funcionários em Portugal.

 

O 25 de Abril de 2006 no Nepal


Ontem, festejámos o fim de uma ditadura fascista que manteve o país na ignorância e miséria, o mínimo denominador comum dos diversos significados do 25 de Abril para diferentes sectores da população.

Entretanto, o Nepal levanta-se contra o rei todo-poderoso. Também ontem recebi a seguinte informação de um amigo do Nepal:

"Here in Nepal, finally our 19 days struggle ended yesterday night after the second proclaimation of the king to restore democracy. It is one of the happiest days in Nepal. Now people can vote for a constiuent assebly that hopefully takes place soon.

The whole country was on turmoil as 1.5 million people were on the street demonstration in Kathmandu alone, that is about three fourth population of the city. More than 16 died in the name of demonstration clashing to the army and more than 5000 injured seriously. Today there are big rallies going on in the streets."

Por seu lado, a guerrilha maoísta garante que o rei não pretende permitir uma nova Constituição, mas manter o essencial dos seus poderes. Denuncia ainda que os partidos parlamentares romperam um acordo de 12 pontos (com a guerrilha), por um prato de lentilhas. (informação do DN)

Enquanto se espera desenvolvimentos, gostava de congratular a resistência do povo nepalês perante a prepotência de um rei que mantém o seu povo na miséria.

 

As faltas e os funcionários


Na continuação do post abaixo, só me apetece lembrar a lógica do nosso Exmo. muito estimado prezado Presidente da República que enquanto Primeiro-Ministro lembrava a solução última para a "praga" dos funcionários públicos. É esperar que eles morram. O problema destes funcionários públicos é que nem com soluções últimas o problema se resolve. De eleição em eleição lá vamos renovando a canalha... (o último substantivo deve-se a inspirações 25 Abrilenas...)

Aplauda-se a consistência de Manuel Alegre que mesmo antes do discurso, já criticava qualquer tentativa de raspanete...

É tudo boa gente.

 

Serviço Público: Os deputados faltosos do PS


O Bitoque no sentido de manter o subsídio estatal de entidade de serviço público, tem de fazer a quotazinha mensal de "serviço público". Como tal, decidimos publicitar alguns dos deputados que assinando o livro de presenças, piraram-se mais cedo. Hoje dedicamo-nos ao PS. Não nos referimos aos 6 em missão no estrangeiro ou aos 7 sem falta justificada (faço uma excepçãozinha para o crápula do José Lello). Assim, dos 42 apresentamos estes nomes:

Afonso Candal, António Vitorino, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, José Lamego (terá ido dar um salto ao Iraque?), João Soares, Luís Pita Ameixa, Manuel Alegre, Manuel Maria Carrilho, Vítor Ramalho.

Da próxima vez que os virem podem perguntar: Onde é que estiveram no 12 de Abril de 2006?

PS - Sabe-se que a amostra de um dia é certamente pouco representativa e injusta para diversos deputados. Com outra metodologia, certamente se apanhariam muitos mais em falta.

25 abril 2006

 

Hoje, Avenida da Liberdade, das 15h em diante...


Gente, muita gente. Nas notícias poderiam ter falado em várias dezenas de milhar de pessoas. O "desfile" deste ano foi grande, com a ajuda do sol. Os cravos eram a 0,5€ e apareciam de quando em vez umas senhoras menos jovens a vender "autocolantes do 25 de Abril", mas achei o empreendedorismo demasiado ridículo para procurar o preço. No final da marcha, já no Rossio, os discursos das personalidades recordam a revolução, elogiam os militares, lamentam o estado do país e o rumo que este tomou durante os 32 anos que entretanto passaram. Relembra-se vagamente o PREC, a participação cívica, o "poder que caiu à rua" de onde nunca devia ter saído. Foram mais uma vez discursos de lamentação. Fomos capazes de um fazer um acontecimento histórico notável, e eis que agora somos um povo conformado, acobardado perante o furor da burguesia reinante, entusiasmada em apagar o pouco que se conquistou no fim da ditadura. Não participamos, não exigimos, não responsabilizamos, apenas nos lamentamos. Desde que o clube ganhe o campeonato e os trocos cheguem para o tabaco, o resto que se lixe. O clima é bom e os petiscos abundam, a vida é curta para nos metermos nessas coisas de política. Alguém que trate disso que nós não queremos saber, pagamos os impostos e basta. No final dos discursos de hoje no Rossio, alguém remata com um "até para o ano!". Precisamente. Apenas até para o ano, quando nos voltarmos a encontrar para recordar de como fomos bons em 1974 e em 1975 e quão melhor poderíamos estar hoje, para relembrar os projectos caídos e os sonhos roubados, tudo numa gigantesca sessão de terapia de grupo. Até lá cada um no seu canto, que isto não está para aventuras.

24 abril 2006

 

Afogamentos e submarinos


Confesso que não me recordo de alguma vez ter citado o Miguel Cadilhe. Vejo-me forçado a fazê-lo quando ele chama a atenção para o disparate da compra de submarinos. Para além de outras considerações, fez uma pergunta simples: para que é que os submarinos servem?

Especialmente quando Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças diz:
“Se a realidade [económica] for tal que exija novas medidas, elas serão tomadas”. “Mas o Governo está inabalável no sentido de cumprir a meta orçamental, qualquer que seja o cenário macroeconómico daqui a seis ou sete meses”
"Não vale a pena sofrer já", [sobre quais as medidas extraordinárias a que poderá deitar mão para manter a meta de défice com que Portugal se comprometeu perante Bruxelas]. "Se o pior cenário se concretizar, serão medidas de rigor, que impõem custos, e não vale a pena acenar com medidas hipotéticas e criar inquietude desnecessária".

Acabar de vez com a ideia dos submarinos talvez não fosse má ideia.

 

Tele-Revolução


Para celebrar a revolução do 25 de Abril, a RTP volta a mostrar o seu conceito de serviço público. A programação parece ser de qualidade (à excepção do “Aquele Abril”…), mas a verdade é que qualquer telespectador mais interessado se vê perante o dilema de passar a noite em claro para ver os vários programas ou ir no dia seguinte à manifestação que desce a Avenida da Liberdade.

