31 dezembro 2007

 

Porreiro pá!


A pasmaceira política portuguesa distrai-nos das distintas personalidades dos nossos governantes. Fascinados pelas semelhanças entre primeiros ministros e presidentes, insistentes na expansão pirata da economia privada, conservatismo fiscal, e repressão dos direitos sociais e laborais, não notamos que são todos gajos singulares em estilo e liderança. Assim, enquanto o país permanece inscrito em dura pedra no atraso social e democrático, o espectáculo da República está em constante re-invenção.

Vejamos os líderes do absolutismo democrático, quando no final da década de 80, os governos começaram a cumprir o termo dos seus mandatos.

Mário Soares sempre se imaginou como descendente final de uma linhagem ilustre, por direito filial e porque trabalhara na oficina do PSF a aprender a arte artesanal da social democracia. Enquanto presidente, Mário encarnou rotunda solenidade. Mário cumprimentava a calçada, os postes da estrada, os marcos do correio. Um D. Quixote a imaginar multidões que o vinham celebrar. Mário de resto era tão imóvel como a calçada e os postes, todo pose e ritual.

Aníbal Cavaco Silva tinha uma relação ingrata com a nação. O professor queria ensinar o país a crescer e a igualar as nações míticas dos manuais de economia. Porque o país não aprendia a tabuada, zangava-se, com um olhar duro e palavras atrapalhadas obrigava os portugueses a trabalhos para casa.

António Guterres foi um primeiro ministro curvado pela palavra leve, um abade da social democracia. Com ares castos, santificados e sofridos pedia ao pais para se reconciliar e o perdoar de pecados governativos. José Manuel Durão Barroso foi um primeiro ministro escapista. Um Houdini da política portuguesa que durante o mandato fintava responsabilidades com um golpe de mão e verbo rápido, e perante a morte certa entrou num beco escuro e reapareceu lá longe, Presidente da Comissão Europeia. Ficou o Pedro Santana Lopes, que assumia a chefia do governo como um carnaval da sua vaidade e da sua corte de meninos mimados e criminosos.

O mais distinto neste panteão é inesperadamente José Sócrates. O actual primeiro ministro distingue-se como o primeiro que é genuinamente e entusiasticamente feliz. O José sorri, abraça, beija, aplaude, auto-congratula-se. O José acredita que é o princípio e o fim do país, ele é o governo, o crescimento economico também, até a diplomacia europeia só existe pela sua intervenção. O José começa os dias a consagrar o seu corpo com uma corrida em cenários heróicos, e termina com discursos musculados que são odes de amor próprio. Finalmente, o poder reconciliado.

30 dezembro 2007

 

Palavra de Avó



"Cínico, velhaco e mentiroso."

28 dezembro 2007

 

Super green me!


Nesta época de super-excessos - isto é, para além daqueles que vemos o ano inteiro - há quem se dê ao trabalho de pensar em resoluções de ano novo amigas do ambiente.

Algumas mais realistas que outras (metro até Alfama?!), a verdade é que não é assim tão difícil quanto isso introduzir algumas mudanças no nosso dia-a-dia.

Não acreditando que basta a acção individual para remediar o que de muito errado se passa no mundo, a verdade é que podemos dispensar muitos dos maus hábitos que temos.

27 dezembro 2007

 

Operação Condor


Iniciada em 1975, sob o patrocínio militar, monetário e ideológico dos EUA, a Operação Condor tinha como objectivo deter o avanço da esquerda em muitos dos países da América Latina.

Implicou golpes de estado, ditaduras, tortura sistemática, perseguição política, assassínios selectivos, etc. Devido ao seu carácter clandestino, até hoje não se sabe exactamente a dimensão da tragédia (quando esta é medida apenas em número de mortos...).

Em Itália, os familiares de alguns latino-americanos de origem italiana desaparecidos na Operação Condor deram o mote para o início das investigações que decorrem desde os 1990s.

Na 2.ª feira foram emitidas dezenas de mandados de captura dirigidos a pessoas implicadas na Operação, incluindo o já falecido Pinochet.

Esperemos que ao menos os vivos paguem pelo que fizeram.

26 dezembro 2007

 

Porque a revolta começa com os pés quentes


Aos amigos d’obitoque que por pensamento ou acto nos deixaram dentadas de boas festas, retribuo com uma prenda. São meias. Abundam sempre por debaixo da árvore, mas fazem sempre falta. Arranjadas em ramo e por cores compõem um bouquet natalício.

20 dezembro 2007

 

Natal censurado


Nesta altura em que tudo tem de ser perfeito, em que não se pode andar sem o som de fundo das músicas de Natal, em que só se fala de solidariedade, quem sabe para compensar a falta dela no resto do ano, o irónico é ter uma música de natal censurada.

Sim, esta época altamente subversiva que é a do Natal, que já é por si alienante, e portanto pensava eu incólume a censuras que não as de quem não aguenta a hipocrisia festiva, já é também alvo de censura. E não é uma música nova, uma canção recém-editada a dar para o undergound, com crítica social à mistura.

É apenas a votada em 2004 melhor música de natal de sempre pelos britânicos, um êxito de uma banda irlandesa produzido mais ou menos em 1986/7.



