24 dezembro 2005

 

Natal


oBiToque esta em balanço natalício. Prometemos novidades para o blog em 2006.

Boas festas para os camaradas da blogosfera…

Cabral e Lumumba.

21 dezembro 2005

 

Em busca de justiça


Realiza-se em Nova Iorque em 20-22 de Janeiro, uma audiência popular para elencar e julgar os crimes de George Bush. Esta é só mais uma iniciativa entre muitas de julgamentos populares dos crimes da aliança americana. No Reino Unido foi a BBC que se viu forçada a encenar um tribunal no mesmo espirito, enquanto a campanha para acusar Blair de crimes de guerra continua. Até à data, a iniciativa com maior ambição foi o World Tribunal on Iraq. Esta coligação internacional de colectivos realizou uma audiência em Portugal onde se examinou a cumplicidade do Estado Português na guerra contra o Iraque. As conclusões redigidas com rigor jurídico que não abdica de ser político estão disponíveis em português.

A duplicidade da lei, a sua subordinação aos interesses dos autocratas da democracia está à vista de todos. A lei é propriedade do poder político, não lhe resta autonomia (se alguma vez a teve). Bush e Blair fintam acusações com inquéritos alegadamente independentes que concluem incertezas. As regras são que a quem se senta no trono da democracia tudo é permitido, e o bem e o mal são seus para reinventar.

Eles raptam e torturam inocentes. Eles põem escutas e invadem a nossa privacidade. Eles bombardeiam e envenenam um país. Eles matam. Estes crimes repetem-se em impunidade. A raiva nunca foi tão legítima, negam-nos justiça.

 

Nota interna


Parabéns ao novo Doutor.

 

Os filhos dos outros


Como o Michael Moore notava no Farenheit 911 os soldados Americanos são os filhos dos outros: filhos de proletários, white-trash, negros, hispânicos, emigrantes que compram com o serviço militar a cidadania americana. Estas vidas são mais baratas…



19 dezembro 2005

 

A culpa é dos marxistas


A direita portuguesa continua a brindar-nos com autênticas pérolas de sapiência. Então não é que o recurso à violência como "motor de transformação histórica" é um instrumento da esquerda? Apenas? Claro que o ilustre(?) orador se refere apenas ao séc.XX para chegar a esta brilhante conclusão. Talvez porque se olhasse um pouco mais para trás, quando a esquerda não existia enquanto tal, muito menos o marxismo, as guerras que sempre existiram entre os povos ficavam orfãs. Ou então, todas as guerras entre países ou entre povos deverão ter sido por um qualquer espírito embrionário do marxismo. Provavelmente desde os romanos. É isso de certeza. Mas isso se calhar implica que o marxismo é uma aspiração dos povos desde há muito tempo. E se calhar não é só resultado de um bando de tarados (terroristas, claro!). Não, não pode ser. O melhor é mesmo esquecer tudo o que vem antes do séc. XX, porque aí é mais fácil fazer a demagogia. Mas mesmo no século XX, já houve guerras depois da queda da União Soviética. E os talibãs e o Bin-Laden não me parecem muito comunistas. Até são religiosos! Pois, se calhar não faz sentido. Não interessa, o povo é estúpido e assim sempre se ganham alguns minutos no jornal da noite, e talvez um caramelo qualquer escreva umas linhas num blog qualquer. É isso. Está decidido.

Ainda bem que a nossa direita é assim. Enterram-se sozinhos. Mas é sempre bom dar uma valente ajuda.

17 dezembro 2005

 

O novo exército global


A perturbar a legitimidade da OMC, manifestantes em Hong Kong enfrentam o gás pimenta e os bastões das forças da ordem.


 

Fascismo terrorista


Faz lembrar a vox populi, "é pior a emenda que o soneto". Perante o crescente fascismo na administração dos EUA, talvez seja altura da população pensar no que será pior, o papão da ameaça global terrorista ou os problemas de direitos essenciais do cidadão no país. Os EUA parecem caminhar a passos largos para uma ditadura formal, pois na prática ela parece já existir há algum tempo...

