31 maio 2006

 

Ah! Então é por isso...


Que a actual Ministra da Educação tem uma falta de conhecimento da realidade educativa do país já era bem sabido. Basta relembrar que aquando da formação do governo de Sócrates, nenhum orgão de comunicação social ou especialista na área conhecia posições públicas sobre educação assinadas por Maria de Lurdes Rodrigues. A interrogação era tal que nem uma fotografia conseguiam encontrar para montar um quadro de família.
Pois parece então que a ministra começou o Debate Nacional sobre Educação de forma demolidora. Para os professores. Mesmo que se concorde com algumas das acusações feitas pela ministra, do discurso relatado surgem dois problemas: a descontextualização e manipulação dos defeitos dos professores enquanto profissionais, e a conclusão ilógica, pedagógica e sociologicamente infundada de que é (apenas) daí que resulta o insucesso escolar. Mas tudo isto me parece coerente com o país que somos desde o fim do Estado Novo. Vamos atacar os problemas pela rama, atirar mais um pouco de areia para os olhos da populaça, enquanto se dá mais alguns golpes nesses chupistas a que chamam funcionários públicos e nessa ilusão a que alguém chamou Estado-Providência. Com políticos destes, quem precisa de inimigos?

 

As férias dos [norte-]americanos


Se para os explorados, a exploração é igual ao litro, já para os exploradores a coisa não é bem assim, especialmente se compararmos o modelo anglo saxónico com o outros europeus. Uma notícia no suplemento de economia do DN dá o mote mesmo que sóse refira a determinadas profissões:

"Caso: Americanos gozam férias a trabalhar

Nos Estados Unidos, o começo das férias pode estar próximo, mas para os americanos esse é também um período de muito trabalho. De acordo com um estudo elaborado pela Day-Timers, Inc. (...), os americanos despendem, mesmo em tempo de férias, mais de cinco horas a responder a e-mails e mensagens telefónicas relacionadas com o seu trabalho. Apenas 2% dizem estar completamente incontactáveis durante o período de descanso.

Um exemplo disso é o advogado Dennis Kerrigan, que passa uma grande parte do seu tempo de férias a responder a ao correio electrónico e em chamadas de conferência antes de fazer sequer uma refeição em família. Por agora, todos dizem querer continuar a trabalhar."

30 maio 2006

 

Enfiar o barrete


Portugal é um pais de “eventos”. O vício vem da Expo 98 e fixou-se bem. Seguiu-se o Euro 04 e o Rock in Rio (este último que nega o sono a alguns bitocantes). O germe desta dependencia é, numa leitura bem abstracta: o desejo de combater a pequenez nacional, hospedando acontecimentos de alegada projecção internacional. Após décadas de teimosa insistência de empresários e políticos, finalmente os portugueses se resignaram à sua “vocação turística”. Se o mundo exterior está cada vez mais próximo dos portugueses, e em igual medida cada vez mais distante, porque se impõe todo-poderoso, alienado e em horário de verão. A quimera de que Portugal pode contribuir para a direcção do mundo desmorona com grande estrondo.

É o desespero pelo evento e pela atenção internacional que motiva a recente febre nacional por recordes do Guinness. Sempre atentos e parasíticos a estas tendências, a Federação Portuguesa de Futebol, a SIC e o grupo Espírito Santo encenaram uma manifestação de massas com motivos nacionalistas – “a mais bela bandeira do mundo”. A bandeira seria naturalmente feita de mulheres, e ninguém se atreveu a duvidar que assim o exige a regra da beleza. Os homens querem-se feios, porcos e maus, indignos para a pose e para a contemplação. O homem é portanto ser de acção, para a mulher ser de fotogenia e quietismo.

Na sua generosidade colectivista, ou talvez para combater a monotonia, milhares de mulheres compareceram no Jamor para desenhar com os corpos (e barretes) a bandeira lusa. E a pátria retribuiu. Os testemunhos de algumas participantes são de um caos organizativo que desprezou as festivas intenções de quem compareceu. As participantes foram castigadas com uma longa espera de horas ao sol. Brindes eram atirados em estilo de circo romano para o meio da multidão, que entretanto lutava pelos nadas que lhe era dado (ou como uma participante notou como amendoins atirados para a aldeia dos macacos). Sem comida e só com o refresco da ocasional mangueirada, houve quem desmaiasse. Na TV, o organizador SIC em exclusiva reportagem, passava a falsa imagem de uma serena e eficiente execução, entre os apelos dos bombeiros que apelidavam o espectáculo de “catástrofe”.

É esta a lógica do “evento”. As pessoas feitas em pedaços de carne para abuso do regozijo nacional. E querem continuar… Propõe o site que as portuguesas facam promessas em “apoio à selecção”, para mostrar “amor à camisola”. É uma ida a Fátima em versão web.

Em resposta unissexo: bardamerda para a camisola (e para o barrete)!

29 maio 2006

 

A segunda guerra vista pelos vencedores da "história"


No outro dia fui mais uma vez brindado por um dos supostos documetários rigorosos da RTP. Desta versava a segunda guerra mundial. Num balanço desta tudo servia de arma de arremesso contra os que foram durante o século XX o principal inimigo das "democracias ocidentais", a União Soviética.

"Do Dia D a Berlim" apresenta-nos as historia dos vencedores da "história". A tese central é que os russos eram maus. Roosevelt teria sido ingénuo (pelo sim pelo não andava a investigar a bomba atómica, acrescento eu) enquanto Churchill era mais pragmático e desconfiado face ao perigo vermelho. Segundo o documentário, até mesmo Goebbels teria pressentido o perigo que a URSS seria no futuro, prevendo a cortina de ferro. Embora depois refira os crimes de genocídio nos campos de concentração, o documentário chega mesmo a falar dos alemães como se os "maus" da segunda-guerra fossem os russos. O mais moderado é quando refere que "para combater um ditador, tinham-se aliado a outro", comparando Estaline a Hitler. Continua dizendo que símbolos nazis eram trocados por retratos de Estaline.

Nas malfeitorias perpretadas pelos russos chegam a incluir os massacres efectuados pelos Aliados como o bombardeamento de Dresden, que teria sido bombardeada a pedidos dos russos. A táctica de bombardeamentos às cidades pelos Aliados ocidentais passam assim a reponsabilidade para leste, ilibando responsáveis militares como Harry, conhecido como o carniceiro. Perante a bestialidade da resposta aérea (muitas vezes sem qualquer objectivo militar) houve vários pilotos que se recusaram a voar. Na guerra com o Japão, também há inúmeros relatos de barbaridades. Dos 80.000 mortos devidos ao bombardeamento de uma cidade (creio que tóquio) por bombas incendiárias às bombas nucleares já com recado para Moscovo, não se falou obviamente pois este era um documentário sobre a guerra a ocidente.

