31 julho 2006

 

Os civis


O drama do Libano continua e a contagem dos cadáveres aumenta de dia para dia. Sendo que comparar mortes é sempre questionável, quando as proporções atingem 10 libaneses para 1 israelita e mais de uma centena de palestinianos para nenhum israelita torna-se urgente denunciar a barbárie. Mais dramático se torna se considerarmos que dos mais de 400 cadáveres libaneses a grande grande maioria são civis. Creio que é a isto que os media e alguns políticos (para nossa miséria quase apenas os mais progressistas nesta cúmplice e apática “comunidade” internacional) apelidam a acção de Israel como uso excessivo de força.

Enquanto isto, nos media tambem se compartilha o drama do lado de Israel. Numa reportagem no campo de batalha vemos um soldado israelita que, resignado, indica a sua cama no chão, queixando-se da guerra... Márcia Rodrigues relata ainda que “o exército israelita lanca panfletos a mandar os civis embora, mas uma grande parte da população fica. Apesar da contrariedade, Israel recusa-se a encarar o cenário como apenas um campo de batalha” (perdoem-me uma ou outra imprecisão, mas a reprodução do conteúdo é fiel).

Mas apesar da ordem dos senhores da região, os populares locais parecem não querer obedecer. Não sei se por heroísmo imprudente, se por não terem para onde ir, se simplesmente por qualquer das formas irem ser bombardeados, ou por todas as estruturas, incluindo as estradas, terem sido destruidas. De qualquer das formas, quer eles vão ou fiquem, a impunidade de Israel continua. Sob o argumento de os quererem atirar para o mar, Israel ocupa, bombardeia, destroi, extermina do Libano ao Egipto, da Palestina ao Irão há muitos anos. Há demasiados anos!

Ah, e para quem tenha memória curta, também Israel desrespeita resoluções da ONU, e muitas.

30 julho 2006

 

A ONU já não engana ninguém


Depois do massacre em Qana, no sul do Líbano, a população de Beirute está neste momento numa manifestação em frente ao edifício da ONU. A organização já não engana ninguém, muito menos os libaneses. Perante a inactividade da organização face a Israel, perante mais uma prova irrefutável de que a ONU é apenas um instrumento do expansionismo dos EUA, a população indignada ocupa e destrói o edifício.
Se a ONU não fosse um fantoche dos EUA, se realmente fosse uma organização que procurasse fazer respeitar o direito internacional, como uma entidade supranacional e desligada dos interesses específicos de um ou outro membro, há muito que a organização teria sido desmantelada pelos EUA. Donde aparece a pergunta: que falta nos faz a ONU?

29 julho 2006

 

Sim, pois, cessar-fogo...

28 julho 2006

 

Não matamos ou morremos em nome do sionismo!


Uma parte da história de que se fala pouco é a dos israelitas que são contra a guerra. Logo a seguir às primeiras bombas terem atingido o Líbano, 200 pessoas juntaram-se em protesto em Telavive. O número de manifestantes cresceu para 700 no fim de semana seguinte e no último sábado estavam 2500 em Telavive.

Há 24 anos atrás, quando Ariel Sharon liderou a invasão do Líbano, 200 activistas também se juntaram em protesto e os números cresceram radicalmente. Dentro de poucas semanas eram 10 mil os protestantes e chegaram a juntar-se 400 mil contra o terrífico massacre de Sabra e Chatila.

Pode ser que hoje os números se repitam e que o povo de Israel se torne na resistência que os tanques e as bombas israelitas não podem liquidar.

 

A resistência e o sofrimento dos civis


O Hezbollah tem sido acusado de se esconder no meio de civis, inclusivé por activistas da paz. Perante argumentos crápulas, vejo-me forçado a apontar o óbvio.

Antes de mais sou ateu e contra os fundamentalistas religiosos, sejam eles cristãos, judaicos ou muçulmanos. Tal não significa que em situações concretas a razão nao esteja maioritariamente de um ou outro lado. Neste caso, perante a contínua chacina perpretada por Israel (que não começou na semana passada...), e os cúmplices, os corruptos e os coninhas habituais da comunidade internacional, o Hezbollah é um dos poucos movimentos que não deixa os palestinianos abandonados.