Com serviço público desta qualidade…

22 abril 2006

 

A vida vai torta, descai para a direita



21 abril 2006

 

Serviço Público: Os deputados faltosos do PSD


Continuando a nossa função de serviço público anunciamos agora os deputados do PSD que foram mais cedo para casa.

António Silva Preto, Arménio Santos, Guilherme Silva, Helena Lopes da Costa, José Pedro Aguiar Branco, Luis Campos Ferreira, Luis Pais Antunes, Miguel Macedo, Pedro Duarte, Pedro Pinto e a crápula da Zita Seabra. Especialmente referência deve ir para o nosso monárquico cantor Nuno da Câmara Pereira (e no top 5 dos faltosos), que parece foi cantar para outra freguesia.

Dos ausentes sem justificação destacam-se Ana Manso, Duarte Lima, Feliciano Barreiras Duarte, Fernando Negrão, José Eduardo Martins, José Raul dos Santos,Luis Marques Mendes, Miguel Relvas, Paulo Castro Rangel e Rosário Águas.

 

A Múmia - 2


«Foi ali (...) que viu pela primeira vez o seu retrato oficial como Presidente da República. Lá estava, já emoldurado, presidindo da parede, como lhe competia, ao lugar onde foi assinado o livro de honra do aquartelamento. "Ainda não tinha visto a fotografia oficial", confessou, aparentemente apanhado de surpresa. Gosta? perguntaram-lhe os jornalistas. "Ainda tenho que ver com mais cuidado", respondeu Cavaco, cauteloso como sempre»

Filipe Santos Costa
DN, 21-4

 

Sobre o (des)emprego


Recentemente fomos brindados com a notícia que o emprego tinha subido e o desemprego descido em Março deste ano. Na altura, Francisco Madelino, Presidente do Instituto do (Des)Emprego e Formação Profissional, foi bastante cauteloso, referindo que as alterações não eram significativas e não se devia embandeirar em arco. A postura aprentemente cautelosa e séria já ia tarde para alguns membros do governo/PS que já festejavam o acontecimento.

Hoje, soube-se que foi exactamente em Março que entrou em pleno um mecanismo de cruzamento de dados entre quem desconta para Segurança Social e os Desempregados. Quem desconta, viu o seu estatuto passar a empregado. As alterações no emprego/desemprego foram em grande parte de cariz metodológico, deixando de haver comparabilidade dos números. Se foi a principal causa não sei, mas lá que ajudou, ajudou. Francisco Madelino não era cauteloso, pois sabia do que falava, isto é, sabia da marosca.

Para breve prometo uma peçazita sobre o conceito de emprego destes senhores...

20 abril 2006

 

God save the queen, she aint no human being


A família mais inútil de Inglaterra, a família real, celebra amanhã o octogésimo aniversário da matriarca. Sendo impossível calcular a riqueza da família, alguns números falam por si. Directamente do estado recebem 6 milhões de libras por ano, dos impostos ganham 10 milhões e de outros dinheiros públicos, como Fundações, mais 20 milhões.

Para a história fica que a única vez que a rainha chorou em público foi quando, em 1997, o estado se recusou a comprar-lhe um novo iate.

 

Destruição III


Os companheiros do Monte já vão no Destruição III, e prometem continuar:

"quinta__20__projecções
21h00 // "A feira das atrocidades", manipulações de vídeo e som [ apresentação por Frederic Duarte ]
22h00 // "The Atrocity Exhibition", de Jonathan Weiss ( a partir do livro de J.G. Ballard ) 2000 E.U.A. Drama

sábado__22__conversas
15h00 // sobre paisagens da destruição e demolições na cidade [ com José Pulido Valente e Tiago Mota Saraiva ]
// difusão do comunicado da Frente para Antecipação do Grande Terramoto de Lisboa (FAGTL)
// apresentação do Mapa de Embelezamento Racional da Cidade de Lisboa

domingo__23__deambulação por lisboa
12h00 // de Monsanto a Cacilhas, passeio a pé através do Corredor Verde nos bastidores da Cidade Cinzenta
[ Jardim do Bairro do Calhau (Monsanto) 12h00 > Picnic no Anfiteatro (Alto do Parque Eduardo VII) 15h00
> Terminal Fluvial (Cais do Sodré) 16h30 > Cais do Ginjal (Cacilhas) ]

quarta__26__projecções+dj set
21h00 // lançamento do disco "Limb Shop" Mécanosphère
[ Adolfo Luxúria Canibal, Benjamin Brejon e Jonathan Saldanha ]

quinta__27__projecções
21h00 // 4 curtas-metragens, de Marguerite Duras [ apresentação por Susana Nascimento Duarte ]
Césarée 1979 11'
Les Mains Négatives 1979 18'
Aurélia Steiner (Melbourne) 1979 35'
Aurélia Steiner (Vancouver) 1979 48'

sexta__28__manipulações
21h00 // de imagem e som a partir de "TETSUO (The Iron Man)", de Shinya Tsukamoto 1988 Japão Sci-Fi
[ por UR: Nuno Morão + André Sier ]

sábado__29__conversas
18h00 // sobre o prazer da destruição [ com Alberto Pimenta ]

domingo__30__conversas+projecção
18h00 // sobre contra-informação e médias tácticos [ com presença de membro do Centro de Média Independente ]
// "13M: Multitudes Online", de Víctor Sampedro Blanco 2005 Espanha Documentário "

http://www.monteolivete.blogspot.com/

19 abril 2006

 

O dinheiro


"O dinheiro é melhor do que a pobreza, nem que seja por motivos financeiros."

Woody Allen , in Público

18 abril 2006

 

De pernas para o ar


Não é fácil usar a McDonald’s para promover uma alimentação variada ou a Philip Morris para informar sobre os malefícios do tabaco. Mas num sistema capitalista que se preze, tudo está virado do avesso e são precisamente estas duas empresas que agora fazem divulgação sobre cuidados de saúde.