Quanto a Berlim, esta foi deixada para russos por ser zona soviética e não por estes chegarem lá primeiro segundo o documentário. De violações e pilhagens em Berlim até ao exemplo de um casal de idosos que se suicida em berlim (não se suicidaram com a ascensão de hitler nem acabaram numa valeta como acontecera anteriormente a Rosa Luxemburgo, Liebknecht e outros) tudo serve para manchar de vermelho os russos. Outro exemplo são os soldados alemães que não se queriam render aos russos, preferindo render-se a oeste. Pudera eles melhor que ninguém sabiam o que tinham feito a leste. Mas desses, os hediondos crimes dos alemães na URSS e especialmente a sua escala (muitos milhões de civis e soldados), não reza o documentário. Assim, diz o documentário, com estes casos do horror vermelho, o sonho da "bela nova ordem" pelos aliados desmoronava-se.

Para além das mentiras, em que Anne Applebaum ou José Manuel Fernades não se teriam saído melhor, o documentário omite o esforço do único país que aguentou o esforço de guerra face a face a alemanha nazi. Sem desprimor para as inúmeras resitências pelo mundo fora, a frente Leste sempre ocupou mais alemães (para não falar de italianos, romenos, finlandeses e muitos mais) e representou para estes um verdadeiro atoleiro. A resistência russa e o general Inverno não entram na história.

Ao invés desta propaganda de má qualidade e de selo caro, António Vilarigues apresentou várias crónicas no Público bem mais interessantes e informativas.

 

Paraíso na terra


Avelino Ferreira Torres continua a ser um caso de impunidade exemplar em Portugal. Depois de ter estado envolvido em grupos bombistas de extrema-direita, continuou o seu currículo na Câmara de Marco de Canaveses. De agressões a corrupção variada, acusações não faltaram. Evidentemente que o Estádio do Marco, o clube local, tem o seu nome.

Recentemente, soube-se que a dívida, apurada numa auditoria, ascendia a mais de 71 milhões de euros, e que ainda podia aumentar. Uma das consequências é que a Câmara não pode contrair empréstimos nos próximos 20 anos e que vai viver a pão e água nos próximos tempos.

Ele continua impune, no seu paraíso na terra: o país que lhe permite fazer tudo.

28 maio 2006

 

Montenegro, o novo Mónaco


Com apenas mais 0.5% dos votos do que o requerido, o Montenegro tornou-se o mais recente país europeu. A vitória parece ainda mais liliputiana se considerarmos que só os montenegrinos residentes no Montenegro é que puderam votar. Todos os que vivem na Sérvia, mesmo que temporariamente, não tiveram direito a voto.

O processo parece simples – os povos que de alguma maneira resistam à integração e globalização capitalista têm que ser partidos aos bocados. E assim estas micro células chamadas países podem ser social, económica e politicamente absorvidas pelas potências, neste caso UE e Rússia.

No Montenegro, a campanha pró-independência não podia ter sido mais clara – “Vamos ser o novo Mónaco!”. Ou seja, os montenegrinos vão ser os novos criados dos turistas e o país vai possivelmente tornar-se num paraíso fiscal para os super-ricos. Na dependência total do estrangeiro, esta nação já nasce sem soberania.

O próximo será certamente o Kosovo. Só falta anunciarem a data.

27 maio 2006

 

Lisboa, a cidade que nunca dorme


Lisboa destronou Nova Iorque no építeto de cidade que nunca dorme. Pelo menos enquanto o Rock in Rio durar.

Já a alguns kms do Parque da Belavista fui forçado a ouvir a música do concerto, ao ponto de não se conseguir dormir. Até por volta das quatro da manhã, enquanto o concerto durou, foi particularmente difícil de adormecer. Às 7.00 da manhã já havia actividade suficiente para voltar a perturbar o sono. Outros moradores do bairro, sentiram o mesmo, bem como muitos outros lisboetas que se queixaram à câmara.
Se passado um dia o sono pesa, no final de 6 dias de concerto (este e o próximo fim-de-semana) será insuportável.

Dou-vos um relato das diligências de diversas pessoas:

- telefonar para a Câmara (já tinham um largo rol de queixas; um pelouro da CML deu uma licença especial para o som, um dos problemas legais a resolver)

- telefonar para a Polícia Municipal (sugeriram a senhor ir ficar a casa de familiares!!!)

- telefonar para a PSP (dizem que não é nada com eles, que só indo falar com a organização do evento!!! Uma senhora foi lá realmente e não a deixaram falar com ninguém). Se uma pessoa houve barulho do vizinho pode chamar a polícia, se milhares ficam sem dormir, pouco se pode fazer!

Neste país surreal, a única esperança é que a indignação de muita gente os faça emendar a mão. Só me resta parafrasear uma vez mais um amigo (isto não é como a Vanessa da Ana Sá Lopes): este páis é uma merda...

26 maio 2006

 

Amílcar Cabral na 2





O programa Vidas a emitir hoje às 23.30 é sobre a vida de Amílcar Cabral.

Não se poderia imaginar melhor horário que sexta-feira à noite para prestar o famoso serviço público...

25 maio 2006

 

Especulações de política internacional


Uma pesquisa rápida pelos jornais online e uma volta pelos canais noticiosos não permite chegar a uma conclusão sobre o que se passa em Timor. Repete-se a necessidade de estabilizar o território, de enviar uma força internacional, mas não se percebe a razão do problema. Há tropas desertoras, divisão no exército e na polícia, mas porquê? Quais as razões que levaram a esta situação? Fala-se de corrupção, questões relacionadas com a carreira militar e discriminação étnica, mas alguém pode ir além do boato?
Assumindo alguma falta de informação, creio que nos podemos permitir a umas especulações (bem?) intencionadas, como qualquer jornalista ou comentador político "imparcial" costuma fazer. Analisando a situação de Timor, um país pobre, sub-desenvolvido, com alegados problemas de unidade nacional, que tem - por acaso, claro - petróleo e potências regionais interessadas na sua exploração, onde aparece de repente um grupo de militares em ruptura com o governo, agitando bandeiras de corrupção e de discriminação étnica, causando instabilidade no país. Onde é que já vimos um esquema destes a funcionar, com que objectivos e a beneficiar quem? É curioso onde a especulação infundada nos pode levar.

 

Nuclear em Portugal


O DN iniciou na 2.ª feira, em conjunto com a TSF, um debate semanal sobre energia. O da passada 2.ª feira foi inevitavelmente sobre energia nuclear.

Uma das declarações de "peritos" é atribuída a Mira Amaral que se apresenta como um defensor do nuclear: "Não é sério comparar um acidente [Chernobyl] que ocorreu no sistema soviético com a vigilância existente em sistemas democráticos".

Ontem no DN o leitor João Anastácio de Queluz resume a coisa a meu ver bem: "O que eu acho sério, e reasl, são os factos e as obras feitas. Foi no nosso sistema democrático que a ponte de Entre-os-Rios caiu; a auto-estrada do Oeste (A8) foi contruída com escadinhas, sem bermas, com lombas, curvas e contracurvas, lençóis de água, etc.; a CREL foi contruída com predicados idênticos à A8; na A3 fizeram um acesso pela faixa do lado esquerdo; foi construído o IP4 com o saldo de mortos e feridos que engrossaram as estatísticas e destroçaram famílias; morreram crianças no Aquaparque; o Ruben morreu electrocutado quando carregou no botão do semáforo para atravessar a rua; uma criança, no Seixal, foi engolida pelo esgoto.
É sobre este cenário de laxismo das instituições do sistema democrático que os promotores do negócio nuclear assentam a sua confiança".