E a história não podia ser mais simples: música de natal de sucesso que fala do natal dos que não têm natal é censurada, 20 anos após o seu lançamento, por esse arauto da independência jornalística que é a BBC...

 

Os bufos cibernautas


À hora deste ficamos a saber que dos leitores do Público que dos que responderam ao seu mais recente inquérito online (Se assistir a um desembarque de imigrantes clandestinos na costa portuguesa o que faz?) há 585 (60%) que chamavam as autoridades.

Serão os mesmos que contestam a veracidade de imagens que mostram as autoridades a espancar cidadãos?

Serão tão solícitos quando o governo precariza o trabalho e continua a fazer-nos perder poder de compra?

Serão tão voluntariosos quando os patrões (estado e privados) aterrorizam os trabalhadores com a perda de emprego?

19 dezembro 2007

 

Ironia


"Dívidas à banca vão obrigar a central sindical UGT a sair da sua actual sede em Lisboa e entregar o edifício ao Banco Espírito Santo (BES)." (in DN)

 

Natal para o mundo ao contrário



18 dezembro 2007

 

A Corte por Woody Allen







(Do filme "Play it again, Sam", 1972)

17 dezembro 2007

 

1 em cada 7 iraquianos é refugiado


Estima-se que hajam 4 milhões de refugiados no Iraque – 2 milhões de deslocados internos e 2 milhões que fugiram do país. É o segundo maior número de refugiados de sempre, a seguir ao êxodo de palestinianos desde a criação do estado de Israel.

Os EUA, directamente responsáveis por esta catástrofe humanitária, nada têm feito para a aliviar. Apesar de terem em Bagdad a maior embaixada do planeta, o número de vistos que passam é miserável.

No início deste ano, o governo americano disse aceitar a entrada de 12 mil iraquianos nos EUA (o mesmo que a Suécia, um país 30 vezes mais pequeno). Esse número foi depois reduzido para 7 mil, depois para 2 mil e finalmente para 1608 refugiados. Mas na realidade, nos primeiros seis meses do ano, deixaram entrar somente 69 iraquianos nos EUA.

A mensagem é clara: não podem viver nem no vosso país nem no nosso. Tudo isto com muita liberdade e democracia.

 

Extractos de uma notícia


"Alguns dos 11 suspeitos detidos ontem durante a operação "Noite Branca", de combate à criminalidade associada à noite do Porto, estão indiciados por terrorismo

(...)Na informação divulgada ontem dizia-se apenas que os suspeitos estariam indiciados por associação criminosa, homicídio voluntário, tráfico de estupefacientes, receptação e detenção de armas proibidas."

"Comentário:
17.12.2007 - 17h33 - Joe Freitas, California USA
Mais um exemplo do progresso pos 25 de Abril. O crime sobe, o PIB per capita derce para o mais baixo da UE..."

(in Público)

 

Liberdade de imprensa


Muitos comentadores gostam de falar da liberdade de imprensa na Venezuela.

E o que acontece nas "democracias liberais"? Se for ficção ainda passa, mas documentário já não dá...




(Excertos de uma entrevista a Ken Loach de 1994)

 

Ladybird, Ladybird


O Estado Português continua a não ser capaz de proteger as crianças nem enquanto se encontram na família, nem enquanto se encontram sob a sua "protecção".

Sem acesso ao filme, aconselho vivamente a entrevista com Ken Loach que retrata o seu filme Ladybird, Ladybird onde o Estado consegue ser mais destruidor que protector (1, 2).

16 dezembro 2007

 

O Presidente Bush é transformista


Perante os precalços e desastres desta Presidência, a pose permaneceu firme. George Dubya com peito de pombo, olhar pequenino e língua curta, tem uma certeza muscular. Este homem é genuinamente, evangelicalmente, convicto na sua reforma conservadora do mundo. Na eleição de 2004 foi esse o argumento que lhe garantiu vitória – este é um homem imune às meias palavras de Washington, D.C.

Mas o que foi já não é. Bush hospeda cimeiras fictícias pela paz no Médio Oriente. Bush elogia os seus oponentes no Congresso enquanto negoceia financiamento para o Pentágono. E no fim da semana, Bush assina um acordo internacional sobre alterações climáticas que não pretende cumprir, e que nega sempre que pode. No último ano de mandato, Bush transforma-se em Bill Clinton.

 

Oitava Lição


O que quer que se faça é preciso sempre ser claro. Ter uma boa caligrafia ajuda...


 

Um ladrão de bicicletas na Madeira


P - Tem criticado muito o Governo por aquilo que chama de obsessão do défice. Acha que não fazem sentido as preocupações que o Governo central, desde os tempos de Durão Barroso e de Manuela Ferreira Leite, do seu partido tem tido com essa questão? Teria sido possível uma política alternativa?