A McDonald’s tem panfletos super-detalhados sobre o que consumir para ter uma alimentação equilibrada – quantas calorias por dia, quais os nutrientes e que tipo de alimentos. Para nos ajudar tem também uma tabela, completamente ilegível pelo seu detalhe (23 colunas por 115 linhas), que nos dá a ilusão de que é possível chegar a essa dieta ideal combinando Chicken Nuggets com Low Fat Ice Cream. Os vegetarianos é que estão tramados porque em pé de página vem o aviso de que até as saladas podem conter vestígios de animais (o que isto no diz sobre a higiene nas cozinhas McDonald’s!).

Ainda mais impressionante é a campanha publicitária da Philip Morris, que já nem tenta dizer bem dos cigarros. Nada de cowboys giros de cigarro na boca. Tudo o que anunciam é o seu website que contém dados sobre os riscos associados ao tabaco, informação para pais de adolescentes fumadores e para mulheres grávidas. O site não traz nada de novo, nem nada de especialmente chocante, antes pelo contrário, o que contém é bastante senso-comum. Mas tal como a tabela da McDonald’s, o site da Philip Morris não tenta informar, tenta antes passar a ideia de que a Philip Morris se preocupa connosco e que nela podemos confiar.

Já não se vendem bons e maus produtos. Vendem-se boas e más marcas. E num mundo de pernas para o ar, a McDonald’s e a Philip Morris são boas marcas. Só temos que esquecer aquilo que nos vendem.

 

O poder do império


Numa altura em que os tambores de guerra começam a rufar em direcção ao Irão, podendo vir a haver mais apoio nesta intervenção do que houve na ocupação do Iraque, não deixa de ser impressionante o poderio militar dos EUA. Numa altura em que o Afeganistão continua cheio de tropas, a resistência iraquiana não dá tréguas, obrigando a um enorme contingente de tropas sempre presente, a ideia de esticar as tropas e invadir o vizinho Irão não deixa de parecer megalómana. Ou o exército dos EUA é realmente poderosíssimo e conseguirão ocupar mais um, ou estão a contar com o apoio e as tropas de outros países, ou então a administração Bush perdeu de vez o contacto com a realidade na sua ânsia de petróleo e domínio...

A imagem foi gentilmente retirada(!) do endereço http://imatt.us/mt/archives/2005/01/?start=5 . A não perder...

 

Do meu eurocentrismo


Em tempos idos a Venezuela foi apelidada de Suiça da América do Sul. Com o bolivarismo quer agora tornar-se a Noruega da América do Sul.

17 abril 2006

 

As legendas


"Por alguma razão sou mais apreciado em França do que na minha terra. As legendas devem ser incrivelmente boas."

Woody Allen, in Público

 

A estatística da comunicação social


Quando se ouvem os relatos das "operações Páscoa" ou "Natal" ou seja o que for da Brigada de Trânsito, fica sempre a faltar qualquer coisa. O que nos interessa saber o número de acidentes num determinado período se não sabemos a média semanal ou mensal, ou seja o que for, para termos uma ideia da discrepância dos números? O que nos diz o dado de termos tido menos 5 mortos do que no ano passado se não temos uma ideia do desvio padrão para dizer se esta variação é normal ou corresponde a uma alteração dos comportamentos dos condutores? O que é que se pode aprender com um número absoluto de mais de 1000 acidentes num fim de semana se não temos a média dos outros fins de semana nem a relação com o aumento de tráfego, para podermos avaliar se o número de acidentes aumenta linearmente com o aumento de tráfego ou se nos tornamos ainda mais animalescos nestes períodos? Poder-se-ia argumentar que isto é material para um qualquer investigador que queira publicar um artigo científico algures e fazer umas conferências com ilustres membros do governo. No entanto, o jornalista competente e interessado numa informação crítica e esclarecedora, ao invés do sensacionalismo novelístico que temos a passar no dito horário nobre, poderia encarar isto como as questões óbvias e mais importantes a fazer aos aprumados agentes que se pavoneiam diante das camaras...

16 abril 2006

 

Domingo de Páscoa


Na Páscoa não podemos evitar falar do inevitável:

"O homem foi feito à semelhança de Deus. Acredita realmente que deus tem cabelo ruivo e óculos?"
Woody Allen, in Público

15 abril 2006

 

O exemplo e as alternativas


Com 120 ausentes, das quais 13 justificadas, a Assembleia da República deu bronca. Como foi votação nós até soubemos, mas infelizmente os relatos são bem mais frequentes nas dicussões. Dois terços (67!!!) dos deputados do PSD, 40 por cento dos do PS honraram-nos em não estar presentes. É bom que os podres desta democraciazita se saibam. Especialmente quando andam a exigir ao pessoal rigor, profissionalismo, e tudo o mais. Infelizmente, em Portugal há muito que somos governados (e deixamo-nos governar) por uma elite parasitária, corrupta e incompetente.

Os Verdes, o BE e o PCP marcaram presença e distinguem-se uma vez mais como os mais competentes e responsáveis neste país de opereta. Esta esquerda (dita por uns radical) apresenta muitas reformas válidas ou pelos menos racionais, em muitos casos medidas já em vigor noutros países. A manipulação forte dos media, a ignorância e preconceitos antigos são alguns dos factores que lhes impedem crescer em votação. Dá vontade de clamar deêm-lhes o governo para que surja o espaço para alternativas à sua esquerda.

14 abril 2006

 

A Páscoa do centrão


A Assembleia da República não foi a votos na 4.ª feira por falta de quórum. Falta de deputados, portanto. Precisamente 49 do PS, 50 do PSD, 5 do CDS, 2 do PCP e 1 do BE.

Marques Guedes, do alto da sua demagogia, acha que é uma vergonha o PS não ter conseguido assegurar o quórum e que tal coisa nunca aconteceu nos tempos das maiorias PSD. Ora o senhor deputado esqueceu-se de explicar que dois terços dos deputados do seu próprio partido não compareceram à sessão.

Mas o que salta claramente à vista é quem é que não esteve lá: as faltas do PS e do PSD totalizam quase metade dos deputados com assento na Assembleia. Estes senhores, que tanto gostam de culpar os funcionários públicos por tudo o que acontece de errado no país, conseguiram ir de férias mais cedo que estes e assinar o livro de presenças ao mesmo tempo.