24 maio 2006

 

Anselm Jappe e as aventuras da mercadoria





O DN de hoje noticia o lançamento pela Antígona do livro As Aventuras da Mercadoria por Anselm Jappe, aproveitando a ocasião para entrevistar o autor, ex-membro do grupo Krisis. Infelizmente, apenas parte da entrevista está online.

 

De quem trabalha


A senhora das limpezas do departamento onde trabalho, a Ângela, é espanhola. Acho que tem uma filha, mas vive sozinha aqui em Inglaterra. Vai de férias para Espanha de vez em quando. Não gosta de cestos de reciclagem de papel porque as pessoas deitam tudo lá para dentro, restos de comida, canetas velhas, latas de refrigerantes, e ela tem que os tirar, um a um do caixote (as latas são especialmente más porque o pessoal deita-as fora ainda com líquido lá dentro e quando ela as tira suja-se toda). Há uns dias que não vem recolher o lixo. Soube hoje que teve um AVC.

22 maio 2006

 

Sol na tola


A cena passa-se num momento de grande trânsito em Lisboa, enquanto se espera que o sinal fique verde:

«Uma senhora, loura platinada dos seus 40, 50 anos, liga o fecho automático do tejadilho do seu Mercedes descpotável.

No autocarro, uma avó diz para a neta:
"A senhora devia estar com sol a mais na tola"»

(história verídica)

 

A segunda posta n’obitoque sobre futebol


Não é caso para um tipo se indignar. É mais motivo para desconsolado suspiro.

O grande farol da actualidade nacional, o Público, tem com frequência semanal inquéritos à margem da sua versão de Internet. As perguntas são despachadas sem grande reflexão, do género acha que: o Soares fez bem em se candidatar, se o Soares tem ar cansado, se o Soares faz bem em comer carne de vaca, e sempre um assertivo “sim” ou “não”.

Até a banalidade vem em graus, e esta semana estamos em ponto alto, a grande questão é se Scolari acertou na escolha da selecção portuguesa de futebol. Ao invés de outras semanas, porque o tema é de grande importância, há ainda a opção de opinar sobre cada jogador da selecção, colorindo a lista com: Muito boa, boa, assim-assim, má, muito má. É um exemplo de inquérito reflectido, sobretudo na escolha literária do “assim-assim.”

Será que o Público quer mesmo a nossa opinião, solícito de participação democrática? Mais ninguém a parece querer, sobretudo os nossos representantes parlamentares. Mas não, estes inquéritos só servem para a breve distracção e a inútil interactividade. Com sorte as perguntas motivam talvez umas visitas curiosas a ver a votação, como deve ser o caso já que os votantes desta última rondam os quatro mil, para júbilo dos webmasters.

E agora o suspiro, é que sobre as escolhas do mister Scolari não tenho opinião.

20 maio 2006

 

Capitalismo monopsonista


O século da grande expansão do capitalismo, o 20, foi apelidado de monopolista. O capital imperialista circulava em fluxo simples, provindo do centro industrial na América do Norte e na Europa dirigia-se para o sul para forçar povos a participar nos seus mercados e para explorar as mais-valias do seu trabalho.

A ver, a lógica de circulação do capital imperialista está a mudar. O centro do imperialismo já não é produtor, é consumidor. A unidade da economia mundial é mantida pela despesa do gigante Americano. As economias do mundo dependentes desta procura externa. O crescimento económico na Europa e no Japão tem hoje como motor e limite a procura dos EUA, e em contrapartida, os primeiros investem os seus excedentes a forjar coligações entre as corporações do Velho e do Novo Mundo. O terceiro mundo aprisionado pela elevada divida externa, obtém dos consumidores americanos as divisas com que paga os juros da sua dívida externa, que em perpetuidade se mantém.

Mas o campeão entre os devedores é os EUA. As mais valias de todo mundo afluem para a América do Norte não em busca da produção americana, mas pela euforia de jogar no casino de Wall Street. Os privados e públicos Americanos endividam-se para continuar a orgia consumista. Imprimem mais dólares, mantém-se uma taxa de juro alta, liberalizam-se mercados de capitais para que estes afluam prontamente para Nova Iorque, assim efectivar a grande aliança das burguesias. Até quando?

19 maio 2006

 

Luta!




Em dia de greve da função pública, milhares de trabalhadores vieram a Lisboa mostrar o seu descontentamento com a política de direita deste governo.

De Viana do Castelo a Beja, de Setúbal a Mirandela, vieram de todo o país. Parecia que de quanto mais longe tinham vindo, mais força tinham para gritar palavras de ordem e lutar pelos seus direitos.

A maioria eram funcionários públicos dos que menos ganhavam, também estando presentes bastantes professores.

 

... e o chumbo da inversão do ónus, é para quando?


Num pequeno olhar diagonal no Público Online, leio em pequenos títulos:

"Um problema chamado país"

"Distritais aprontam máquinas"

Fico desconsolado ao perceber que em vez de se preparar um Golpe de Estado de alguns distritos com dróides de guerra, preparados para aniquilar todo o país à excepção de Loures (que vale a pena não esquecer, é um Concelho livre de armas nucleares), são apenas notícias acerca do congresso do PSD. Novamente, prepara-se o país para alguns cortes de minutos na programação habitual para alguém tentar explicar o mal que os Outros têem feito, à conta do que até já tinham feito, por conta do que estão a pensar fazer. De positivo salva-se que os Outros não roubem mais uns quantos minutos para responder e relembrar o quanto de mal os outros Outros já fizeram, ou poderiam fazer, caso a Assembleia da República decidisse jogar ao jogo da Cadeira (para melhor visualizar tal coisa, sugiro como música António Variações). Isto claro, num dia em que a maior parte dos deputados se dignasse a aparecer.

E há quem ainda se embebede com este jogo, quem ainda chame política às acções dos dois mastodontes partidários que entopem o ralo do nosso lavatório. Pois apesar de toda a crítica que possam ler noutros blogues (p. ex.), ainda se vai falar em "alternativas possíveis" e no "desenvolvimento" do "P.. como partido". Eu, apenas consigo ver o passar do tempo, a continuação do "fecha lá tu as Urgências que é a minha vez de me armar em social". Como se depois de cada eleição, fosse a ex-oposição pedir os apontamentos ao ex-primeiro-ministro.

Tenho pena de quem ainda não tem uma televisão a cores. A preto e branco não dá para perceber nada da história...

