23 março 2006

 

Sem ânimo


O diagnóstico à saúde da economia mundial é um convite a negligência, qualquer examinação fracassará numa descrição parcial e pouco iluminada do organismo económico. Conhecemos só as apalpadelas, toldados pela vastidão da aldeia global e pelas escolhas indeterminadas dos seus ocupantes, mas sobretudo pela falta de uma economia politica que abandone a gestão do nacional para pensar no global. Reflexo da confusão é que as categorias clássicas de “expansão”, “recessão”, “depressão” vão perdendo significado.

Em 2001 tivemos uma vocalmente proclamada crise mundial, uma “recessão”, as cotações bolsistas escorregaram em todas as praças financeiras, o desemprego acresceu com as quebras de produção em todos os países, até o tirano Dólar desvalorizou-se face ao estreante Euro.

A recessão foi de curta duração. Em 2003, por propaganda da reserva federal Americana como por realidade do crescimento industrial na China e na Índia, as grandes economias mundiais retomaram passo. Em 2003 foi também o inicio da guerra do Iraque, que injectando milhares de milhões de dólares na indústria de armamento e nas logísticas securitárias aliviou as queixas da economia Americana. Outro efeito talvez não tão agradável para o negócio industrial mas que entusiasmou os jogadores financeiros, foi a especulação no preço do petróleo, a combatividade de Chavez na Venezuela, a resistência no Iraque, a determinação do Irão, sugerem aos analistas que o fornecimento do petróleo nem à lei da bala é garantido.

Estas foram as notícias que se reportam, os sintomas do organismo económico. Mas o ocorre nas entranhas, das mutantes bioquimicas que se recombinam, pouco ou nada sabemos. Porque é esta retoma tão frágil? Os EUA continuam com um dólar enfraquecido e um crescimento irrisório, inscrevem recordes por ser tão diminuto. A guerra de ocupação demora a se auto-financiar, tão cedo os iraquianos não saldarão os empréstimos e contratos impostos pelo ocupante. O astronómico défice orçamental dos EUA, impede uma politica económica expansionista ou uma politica social que estanque as feridas da desigualdade social. Mesmo o gigante Chinês da sinais de fraqueza, com crescendos inflacionários a exigir um ataque aos sectores agrícolas, em busca de mercados e novas rentabilidades e assim abrindo a economia chinesa na sua totalidade ao Capital mundial. Os avanços e recuos abruptos da história económica dão lugar a lentas recuperações, e mais longas recessões, enquanto a lista dos bilionários se estende, e se consolidam grandes grupos económicos. Eis o meu diagnóstico: a economia mundial padece de um parasita, que imperceptível na sua lenta acção vai se nutrindo cada vez mais saudável e dominante, enquanto o corpo da multitude se cansa febril.



   

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