R - Acho, e devia ter sido. Primeiro, sob o ponto de vista dos princípios, sou um neokeynesiano. Entendo que a política fiscal e a política financeira são um instrumento da economia, que a economia tem de se desenvolver, e que é pelo aumento da velocidade da circulação da moeda que se faz a sua distribuição, o que permite mais consumo, mais investimento e mais emprego, permitindo ao Estado não ter de recorrer a aumentos de impostos para adquirir receitas. Estes senhores estão a fazer tudo ao contrário. Pergunta se Portugal poderia ter outra política face à União Europeia? Foi mal negociado. Na primeira audiência em que o primeiro-ministro fez o favor de me receber, disse-lhe que não era possível um país como Portugal descer em três anos o défice para os objectivos definidos e que isso seria feito à custa de um grande sacrifício, de fortes traumas sociais e de muito desemprego. Portugal não podia aceitar. E na altura ainda tínhamos o direito de veto no seio da União Europeia... Uma política destas pode dar resultado num país mais rico, mas Portugal tinha de negociar o reequilíbrio do défice em dez anos. Não conseguiram.

(entrevista a Alberto João Jardim no DN)

15 dezembro 2007

 

Um presépio seguro



 

A carta “Você está livre da prisão”


Esta semana os bancos centrais dos EUA, União Europeia, Reino Unido, Canadá e Suíça, tomaram medidas excepcionais para injectar liquidez nos mercados. Substituindo “medidas excepcionais” por “juros baixos”, “injectar liquidez” por “dar moeda” e “mercados” por “bancos”, a notícia lê-se: os bancos centrais dos EUA, União Europeia, Reino Unido, Canadá e Suíça, estão a dar aos bancos privados dinheiro a juros baixos. A ansiedade nos mercados financeiros começou com a descoberta que os bancos americanos contrataram hipotecas que não podiam ser pagas. Com o isco do ideal de ser “donos” e o anzol das mas contas do agente bancário, as famílias endividaram-se além das suas possibilidades. Os bancos empacotaram estas dívidas em títulos mistos e venderam-nos a outros bancos e especuladores mundo fora.

A moeda agora entregue substitui as hipotecas que não são saldadas, paga directamente aos bancos. E para os consumidores? Para os europeus somente a promessa de que empréstimos continuarão com juro alto para compensar as perdas dos últimos meses. Para os americanos a promessa de renegociar a dívida para pagar em mais anos, e a certeza de que quem não cumprir fica sem tecto.

Os economistas contemporâneos gostam de falar de incentivos. Os incentivos neste caso são obvios, a banca pode especular e abusar do endividamento das famílias que o Estado está vigilante para os salvar de si mesmos. E quem se lixa é o mexilhão.

 

Um século de arquitectura radical


A arquitectura é uma maneira de intervir no mundo. Os projectos dão forma a uma ideia sobre a sociedade. Os edifícios permitem-nos (ou não) conviver de um modo menos agressivo.

O arquitecto Oscar Niemeyer procura essa harmonia entre a natureza, o homem e o betão armado. Ele faz hoje 100 anos e a sua obra é tão vasta e interessante como a sua vida. Ninguém o descreve como Eduardo Galeano: “Niemeyer odeia o capitalismo e a linha recta”.

Brasília é a obra mais famosa de Niemeyer, uma cidade utópica feita de tijolos e lajes. Niemeyer também criou a sede do Partido Comunista Francês e a Universidade de Constantine na Argélia. Outros trabalhos incluem o Memorial da América Latina, o monumento Tortura Nunca Mais e o monumento 9 de Novembro, em memória de três operários mortos numa greve de 1988. Este último é tão dramático e contestatário que no dia seguinte à sua inauguração foi destruído por grupos de direita. Niemeyer quis que fosse reconstruído deixando à vista as marcas da destruição e nele inscreveu: “Nada nem a bomba que destruiu este monumento poderá deter os que lutam pela justiça e liberdade”.

Fidel Castro terá dito a respeito dele: “Niemeyer e eu somos os últimos comunistas deste planeta”. Concordo com o Fidel.

14 dezembro 2007

 

Outra vez o Grémio


Domingo há programa contínuo no Grémio Lisbonense, em reacção à ordem de despejo. Para os mais internautas, fica aqui o link para a petição online:

http://www.PetitionOnline.com/GREMIO/

13 dezembro 2007

 

Uma época cheia de graça



 

O discurso do Barroso


Num tom de poética solenidade, Barroso disse do novo tratado: "It is the treaty of an enlarged Europe from the Mediterranean to the Baltic, from the Atlantic Ocean to the Black Sea."

A lenga lenga soou-me familiar, soou-me Atlanticista. Fui procurar e não me desiludi, foi plágio do hino nacionalista God Bless America:
"God Bless America.
Land that I love
Stand beside her, and guide her
Thru the night with a light from above.
From the mountains, to the prairies ,
To the oceans, white with foam
God bless America
My home sweet home"

Sendo que se copia o federalismo norte americano, a política económica, e o modelo social, porque não fanar a poética?

12 dezembro 2007

 

Subsídio de Natal


O Público apresenta aqui (em baixo à esquerda) um dos seus inquéritos online.

Pergunta:
Tenciona gastar todo o seu subsídio de Natal?