18 maio 2006

 

A inversão do ónus do chumbo


A actual Ministra da Educação anda com fama de grande reformadora, de pessoa que está a pôr o sistema de ensino nos eixos. Ignorando por agora a validade ou relevância das medidas que anda a tomar para a melhoria do sistema de ensino, uma há que de tão grotesca e algo demagoga não pode deixar de ser notada. Portugal tem uma das mais altas taxas de insucesso escolar e de abandono escolar da CE, uma das mais baixas taxas de licenciados, e um nível de literacia dos mais baixos. É um facto que o sistema de ensino é duro para muitos alunos, porque não têm as competências que a escola lhes exige, porque o ambiente familiar e social não os estimula para a escola, ou por uma miríade de outras razões. Por tudo isso, chumbam às mãos cheias. Ora, o que a Sra. Ministra decidiu fazer foi inverter a questão da reprovação. A lógica que parece agora ser estabelecida é a de que todos os alunos estão passados, salvo prova em contrário. Até agora, a avaliação das competências definidas pelo M.E. era um processo contínuo e acumulado, fazendo-se no final do ano o balanço, determinando assim se o aluno havia atingido as competências suficientes para transitar. Agora é ao contrário. Para chumbar um aluno (qualquer aluno), é preciso pedir um parecer ao Encarregado de Educação e outro ao psicólogo da escola, é preciso justificar em acta todos os critérios de avaliação utilizados e as razões pelas quais o aluno não atingiu o patamar necessário. Se for para passar, não é preciso fazer nada disto. Na prática, se o professor quiser chumbar um aluno fica inundado de papelada, mas logo ao lado aparece o caminho fácil de fechar os olhos e deixá-lo passar. Para a Ministra é óptimo, pode ir para Bruxelas ou para S. Bento mostrar os gráficos bonitos a mostrar a diminuição das taxas de retenção. Para o país, passamos a atribuír certificados de 9º ano a pessoas que não têm realmente essa habilitação, continuamos a ter um défice educacional gritante, uma mão-de-obra pouco qualificada, e um país a andar para trás. Mas fica bem nas estatíticas...

17 maio 2006

 

Walter Benjamin


Nas últimas semanas tenho insistido em ler as teses históricas do filósofo alemão Walter Benjamin. As poucas páginas que li, revi-as várias vezes, em duas traduções, frase a frase, palavra a palavra, co-adjuvado pelo “Walter Benjamin for Beginners”. No final, a confusão ou indefinição venceu.

Para exorcizar esta frustração quero ao menos descrever a impressão que Benjamin me deixou – Benjamin é um jogo de Legos. Em miúdo recebi umas tantas vezes jogos de Legos: carros, aviões, casas; que com fascínio desmontava para construir novos objectos imprevisíveis e não formulados. Inevitavelmente, ao fim do dia, as peças eram depositadas numa caixa onde se misturavam os jogos e de onde misteriosamente algumas desapareciam. Semanas depois já não havia carros ou aviões somente o empilhar das suas partes. Eu lutava para construir algo com esta impossível totalidade de pedaços. Eu persistia na busca de um projecto que desse emprego a todas as peças.

Os textos de Benjamin são como o meu jogo de Legos. Pedaços retirados incompletos de outros conjuntos, que casam incompletamente e desajeitadamente entre si. As construções de sentidos de Benjamin negam uma forma ou totalidade.

16 maio 2006

 

Sobe e desce, sobe e desce, sobe e …


Hoje descem os preços nos mercados internacionais. As últimas semanas foram de valorização para as matérias-primas, algumas como o cobre, há muito declaradas como negócios sem rentabilidade. A justificação para este movimento de preços é o imparável crescimento económico da China e da Índia. A imensa mão-de-obra do longínquo oriente vive um frenesim produtivo que só encontra limite na falta de matérias-primas para a produção, um evento raro na história económica. Em imediato oportunismo, e sem considerar o exagero especulativo das praças mundiais, já se apresentam planos de reabrir minas há muito esquecidas. A impaciente China anunciou que comprará o lixo do Primeiro Mundo para extrair os materiais que a sua indústria mineira não consegue expelir. O ferro velho transmuta-se em ouro e sobem muros sobre as lixeiras. Inverte-se a ordem das coisas - o fluxo das matérias-primas parte do Norte para as fábricas do Sul.

Hoje descem os preços nos mercados internacionais porque desce o preço do dólar. A guerreira economia Americana, alegadamente, está de boa saúde e recuperada da crise de 2000-2003, para tal ajudou a guerra contra o Iraque que subsidiou a indústria militar e os seus co-adjuvantes. Mas esta nação é vulnerável, e numa referência clássica é como Aquiles e o tendão. A fragilidade do guerreiro é o seu défice comercial. Após décadas de deslocalização - de transferência do capital americano em investimentos no estrangeiro, o centro deste império já não produz. Mas sem produção os norte-americanos precisam de comprar do estrangeiro os bens que os seus magníficos salários permitem, aos Europeus, Japoneses e Chineses, os Norte Americanos precisam de vender dólares e comprar divisas estrangeiras. Assim, inundam os mercados mundiais de dólares o que enfraquece o preço da moeda (i.e. de cada vez que adquire euros, na próxima compra terá que oferecer mais dólares).

Este tendão de Aquiles seria somente um problema nacional, “os Americanos que se lixem!”, se não fosse o dólar uma unidade de reserva mundial. Os Bancos Centrais do mundo tem os cofres cheios de dólares como reserva de riqueza, e se o dólar está mais barato, os cofres cheios deixam de valer o que valiam. Todo o mundo empobrece. Todo o mundo está em risco de nesta súbita pobreza não conseguir comprar as “famosas” matérias-primas e de continuar a crescer alimentado por estas compras. Sobre os ares paira o espectro da crise.

15 maio 2006

 

O Eixo das Execuções


Em 2005, houve 2148 execuções oficiais a nível mundial. Destas 94% referem-se a apenas 4 países, a saber: China, Irão, Arábia Saudita e Estados Unidos da América. Será que que podemos falar da existência de um Eixo das Execuções?

(Execução - uma palavra tão mais bonita que assassínio...)

 

Quem sufoca quem?


Na era dos hidrocarbonetos caros torna-se respeitável (porque financeiramente sensato) questionar o “modelo energético”. O furacão Katrina, que arrasou uma cidade do clube dos ricos, foi portanto pela primeira vez interpretado como consequência do aquecimento antropogénico do planeta. O habitual gemido de dúvidas negando o aquecimento global deu lugar aos panicos dos políticos – “é urgente agir!” No Primeiro Mundo a estratégia é privatizar a atmosfera. O fulcro do debate é um sistema de “licenças para poluir” que podem ser transaccionadas entre empresas. Empresas que disponham de tecnologia limpa (mais cara) poderão financiar-se com a venda das licenças de poluição a empresas de tecnologia suja, que pagam este custo acrescido para manter a sua tecnologia inalterada. Em complemento cozinha-se um cocktail de diferentes tecnologias para a produção de energia doméstica, entre as quais reemerge o nuclear. Com memória nos anos 70, quer-se evitar “choques energéticos” (só o Sócrates de Portugal é adepto de choques). Sem mudanças súbitas, as petroliferas dispõem de mais umas décadas de lucro, enquanto se incentiva o colectivo industrial a antecipar o concorrente, a explorar novas alternativas energéticas.