É o dom da ubiquidade, pois claro!

 

Palavra de honra


O DN apresentou um resumo cronológico da situação no Sporting:

"Soares Franco garantiu-me que não seria candidato por isso o deixei no meu lugar."
Dias da Cunha

"Se a proposta for chumbada não há condições para ir a eleições."
Soares Franco, 16 de Março

"Estes candidatos não me deixam sossegado."
Soares Franco, 21 de Março

"Nunca digo nunca."
Soares Franco, 1 de Abril

 

Agenda


Hoje venho propor carregarem um pouco mais a agenda social.

i) Os companheiros do Monte Olivete prometem mais destruição:

"Destruições II
conversas, sons, projecções e deambulações em Abril no Monte

sábado__08__conversa+workshop
15h00 // sobre tecnologias intrusivas, software livre e copyright

domingo__09__conversa+projecção
15h00 // sobre civilização e contra-civilização pelo grupo editorial Coice de Mula

quinta__13__projecção
21h00 // "S21 - La machine de mort Khmère rouge", de Rithy Panh 2002 Cambodja Documentário [ apresentação por Nuno Lisboa ]

sexta__14__conversa+projecção
20h00 // sobre teatro e a destruição [com Gonçalo Amorim, Miguel Castro Caldas e Miguel Moreira]
22h00 // "One Week", de Edward F. Cline & Buster Keaton 1920 E.U.A. Curta-metragem
[ Norberto Lobo apresenta improvisação sonora sobre o filme ]

sábado__15__conversa+festa
15h00 // sobre destruição como acção política [introdução histórica aos Luditas por José Neves]
17h00 // Matiné Apocalíptica II [Dj Kilombo]

domingo__16__conversa+projecção
15h00 // sobre urbanismo selvagem: uma praça ocupada em Barcelona [Forat de la Vergonya]

O Monte § Rua do Monte Olivete, 30A, r/c 1200-280 Lisboa §
ao Príncipe Real (perpendicular à Rua da Escola Politécnica, junto à Antiga Faculdade de Ciências) §
<www.monteolivete.blogspot.com> § <monteolivete@gmail.com>"



ii) Já o Centro de Estudos Operários apresentam "Vozes Insubmissas na Livraria Cem Medos":


"No âmbito das comemorações dos 32 anos de Abril, o Centro de Estudos Operários - Memória Laboral (CEO-ML) promove um conjunto de conversas relativas a esta data. Estas conversas têm lugar na Livraria Cem Medos, Rua da Rosa, 99-A, ao Bairro Alto, Lisboa.

As conversas marcadas são:

14 de Abril, 6ª-feira, 22h30 - Com José Casanova, apresentação do livro "Aquela Noite de Natal". Moderardor: Pedro Namora.

18 de Abril, 3ª-feira, 21h30 - Com Francisco Martins Rodrigues. Tema: "A corrente marxista-leninista". Moderador: António Alves.

19 de Abril, 4ª-feira, 21h30 - Com Otelo Saraiva de Carvalho. Tema: "O Poder Popular e a contra-revolução". Moderadora: Felícia Cabrita.

21 de Abril, 6ª-feira, 22h30 - Com António Santos Júnior. Tema: "O sindicalismo independente e a luta contra o fascismo". Moderador: António Louçã.

22 de Abril, sábado, 22h30 - Com Pedro Alves. Tema: "Os maoistas e a revolução". Moderador: António Alte Pinho.

Durante o mês de Abril, o CEO-ML terá presente no espaço da Livraria Cem Medos a exposição documental "Revolução e AgitProp" com base em alguns documentos saídos a partir dos diversos grupos políticos no período anterior ao 25 de Abril e do após esta data.

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O Centro de Estudos Operários - Memória Laboral (CEO-ML) é um pequeno colectivo que tem como objectivo preservar a memória da história recente do país, tão maltratada pelos historiadores oficiais do regime. Procede à recolha de documentação e testemunhos e promove iniciativas de divulgação dessa memória para que não fique só a versão dos vencedores. Preservar a memória também é resistir!"

13 abril 2006

 

Berlusco(glio)ni


Ouvi nas notícias que o líder da Mafia siciliana tinha sido preso. Será um sinal para o líder da Mafia do Norte?

12 abril 2006

 

A surpresa italiana


A capacidade de Sílvio Berlusconi nos surpreender já é pouca, depois de todas as barbaridades que têm feito. Por isso, é sem surpresa que ele recusa o resultado das eleições e a vitória de Prodi. O que poderia surpreender nesta situação é o facto de os resultados terem sido tão próximos. A Itália está numa crise económica profunda, as condições de vida dos italianos pioraram durante os 5 anos de Berlusconi, os escândalos com a justiça sucederam-se, assim como a profusão de leis feitas à medida do primeiro-ministro. O apoio de partidos neo-fascistas levou a que os comícios da Casa das Liberdades tivessem reminescências dos tempos de Mussolini. A pior das demagogias imperou na campanha, com aquela cereja no topo do bolo que foi a afirmação de que os comunistas chineses ferviam crianças para fertilizar os campos. Uma campanha baseada na demagogia, na demonização do adversário (que nem sequer é comunista, longe disso), faz pensar qual o estado da cultura política dos italianos, assim como a reeleição de Bush nos fez pensar sobre os votantes nos EUA. Mas no caso de Itália, o facto de Berlusconi ser um magnata de televisão e poder controlar muito bem o enorme poder da comunicação social, terá sido certamente um aspecto determinante nos resultados destas eleições.