Resposta:
Sim
Não
Não sei

Apetece adicionar uma quarta opção que cada vez mais é o presente no sapatinho de tanto português:
Não tenho

(para os sádicos ou masoquistas, conforme o caso da sua remuneração, os resultados era 162 sim, 553 não e 43 não sei)

 

1/4 das mulheres sente-se discriminada


Os homens recusam admitir que os menores salários das mulheres se devam a preconceitos, e encontram explicações nas "insuficiências de qualificação", "menor capacidade para o trabalho" ou ainda "menor disponibilidade das mulheres para o trabalho". Enquanto 69,4% das mulheres atribuem a dificuldade no acesso ao emprego a "resistências relacionadas com estereótipos de género", esta percentagem desce para zero entre os homens.

Não há pior cego do que aquele que não quer ver.

 

Uma estrada fácil


Nos anos 30, um intelectual austríaco, aliás um economista austríaco, refugia-se em Londres. Quando a Segunda Guerra começa, o valente voluntaria os seus préstimos como locutor para a propaganda aliada. Os ingleses, primeiros na suspeição xenófoba, não confiam no mau sotaque inglês para ser a sua voz alemã.

Sem melhor missão para a guerra, Friedrich Hayek escreve um livro. O livro não é fuzil aliado, tem na mira o que se segue à derrota nazi. Em polémica com os socialistas democráticos ingleses, agrupa o Nacional Socialismo com o Socialismo Bolchevique. Diz que planear a economia, qualquer forma de intervenção que não seja para fomento da competição privada, conduz à servidão dos homens, The Road to Serfdom. Diz que o planeamento excepcional em tempo de guerra é uma necessidade, mas que deve ser seguido da normalidade e tradição liberal.

Escreve o livro para ingleses lerem, mas envia uma cópia para outro emigrado nos EUA. Este faz chegar o volume à University of Chicago Press e com o patrocínio dos liberais do Midwest, o livro é publicado também nos EUA. O livro vende, mas não mais que umas dezenas de milhares.

Numa viagem de comboio um ex-socialista, Max Eastman, lê o manuscrito. Este desiludido ex-trotskista é um espécime perigoso, um editor da Reader’s Digest. Uma versão condensada aparece na revista em 1945, com mais de oito milhões de cópias distribuídas. Caso não chegasse, a revista Look, uma competidora meio histérica da Life, publica uma versão do livro em vinte vinhetas ilustradas.

A mensagem liberal, depois ultra-liberal, depois libertária de direita, teve sempre uma estrada aberta, pavimentada com "greenback." Não lhe faltaram amigos que pelo caminho a acarinhasse e financiasse. E foi essoutro trilho de liberal opressão que nos impuseram.

Hoje, o livro tornou-se um fetiche histórico. Um daqueles titulos que produz salivação entre os endoutrinados. Não o lêem, mas conhecem a história do seu sucesso e influencia, e usam-na para ilustrar a certeza das suas ideias. A versão condensada e os cartoons estão online no think tank do partido Conservador inglês, Institute of Economic Affairs.

 

Votos de boas festas




Um postal da Cisjordânia. Para quem ainda não fez as compras da época há loja.

11 dezembro 2007

 

Um homem nunca se agacha...


Eu não estou a vender carros,


apenas cartões de crédito...


(este não vale que é apenas filme...)

 

Mesmo a tempo


A Presidência Portuguesa da União Europeia está quase, quase a chegar ao fim. Mas como ainda estamos "dentro do prazo", lá saiu um pedacito de legislação com efeito sobre estes 6 meses, que aprova o regime de alojamento de delegações estrangeiras para cimeiras e reuniões de nível técnico no âmbito da Presidência Portuguesa da União Europeia.

Ou seja, são definidas hoje regras com efeito retroactivo.

Imaginação não lhes falta...

10 dezembro 2007

 

Lars and the Real Girl (2007)


Vista a trailer, o filme não promete muito. Um jovem recolhido no olhar e no agasalho com que se defende do frio, janta com familiares acompanhado por uma boneca manequim. Esclarece que é a sua nova namorada. A primeira reacção do espectador só pode ser: “ai mau Maria, mas o que é isto?” Afinal, isto é um bom filme.

Nos últimos tempos a minha observação etnográfica das Américas está obsessivamente centrada na solidão que esta gente vive, num país demasiado grande. Subindo os pontos cardeais, a espreitar o Canadá, a malha urbana estende-se para dar arrumação a florestas, lagos, e planícies geladas. O que não se entende visualmente é que o espaço humano está ligado ao espaço físico. Longe das grandes cidades, o amplo estender da terra impõe uma dolorosa solidão.

Esta é uma história feliz. O jovem alienado não entra num shopping do Nebraska e assassina 8 pessoas. Antes, vai descobrindo o amor daqueles que o rodeiam através da mediação de uma "sex doll" comprada online. Porque os amigos, familiares, e os mais indiferentes conhecidos aceitam o absurdo de que a boneca é real, Lars aprende que o seu absurdo nunca será motivo de condenação. O calor dos outros é a única cura contra a ansiedade. A solidariedade é a única arma contra o medo. No fundo é um filme político.

 

Bufaria


Elas não davam por eles. Até um dia.

Até um dia como hoje, uma 2.ª feira triste como qualquer 2.ª feira. Colar cartazes na faculdade é permitido apenas nos “espaços oficiais”, que é como quem diz nos placards disponibilizados para o efeito.