O Primeiro Mundo, que descobre a ecologia com 30 anos de atraso, quer também legislar sobre as economias emergentes do longínquo Oriente. Numa contradição característica do capitalismo, os ricos fomentam o crescimento do Oriente porque recebem retornos milionários aos seus investimentos, mas querem igualmente, conter a promoção destas economias a superpotências que ponham em causa a hegemonia geo-económica do Norte. São muitos os que se queixam que a China em cada cinco dias constrói uma central eléctrica de 1GW – creio que o equivalente à termoeléctrica de Sines. Hipocritamente, grita-se alerta! ao “perigo” que o crescimento económico chines representa para o planeta. Nesta denúncia falta sentido de proporção e de história. Ainda que a China cresça a um ritmo sem precedentes, o consumo de carbono per capita fica abaixo de uma tonelada, contra três toneladas por cada europeu e cinco toneladas por cada norte-americano. O CO2 que na atmosfera nos vai servindo de estufa é um fenomeno acumulado de centenas de anos. Recentemente foram publicadas estimativas sobre os valores de CO2 conducentes a um aumento de temperatura do globo em dois graus centígrados, que terá efeitos climáticos quase catastróficos. O mesmo estudo notava que metade desse CO2 já está na atmosfera expelido pelas chaminés do Norte e das suas revoluções industriais. Isso sim é caso para alarme!

14 maio 2006

 

O Estado


O António Contra-Reforma Agrária Barreto seria normalmente "censurado" num post do Bitoque. Desta vez, tem direito a um bocadinho de tempo de antena sobre a relação dos privados com o Estado (Público, 14 de maio):

"Os privados querem que o Estado apoie, pague as infra-estruturas, subsidie a criação de emprego, ajude as exportações e, sobretudo, assuma os riscos de modo a deixar para eles os lucros (...). Habituaram-se a isto há muitos anos. Com o Estado Novo... [c]om os partidos da direita (...) [e] com o único partido de esquerda que consegue governar, tantas vezes fascinado pelo dinheiro dos ricos, pelos investimentos das multinacionais e pleos projectos dos privados, desde que tudo isso tenha vantagens políticas, melhore a imagem do partido e do governo, pareça bom para Portugal e deixe, no caminho, umas migalhas para os seus dirigentes, uns cargos em empresas públicas, uns favores nas privadas, umas representações em firmas internacionais..."

Isto relembra também histórias passadas de falências nos fundos de pensões e seguros nos EUA e Reino Unido, em que a factura foi paga pelo "ineficiente" e "incapaz" Estado (menos para pagar, é claro). Também agora sobre a AFINSA (selos) já há quem fale de indemnizações pelo Estado Espanhol.

Dizem tanto mal dele, mas não conseguem viver sem ele...

12 maio 2006

 

Orgulho na traição


A palavra “traição” está entre poucas que comandam a puxão, violentos e imediatos sentimentos de raiva e angústia. Este embate emocional advém certamente de associarmos “traição” ao desenlace amoroso. Quando o desejo encontra novo objecto, quem trai mente, manipula, e desilude, e fere o amor-próprio de quem foi traído. Mas o termo tem outros empregos: políticos e nacionalistas, pense-se em alguém que “trai a pátria”.

Trata-se de uma perigosa analogia. Entre mim e a minha pátria não há amantes, a minha pátria não tem corpo para a ligação sentimental. A minha pátria é sempre sobre mim imposta. Comummente a minha pátria pratica constantes traições em que mente e manipula. Do Estado à Cultura nacional a nação portuguesa vai-se enamorando com os imperialismos norte-americanos e com as modas do espectáculo capitalista. Não lamento a perda da legendária identidade nacional. E não reservo pranto para o folclore. Esta pátria é o que sempre foi, uma farsa, falsa, forjada distinção.

A imagem que melhor descreve a logica pátria, é um barco que nos transporta prisioneiros, com repetidos apelos a que continuemos a bordo, no limite do nosso esforço a remar. Quem dirige, esconde-se ao leme e o seu rumo jamais coincide com o desejo dos remadores. Esses lutam com os remos e as ondas e movendo a nação, são quem quem menos direito tem a definir o seu rumo.

Para esta viagem sou traidor. Traidor de pátria que quer fazer um buraco no casco e afundar a navegação. Sei para onde quero ir, e até sei nadar. Vamos fazer antes uma jangada.

11 maio 2006

 

O roubo de Diego Garcia


A história de Diego Garcia é chocante e inacreditável. Uma das ilhas do arquipélago de Chagos, colónia Britânica no meio do Índico, é segundo todas as fontes belíssima, um paraíso com uma das raras reservas de corais do mundo. Em 1961, os 2000 habitantes foram expulsos da ilha, para que os americanos pudessem construir uma das maiores bases militares do mundo. Hoje vivem lá mais de 2000 oficiais militares, há portos para 30 navios de guerra, espaço para o depósito de lixo nuclear, uma estação espacial de espionagem, centros comerciais, bares e campos de golfe.

A expulsão dos habitantes de Diego Garcia foi levada a cabo pelo governo trabalhista de Harold Wilson, em absoluto sigilo com o governo americano. Para justificar o acto publicaram um role de mentiras (a que hoje já estamos habituados!) como a de que todos os habitantes da ilha eram trabalhadores contratados que teriam que voltar para as Maurícias, a mais de 1600 km de distância (a verdade é que havia famílias que já viviam na ilha há mais de cinco gerações). Assim que os americanos chegaram para construir a base, o governador das Seychelles, responsável pela evacuação da ilha, ordenou o extermínio de mais de 1000 cães de estimação dos habitantes, como aviso à população.

O exílio do povo de Diego Garcia é tragicamente conhecido pelo elevado número de suicídios, incluindo de crianças, prostituição, droga e desemprego. Só após uma década de luta é que os exilados receberam uma compensação do governo britânico: menos de 3000 libras por pessoa.

Em 2000, os Garcianos ganharam pela primeira vez o caso em tribunal, que considerou a sua expulsão como ilegal. Poucas horas depois, Tony Blair anunciava que o regresso dos habitantes à ilha não seria efectuado por “acordos” com Washington. Em Junho de 2004, o governo de Blair, encurralado pelo processo legal, ressuscita o poder real de anular o julgamento, favor que a rainha concedeu ao seu primeiro-ministro.

Hoje, mais de 40 anos depois, o supremo tribunal do Reino Unido voltou a falar em favor do povo de Diego Garcia, e a renovar-lhes o direito de regresso à ilha. Mas não é assim tão fácil: o governo britânico ainda pode pedir recurso e os novos residentes da ilha, agora britânicos e americanos, têm que concordar com o seu regresso.

Entretanto, os bombas de Bush e Blair continuam a voar das praias de Diego Garcia.

10 maio 2006

 

Público é mais seguro que privado


O fundo da Segurança Social deu menos lucro (6.8%) que os fundos do sistema privado (9.2%) em 2005. Mas uma análise cuidada dos dados mostra que nos últimos 8 anos a rentabilidade se aproximou mais da dos privados pois a sua menor exposição às acções protege a sua rentabilidade nos anos negativos para as bolsas mundiais.

Mas o governo não desiste e quer mesmo levar adiante a ideia de parte das contribuições para a Segurança Social serem colocadas em fundos a gerir por privados.

 

Habilitação profissional: bombista


"Não tenho outras habilitações profissionais que não seja fazer explodir pessoas."

John Thomas, sargento do Exército dos Estados Unidos, artilheiro no Iraque entre Março de 2003 e Abril de 2004.