10 abril 2006

 

A virtude do meio


Com toda a fúria do défice, com todos os esforços herculeos que todos os nossos governantes andam a fazer (!), eis que encontrei uma forma simples para poupar uns cobres valentes. Observando bem os padrões de condução dos condutores tugas, podemos sem qualquer prejuízo relevante para a fluidez do tráfego abolir a faixa da direita quando existem três. Pensem nos quilómetros de alcatrão que se poupam aquando da construção das vias (ou então a derrapagem orçamental mantém-se, simplesmente vai haver mais dinheiro para distribuir), os custos de manutenção reduzidos, a redução das expropriações necessárias, salvaguardando melhor a sacrossanta propriedade. Se o bom condutor tuga entra numa AE e logo acende furiosamente o pisca até conseguir chegar à faixa do meio, independentemente do trânsito que encontra na faixa da direita, não se importando se ao circular a 70 km/h na faixa do meio com a da direita vazia possa ou não dificultar a fluidez do tráfego, acho que essa coisa de ter três faixas nas AE é apenas mais um sinal da megalomania lusa, tal como foram os 10 estádios de futebol. Porque é óbvio que o problema não é dos condutores nem da formação que tiveram...

09 abril 2006

 

Sobre a liberdade de expressão


Se é verdade que a liberdade de expressão é em muitos campos garantida, e o próprio direito a "dissent", também é verdade que o espaço deixado ao mesmo nunca foi tão pequeno. Com a explosão de tecnologias de comunicação, não se assiste a um multiplicar de pontos de vista, mas a um martelar incessante das mesmas opiniões. Folheiem-se os jornais, leiam-se os blogues mais povoados. As premissas são sempre as mesmas: "a praga do funcionário público", o "terror", o "extremismo islâmico",... repetidas mil vezes até à exaustão. Mas onde foram colocados os outros pontos? Eles existem, mas estão perdidos nalgum pequeno debate numa biblioteca ou num website num obscuro link...

Leia-se a lista dos 20 blogues portugueses mais vistos, além da pornografia, só fica espaço para os blogues da linha do costume... excepção feita, com todas as honras devidas, ao Renas e Veados. (não, não considero o AspirinaB um blogue que fuja da linha. Eles não buscaram a "dissent", buscaram pluralidade, sem ver que quem precisa de pluralidade não era o seu blogue, mas a própria blogosfera...)

Um livro ilegal no tempo da "outra senhora" atingia mais público do que os livros de hoje,... apesar da sua bonita legalidade.

E então, de que serve a minha liberdade, se ninguém ouve a minha "expressão"?

07 abril 2006

 

Reescrever a história

Em determinados períodos históricos o poder desmedido de determinada ortodoxia ou a ambição de poder incentiva a alteração de factos ou a pura mentira para que seja mais conveniente à sua parte. O processo em larga escala mais recente foi o “fim da história” anunciado pelos arautos do costume e a diabolização de tudo quanto se denominou comunista. A investigação e livros dispararam e Anne Applebaum é um dos seus expoentes. Em Portugal, também tivemos a nossa quota-parte, mas à nossa medida, pequeninos e enfezadinhos.

Infelizmente, também a Esquerda usou e abusou destes estratagemas. Estaline era famoso por mandar apagar outras figuras dos retratos oficiais à medida que estas iam sendo purgadas. Noutro registo, uma crónica no Público num aniversário do BE (ou seria da extinção do PSR?), esforçava por estender as raízes do movimento ao 25 de Abril de 1974 ou até data anterior, confundindo o percurso político de alguns dos seus activistas com a história do organismo.

Recentemente alguns senadores norte-americanos resolveram instruir os seus gabinetes a alterar a sua biografia na Wikipedia*. As alterações variaram do simples apagar de informações ou da modificação de pequenos detalhes aos casos mais substanciais. Um artigo sobre George Bush foi o aspecto mais disputado. Mas, e apesar de parecer ser mais fácil, pelo menos neste caso foram detectados e o descaramento não compensou. A Wikipedia tropeçou mas não caiu neste obstáculo.


*A Wikipedia é uma enciclopédia online que tem a particularidade de qualquer pessoa poder acrescentar/alterar informação. No entanto, o debate gerado e a avaliação por outros utilizadores permite uma certa fiabilidade levando a que a Nature a comparasse com a Enciclopédia Britânica.

 

A solução para a Educação


Que a ilustre Ministra da Educação ponha os olhos nesta notícia. Com a sua política de apontar os professores como um dos principais problemas do sistema, e considerando que estes já têm um prestígio social bastante reduzido, talvez fosse fácil legislar de modo a legalizar estas situações, para que o ensino entre nos eixos e para que os pais fiquem satisfeitos com a educação dos seus filhos, não tendo de pagar uma multa ou cumprir pena por um serviço tão bem prestado ao sistema de ensino português. É preciso vir uma mãe de Repeses ensinar os nossos políticos a governar! Atente bem, Sra. Ministra, veja como se faz!

 

Até nisto andamos atrasados...


Os EUA iniciaram diálogos com a resistência Iraquiana.

Alguém é capaz de ir avisar o José Manuel Fernandes que até os americanos já lhe começam a chamar resistência?

06 abril 2006

 

A sobriedade da banca


Em tempos de crise os pedidos de sobriedade dos portugueses são os que mais abundam. De Patrões ao Primeiro-Ministro, de Presidentes da República a do Banco de Portugal (tudo gente maiúscula), poucos faltaram a fazer o apelo à sociedade. Se de administração pública, de défice orçamentais estamos fartos de discutir, hoje vamos dedicar umas linhas ao sector privado.

O Jornal de Negócios de hoje noticia que “os três maiores bancos privados nacionais [BCP, BES e BPI] gastaram no ano passado 47,9 milhões de euros para remunerar os seus administradores.” Esta soma “apenas” corresponde a 4% dos lucros. O BCP lidera com 31 milhões e 340 mil euros (perdoem-me os acertos), enquanto o BES e o BPI apenas distribuíram 9 milhões e 792 mil e 6 milhões e 753 mil euros, respectivamente, ao seu conselho de administração.

Em tempos de crise os bancos viram aumentar os seus lucros: o BCP aumentou para 753,5 milhões de euros, um aumento de 24% face a 2004; o BES lucrou 280,5 milhões de euros, o que significou um acréscimo de 85% face a 2004; já o BPI ficou-se pelos 250,9 milhões de euros, um aumento de 58% face ao ano anterior. As remunerações também cresceram face ao ano anterior. No BES os administradores viram as suas remunerações aumentar mais de 40% face ao ano anterior, enquanto os do BPI apenas subia quase 10%. Já os administradores do BCP encontram-se como a maior parte dos trabalhadores portugueses, registando um aumento de 0,06% e tendo conseguido esticar o seu bolo global de 31 milhões de euros até ao final do ano. É obra!