Para além desta limitação espacial, havia a burocrática: os cartazes afixados têm que ter o carimbo da associação de estudantes. Ora pois, a associação de estudantes transformada em garante da decência da expressão estudantil...

No penúltimo de 8 edifícios que compõem a faculdade foram avisadas por uns colegas com cara de poucos amigos que precisavam de ter o carimbo da AE nos cartazes. Afixaram os cartazes ao lado de tantos outros sem carimbo.Já estavam no último edifício quando o segurança veio ter com elas e lhes diz que não podem afixar naquele sítio (no exterior do edifício) nem dentro de elevadores ou nas vidraças.

Elas explicaram que não tinham afixado em elevadores ou vidraças, que colaram nos sítios indicados para o efeito e onde também já estavam outros cartazes. O segurança encolheu os ombros e limitou-se a dizer que eram as ordens que tinha, e que lhe tinham dito que andavam a colar cartazes naqueles sítios. Elas perguntaram quem é que definia as regras de afixação de cartazes – faculdade ou universidade? Apareceu o chefe para explicar – Serviços Técnicos de Apoio!

À parte o espanto, faltava saber como é que eles souberam precisamente onde as encontrar. Fecharam-se em copas mas percebeu-se que alguém lhes sussurrou a informação.

09 dezembro 2007

 

Medo, medo, CNN, medo


Com a publicação do relatório americano que indicou que o Irão suspendeu o seu programa de armamento nuclear em 2003, a CNN cancelou o programa: "We Were Warned -- Iran Goes Nuclear." O programa especial era para ser difundido dia 12 de Dezembro, uma ficcionalização de um futuro em que o Irão teria capacidade nuclear, e com um elenco de antigos membros da Administração Bush a debater uma resposta tardia à ameaça persa. Para a quadra festiva a CNN decide presentear a sua audiência com mais pesadelos da doentia imaginação neo-conservadora.

 

You Mr Bush, Are a Bald-Face Liar!



 

Sétima Lesson


Na semana passada falou-se de dar o corpo ao manifesto. E que tal desta vez dar a voz?

O seguinte coro de Helsínquia faz parte do Complaint Choirs WorldWide.


(de ermidas)

08 dezembro 2007

 

Manamá


"“A política do Irão é fomentar a instabilidade e o caos” e “a sua política internacional desestabilizadora é uma ameaça para os interesses dos Estados Unidos, para os interesses de cada país do Médio Oriente e todos os países ao alcance dos mísseis balísticos desenvolvidos pelo Irão”, declarou Gates [secretário norte-americano da Defesa] em Manamá, no Bahrein, numa conferência regional sobre a segurança no Golfo, organizada pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos." (in Público)


 

REM


Shiny happy people


Furry happy monsters

07 dezembro 2007

 

Depois dos telemóveis, campeões da net


Segundo o sítio Colombiano Internet World Stats, Portugal é o quarto país com maior penetração da Internet (definido como número de pessoas com competências e acesso à web em proporção da população). Com 73.8% seguimos a Islândia, Suécia, e Nova Zelândia, à frente da Holanda, Austrália e Estados Unidos. O acesso à banda larga em Portugal está a par da média europeia, com um milhão e meio de subscritores.

A notícia não deve ser motivo de surpresa. Ainda que 3 em 4 portugueses ligados em rede soe excessivo, é plausível o crescimento exponencial do uso da net. Os portugueses são dos Europeus que mais gastam em telecomunicações, mais de 5% do PIB segundo o anuário do Eurostat. E ainda segundo o Eurostat News Release 161, por cada 100 portugueses havia 111 subscrições de telemóveis em 2005.

Somos ávidos comunicadores. Para o porquê e o para quê desta incansável comunicação não há estatísticas.

 

Gaza Calling


“Nesta música podem ouvir o nosso amigo Bilal, um cidadão de Gaza, ao telefone a tentar ligar para as nações unidas… uma canção sobre a esperança de ser ajudado, uma canção sobre (e para) a comunidade internacional e… uma canção sobre atendedores de chamadas…” Checkpoint 303.


06 dezembro 2007

 

Coitadinho do lobo


Olhem para o título desta notícia: “Israel sente-se só depois do relatório sobre o Irão”.

É suposto ficarmos com pena de Israel? Um país que tem um armazém atómico formidável e nunca permitiu inspecções ao seu programa nuclear…

O artigo continua, informando-nos detalhadamente como Israel poderia usar as suas bombas de alta precisão para destruir bunkers iranianos subterrâneos ou qualquer tipo de material de guerra – seria uma missão complexa, é certo, mas fazível.

Via Angry Arab.

 

O mundo por detrás do espelho


Ouço hoje na rádio que a Administração Bush acusa o Irão de tentar iludi-los com um programa de armas nucleares falso, afinal suspenso desde 2003. A Administração Bush quer uma admissão total e detalhada de quando e como e porquê houve programa nuclear.

Já ouvimos isto antes, quando depois de estuprada uma nação, se tornou evidente que as armas de destruição massiva do Iraque eram imaginárias. Disseram então que Saddam tentara iludir o mundo com comportamentos suspeitosos: insistir que não tinha armas e impedir intermináveis, incondicionais e humilhantes inspecções da ONU.