Há algum tempo que o Hezbollah resiste à agressão israelita. Todos os movimentos de resistência inevitavelmente interagem com a população quer para se esconder, para guardar armas ou fornecer-se de mantimentos. Foi assim com a Resistência anti-nazi, foi assim no Vietname, foi assim em Timor,... E com o apoio de boa parte da população.

(Sobre o apoio da população a história recente na Palestina é paradigmática. O apoio na palestina ao Hamas e a queda do anterior governo explica-se em grande parte pela incapacidade de resolver os problemas da população, nomeadamente no que diz respeito a Israel. Já a última Intifada também tinha demonstrado o descontentamento dos árabes com a situacao de miséria e humilhação, mas desta vez dentro do território controlado por Israel.)

Tal não quer dizer que todo o Líbano o apoie. Já na guerra houve uma minoria que se aliou a Israel e, por exemplo, tiveram papel fundamental nos massacres de Sabra e Chatila. Se no Médio Oriente a geoestratégia é mais complicada, a lista de resistentes e colaboracionistas ao longo da história na Europa é longa (perdoem-me o eurocentrismo mas é importante demonstrar quão universais são estas práticas).

Exemplos de resistência há muitos aquando da ocupação pela Alemanha Nazi. Da França à União Soviética muitos recusaram aceitar a tutela de Hitler. Perante as suas acções, os nazis ameaçavam executar civis caso os resistentes não se entregassem ou parassem as suas actividades. Apesar das perseguições e das inúmeras execuções (na União Soviética a matança foi particularmente brutal), quer os militantes armados quer os civis persistiram em resistir. Afinal, a submissão era inaceitável.

E exemplos de colaboracionismo não faltam. Na França de Vichy o próprio Mitterrand participou. Na altura, o castigo para o colaboracionismo ia do cortar o cabelo (às mulheres que confraternizassem com os alemães) ao fuzilamento pela resistência.

27 julho 2006

 

Quem cala consente


E Israel não podia ter interpretado melhor. Alguns poderosos acharam que se deve lutar por umas “tréguas sustentáveis” mas não houve um apelo claro ao cessar-fogo.

Nem se discute a irracionalidade abjecta de achar que se pode ter tréguas sem cessar-fogo. A questão é que isto reflecte a cumplicidade criminosa destes países que foram incapazes de condenar abertamente a investida israelita no Líbano, Gaza e Cisjordânia.

Que se parem as bombas, os canhões, as investidas sobre civis em fuga ou que não têm para onde ir. Que se pare a propaganda canalha que diz que quem ainda ficou no sul do Líbano só pode ser terrorista do Hezbollah. Que se pare esta máquina de guerra horrível que só sobrevive com o silêncio criminoso ou o apoio encapotado de muitos governos ocidentais.

E que se mostre toda a solidariedade possível com os povos do Líbano e da Palestina. Porque são eles quem mais sofre neste mesquinho jogo de poder.

 

Exterminadores implacáveis


Perante a barbárie perpretada por Israel, algumas considerações se impõem.

O começo
Querem fazer-nos crer que o início da mais recente crise no Médio Oriente assenta no rapto de soldados israelitas pelo Hezbollah. No entanto, a crise começou anteriormente quando a comunidade internacional não aceitou e boicotou os resultados das eleições palestinianas, com a subida do Hamas ao governo. Ao cerco montado por Israel e pela maior parte dos governos (através do isolamento diplomático, financeiro…), o inevitável aconteceu. Ao ataque a uma instalação militar por alguns militantes palestinianos, Israel responde com bestialidade, matando (já vão em 128 mortos) e prendendo em larga escala (incluindo inúmeros deputados e outros representantes oficiais). Perante o desinteresse mundial, inclusivé a inacção árabe, o Hezbollah responde à ofensiva israelita.

Vítimas e agressores
Israel em diversos canais é considerado a vítima sofredora. Um punhado de judeus perante a massa muçulmana, sedenta de sangue e terra. Pois este Estado-vítima construiu uma sociedade que em muito relembra o Apartheid (mesmo a estratificação dentro dos judeus é bastante estanque), estima-se que possui duzentas ogivas nucleares, produz e exporta tecnologia militar e assassina quem bem entende pelo mundo fora e especialmente na Palestina e agora no Líbano.