09 maio 2006

 

O assassinato de académicos iraquianos


Na senda de desmascarar a ocupação criminosa do Iraque, a Associação de Estudantes da Faculdade de Letras de Lisboa, o Sindicato dos Professores da Grande Lisboa e o Tribunal-Iraque organizam uma sessão de esclarecimento dia 10 de Maio, às 16 horas na Faculdade de Letras:

"Mais de 200 professores universitários e 190 profissionais de saúde iraquianos foram assassinados por esquadrões da morte. A quem interessam estes crimes?

- Intervenção de Carlos Varea (Campanha Espanhola contra a Ocupação e pela Soberania do Iraque)
- Projecção do documentário Faluja, o massacre escondido"

08 maio 2006

 

Psico-medicação


Antes eram tristeza e melancolia, agora chamam-se depressão. Uma pessoa nervosa diz-se que padece de ansiedade. Timidez é um ponto no espectro autista. A um revoltado contra o mundo, ou lhe aflige algum sindroma adolescente ou um adulto stress. Um idoso senil pode ter alzheimer, parkinson ou artério-esclerose. Uma criança distraída aponta-se em sentido técnico que é hiper-activa. A felicidade e o desejo são ambos transmutados em estados primeiro hormonais e de seguida neuronais.

A acompanhar esta reforma lexical temos um cardápio medicamentoso para corrigir as doentes consciências: descontrair, excitar, elevar, ou nivelar os humores. Devorando pílulas sobre pílulas, sentir significa uma doença que vamos neutralizando para bem da productividade social.

Deixámos de nos interrogar sobre como nos sentimos ou porquê, sendo que estas reflexões foram resolvidas no ambito disciplinar da medicina. O contentamento na vida, de benece farmacêutica, aceitamo-lo comprar do nosso bolso. E purgados dos tumultos emocionais somos um modelo de eficiente obediência. Uma sociedade de “cadáveres adiados que procriam”.

 

O trabalho esquecido


A história social do movimento operário é mal conhecida. O passado precisa de registo para ser visitado e os historiadores da corte capitalista vêem ignorando tudo o que dê razões à revolta. Temos assim na nossa respeitada elite, muitos profissionais da celebração do vencedor, a inscrever como inevitável e genial o “agora” sobre as alternativas que se esvanecem da memória.

Os historiadores da corte perduram com vastas honras amovíveis - “a ordem das coisas” deve agradecer a Filomena Mónica pela sua gerência da história social Portuguesa. E se hoje nos EUA se faz história de classe sem precedente, este trabalho é ainda lento e parcial. O acto do esquecimento neste país faz-se não só nos livros que não se escrevem mas em destruir as evidências do crime histórico.

Quem visitar Homestead em Pittsburgh encontrara um condomínio privado ostensivo no seu luxo. O que não se percebe a vista desarmada (e a arma é um livro) é que se trata de um luxo sepulcral. Estes belíssimos condóminos foram erigidos para enterrar um monumento à resistência operária. Em 1892, os trabalhadores de Homestead barricaram-se na metalurgia do milionário Carnegie exigindo melhores contractos de trabalho (dado o termo de contractos anteriores). Pela primeira vez na história social Americana, a de que temos registo, operários brancos e negros, sindicalizados e não sindicalizados, actuaram em solidariedade. Em resposta, o patronato contratou um exército mercenário de 300 homens, “detectives”, para combater os ocupas. Durante um dia de batalha, com 3 mortes de mercenários e de 7 trabalhadores, os invasores renderam-se aos proletários. Semanas depois foi a National Guard que surgiu no horizonte em defesa do patronato, muito temida pelos massacres sobre os amotinados de classe. Mas face à determinação da comunidade, os militares recusaram-se a disparar. O trabalho vencia contra o capital! Que terrível memória esta: não só a evidência de uma luta entre classes, mas a vitória do combatente errado.

07 maio 2006

 

Odeio a Primavera!


Há passarinhos no ar, as árvores ganham flores e muita gente sofre com as alergias. Menos mal, com isto posso eu bem.

Isto não é mais do que o reflexo do agitar das hormonas. Principalmente das masculinas. Embora isto seja apenas uma das perspectivas daquilo que as mulheres portuguesas têm que aguentar nas ruas diariamente.

Como se não bastasse o roça-roça nos autocarros, as buzinas dos carros que passam, mais aqueles que abrandam junto ao passeio onde a mulher caminha, os piropos de novos e velhos, os assobios de civis e de polícias, de homens das obras e de engravatados. Educadamente ou não, deixam-me furiosa.

Mas o mais irritante mesmo, mais irritante que isto tudo, é ao meu “filho-da-puta”, “otário” ou “vai-te lixar!” nada responderem, como se nada fosse. Como se eu fosse apenas um objecto, algo que lhes é dado a apreciar, como se eu não fosse gente e não me pudesse indignar. Ou, às vezes, ainda pior, o sorrisinho a bailar nos lábios jocosos.

Porque a reacção deles à minha indignação apenas mostra como eu sou nada para eles. A Primavera deles é o meu Inferno.

06 maio 2006

 

Recalcar Freud


Apesar de toda a controvérsia que, desde do início do século XX até hoje, ronda as suas ideias, Freud era um génio. Revolucionou a psicologia clínica, tanto teórica como a sua prática, falou de tabus que ainda hoje incomodam e pela primeira vez curou e explicou neuroses, depressões e ansiedades, as doenças que mais afectam a sociedade ocidental. Numa época de ascensão e queda de impérios brutais, de milhões de pessoas a serem sugadas pelo mundo fabril e guerras mundiais, Freud teve a coragem de dizer que a causa da psicopatologia da vida quotidiana tem origem social.

Fazem hoje 150 anos do nascimento de Freud. As celebrações em Viena estão aquém do merecido e com a comemoração dos 250 anos de Mozart, ainda pior. A Fundação Sigmund Freud tinha planeada uma sessão na Volksoper Opera House, mas a sala de espectáculos decidiu apresentar mais uma vez a Flauta Mágica. Na Áustria preferem dar-nos música.

 

Emprego ou trabalho...


EMPRESA RECRUTA JOVENS
LICENCIADOS EM GESTÃO


M/F

Só mesmo para quem goste de trabalhar

Resposta ao Rossio, 11, ao nº 1228

(anúncio publicado nos Classificados do DN de 29 de abril)

05 maio 2006

 

A depressão Orwelliana


O século XX foi arquivo para inúmeras distopias, mas nenhuma preserva a popularidade de “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” de George Orwell. Quando recentemente decidi ler a obra descobri que o texto não resiste ao peso da celebração que hoje se faz do pesadelo Orwelliano. Pelo trabalho da Endemol Produções, com os seus televisivos “reality shows,” o que atribuímos a Orwell não é o que este redigiu. O texto foi substituído pelo mito.

Nesta distopia imaginada, o regime de todos os pecados que o origina o mal do mundo é o socialismo totalitário, no livro com título de IngSoc [English Socialism]. Em posfácio à segunda guerra mundial, Orwell associou-se ao coro liberal que deu início à guerra-fria. O herói que batalha contra o monstro estatal toma de nome Winston Smith [Winston Churchill? Smith? o apelido mais comum em Inglaterra]. No elenco das agressões do totalitário IngSoc estão as crianças que atraiçoam os pais, o ódio que se sobrepõe ao amor, o discurso público que enevoa o pensamento com contradições, e a substituição da língua inglesa por um léxico empobrecido e de concepção estatal. (Muitos destes crimes não me chocam, e ressoam a queixas conservadoras - como se violar a autoridade tradicional da língua inglesa ou da lógica aristotélica fossem atentados à ordem cósmica.) A construção de Orwell define o poder usurpador como estatista, ilógico, e sustentado por sentimentos negativos (medo, ódio, raiva) que estupram a natureza humana. O totalitarismo só pode ser socialista.