A estrutura é a mesma. Surgem evidências de fonte incerta que um país no oriente detém armas ou programas para armas genocídas. O país nega. Prova-se que o país no oriente não tem armas nem programas. O país é declarado mentiroso. Descreve-se que as evidências iniciais foram fabricadas pelo país acusado (Irão e Iraque) ou seus inimigos internos (Iraque), para iludir o ocidente a participar num jogo de dúvidas e ameaças. Pérfidos orientais!

 

Os invertebrados


Não me interessa discutir da justeza ou não da proposta dos sacos. Interessa-me antes o que leva as pessoas a não terem vergonha na cara. Quanto vale sentar-se num cadeirão no governo? Quais os benefícios que se tiram depois? Quantos quilos de lentilhas são precisos para ver o Sr. Humberto Rosa a fazer figuras tristes?

05 dezembro 2007

 

Diz que disse


Fico tonto com a acumulação do “falar sobre o que se disse.” A blogosfera explodiu com a distinção entre a literatura primária e a secundária, entre a fonte e o comentário.

Eis a ilustração… No Le Monde Diplomatique Português, a Isabel do Carmo escreve sobre a polémica reforma da saúde. Como é um contributo para um debate com consequência na política do estado, podemos chamar a intervenção de primária. Do texto da Isabel estala um confronto na blogosfera entre o Zero e os Ladrões, já vamos em literatura secundária. No Spectrum acham piada ao debate e elevam-se sobre o mesmo, literatura terciária? Animado o Zero riposta com nova e alargada perspectiva, quaternária e chegámos ao palavrão.

Para concluir a escalada e atingir o cúmulo da cordilheira das análises, escrevo eu, e olhando para baixo tenho uma vertigem.

 

O socialismo de Sócrates


"O Estado prepara-se para aumentar o valor das rendas dos seus bairros sociais. A intenção foi anunciada ontem pelo presidente do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), durante um encontro com jornalistas. "Vamos acabar com a renda social e substituí-la pela renda apoiada", disse Nuno Vasconcelos, presidente daquele organismo, responsável pela gestão do parque habitacional da Administração Central do Estado.

Para o presidente do IHRU, a coexistência dos dois regimes - de renda social e renda apoiada - gera situações de desigualdade e injustiça inaceitáveis entre moradores dos bairros sociais. Em causa estarão cerca de 11 mil fogos (número que não foi possível confirmar com o IHRU) que ainda se encontram sob o regime de renda social por terem sido arrendados antes de 1993, ano em que entrou em vigor o diploma que criou o regime de renda apoiada." (in DN)

Se equipararem as rendas, aumentando-as, ficarão todos mais contentes e a justiça reparada...

A política "socialista" do executivo de Sócrates não deixa de surpreender... os tolos.

 

Antropologia animal


Quando entramos numa sala de uma universidade o que menos esperamos é encontrar uma selva. Mas está lá a bicharada toda.

Estava a apresentar o meu trabalho a um grupo de colegas. Um seminário habitual, informal, sem grande importância. Mas houve quem tivesse outras ideias. No início julguei que a criatura a que me refiro era apenas uma ave rara. Daquelas com um grande bico à procura de onde picar. Depois percebi que era uma outra espécie de bicho. Não sei bem identificar qual era classe, mas era definitivamente um alpha-male.

As características estavam lá todas: ambicioso, super-confiante, competitivo e demasiado opinativo. Teve algumas tiradas inteligentes, mas foi um enorme desprazer discutir com ele.

Isto entristece-me, perceber que há pessoas que têm tão pouca consciência de si mesmos. Que este homem decida comportar-se como um gorila nos trópicos deixa-nos a todos mais pobres.

04 dezembro 2007

 

O Chavez e a bomba nuclear


A ideologia é um hábito. Quando nos sentamos, cruzamos a perna ou para a esquerda ou para a direita. Ouvimos a mesma ladainha na rádio, e logo sabemos completar a cantiga. Todos os dias de cabeça baixa, palmilhamos o mesmo roteiro para o emprego. A repetição oferece conforto e segurança. A par com esses hábitos do corpo, há os hábitos da mente e a ideologia.

Ainda que antagonistas lancem acusações cruzadas de neo-liberalismos, islamofascismos, ou outros tantos ismos, o hábito mental de hoje é a “presunção de culpabilidade.” Chavez é culpado de ser ditador. Não o é ainda, então diz-se que exibe tendências. É um ditador em intenções, as nossas, e urge julgá-lo e condená-lo antes do facto. O Irão é culpado de ter armas nucleares. Não as tem, alias nem as tenta ter. Mas fica determinado que o Irão ameaça o mundo livre com um holocausto nuclear e por esse crime sem provas é eleito pária da comunidade internacional.