O conflito no Líbano reflecte o (des)equilíbrio das forças em presença: das 404 vítimas mortais libanesas contra as 42 israelitas, mais 900 feridos libaneses; de edifícios, portos, pontes e estradas tudo destruído, incluindo tambem centrais eléctricas e televisão vs. pequenos estragos; centenas de toneladas de bombas vs um punhado de rockets. E que dizer dos 600.000 refugiados?

Israel desrespeita a história do povo judeu que tanto sofreu. A presa transformou-se em predador e dos mais sanguinários. Um povo do qual durante muito tempo surgiram pessoas bastante progressistas, e agora na sua grande maioria é o garante de um Estado opressor de milhões.

Os media
O controlo dos media é fundamental e as máquinas de propaganda funcionam de ambos os lados, mas também aqui as forças são desproporcionadas. A nível nacional, são muitas os personagens como José Manuel Fernandes, Pacheco Pereira, Vasco Graça Moura ou Francisco José Viegas que defendem Israel de todas as maneiras possíveis. Também o discurso de Márcia Rodrigues de se referir à destruição provocada pelos bombardeamentos israelitas de alvos militares ou outra linguagem militar, “neutra” e inodora revela as preferências. Há algumas excepções, por exemplo José Manuel Rosendo ou Paulo Camacho que, perante o horror, denunciam a prática do terror.

Dar uma cara às vítimas é uma das estratégias preferidas. Há a entrevista a família de soldado israelita morto. Seria interessante se se entrevistasse as famílias libanesas atingidas na proporção das vítimas mortais. Tocou-me particularmente o drama do bebé prematuro israelita nascido numa sala blindada para se encontrar a salvo dos rockets. Só me conseguia imaginar/lembrar dos libaneses (e palestinianos) a viver sem água, luz, esgotos, estradas… Que será feito dos bebés prematuros libaneses?

Ha ainda um cultivo da semelhança do mundo ocidental com Israel, contra os bárbaros muçulmanos. É natural que Bush demonstre o seu apoio a Israel e Aznar venha dizer que ache que Israel pertence à nossa civilização. Afinal, para além da propaganda, Israel tem as mesmas práticas assassinas usadas pelas potências lideradas por aqueles, indo mesmo mais longe do que eles.

Comunidade internacional
A reacção da comunidade internacional só vem reforçar que também nos países há filhos e enteados. Após a preocupação de retirar cidadãos nacionais, deixa-se agora o resto à matança.

Quando muitos referem o desarmamento do Hezbollah por resolução da ONU, só nos resta a certeza que não há limite para a distorção ou manipulação dos factos. Convém relembrar que Israel é um dos maiores (senão o maior) incumpridor de resoluções da ONU e mesmo assim muito poupado por vetos constantes dos EUA. Estes reclamam um cessar-fogo urgente, mas esclarecem que não é imediato e colocam condições inaceitáveis. O apoio dos tradicionais aliados abrange desde a presidenciável Hillary Clinton ao exterminador implacável Schwarzenagger. Os EUA inclusivamente acelararam o fornecimento das bombas que, estando no Qatar, estavam destinadas ao Iraque, mas que agora vão matar no Líbano.

Gostava ainda de denunciar o papel vergonhoso das élites árabes corruptas que assistem nos seus palácios e não fazem nada. Sentados no petróleo e viciados em luxos doentios voltam a mostrar-se incapazes de contrariar a máquina israelita.

26 julho 2006

 

Petição pelas vítimas libanesas


O ataque de Israel a civis libaneses há já vários dias é um acto deliberado de terrorismo.

Vai a http://julywar.epetitions.net e assina a Petição para salvar as vítimas libanesas. Re-envia o convite a amigos.

Somos todos libaneses!

 

Notas soltas


À 14ª foi de vez. Após 13 ataques a instalações da ONU, após esta organização internacional ter dado as coordenadas onde estava para que o exército israelita continuasse a bombardear unicamente os libaneses, o 14º ataque vitimou quatro membros da ONU. Terá sido intencional?

Uma comentadora na SIC Notícias apontava uma possível solução a inclusão dos militantes do Hezbollah no exército libanês. No entanto, encontrava alguns problemas, a saber: os militantes do Hezbollah eram bem treinados e disciplinados, bem como eram fortememente religiosos. Acho particularmente delicioso os óbices de serem bem treinados e disciplinados, algo que não se quer num exército árabe.