Bem me diziam para ir para banqueiro…

 

Uma vez mais terrorismo social



Terrorismo – “é o uso de violência, física ou psicológica, por indivíduos, ou grupos políticos, contra a ordem estabelecida. Entende-se, no entanto, que uma dada ordem pública também possa ser terrorista na medida em que faça uso dos mesmos meios, a violência, para atingir seus fins.” (Wikipedia)*

aqui escrevi sobre as últimas modalidades de terrorismo social praticado pelo Governo de Sócrates.

No entanto, tal parece não os satisfazer. O mandato ainda vai no princípio e sem eleições à vista, preparam-se para continuar a bater nos mesmos. Agora o Governo propõe-se livrar-nos de uns tantos milhares de “perniciosos” funcionários públicos. Antes das reuniões com os parceiros sociais os números em avaliação foram ventilados para a comunicação social como arma de intimidação de trabalhadores e sindicatos – já que objectivos dos futuros organismos continuam por definir. Como só uma parte destes trabalhadores será efectivamente considerada supranumerária, todos são convidados a portarem-se bem nos próximos tempos. Na prática, isto apenas é uma medida de terrorismo social. Os que saiem são rotulados como redundantes, enquanto os que ficam devem agradecer a benevolência.

Mas de quantos funcionários estamos a falar? A tabela apresenta os dados por diferentes ministérios. São mais de 75 mil trabalhadores em avaliação dos 181 mil considerados. A percentagem de trabalhadores em avaliação chega a mais de 90% dos trabalhadores do quadro em diferentes ministérios!

Toda esta forma de agir só pode lançar o pânico entre os trabalhadores envolvidos. Para além disso, o problema central da Administração Pública continua por resolver. Muitos dos que agora são ameaçados com a porta da rua não foram os que criaram estruturas duplas ou triplas para fazer as mesmas coisas ao longo dos anos. Não foram também eles que em vez de aproveitarem os funcionários existentes, preferem pagar somas milionárias a empresas privadas por trabalhos regulares. Diga-se também que o senso comum de que o funcionário público não quer trabalhar por preguiça é falso. Tal é devido a chefias corruptas e incompetentes que não distribuem tarefas pelos funcionários e chegam a castigar quem tenha iniciativa. Após anos desta vergonha é natural que se fomentem vícios.

É natural que muitos dos que votaram no Partido dito Socialista se sintam agora defraudados. Pode ser que agora se indignem e lutem por um país melhor. Pode ser que na próxima eleição se lembrem e não contribuam para o centrão que há décadas nos leva ao desastre. Olhem para outras alternativas (mesmo que tímidas) à esquerda, ou então que criem outras, mas que não se deixem voltar a enganar. Quem se deixa enganar uma vez está desculpado, quem se deixa enganar duas vezes é ingénuo, mas quem se deixa enganar outra vez está a pedir...

* Esta definição é questionável nomeadamente por não esclarecer a questão do “terror”, raiz da palavra, mas por hoje aceitemo-la.

 

Católico, apostólico romano


Fui-me inscrever pela minha nova residência (isto passa-se tudo na Alemanha, já agora). No espaço onde se pedia a confissão religiosa, deixei em branco. Quando preenchi o formulário estava decidido a escrever "ateu", mas não me ocorreu a palavra em alemão. No dia seguinte, ao ser atendido, a "menina" perguntou-me o que deveria anotar no espaço em branco, e após duas trocas de palavras riscou-o simplesmente. Voltou para a secretária, teclou por um pouco, voltou pouco depois com o formulário na mão...

"Peço desculpa, mas por ser português vou ter de anotá-lo como católico. Se pretender mudar a condição terá de ..."

Deixei de ouvir, acho que comecei a contar até dez,... isso ou a rezar um pai-nosso...

05 abril 2006

 

Novo significado de 'Como estás?'


Ao telefonar e antes de perguntar ‘Como estás?’, deveríamos pensar duas vezes:

“Os serviços telefónicos da Grã-Bretanha resolveram fazer um inquérito diferente e, depois de uma consulta a 1500 utentes, concluíram que um terço dos mesmos tem por hábito atender os telefonemas em pêlo ou quase. A tendência parece ser mais masculina do que feminina: 40 por cento dos homens assumem receber chamadas sem estarem vestidos, enquanto a percentagem de mulheres nestes preparos se fica pelos 27 por cento. Não foi explicada se esta falha de protocolo tem a ver com as horas a que são efectuadas as chamadas ou se o hábito de retirar as roupas ao telefone é algo compulsivo e irresistível.“

 

Monte Olivete


"Não há acto mais livre do que a destruição dos bens que me prometem em troca da minha escravidão"

Os companheiros do Monte Olivete (www.monteolivete.blogspot.com) andam em actividade. Sob o desígnio de "Destruição" sugerem "conversas, sons, projecções e deambulações".

Apresento-lhes de seguida o programa, a decorrer na Rua do Monte Olivete 30A, ao Príncipe Real (perpendicular à Rua da Escola Politécnica, junto à Antiga Faculdade de Ciências), em Lisboa.

"sábado__01__início das hostilidades
13h00 // Sopa da Pedra da Calçada [cada pessoa traz o seu ingrediente, uma grande sopa]
(...)
quinta__ 06__projecções + concerto
18h00 // "Figuras da autópsia", [apresentação por André Dias e Nuno Lisboa]
20h00 // "Destruição de uma casa-de-banho", de André Dias [projecção]
21h00 // Concerto [Benjamin Brejon + Jonathan Saldanha]
sexta____07__teatro sonoro
21h00 // teatro sonoro [Diogo Dória + Benjamin Brejon + Jonathan Saldanha + Miguel Cardoso]
sábado__08__conversa + workshop
15h00 // sobre tecnologias intrusivas, software livre e copyright
domingo_09__conversa + projecção
15h00 // sobre civilização e primitivismo, com a presença do colectivo Coice de Mula"

 

Mi casa ist nicht dein Zuhause


Edmund Stoiber continua a incorporar o pior da política europeia no capítulo da imigração. Que inibam os pais de atingir os mesmo direitos que outros cidadãos no país, já ninguém se mostra surpreendido. Basta lembrar que o barco está cheio. Mesmo com os problemas demográficos da Europa, com a liberdade dos mercados (oposta à prisão do trabalhador) ou mesmo com a colecção de leis de cada país (que com tantos ressalvos e parênteses e situações extraordinárias, há muito que deixou de garantir as paridades que nos lembram escrita em cada Constituição)... O barco está cheio, ponto.