15 dezembro 2005

 

Heresia canónica


Num post recente, o blog Blasfémias não poupa veneno para os países desenvolvidos e seus políticos, de Bush ao Fórum Social, dados como responsáveis pela miséria do Terceiro mundo. A blasfémia aponta como causa deste mal a recusa em liberalizar os mercados agrícolas. Não sei se é do conhecimento do Blasfémias, mas nesta heresia estão na suspeita companhia do G8. Na sua recente reunião em Gleneagles na Escócia, foi pomposamente anunciado que a salvação do Terceiro Mundo estava para breve com o advento do perdão da dívida e da liberalização do comércio mundial – “make poverty history.”

A crença na solução da pobreza mundial pela liberalização do comércio agrícola, a que o Blasfémias faz procissão de fé, é extraída do evangelho dos países desenvolvidos. É assente na imagem do Norte industrial face ao Sul agrícola, uma ideia-relíquia do século XIX. No séc. XX os países industrializados tornaram-se os principais produtores de algumas das mercadorias essenciais. Em qualquer supermercado, só os produtos exóticos tem origens tropicais, o resto vem do Norte. O principal promotor da liberalização dos mercados agrícolas é a administração Americana. Os EUA sobre-produzem bens de cultura extensiva, nomeadamente cereais. Todos os anos os EUA (e a UE) destroem toneladas de alimentos ou entregam-nos para ajuda humanitária com o fim de inflacionar os preços internacionais dos bens.

O Blasfémias elenca o “Brasil, Argentina, Chile, Tanzânia, Índia, Tailândia” como liderando o esforço de liberalização, como as vozes do Terceiro Mundo. Contudo, estas são economias emergentes e não indigentes, estas almejam competir com os EUA/UE no mercado internacional. Para o resto do Terceiro Mundo, a liberalização é vista com receio justificado. O impacto de competir com os gigantes e a avalanche de bens produzidos a baixo custo, pode destruir a frágil economia agrícola destes países, que sem alternativas de emprego destina milhões para a miséria da auto-subsistência.

O Blasfémias falha em notar o que de facto está em debate. A bloquear a liberalização do comércio, é controversa a definição das regras para a competição internacional, nomeadamente o que se entende por subsídios. Os países desenvolvidos podem ofertar a sua agricultura subsídios camuflados, por exemplo financiando investigação em transgénicos ou fornecendo combustível a baixo custo. Além da agricultura, o Terceiro Mundo quer trocar a liberalização dos mercados agrícolas com vantagens para os EUA/EU, com medidas semelhantes para os mercados industriais, que por exemplo penalizam os têxteis da Itália, Espanha e Portugal. São estes os pontos que arrastam a resolução dos debates.

Os mercados “livres” não são panaceia universal. A liberalização dos mercados não é oferta dos ricos aos pobres para os salvar do seu sub-desenvolvimento. Estas medidas favorecem os países ricos sobre os pobres, o Blasfémias vê o “mundo de pernas para o ar.”

14 dezembro 2005

 

Repetir, repetir, repetir, ...



13 dezembro 2005

 

Confessions of an Economic Hit Man


Um livro recomendado por muitos.

"O autor é John Perkins, um executivo de topo, que «era» um respeitado membro da comunidade financeira internacional. O pretérito imperfeito deve-se a que em Confessions... define com enorme precisão que os sicários económicos «são profissionais muito bem pagos (pelas multinacionais mas ao serviço dos poderes mais sinistros do Império) que enganam países de todo o mundo em triliões de dólares. As suas ferramentas são relatórios financeiros fraudulentos, eleições manipuladas, recompensas, extorsões, sexo e assassinatos»."