Como chegámos a esta habilidade de antecipar o criminoso antes do crime? Fomos habituados ao raciocínio. A invasão e ocupação do Iraque foi justificada como uma “preemptive war,” um acto de auto-defesa contra um ataque imaginário. As novas leis anti-terrorismo no Reino Unido e nos EUA permitem a prisão sem julgamento fundada em intuições policiais que dispensam exame jurídico. As detenções em Guantánamo e nas misteriosas bases e caves da tortura espalhadas pelo mundo, escusam-se ao escrutínio público. Garantem depois que estas detenções salvam-nos de atentados que ficam por realizar.

E assim repete-se: criminosos sem crimes, criminosos reflexos do preconceito, munidos de intenções que são nossas.

 

Varrer os problemas para debaixo das estatísticas


Presumindo que o conteúdo desta notícia está correcto, vai-se percebendo a natureza das movimentações do actual Ministério da Educação. A ideia é que a culpa dos maus resultado no PISA é o excesso de chumbos, que faz com que os alunos de 15 anos ainda estejam atrasados nos conteúdos, competindo por isso desigualmente com os outros concorrentes ao prémio dos conhecimentos. Portanto, o problema é do sistema de ensino e das reprovações, já que os alunos que nunca chumbaram ficam acima da média. Logo, a solução é reduzir as reprovações para que todos os alunos de 15 anos estejam no 10º ano, e podermos assim brilhar nas estatísticas internacionais...Simples, não é?

O que esta equipa do ME não percebe, porque mais uma vez demonstra um total desconhecimento do sistema de ensino, é que as reprovações não podem ser definidas em função dos resultado do PISA. As reprovações acontecem quando um aluno não atinge os conhecimentos e competências que constam do programa oficial definido pelo próprio Ministério da Educação! E se vamos reduzir administrativamente as reprovações, deixando que os alunos com 15 anos cheguem ao 10º ano quando deviam ter ficado no 8º, vamos perder aquela margenzinha positiva nos tais alunos que entraram no Secundário. Porque a qualidade média da formação dos tais alunos que chegam lá será certamente inferior.

Mas como é muito mais fácil melhorar um sistema de ensino através da manipulação das estatísticas do que através do aumento da qualidade da formação (e ainda sai mais barato), não duvido que este ME vai ter muito sucesso...e o país também...

03 dezembro 2007

 

Palestina, o lado de lá das palmeiras



Ver mais em Santa's Guetto, cortesia de Bansky em Belem, Palestina.

 

(Des)emprego em Portugal

 

Estão todos parvos


A notícia não é que Hugo Chávez perdeu no referendo. A notícia é que “vestido com uma camisa encarnada” Chávez reconheceu imediadamente e sem dúvidas a derrota.

Ainda não perceberam que na Venezuela quem não reconhece derrota é a oposição?

 

Comunicado do M.A.T.A.


Com algum atraso, aqui está o comunicado do M.A.T.A. sobre os recentes incidentes:

No passado dia 28 de Novembro, em Elvas e Coimbra assistiu-se, mais uma vez, aos efeitos da praxe, desta feita não só na vida estudantil, mas também na vida de pessoas. Tal como se passou com a Ana Sofia Damião e a Ana Santos, a vida dois jovens nunca mais será a mesma depois de sujeitos às "brincadeiras" da praxe.

Em Coimbra, no contexto da "Real Praxe", Luís Vaz, 20 anos, estudante de Engenharia do Ambiente na Escola Superior Agrária de Coimbra, ter-se-á lançado de um escorrega, com um desnível de 2 metros, para um "lago" de lama e palha. A queda resultou em lesões vertebro-medulares a nível da coluna cervical, sendo que neste momento o estudante se depara com a possibilidade de uma tetraplegia permanente.

No mesmo dia, em Elvas, também no contexto das actividades de recepção ao caloiro, João Pedro Farinha, estudante do 1º ano na Escola Superior Agrária de Elvas, após o "tradicional" rally tascas, terá sofrido uma queda de uma altura de 20 metros, perante o olhar atónito dos seus colegas.

O que é apontado como uma brincadeira, moderada e desejável, é-o apenas no discurso, porque as suas práticas traduzem um total desrespeito pelas liberdades e direitos das pessoas que nelas participam. Na nossa opinião, tal apenas vem demonstrar que as estruturas que a praxe tem vindo a organizar numa tentativa de legitimização, institucionalização e moderação (que surgiram como resposta às pressões de uma opinião pública cada vez menos disposta e menos tolerante perante as "brincadeirinhas" da praxe), não são mais que uma operação cosmética a algo que na sua essência não é mascarável: a subjugação dos estudantes pelos estudantes.

É imperativo que a comunidade escolar (estudantes, professores e funcionários), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e a sociedade reflictam sobre estes fenómenos. Aliás, espanta-nos que no início da sua legislatura o ministro Mariano Gago tenha manifestado total repúdio perante estas práticas, tendo chegado a caracterizá-las como fascistas, mas que rapidamente tenha adoptado uma postura de total silêncio sobre o assunto.

Chamar brincadeira e integração a algo que permite a prática de actos bárbaros e transforma estudantes, supostamente iguais entre si, em executantes de práticas selvagens e arbitrárias obriga a que a sociedade portuguesa, que se diz livre e democrática, reflicta urgentemente e de forma muito séria sobre as praxes.