 

Onde o Hezbollah se esconde



O aeroporto de Beirute, estações de televisão, um farol, silos de cereais, pontes, estradas, fábricas, ambulâncias (uma caravana saudita foi bombardeada pela aviação israelita) e claro, não vamos esquecer o nicho de todos os nichos, a Libanlait, a maior quinta produtora de leite do país.

Pois é, covardes, a esconderem-se atrás das vacas.


P.S: fontes para a lista acima citada, Wikipedia, ABC e BBC News.

25 julho 2006

 

Grandes motivos



1944.
Os EUA abre um caminho de ruínas até Berlim.
Em nome da Liberdade, abstracta e universal, morrem centenas pelo calor das bombas incendiárias e depois nucleares.











2006.
Israel destrói o Líbano.
Em nome da Segurança, abstracta e universal, os civis são danos colaterais na caça ao Hezbollah.








Não há democracia quando tanta gente padece inocente e sem voz entre os escombros de Beirute. Sessenta anos e não houve progresso, e nem a retórica mudou.

24 julho 2006

 

Câmbios


Mais de 300 mortos no Líbano versus cerca de 40 mortos em Israel.

10 edifícios em Beirute a destruir por Israel por cada rocket disparado sobre Haifa.

 

Coerência



Coerência. Acima de tudo, coerência. Não vá o resto do mundo pensar que a Administração Bush tem dualidade de critérios, que isto anda cada um a fazer o que lhe bem apetece.

Nada disso.

Se negam as alterações climáticas, obviamente que não vão financiar investigação nessa linha. Obviamente que não vão manter como mote da NASA a compreensão do planeta que habitamos.

Obviamente. A bem da coerência.

 

Contra a guerra



Concentração em Lisboa, 4.a feira, 26 de Julho, às 18h30, em frente à Embaixada de Israel (Rua António Enes, 16) perto do Saldanha.

23 julho 2006

 

Bronze no Europeu


Depois deste resultado no campeonato europeu, será que estes jogadores também vão receber 50 mil euros de bónus e refilar para não pagar impostos?

21 julho 2006

 

Postal de Belgrado


Visitámos Belgrado, mochilas no lombo, em trânsito para um festival de música. A cidade não é diferente de outras capitais europeias, as mesmas lojas, estatuária, histórias de heroísmo para confirmar o estado nação – ao caso, o combate anti-nazi na segunda guerra mundial.

Os eslavos que têm uma muscular e monumental presença, são simpáticos e sorriem aos turistas que arranham umas palavritas da língua local. À noite as ruas inundam-se de passeantes enamorados a fugir ao calor de quatro paredes, desaguando numa fortaleza que mira os rios Sava e Danúbio. Nas esplanadas bebe-se boa cerveja e os grelhados são volumosos.

Não consigo discernir traço, em lides tão banais, do tal feroz e bárbaro povo sérvio que sem a contenção dos exércitos da OTAN mataria os seus irmãos na Bósnia, e no Kosovo. Nas conversas não se ouve revolta ou ódio pela fractura da Jugoslávia em micro-estados. Antes, o protesto é contra o absurdo que se sente no dia a dia. Evita-se a cerveja eslovena que é caríssima porque é importação. Já não se viaja para banhos no mar adriático porque a Servia é agora uma prisioneira continental. Fala-se a mesma língua, as famílias estendem-se além fronteiras mas os passaportes e as embaixadas têm cores diferentes.

O principal traço dos anos 90 é o de um trauma, silencioso. Ninguém se pronuncia sobre os bombardeamentos da OTAN para não reanimar o medo e pesadelo do passado. O terror não é difícil de visualizar, no centro da cidade avizinhando habitações e centros de comércio ficaram as enormes feridas das bombas “civilizadoras.” Esburacando o betão para edificar ruínas. Assim em Belgrado, assim em Bagdade, assim em Cabul, assim em Gaza, agora em Beirute…

19 julho 2006

 

Vox populi


Mais uma verdadeira pérola portuguesa, de um anónimo do Porto, nos comentários do Público na internet:

" O que o povo gosta é do caos

E isto é um caldinho para a grande classe (grande em tamanho e minúscula em qualidade) que são os professores. Sim os professores! REsponsáveis por mais de metade das vergonhas atribuidas ao ensino. e prinicipalmente os lavadores de cerebros dos sindicalistas. que a exercer a sua actividade sindical A TEMPO INTEIRO (A CLASSE COM MAIS SINDICALIZADOS A TEMPO INTEIRO! 417 CONTRA UM 2.º LUGAR DO SECTOR DA SAUDE APENAS COM 15!) têm imenso tempo para dedicarem aos seus sindicalizados escrevendo-lhes constatnes missivas de vitimização estúpida e infundada . E sindicalistas que não trabalham pagos por todos nós! A classe com os profissionais mais faltosos! (E DEPOIS QUEIXAM-SE QUE NÃO CONSEGUEM CUMPRIR PROGRAMAS). é o tal roubo legalizado. Fazem acções de formação em olaria para subirem na carreira docente de MATEMÁTICA! Tiram férias na neve a apresentam a justificação das faltas dadas NUMA SEMANA INTEIRA COMO FORMAÇÃO EM SKI!!!. Fazem com que as suas formações calhem aquando das horas de aulas e nunca antes ou depois. Fazem greves pegadas a fins-de semana ou feriados! São uma vergonha! Utilizam o horário que dizem"não lectivo" para irem para casa quanso há tanto a fazer pelos alunos e pela escola! a Classe das senhoras que planeiam os seus partos para Fevereiro par ajuntarem 4+ os regabofe das férias professorais e terem a benesse de estarem quase um ano de licença sem deverem justificações a ninguém! E depois querem respeito?! Poupem o povo!"

Essas grávidas, perversas...nunca me enganaram...

 

(des)Proporcionalidades


Se bombardear o Aeroporto de Beirute, destruir estradas e impor um embargo ao Líbano é uma medida anti-terrorista, então suponho que largar Napalm na Portela e colocar minas nas praias do Algarve também seria um bom começo no combate ao narco-tráfico...

18 julho 2006

 

O problema


O DN lembrou-se de referir uma consequência do desvario urbanístico que lembraria a poucos:

"A proliferação de construções urbanísticas ao longo da costa, (...) está a reduzir as áreas de treino para operações de desembarque anfíbio."

Já nem se pode brincar às guerras. Tss tss...

16 julho 2006

 

Tortura em massa


O Estado do Israel martela com fogo o Líbano, estendendo a Norte uma campanha de extermínio dos seus antagonistas. Entre os alvos contam-se o aeroporto, centrais de produção de energia, pontes e auto-estradas. A acompanhar esta destruição da infra-estrutura civil, Israel isola o Líbano com um embargo marítimo. O modelo de intervenção que recorda as sanções impostas desde 1991 ao Iraque e o bombardeamento da Sérvia em 1998, impõe sobre a população a miséria.

A violência não é nem justo castigo nem cega vingança, é chantagem. O agressor promete suspender a tortura se a vitima trair aqueles que lhe são próximos. Israel promete a paz aos Libaneses se estes assassinarem outros Libaneses, os do Hezbollah.

 

Pobreza na terra da opulência


Living in poverty is never wearing something
That someone else has not already worn
Living in poverty is never buying something
That someone else has not already bought
Living in poverty is getting tired of people
Wanting you to be grateful
Living in poverty is checking the coin slot of
Every vending machine as you go by
Living in poverty is hoping your toothache
Will go away
Living in poverty is watching your mum
Making lunch dropping a piece of meat,
Then looking around to see if anyone saw
Living in poverty is buying a lottery ticket
When you can’t afford it
Living in poverty
Still hoping.

Meirion, 12 anos, retirado de Waiting for the Future: poems by children on poverty and bad housing (Shelter and End of Child Poverty, UK, 2006)

15 julho 2006

 

O Major



14 julho 2006

 

“Um bom resto de dia muito feliz”


A quantidade de carros e outros trambolhos que pululam nos passeios de Lisboa é inacreditável. Os transeuntes já se habituaram a fazer gincana por entre os carros, os caixotes do lixo, os tapumes das obras sem passagem para peões, os candeeiros e sinais de trânsito mal posicionados, os abrigos para quem espera o autocarro desencontrados das paragens propriamente ditas, os buracos nos passeios, os montes de pedras de calçada que deviam estar a tapar os buracos, os cocós e xixis da realeza canina, pilares para impedir estacionamento irregular deitados a baixo (ah, a força pode muita coisa!)…

Certamente há outras coisas a acrescentar à lista, mas se pensarmos nas nossas dificuldades e irritações ao contornar estes obstáculos, que dizer das dificuldades acrescidas de quem já tem mais idade ou que simplesmente não vê os obstáculos que vão surgindo?

