27 março 2006

 

Na praia plantados


Portugal é um país asfixiado pela insularidade. Quando nos vemos no mapa viramo-nos de frente para o imenso oceano, e com costas para a vizinha Espanha. Se somos europeus é por imposição interesseira das nossas elites, que se fornecem na União com uma perfeita chantagem e suborno para perpetuar o nosso atraso social. Com cândida franqueza, não queremos saber do que se passa por fora e até adormecemos das lutas cá de dentro.

Por sermos uma ilha na Europa, e no mundo, quando contemplamos o “outro” ficamos deslumbrados. Em transe de espectador ouvimos os relatos das guerras no Médio Oriente, ou dos combates em França, ou das “grandes tendências” culturais e sociais das metrópoles. E somos divididos entre os que temem em pesadelo, e os que sonham em fantasia que estas convulsões um dia cheguem à nossa pacata ilha. Como naúfragos sonhamos com a viagem a esses mundos distantes mas cremos não ter jangada para o trajecto. Entrentanto, vamos sonhando de pés enterrados na areia.

Portugal tem que esquecer as suas fronteiras. Portugal tem que se perder de si num grande passeio. Eis uma nova palavra de ordem: deambular!

Comments:
A deambulação que reclamas tem em si um sentido individual.

acho que esta ilha precisa de agitação em massa. é claro que para a iniciar às vezes basta um acontecimento particular, ou alguém que a fomente colectivamente.

as deambulações, mais que um fim em si, a mim servem como fonte de comparação e de inspiração para inventar uma "ilha" melhor, num mundo mau.
 
A deambulacao que reclamo nao necessita de ser individual. E' antes um apelo ao abandono da nossa identidade nacional que se faz tanto de um recolhido fatalismo. E' antes um apelo ao fim do provincialismo insular de querer importar as coisas prefabricadas la de fora, em vez de manipular e descobrir a nosso proveito. E' um proto-pseudo-micro-programa de posmodernidade cultural.
 
percebo, cabral.

dadas as condições em que vivemos, acho que o abandono do nosso fatalismo passa mais por cada um de nós interiorizar a sua condição de ser mundial e não apenas nacional, e não por discursos colectivos recheados de apelos à confiança no que se faz cá dentro por ser cópia do que se faz lá fora.

estes parecem-me tempos de descoberta individual pois a colectiva é receada.

e, quando falo em individual, refiro-me mais ao carácter escasso dessa descoberta (por não haver muita gente a querer fazê-la) e não ao carácter solitário da coisa.

somos poucos mas não estamos sós.
 
ja compreendi! concordo!
 
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