02 dezembro 2007

 

Uma cimeira em 1m e 44s



 

Mani-festa


Há maneiras de ver: perspectivas. Há quem olhe para o futuro do presente. Há quem vistorie o passado. Há quem espreite entre países ou entre classes, olhar à volta.

Tive uma visão. Podia ter sido uma imagem na torrada ou uma luz no chuveiro, não foi, mas a medida paranormal foi semelhante. Vi que esta é uma era excepcional.

Todos os tempos têm de ser excepcionais para que se contem histórias. O que o nosso tem de extraordinário é uma explosão de indisciplina, vinda da cavernosa base da pirâmide social. Em França de novo motins. Em meses recentes renovaram-se lutas laborais. Na última década a Internet e novos meios de comunicação audiovisuais cresceram politicamente, piratas e profanos. A começa-se a ouvir uma multiplicação de vozes, de mulheres, gays, emigrantes e até a classe operária é rearmada pela desconstrução e reconstrução da identidade.

Os políticos como os ideólogos, com os diáconos e os polícias vêem só as línguas de fumo que vêm e vão. Longe da sua vista há um rastilho a consumir-se, por debaixo dos seus pés. Ai está, estava a olhar por baixo.

 

Cálice


"Essa música foi composta por Chico Buarque e Gilberto Gil, no clima pesado de uma Sexta-Feira Santa para o show Phono 73, que a gravadora Phonogram (ex-Philips, e depois Polygram) organizou no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, em maio de 1973. Como a Censura havia proibido a letra, os dois autores decidiram cantar apenas a melodia, pontuando-a com a palavra 'cálice' - mas nem mesmo isso foi possível. Segundo relato do Jornal da Tarde, 'a Phonogram resolveu cortar o som dos microfones de Chico, para evitar que a música, mesmo sem a letra, fosse apresentada'." - Livro "Tantas Palavras", de Humberto Werneck, págs. 79 e 80.


(a descrição vem de um vídeo alternativo)

Maria Bethânia


Daniela Mercury


Dr Lao

 

Sixth Lesson


As iniciativas Traseiros para Bush (Kiss my ass George) e Belezas (Modelos) contra Bush deram o corpo ao manifesto em Sydney, Australia e pelo menos a primeira continua em acção.


(fotografias retiradas do jumento)

01 dezembro 2007

 

A força paralisante da praxe


"São tudo brincadeiras de estudantes" - esta é provavelmente a frase mais dita por quem está de fora das praxes.

Mas desta vez as "brincadeiras" acabaram mal, mesmo muito mal. Se já há alunos que com coragem apresentam queixa na polícia pelos tratamentos humilhantes a que são sujeitos na praxe, ainda há muitos que se calam perante a boçalidade que lhes apresentam como ritual de entrada no ensino superior.

Apresentada muitas vezes como uma forma de "preparação para a vida" - porque alguém deve ter entendido que a "vida" era andar com penicos na cabeça, CDs pendurados ao pescoço, simular relações sexuais com outros colegas de 1.º ano, ou entoar cânticos homofóbicos - não passa no fundo do exercer de prepotências alicerçadas numa autoridade não conferida a pessoas que ainda o ano passado estavam naquela posição: a de alunos recém-chegados ao ensino superior.

Acontece que estas "brincadeiras" para "integrar" (não sei bem como, talvez o fazer passar um mau bocado seja para estas bestas a ideia de situação que cria laços de solidariedade...) também correm mal. Para além das humilhações, surgem agora dois casos de danos físicos gravíssimos para dois alunos, um em Elvas e outro em Coimbra, com este último em risco de ficar paraplégico.

As praxes que decorrem nos vários estabelecimentos de ensino superior não são só coisas de miúdos, não são só coisas dos alunos. Por se pensar que são é que nunca vi um Conselho Directivo proibir as praxes, ou sequer instituir e assegurar o cumprimento de regras que pelo menos restrinjam a duração das mesmas e o tipo de comportamentos.

Incrivelmente, até Mariano Gago que tinha feito declarações duras sobre as praxes antes deste governo PS se remeteu ao silêncio depois das eleições. Mas hoje já voltou ao assunto, naturalmente motivado pelos casos graves já referidos.

É pena que seja preciso haver alunos a sofrer danos físicos permanentes (já nem falo dos psicológicos, que também os há) para que haja uma declaração pública sobre o tema. Ficamos à espera das acções.

 

Mais um E.T., que o PSD não tem nada a ver com isto...


"O problema da CML é estrutural e o PSD não está disponível para aumentar o endividamento da autarquia, nem para pagar a campanha eleitoral de António Costa para 2009", diz Carlos Carreiras, líder da distrital laranja de Lisboa. (in DN)

PS - Se é apenas para reduzir custos parece que o PS se enganou no Costa.

 

Nunca sorrias ao crocodilo!


"Desvalorizando o impacto da greve, José Sócrates lembrou que "pela primeira vez nos últimos anos" os funcionários públicos terão aumentos salariais em linha com a inflação esperada. "No próximo ano, os funcionários públicos serão já aumentados em 2,1%, o que corresponde à inflação esperada. Isso já é um progresso", disse, citado pela Lusa." (in DN)




   

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

   
   
Estou no Blog.com.pt