Orwell enganou-se! O totalitarismo, aquele que de facto se realizou, a distopia viva, dispensa Big Brother. O poder para estar em todo o lado não tem centro, nem rosto, nem polícia política, e as câmaras de vigilância existem sem que se lhes de uso. Somos polícias, juízes e carrascos uns dos outros, e de nós mesmos. Mãos sobre o bolso da carteira temendo e odiando, e igualmente carne contra carne, amando inactivos e desesperados os que nos são vizinhos. A ideologia nunca está nos textos dos manuais escolares, nem nas câmaras de tortura de IngSoc. A ideologia está entrelinhas nos textos e no exemplar cultural. Aprendemos disciplina esquecendo que houve uma lição e confundimos o mundo que temos com natureza humana. Rejeitamos a possibilidade de uma alternativa, jamais somos chamados a uma verdadeira escolha, e a isto chamamos democracia.

O texto de Orwell alerta-nos para um futuro terrível de opressão, mais temível é a insidiosa opressão do presente. É contra o presente que devemos combater e não temer assombramentos do futuro.

 

Ainda o Bairro da Torre


No jornal Público a notícia (3 de Maios) sobre o cerco ao Bairro da Torre tinha relatos dos moradores:

«Tânia aponta para a porta esventrada. (...) O forro do sofá foi rasgado e numa dependência minúscula só se vislumbram tábuas desalinhadas. "Parece que andou aqui um furacão... partiram tudo e não encontraram nada".
(...)
Nas ruas, de metralhadoras ou espingardas em riste, os homens do Corpo de Intervenção e do Grupo de Operações Especiais trataram de manter a ordem. Não foi necessário utilizar a força - limitaram-se a escutar os lamentos das mulheres, queixosas dos estragos sofridos e de uma eventual demonstração de poder que terá aterrorizado as crianças e alguns idosos.

Maria do Carmo Ribeiro Lopes ainda tremia quando contou como os polícias lhe entraram em casa. Aos 89 anos, viúva e sem que ontem tivesse a companhia do filho ou da nora, perguntava aos vizinhos se sabiam de alguém que fosse capaz de lhe endireitar a as chapas metálicas da porta arrombada. "Ganho 23 contos de reforma... Não posso ficar a dormir aqui sem porta..."

(...) José da Trindade, são-tomense [mostra] (...) os casebres de madeira e lata onde mora com a família. As portas saltaram dos gonzos ou ficaram reduzidas a estilhaços. Tenta empinar algumas tábuas que "isto [o bairro] à noite não é para brincadeiras". (...)

Os lamentos sucedem-se em todas as ruelas. Todos os moradores (...) [f]azem contas aos prejuízos e ao dia de trabalho perdido.(...)»

04 maio 2006

 

Apunhalar quem?


Relativamente ao decreto de nacionalização do petróleo na Bolívia, o Brasil reage:

"A assinatura do decreto, dias após a delegação ter deixado o país vizinho, foi entendida como um golpe pelas costas, uma espécie de traição."

Dá vontade recorrer à sabedoria popular e arremessar um "não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti" pelo Atlântico na direcção de Lula da Silva. Lula traiu o o povo brasileiro que nele depositou a esperança de mudança, e a Bolívia traiu os interesses capitalistas do Brasil. O equilíbrio cósmico está reposto...

 

A criminosa lei da imigração


O grande evento do dia do trabalhador, aferido pelos media internacionais, foi o boicote imigrante à economia Americana. É legitimo estranhar esta descrição de “boicote.” Mas foi deste modo que se o descreveu, evitando a mais gravosa identificação de “greve”. O movimento dos imigrantes nos EUA combate a iniciativa republicana de criminalizar o imigrante ilegal e erigir um “muro de Berlim” para dividir o continente. Os meios de luta são ao momento copiosamente ditados pela ala conservadora da comunidade hispânica. Proíbem-se os termos da luta de classes, como o acto da greve, e os símbolos do anti-colonialismo, substituindo-se as bandeiras do sul pela “stars and stripes” em lealdade à nova pátria.

As enchentes das ruas repetem-se há meses mas a paralisação de 1 de Maio provou para todos que o imigrante sem papéis está organizado e pode causar transtorno à recuperação económica Americana. Sem revelações futurológicas para ofertar sobre este movimento - que pode tanto se esvanecer em compromissos com o Estado Federal ou corporizar um combate radical sem precedente - prefiro interrogar-me sobre as causas desta lei.

Os dados sobre a imigração ilegal são obviamente de credulidade dúbia, diz-se que o número de ilegais na América nunca foi tão elevado. Mas isto não significa que um número crescente de indivíduos salta a fronteira, basta que as quotas de legalização se tenham reduzido (estas ninguém mencionou)! Em parte esta lei parece advir de um expediente político. Desde os atentados às Torres Gémeas que os Americanos estão a ser ensinados a temer a sua própria sombra, sobretudo se a sombra não for caucasiana. Criminalizar o imigrante ilegal, na impossibilidade de alargar a guerra no Médio Oriente, dá a ilusão da acção a um governo paralisado.

A burguesia parece acatar com a lei, talvez indício de que não será muito penalizada pela mesma. A única alteração que o lobby burguês pede do projecto legislativo é que se retire a multa prevista para os empregadores dos ilegais. Eis uma lição do direito capitalista: criminoso só pode ser o (indigente) trabalhador, o patronato é imune. No imediato o patronato Americano tem algo de substancial a perder: uma fonte relativamente dócil de mão-de-obra barata. A prazo, no mundo globalizado, este custo é rapidamente saneado “deslocalizando” (como se diz na gíria). Os muros das fronteiras servem somente para encurralar as gentes, os capitais circulam sem lei com a produção a trocar nacionalidades. No capitalismo a liberdade da produção é a prisão do trabalho.

 

A direita bombista


Em 22 de Abril de 1976 uma bomba com potência superior a seis quilos de explosivos rebentou à porta da antiga embaixada de Cuba, no número 19 da Avenida Fontes Pereira de Melo. Adriana Corço Callejas e Efrén Monteagudo Rodriguez, dois membros da representação diplomárica cubana foram assim assassinados. Estas bombas são menos faladas e mais facilmente esquecidas.

Este ano, artistas cubanos e portugueses assinalaram a data num concerto.

 

Diferentes Maios


As notícias sobre o 1° de Maio deste ano vêem da América. Nos EUA assistiram-se às maiores manifestações desde o primeiro 1 de Maio, em 1886. Em várias cidades os números de protestantes chegaram às várias centenas de milhar, com mais de meio milhão nas ruas de LA, 400 mil em Chicago e mais de 100 mil em Nova Iorque.

Os mexicanos solidarizaram-se com os imigrantes nos EUA e gritaram-se as palavras de ordem “Um dia sem gringos!”.