 

Nobel (2) nuclear só para alguns


O nuclear está de regresso à agenda. A recente subida dos preços do crude recolocaram a energia nuclear na lista das rentáveis alternativa às termoeléctricas. Há quem argumente que energias renováveis têm que ser complementadas pela nuclear para cumprir com os compromissos de Quioto, reduzindo assim emissões de carbono. Finalmente, o prémio Nobel da Paz deste ano foi para o “fiscal do nuclear,” o senhor Mohamed ElBaradei e a IAEA. Estes últimos são honrados pelos seus esforços em: bloquear os usos militares da energia nuclear e promoção do uso seguro desta tecnologia. É obviamente pelo primeiro motivo deste mandato, o motivo policial, que conhecemos o senhor ElBaradei.

Este podia ter sido um mau ano para os “fiscalistas” das Nações Unidas. A ausência de armas de destruição maciça no Iraque parecia colocá-los no papel de pressagistas apocalípticos nas mãos dos Norte-Americanos. Felizmente, em bom tempo os media procuraram uma distracção para encobrir as vergonhas do Iraque e inventaram uma nova ameaça, o Irão. Chama-se então o senhor ElBaradei e a sua idónea proveniência egípcia para certificar que a suspeita é devida. A IAEA fez saber que países definidos como “extremistas” (sempre no oriente, porque no ocidente prima a ponderação) não têm o direito de usar energia atómica, qualquer que seja a finalidade.

O discurso do ElBaradei em Estocolmo teve um pouco para todos. À esquerda, ofereceu um diagnóstico dos males que a pobreza engendra, castigando os dois pesos e duas medidas do primeiro-mundo que chora os milhares de vítimas do 11 de Setembro mas banaliza a morte dos milhões nas guerras civis de África. À direita, lamentou que a natureza humana, testemunhada num passado histórico de guerras, nos prepare um futuro pouco diferente. A par, manifestou apreensão pelos “extremistas” e pelas suas maquinações com armas de destruição maciça. Para este hábil diplomata, este é um mundo de religiões que não se entendem. São estas as coisas que o Sr. ElBaradei nos vai dizendo.

Será talvez por hábito social ou preconceito que tendemos a considerar a palavra dita como fundamental e principal, mas a palavra não-dita também merece referência. Ademais, porque este prémio Nobel premeia também o silêncio. 1) O desarmamento nuclear está hoje posto de lado, desde os já distantes anos 70 e 80 e em esforços encetados pela União Soviética, que não se assumem novos acordos de não-proliferação. 2) Pelo contrário, as grandes potências militares continuam a adicionar ogivas ao seu arsenal atómico e preparam uma nova geração de “nukes.” A desculpa, quando se dignam a responder, é a urgência em precaver contra as ameaças indefiníveis de daqui a 40 ou 50 anos. 3) Nas matérias policiais, permanecem impunes os casos em que o ocidente armou nuclearmente nações clientes em violação dos comprometimentos com a IAEA – pense-se nos EUA a armar o Reino Unido, e o Reino Unido a armar Israel. 4) Nada se sabe e nada se investiga sobre a dimensão dos actuais arsenais atómicos. Quem se atreve a quebrar este silêncio é severamente punido, basta recordar o exemplo de Mordechai Vanunu. São estas as coisas que o Sr. ElBaradei não nos diz.

12 dezembro 2005

 

O texto que não chegou a ser


Dediquei-me no fim-de-semana a uma busca na Internet sobre o caso Jean Charles de Menezes (morto no metro de Londres por polícia anti-terrorista "por engano") e a escrever um texto, o qual apaguei. Desmotivei-me com a falta de interesse no caso, na forma como 50-50 se apanhava com relatos ultrapassados e recentes, com versões iniciais e corrigidas. E mesmo as filmagens CCTV que chegaram a ser divulgadas pela BBC, as quais provam como a polícia mentiu no relatório oficial, surgem agora apenas em obscuros sites com os contornos próximos a teoria de conspiração. Toda a informação está agora amontoada em caixotes no poço da Internet.

