16 março 2006

 

Iraque em Lisboa (continuação)


Na sessão referida em Iraque em Lisboa mais coisas foram ditas. Fica aqui o registo do que consegui tomar nota a partir das várias intervenções, incluindo a de Al Kubaishi.

Para que conste:
- em Julho de 2005 estavam contabilizados 220 mil mortos civis (a administração americana não faz esta contabilidade);
- foram lançadas em solo iraquiano 3 mil toneladas de urânio, o que é 126 mil vezes o poder radioactivo da bomba atómica lançada sobre Hiroshima. Os níveis de radioactividade resultantes perdurarão por 4500 milhões de anos (a idade da Terra), e estão esperados mais 25 milhões de cancros;
- há esquadrões da morte apoiados pelos EUA e por Israel que já mataram 350 professores e intelectuais iraquianos. Mais de 1000 foram assim obrigados a sair do país;
- conhecem-se 82 mil presos nas prisões do Iraque, entre eles 400 raparigas da resistência;
- há mais de 11 mil presos em prisões das bases militares ocupantes (são ao todo 29 mas os media só falam em Abu Graib, na do aeroporto e ainda numa outra terceira);
- 70% da população activa encontra-se desempregada, o que explica que muitos jovens vejam como única saída o alistamento na polícia, mesmo contra o seu próprio povo;
- dezenas de jovens com 12-16 anos de idade iniciaram a resistência, a qual compunha-se de 100 mil pessoas em 2004, ascendendo agora a 300 mil pessoas;
- foi dado um exemplo da falta de escrúpulos dos ocupantes: pretendendo chegar a uma casa em particular, destruíram 169 outras casas que encontraram pelo caminho...
- actualmente, nenhum jornalista pode entrar em Fallujah, americano ou não. As pessoas de Fallujah têm um livre-conduto. Se saírem da cidade sem ele não as deixam voltar a casa;
- há 2 milhões de famílias a ganhar menos de $5 por mês. Esta informação consta de um relatório do Ministério do Trabalho iraquiano.

Há ainda uma questão que achei particularmente importante e que foi mencionada pelo presidente da Aliança Patriótica usando mais ou menos estas palavras: "as forças ocupantes devem não só desocupar imediatamente o Iraque mas também indemnizar o país pelos danos causados e pedir desculpa ao povo iraquiano".

No final da sessão foi projectada uma reportagem/documentário da RAI sobre o ataque a Fallujah.

Comments:
As maravilhosas vantagens de tomar notas ou de ter uma boa memória (ou pelo menos melhor que a minha...). Bem dito.
 
PAZ E AMOR

inté
 
Mbeki, sao anotacoes que se complementam.
 
O filme mencionado no post anterior vai ser hoje exibido no King às 19h30. O bilhete é €2,5.
 
Um passo atras para poder avancar: em algum momento se definiu o que se entende por 'resistencia'? Quando o Mbeki diz que "diariamente, a resistência organiza pelo menos 150 ataques contras as tropas de ocupação", eu pergunto: o que e' isso, a resistencia? Entende-se por resistentes todos os que enfrentam a presenca militar americana? Isso faz das suas accoes uma coisa inorganica chamada 'resistencia'? Ou quando dizes que a resistencia e' composta por 300.000 pessoas, estas a sugerir que a 'resistencia' esta de facto politicamente organizada?

E' que ao contrario de outras 'resistencias' historicas (a resistencia francesa ou italiana na 2a GM, a luta anti-colonial etc), parece-me que a coisa e' um pouco mais complicada no caso do Iraque. Ou talvez nao?

[entenda-se bem: toda a minha solidariedade vai para quem se insurge contra a presenca americana naquele pais. So tenho algumas duvidas quanto 'a categoria analitica de 'Resistencia', e se isso nao contribuira para uma visao a little too good & evil]
 
e agora vou para a manif!
 
Da interpretação que eu fiz da apresentação de Al Kubaishi, a resistência tem uma dinâmica própria. Não me pareceu que fosse absolutamente coordenada, que houvesse uma hierarquia ou qualquer tipo de organização entre os tais 300.000 membros, apesar de existirem grupos organizados no seu meio, como a Aliança Patriótica. O que para mim lhe dá ainda mais valor, já que o movimento parte da própria população, que se organiza com base na revolta contra a ocupação. Quanto à organização política, creio que o principal elo de ligação entre estas pessoas é apenas a ocupação. O que se fará depois desta dependerá da força dos movimentos políticos no Iraque.
 
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