Não faltava então aplicar o conceito de Europa fortaleza aos pais, vão ser igualmente os filhos a pagar pelo barco. Exames de aptidão no alemão serão obrigatórios na Baviera para alunos candidatos a iniciar o seu percurso escolar. Caso falhem nestes testes, serão retidos um ano em cursos de alemão. Caso falhem no final destes cursos, serão obrigados a frequentar aulas especiais. O próprio conceito de escola parece assim receber uns parênteses extra.

Muitas das crianças estrangeiras na Alemanha têem o seu primeiro contacto com a língua na escola. Os pais falam o suficiente para exercerem a sua actividade, mas no meio familiar a língua de origem é privilegiada. Os amigos nativos normalmente são poucos, consequências de alguma "guetização" que se pratica, e o espaço linguístico aí mesmo é cortado. São poucas as crianças que ao entrar na escola se apresentam ao mesmo nível das alemãs, e a aplicação dos cursos extraordinários será mais do que rotineiro. A pergunta fica, que integração promove esta regra?
Os primeiros verdadeiros contactos com o pais de acolhimento que poderiam ter, deixarão de existir. Colocam-se as crianças de lado num caixote: turcos, gregos, italianos (e mesmo portugueses)... desincentiva-se a aprendizagem ou a aplicação da língua fora do ambito curricular. A própria motivação que a criança poderá ter é uma dúvida, já que o único conteúdo é a lingua, e creio haver poucas provas que tal exclusividade fomente uma boa formação...

Fica no entanto um problema resolvido, as crianças alemãs vão ter mais espaço nas salas de aula...

04 abril 2006

 

Quem são os ditadores?


Ao nomear-se Hugo Chavez Frias, o Presidente Venezuelano, de seguida ouvimos que se trata de um ditador (se o comentador habita a Norte do Golfo do México) ou um semi-ditador (se o comentador às direitas vem do Sul). A acusação não se faz com referências à legitimidade eleitoral de Chavez, dado que já vão em seis os plebiscitos que venceu e adivinha-se outro com igual sorte. Dizem-no ditador numa nublada referência às suas políticas populistas – o controlo estatal dos recursos petrolíferos nacionais, com as rendas petrolíferas a financiar uma extraordinária campanha de alfabetização e de assistência médica, com as sobras dadas de empréstimo aos países da América Latina em substituição do FMI. Na definição corrente, esta politica é sinónimo de ditadura.

Segundo estes senhores de gravata e finos fatos, o que não conta como ditadura é o Estado mínimo. Os recursos naturais de um “Estado democrático” devem ser privados. E os recursos naturais têm uma natureza económica própria. Sendo que são transaccionados antes do acto de produção, não se deve falar de lucro mas de renda. Como um imóvel, e um em que o senhorio pouco ou nada tem que fazer, o preço de mercado dos recursos naturais é o preço de extorsão, limitado só pelo desespero de quem compra. A extorsão pelos privados do público, o incessante e parasita enriquecimento, é portanto a nova definição de democracia.

O papel prescrito para o “Estado democrático” é o quietismo. Qualquer atrevimento de moldar a estrutura económica e social é logo apelidado de totalitário e ditatorial. Esta ideologia ameaça convencer enquanto a alternativa, o “democrático mercado”, permanecer anónimo. Mas o mercado não é o grande colectivo dos povos. O mercado é uma oligarquia de barões globais e nacionais. Entre os ditames do Estado populista e os ditames dos barões capitalistas, não vacilo em escolher o primeiro.

 

Emancipação da América Latina II


“There is trouble ahead for Uncle Sam in his own backyard”. Começa assim a série que a BBC 2 está a passar sobre a América Latina.

Cinquenta anos depois de Cuba, depois da Venezuela e Bolívia, o mapa político da América Latina continua a mudar de cor. O próximo país a mostrar uma política fortemente anti-imperialista pode ser o Peru. Ollanta Humala é o candidato que as sondagens dão como vencedor nas eleições do dia 9. Embora mais moderado que Chavez, Humala defende o controlo estatal do gás natural e a legalização da produção de coca.

Segue-se ainda a Nicarágua. Daniel Ortega, inimigo número um de Reagan e do pai Bush (na altura director da CIA) durante os anos da Nicarágua sandinista, que depois de dez anos de atentados da CIA e dos Contra acabou por perder em 1990 para a candidata apoiada pelos EUA, pode ganhar as eleições no final deste ano.

Foram mais de quarenta os golpes de estado que os EUA infligiram sobre a América Latina durante o século XX. Esta viragem, é uma das histórias mais importantes no mundo de hoje e tem que ser contada – George W. Bush perdeu a América Latina.

03 abril 2006

 

Arritmias na saúde


Uma das frases mais comum nas conversas dos portugueses refere-se às questões de saúde:
"Então, como vai a saúdinha?"
"É preciso é que haja saúde."
E não faltam outros exemplos.

Toda esta preocupação não é por acaso. Num país habituado a décadas de misérias, até os recentes progressos de Abril (já de si escassos), parecem ser postos em causa. A saúde não é de graça, e quem não tem posses corre o sério risco de se ver em maus lençois se o inevitável azar bater à porta.

Num país onde a higiene dental é tratada como luxo, os óculos estão pelo preço da morte - até esta última já está longe de ser de borla. Noutros serviços, que existem nos Hospitais Públicos, as listas de espera, de cancros a outros casos, tratam de aligeirar a conta do Estado*. Portanto, o utente, como agora se diz, anda com o coração nas mãos à espera que uma doença lhe venha competir com as prestações da casa ou do carro, ou simplesmente as contas da luz ou do supermercado.