Jean Charles de Menezes vestia nesse dia um casaco de ganga, nenhum casaco de Inverno. Nunca chegou a ser abordado pela polícia antes de entrar no metro e nunca fugiu dos agentes policiais que o mataram. Nas investigações surgem relatos desses agentes em que se afirma, Jean terá sido chamado pelos agentes, levantando-se do seu lugar e virando-se na direccão dos mesmos (ao contrário do que o Sir Ian Blair afirmou). Nunca saltou nenhumas barreiras no metro, em vez disso entrou na estação a passo, apanhou um jornal de distribuição grátis e desceu as escadas. 2 minutos depois tinha sido atingido por 7 balas a queima-roupa na cabeça, uma no ombro e outras três teriam falhado o alvo.

No fundo sentia que ia acabar por apenas pôr mais um papel no caixote. Eu lembro-me do dia em que ele morreu, lembro-me do que eles disseram, lembro-me do que saiu semanas mais tarde. No entanto, apenas pareceu ser um tema realmente importante quando entrou embalada com a euforia de mais ataques suicidas, tiroteios no metro e cabeçalhos que tal. Agora que seria altura de recolher os pedaços e escrever a história como ela realmente se passou, já ninguém parece interessado.


 

O voto e a arma


Desta vez, de certeza que o voto não é uma arma (e das outras?).

"Voto em branco em sinal de protesto é inútil nas presidenciais"

11 dezembro 2005

 

Eficácia e eficiência cavaquista


Para um economista, esta diferença deve ser muito clara. Cavaco tem-se defendido dos ataques feitos à sua governação com a "obra feita". Controlou o défice e a dívida, desemprego, alcatrão, alcatrão, alcatrão, e outras coisas que tais. A demagogia destas afirmações seria assustadora, não fosse já habitual no discurso do candidato em questão. A qualidade de uma governação não pode ser medida apenas pelo que se realizou, mas as condições em que se conseguiu fazê-lo. E não é difícil relembrar os famosos "um milhão de contos diários" da UE, então CEE, a entrar nos cofres portugueses. E é preciso também ver as maravilhas das estatísticas: o atraso português na larga maioria dos indicadores sociais e económicos herdado do Estado Novo leva a que qualquer progresso tenha uma proporção estatística enorme. E mais, com um país tão atrasado, os primeiros impulsos de atraso são os mais fáceis de recuperar, o problema é quando começamos a aproximarmo-nos do topo. A questão que discuto é simples: a governação cavaquista foi sem dúvida eficaz, resultou numa série de progressos para o país, mas foi eficiente? Não tenho qualquer dúvida de que, com todas as oportunidades e fundos europeus, tinha sido possível fazer muito melhor. Apostar em formação em vez de alcatrão, mudar o paradigma produtivo da mão-de-obra barata e pouco qualificada para a alta tecnologia e os produtos de alto valor acrescentado, por exemplo. Foi uma governação ineficiente, sem visão política para o país (o que aliás não surpreende, observando a pose oca e mumificada nos debates). Não tenho também por isso qualquer dúvida de que o período cavaquista é um importante factor para o atraso em que o país ainda se encontra, e para o futuro negro que se vislumbra. Mesmo para capitalista, foi mau.

 

Nobel (1) Economistas de guerra


O prémio Nobel da Economia deste ano foi atribuído a Robert J. Aumann e Thomas C. Schelling, respectivamente da Universidade de Jerusalém e da Universidade de Maryland. A merecida ciência destes senhores é o estudo de situações de conflito militar através da teoria dos jogos - braço de matemática aplicada que informa investigação nas ciências sociais, politicas e biológicas. No anúncio do comité Nobel, Schelling é elogiado por ter mostrado que “the capability to retaliate can be more useful than the ability to resist an attack, and that uncertain retaliation is more credible and more efficient than certain retaliation.” A consequência destas “descobertas” é justificar a política externa americana do Vietname ao Iraque, e o militarismo zionista da retaliação proporcional. Aliás, Aumann criticou a recente decisão de despovoar os colonatos de Gaza como um sancionar do bombistas-suicidas palestinos, e como insensato dado o saber da teoria dos jogos.

