07 março 2006

 

Sampaio, o Desnecessário


Sampaio, após dez anos de Presidência da República, vai passar o testemunho ao recém–eleito Cavaco Silva. Inevitavelmente, impõe-se um balanço dos seus 10 anos de mandato. Na primeira eleição a sua candidatura derrotou o mesmo Cavaco que então saía de dez anos de 1º Ministro. Sampaio foi eleito com o intuito de afastar Cavaco da Presidência e de responder às necessidades do país. Dez anos depois, com uma vitória inequívoca de Cavaco e o País num dos piores momentos da sua história recente, só poderemos considerar a sua actuação um falhanço.

Sampaio optou em muitos aspectos por fazer uma Presidência “pedagógica”. As suas preocupações sobre tudo e mais alguma coisa ficaram famosas, especialmente a incoerência destas face à sua inacção - um dos sub-editores do Público (creio que Nuno Pacheco) fez uma crónica acutilante sobre a questão há 1 ou 2 anos. Outra das características de Sampaio foi introduzir o lado “humano” do Presidente com ocasionais lágrimas. As primeiras vezes foram um sucesso, mas eventualmente passaram a parecer lágrimas de crocodilo. O enjoo foi tal a ponto de Ana Sá Lopes intitular a sua crónica no DN sobre a recente visita de Sampaio a Timor “Poderia Jorge Sampaio não chorar?”

Depois de muitos episódios caricatos (alguns desses retratados numa peça à parte) Sampaio acaba o mandato associado a um dos piores momentos da história recente de Portugal. Pode-se dizer que se cumpriram os 3 D’s: desemprego; desigualdade; descrédito. Embora muitos das responsabilidades e dos problemas já viessem de tempos anteriores (com destaque para Mário Soares e Cavaco Silva), Sampaio assistiu impávido e sereno (com uma lagrimita aqui e acolá) ao afundamento. Deste modo, pode-se dizer que ele foi, à luz da Constituição, o Presidente do Titanic.

Sampaio afirmou recentemente ser“contra qualquer violência, física ou verbal”. Mas o que é ele pensa que os Portugueses sofreram nestes últimos dez anos, senão violência? Assistimos a um enfraquecimento da sociedade como tal (os 3 D’s mais desalojamentos,...), fortalecimento do Estado musculado. Veja-se a campanha terrorista que visa atribuir a funcionários públicos, professores, etc. a maior parte da responsabilidade pela actual situação. Nem reformados e desempregados escapam, acusados de serem um peso demasiado grande para a Segurança Social. E que faz Sampaio? Corta fitas ou distribui medalhas.

Não é novidade para ninguém a desconfiança das pessoas face aos políticos, nem o crescente alheamento da política partidária pelos portugueses. Os actos de Sampaio não ajudaram a inverter esta tendência, bem pelo contrário. Sampaio reduziu o cargo de Presidente a uma insignificância, para além de alimentar episódios particularmente lamentáveis. Quando o descrédito e a mentira chega ao “garante” da República, a democracia burguesa dá mais um passo em direcção ao abismo.

Comments:
A ideia que fica do Sampaio e' mesmo a de um inutil, imprestavel. Do que conheco do seu papel na Camara de Lisboa, acho que tambem la era assim - um incapaz de tomar qualquer decisao. Sempre a adiar, a adiar ate que a situacao se resolve por si, sempre da pior maneira, claro.
 
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