Não satisfeito com esta situação, o Ministério da Saúde resolveu cortar nas comparticipações a medicamentos. Em vez de garantir genéricos de qualidade a baixos preços ou combater os lucros especulativos das farmácias, corta em medicamentos, vários dele sem alternativas mais baratas. O utente que já andava de coração nas mãos, vê agora medicamentos para a arritmia sem comparticipação. De facto, num país sem surpresas, sem aumentos na saúde nem na alimentação, sem aumentos do desemprego nem de terrorismo social do governo, não há razões evidentes para o coraçãozito passar a disparar de forma irregular. Perigoso, perigoso só deve ser mesmo o futebol com o Benfica na Liga dos Campeões e Porto e Sporting a lutar no Campeonato. Como diz um amigo meu: "Este país é uma merda!!!!!!!!!!!!"


*Lembram-se da solução preconizada por Cavaco Silva para Funcionários Públicos? Só mesmo a morte livrava o Estado dos encargos... Se houvesse justiça começava-se por ele, mais outros pensionistas milionários.

02 abril 2006

 

Era dos extremos


Nos EUA também há protestos! Depois de Chicago, Denver, Houston e de meio milhão de pessoas nas ruas de Los Angeles, outros tantos milhares manifestaram-se em Nova Iorque contras as novas leis de imigração. Para além da construção de um muro de 1120 km ao longo na fronteira com o México, o governo americano quer aprovar uma lei que considera os imigrantes ilegais como criminosos!

A minha impressão é que os últimos anos têm sido marcados por protestos, cada vez mais frequentes, massivos e radicais. Em França, não só se espalham pelo país em menos de um fósforo, como se mantêm acesos por períodos indetermináveis. Há quem pense que os franceses são dados a manifs e greves e que isto portanto não sugere nada de novo. Mas que dizer dos protestos nos EUA, que também rapidamente passam de cidade em cidade? E sobre o que se passou há pouco mais de três anos, contra a guerra no Iraque, uma solidariedade que atravessou todas as fronteiras?

Não quero estar com futurismos, muito menos ser optimista se não houver razões para o ser, mas os protestos a que assistimos hoje mostram que a uma era de extremos económicos só se pode responder com protestos radicais e massivos. Mais protestos estão marcados para Washington, vamos ver...

 

V for Vendetta (2005)


Em parte por adolescência eternizada os comix continuam a fascinar-me. É um género contemporâneo que se rege pelo primado do visual e do gráfico, ou mesmo pelo violento. Mas os comix operam também uma recuperação, às vezes a roçar o plágio, de mitologias, lendas e folclore, são uma imaginação com limites que não se atreve a ir demasiado longe. V for Vendetta evoca a história quase lendária de Guy Fawkes, um dissidente inglês dos inícios do século XVII que atentou explodir com as casas do parlamento.

A narrativa do filme é contudo moderna senão mesmo pós-moderna. Imagine-se um mundo aterrorizado por extremismos, pelo advento de armas biológicas, vírus das aves, guerras civis. Perante estas ameaças apresenta-se um novo partido, de convicções religiosas e vestes neo-nazis, que promete ordem e segurança. É um imaginário que não nos é distante, não só porque reproduz elementos das distopias do século XX, como recorda as politicas do medo que de facto governam no século XXI. A política do medo rapidamente degenera numa ditadura que disciplina pela destruição da diferença, ter o Corão torna-se crime, ser homossexual também. Em prol da civilização são todas as diferenças que a tempo são atacadas, as deles como as nossas.

Do filme tenho poucas coisas boas a dizer. Hugo Weaving (Mr. Smith da Matrix) protagoniza o herói, e por detrás da máscara esconde quaisquer méritos dramáticos, já que não consegue compensar com dramatização física. Natalie Portman está ou sem expressão, ou pânica sem perceber o que se passa. Os irmãos Wachowski repetem cansadamente os truques visuais da Matrix. Do desastre, aproveita-se talvez a banda sonora.

Mas além da experiência estética, há momentos de coragem na narrativa dos Wachowski, um anarquismo vestigial que também se insinua na Matrix. Neste mundo que tem ecos do nosso, o medo é descrito como uma construção imposta pelos ditadores para se legitimarem. O herói “V” justifica a violência como a justiça que os tribunais do regime nunca implementarão. O herói “V” justifica também a destruição do Parlamento, com conotações tão negativas pós-11 de Setembro, como símbolo congregador e sinal para a justa revolta. E a violência funciona se for munida de apoio popular. Num final quase festivo, porque a revolução é a festa, milhares inundam as ruas e testemunham a destruição do parlamento. Vencendo o medo, e a sua política, o opressor nada pode contra o poder popular.

01 abril 2006

 

Welcome to Blackburn, Condi!


Jack Straw só queria retribuir o convite à amiga Condi, que o recebeu no Alabama. E que chatice, já não se pode passear sossegado em Blackburn! Em todas as paragens havia protestos. Só se safou a visita à base militar nos subúrbios, um complexo de pré-fabricados cinzentos. Depois disso foi sempre a caír. Na paragem seguinte, numa escola da região, os pais pediram aos filhos para não irem às aulas nesse dia. Os que foram, receberam Condi gritando “Hey hey Condi Rice, how many kids did you kill today?”.

A visita à mesquita, como demonstração do multiculturalismo do noroeste britânico, teve de ser cancelada, por mais protestos. Seguiu-se o Institute for Performing Arts de Liverpool, fundado por Paul McCartney, que não estava presente. O grupo de Gospel ameaçou cancelar a actuação. Já a cantora Jennifer John aceitou actuar, mas Condi teve que ouvir o “Imagine”, que a meio da canção se tornou “Give Peace a Chance”.

O embaraço não se ficou por aqui. A Sky TV adiou para segunda-feira o jogo de futebol entre a equipa de Jack, os Blackburn Rovers, e os Wigan. A amiga Condi teve em vez disso que assistir aos treinos dos juniores.

Não é fácil ser-se secretária de estado da guerra!



   

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