Aí, arrisca-se os encontrões e tropeções, ou uma saída inadvertida do passeio. E se há uma mão amiga que salva do tropeção na hora H, o agradecimento é sentido, sincero e humilhante.

Porque não devia ser preciso agradecer a solidariedade.

 

Ataques terroristas no Aeroporto de Beirute


Estranho este Mundo onde em certos Aeroportos se podem largar misseis e noutros nem se pode levar o corta-unhas.

 

Phat


Os EUA é um país colossal. “Fuck yeah!”

É colossal na geografia, na riqueza, nas gentes. É colossal nos sofás e nos cães. Para garantir o conforto (entendido como minimização do esforço aeróbio), compram-se por 49.99 dólares, degraus para ascender canitos obesos às montanhosas almofadas. “Fuck, yeah!”

13 julho 2006

 

"Não digas 'porquê', diz 'obrigado'"


Com um artigo intitulado "Não digas 'porquê', diz 'obrigado'" (DN, 10 de Julho) todos nós temos mais motivos para agradecer a João César das Neves por ele iluminar o nosso caminho. De seguida apresento alguns excertos:

"A vida tem sentido. A realidade do mundo, a evolução da humanidade, os acontecimentos da nossa história pessoal têm uma lógica, uma sequência, uma finalidade. Só por isso é que, perante algo que não entendemos, sempre perguntamos: "Porquê?" Queremos saber a razão, a causa, o propósito. Se as coisas à nossa volta fossem sempre arbitrárias e fortuitas, ninguém as tentaria compreender.
(...)
Esse sentido da vida não é uma lei férrea, um destino predeterminado. Ele pode ser distorcido, oculto, perdido, atacado. Existem naturalmente muitas coisas que não entendemos, acidentes fortuitos, desastres destruidores, factos incompreensíveis, porquês sem resposta. Por isso, naturalmente, nem sempre o sentido é o que nós gostaríamos. Nem sempre a vida encaixa nos projectos que vamos fazendo. Mas tudo isso só confirma a existência do sentido da vida. Tal como a doença manifesta a realidade da saúde e o crime não anula a existência da lei, antes a revela. Por isso continuamos a perguntar "porquê?".
(...)
A era contemporânea começou quando este resultado trouxe um novo tom à pergunta "porquê?". Agora, perante algo que não entendemos, assumimos um acento exigente, indignado, reivindicativo: "Porque nos acontece isto? Como é possível que não tenha sido evitado? Não há um estudo, uma política, uma solução?" O ser humano começou a impor direitos, a fazer exigências à realidade. Vivemos, mas sob condições, segundo as regras que reclamamos. Esta evolução, se nos concedeu enormes benefícios, também nos fez perder dois dos elementos fundamentais do sentido da vida.

O primeiro é que a vida é um dom, algo que só temos porque nos foi dado. Recebemo-la um dia, tal como a haveremos um dia de entregar. Até lá temos de seguir o caminho que ela escolhe.
(...)
O segundo aspecto que a visão actual ignora é que todas as situações, mesmo as mais desesperadas, têm em si sempre algo de bom. O mal absoluto não existe. A vida tem sentido. Os horrores da violência, miséria, desespero são bem visíveis no meio do conforto da modernidade. Chocamos contra as tristes situações em que o sentido da vida é distorcido, oculto, perdido, atacado. Mas há sempre um raio de luz no fundo da maior escuridão.

Muita gente recusa estes aspectos como atitudes passivas, conformistas, medíocres. É preciso, dizem, ser sempre proactivo, exigente, inovador, inconformado. Esses espíritos tacanhos só vêem duas alternativas: a exuberância irrequieta ou a apatia boçal. Mas respeitar o sentido da vida e promover o lado positivo dos acontecimentos, por ínfimo que seja, é a única forma realista de construir a sociedade justa, o desenvolvimento sustentado, a vida com sentido. Os edifícios utópicos bem-intencionados foram causa dos maiores desastres da humanidade.