Na Bolívia, Morales nacionalizou o gás e o petróleo. Acabou-se o saque das multinacionais que se orgulhavam em dizer que ganhavam 10 dólares por cada dólar investido na Bolívia.

Já eu, nem aos protestos pude ir, porque na Universidade de Cambridge, até no dia dos trabalhadores o chefe é quem manda, e a minha decidiu que não era feriado...

03 maio 2006

 

As entranhas do PSD


As eleições directas para a liderança do PSD têm sido relativamente publicitadas e apontadas com um grande exemplo de espírito democrático. Mas o que lhe tem dado a grande relevância tem sido a polémica com a candidatura do militante de Coimbra. Perante a defesa deste, que alega que o tal Conselho de Jurisdição Nacional lhe nega a informação relativa aos erros e que terá havido uma dualidade de critérios na análise das candidaturas, sendo a de Marques Mendes aprovada na hora (está na moda?) e a dele minuciosamente escrutinada (o que por si só é um argumento frágil), o espectador tuga só tem de levantar o sobrolho perante a cena que se desenrola. Se realmente o PSD procura dificultar uma candidatura de base contra o plesbiscito mendesiano, aprendemos muito sobre o funcionamento democrático do partido e dos seus membros, assim como descortinamos imediatamente (se tal fosse ainda preciso) a demagogia mediática que representam estas "directas". Se o militante de Coimbra for realmente o trapaceiro que o PSD espera fazer dele, levanta-se também a ponta do véu sobre a podridão da máquina partidária pelo país, os pequenos feudos e as prepotências, as ilegalidades e favorecimentos que tanto caracterizam o funcionamento da coisa pública em Portugal.

 

Quem é que nos protege da polícia?


Ontem, a PSP de Lisboa, Polícia Judiciária Militar (PJM) e Ministério Público atacaram os moradores do Bairro da Torre, em Camarate, supostamente no âmbito do combate ao tráfico de armas. A "Operação Torre de Controlo" chegou ao bairro às sete da manhã, com 600 agentes do Corpo de Intervenção, do Grupo de Operações Especiais e do Núcleo de Investigação Criminal e 150 viaturas. "As primeiras equipas a sair foram as do CI, que cercaram o bairro, impedindo que mais alguém entrasse ou saísse. Depois, avançaram as do GOE, que apoiaram os elementos do núcleo de investigação criminal da PSP, que actuava à paisana, e dos magistrados nas rusgas a todas as casas dos bairros. As equipas cinotécnicas da PSP também estiveram presentes para que, com o apoio dos cães, fosse possível detectar a existência de droga e de explosivos."

Não sendo propriamente novidade as ditas buscas, as de ontem foram particularmente mediatizadas. Tal permite conhecermos um pouco melhor a realidade a que as pessoas estão sujeitas por viverem em determinados bairros. Do artigo de Mafalda Inácio no DN destacam-se algumas ideias-chave sobre a acção policial:

Parcimónia
A polícia fez "apenas" 138 buscas domiciliárias, apesar de os magistrados terem 200 mandados de forma a poderem efectuar buscas em todas as casas.

Sucesso
Dez detidos, 19 armas de fogo apreendidas, das quais 13 caçadeiras, uma pistola de nove milímetros, duas de calibre 6,35, 500 munições, 22 carregadores de nove milímetros e dois silenciadores. Especialmente grave num país onde centenas de milhar tem armas de "caça" e outras...

Racionalidade
Num momento, em que se pede contenção, é notável a contenção de recursos nesta operação. 19 armas para 600 agentes não dá uma má média. Se fossem fiscalizar outros polícias certamente iriam encontrar mais armas ilegais.

Pacífica
O DN classifica a operação de ontem de pacífica. Que o digam os diversos moradores, de crianças a velhos, que viram as suas portas arrombadas, os homens algemados e por vezes agredidos, as suas casas remexidas e destruídas. Mas a culpa será "certamente" dos moradores, pois se a polícia entra de "shot gun" em punho e as aponta a crianças terá as suas razões. Afinal, não há fumo sem fogo...

Segurança
Segundo o subintendente Neto Gouveia, que coordenou a operação, o dia de ontem serviu igualmente para "garantir à população que a polícia está cá para dar segurança e que consegue entrar em locais que, à partida, muitos dizem estarem vedados às brigadas" (DN).

É tempo de dizer quem é que nos protege da polícia?

PS - no Bitoque alguém comentou potenciais double standards em análises efectuadas. Num país onde não os há, aconselho os vizinhos de Pinto da Costa, Valentim Loureiro e muitos, muitos outros a terem cuidado. Nunca se sabe quando 600 gândulos lhes cercam o prédio...

 

O Bom, o Mau e o Feio


O Bom...



...o Mau...



... e o Feio



 

A democracia vista de Washington


Os atributos "democráticos" dos diferentes governos dos EUA são por si sobejamente conhecidos, especialmente na América Latina. Todos estes países já foram violentados de uma ou outra forma:
- Na organização de golpes e apoio a ditadores de Fulgencio Baptista (Cuba) a Pinochet (Chile), El Salvador, no falhado na Venezuela, bem muitos outros.
- Nas invasões do Panamá a Granada, passando pelo falhanço da Baía dos Porcos em Cuba;
- No mais recente Plano Colômbia;
- Na aplicação de programas económicos ditados pelo FMI e Washington.

Se a lista é enormemente grande (incentivamos acrescentos), gostava de lançar um olhar mais atento à Nicarágua. Os Sandinistas derrubaram o ditador Somoza em 1979. Em 1984, organizaram as primeiras eleições livres na Nicarágua e ganharam com Ortega. Tal não impediu os EUA de apoiar os rebeldes "contras" que mantiveram o país em guerra civil.

De Somoza aos Contras, Washington meteu sempre o bedelho numa das mais importantes "República das Bananas". Actualmente, não é excepção. Assim diz Washington pelo porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack: "Instamos o povo a repudiar figuras desacreditadas do seu passado político como o ex-ditador Daniel Ortega".

Mexem agora os cordelinhos para a direita apresentar um candidato comum, certamente mais um dos muitos fantoches que pululam (já pulularam mais...) pelo Continente.

01 maio 2006

 

Moradores em luta


Moradores do Bairro das Amendoeiras em Chelas protagonizaram a surpresa na Manif do 25 de Abril ao aguerridamente defenderem os seus direitos.

O acontecimento é mais um exemplo das trapalhices dos sucessivos governos nas questões sociais. Os moradores com acordos estabelecidos com o Estado em 1974 têm pago as rendas estabelecidas. O Estado detentor dos direitos sobre as casas, doa 1400 casas a uma Fundação D. Pedro IV em 2005, fundação essa que aumenta imediatamente as rendas dos bairros das Amendoeiras e dos Loios em 3000% e 4000%.

Curiosamente, o Presidente da fundação, Engenheiro Vasco Canto Moniz foi expulso do IGAPHE, onde foi Director da Habitação, com processo disciplinar por lesar o Estado e desviar fundos para proveito próprio. Já na fundação também ouve um relatório que voltava a falar de corrupção, mas que foi arquivado. Assim vai a gestão da cousa pública em Portugal...



   

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