Esquecendo estes dois aspectos, o ser humano actual, até no meio da prosperidade, sente uma amargura que o passado desconhecia. Para quem exige direitos, a quem impõe projectos, é difícil sentir-se grato por viver no mundo, mesmo quando chove, por ter um corpo, mesmo com dores. "A sabedoria na vida não está em fazer aquilo de que se gosta, mas em gostar daquilo que se faz", como diz o provérbio que o meu pai gosta de repetir. A verdadeira felicidade é daqueles que, perante os obstáculos e contrariedades, não perguntam "porquê?", mas conseguem dizer sinceramente "obrigado!". "



Se alguém quiser "agradecer" pessoalmente ao Professor pode sempre encontrá-lo no Metro da linha amarela (paragem Cidade Universitária) ou noutro transporte público da zona.

12 julho 2006

 

Os preparos imperiais


A situação de segurança no Afeganistão deteriora-se. O que fica inseguro é a propriedade dos imperialistas ocidentais, os engenheiros militares e civis que com grande despesa (para as gerações futuras de afegãos) dizem reconstruir o estado que destruíram. Porque os Americanos na espiral iraquiana não tem tropas para dispensar, cabe aos europeus engrossar o policiamento afegão.

Alentejo Popular, de 6 Julho:
Cerca de 1500 militares portugueses e espanhóis paticiparam nos dias 23 a 30 Junho no exercício Apolo 6, que serviu para "testar o aprontamento das forças portuguesas da Brigada de Reacção Rápida que nos meses de Agosto e Setembro partem para o Kosovo (300 homens) e Afeganistão (150 homens)". Durante os exercícios foram largados centenas de pára-quedistas portugueses e espanhóis e, a culminar, os 1500 militares desfilaram pelas ruas de Beja.

10 julho 2006

 

E voltando à história recente


Parece que se abriu mais uma fonte de informação, do lado do governo americano, relativamente ao nosso período de 1974.

09 julho 2006

 

Finalmente...


... a Austrália vai poder explorar o petróleo de Timor sossegada.

Ou estamos a ser injustos e persecutórios?

05 julho 2006

 

Aha!!!


Há uns tempos referiu-se aqui um leitor que apontava os vícios dos defensores do nuclear. Estes argumentam que em estados democráticos não se corre o mesmo risco de acidente nuclear como o que levou ao desastre de Chernobyl.

Esta notícia do Público vem demonstrar a fragilidade do argumento, e como também nestas ditas democracias se varre o lixo para debaixo do tapete.

01 julho 2006

 

Um rapto


Dizem que é pela vida do raptado capitão Shalit Gilad… No passado recente o governo israelita dispôs-se a negociar resgates, libertando prisioneiros palestinianos, mas desta vez a resposta foi diferente. Para salvar esta vida, o exército israelita aprisionou o governo palestiniano. À humilhação política somaram-se os bombardeamentos diários que fazem feridos, e mortos. Uma das “operações militares” israelitas arrasou covardemente uma central eléctrica. À fome imposta pela retenção da ajuda internacional e pelo actual cerco a Gaza, aproxima-se a doença imposta pelo caos no sistema sanitário.

Quando leio a notícia sou arrastado a imaginar-me em Gaza, um dos lugares mais pobres e doentes do mundo. Ser um refugiado numa prisão de cimento arranhado por balas. Viver sem emprego na corrida imediata de sobreviver à miséria e às miras israelitas. Com uma vela para me guiar no escuro aterrador, ouço o som dos helicópteros israelitas. No rasto fica uma ogiva que abana o betão armado dos prédios e que esmaga um carro anónimo, com pranto e sangue... É impossível, como alguém pode existir assim e permanecer humano?

Em Gaza anuncia-se uma guerra desigual de carros e helicópteros blindados contra o grito gaguejado de AK-47s. Em Gaza os mortos terão nomes atribuídos, com o apelido de “terrorista” em comum. Em Gaza, o governo de Israel demonstra a sua rectitude moral em não se curvar a ameaças. Para salvar o capitão Shalit Gilad? Para salvar o governo de Israel de negociar com o governo Hamas. Para perpetuar o estado de guerra contínua onde Israel traça as fronteiras, e decide sobre os bens e gentes que por as atravessam. É tudo para manter o campo de concentração de Gaza, onde há quem lute permanecendo humano.



   

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