A par com um Nobel da Literatura que denuncia os crimes dos EUA, vem um Nobel que dá como cientifica a politica externa ianque. A concluir o anúncio do Nobel da Economia à advocacia de fazer guerra sem regra e sem lei, a tantas vezes repetida mentira: “These insights have proven to be of great relevance for conflict resolution and efforts to avoid war.“ Como no 1984 de George Orwell, querem nos convencer que a “guerra é paz.”

09 dezembro 2005

 

Cavaquices


Descubram as...

...semelhanças!!

























A fonte: "HOMEM Magazine" N.º 199, Outubro 2005.

PS - para os mais distraídos, há uma fotografia que se repete em ambas as imagens.

 

Egoístas, egoístas, egoístas!!!


Vários sectores da população ficaram preocupados com o exclusivo em que o "respeitável" Professor Marcelo falava da política ao futebol e às mezinhas da avó. Em nome desta democracia à beira-mar plantada, foi criado uma sessão semanal na RTP1 com António Vitorino, um dos mais execráveis políticos da "nova geração". Num desses programas Vitorino apelidou de egoístas todos os portugueses que cada vez se dedicam menos à arte de procriar (pelo menos em termos de resultados finais). Afinal, temos de pensar na Segurança Social, na nossa velhice (a agora tão propalada solidariedade familiar) e, já agora, em mantermos Portugal português.

Num país em que a educação sexual é o que (não) é, a disponibilidade de contraceptivos nos centros de saúde idem aspas aspas (e já viram os preços dos preservativos?), o aborto é proibido, levando todos para situações degradantes, não podemos dizer que já não levamos uma ajuda.

 

Votar em quê? 12 condições para o país mudar de rumo


Seguindo a moda, também o Bitoque se abriu à sociedade civil. Assim, divulgamos o seguinte abaixo-assinado enviado por activistas de esquerda a propósito das presidenciais. O objectivo é recolher assinaturas para divulgação posterior.

"Votar em quê?
12 condições para o país mudar de rumo

Resumir a eleição do Presidente da República a um fútil despique de personalidades entre Cavaco Silva, Mário Soares e Manuel Alegre é fazer esquecer que a crise a que Portugal chegou é obra dos partidos que estão por trás das suas candidaturas.
Não temos dúvida de que a situação do país só melhorará quando os trabalhadores puserem fora de acção o sistema capitalista, o verdadeiro causador da crise que atravessamos.
A repetida escolha do mal menor só tem contribuído para dar continuidade ao regime, sem criar uma oposição popular consistente. Contrariamente, a defesa dos reais interesses dos trabalhadores pode criar condições para uma mudança de rumo que melhore a situação da esmagadora maioria da população.
Nesse sentido, votaremos no candidato que assuma publicamente os seguintes compromissos:

- Declare que o maior problema nacional é o meio milhão de desempregados, o meio milhão de precários, os dois milhões de pobres, o salário mínimo de fome e as reformas de miséria – e exija do governo soluções imediatas;
- Defenda a revogação do Código do Trabalho;
- Se oponha ao desmantelamento e privatização dos serviços públicos de educação, saúde, habitação, transportes;
- Denuncie os privilégios da banca e defenda a taxação das grandes fortunas, o levantamento do sigilo bancário e justiça efectiva contra os delitos económicos e a corrupção;
- Se oponha à lei dos partidos e à reforma eleitoral que pretende substituir o sistema proporcional pelos círculos uninominais;
- Defenda a urgência de uma lei contra a concentração da comunicação social nas mãos dos grandes grupos económicos;
- Defenda uma nova legalização dos imigrantes e que lhes sejam reconhecidos por lei plenos direitos civis e políticos;
- Se pronuncie pela urgência da despenalização do aborto e por leis efectivas contra a violência sobre a mulher;
- Reclame o fim imediato da ocupação do Iraque e do Afeganistão, a condenação dos agressores e o pagamento de reparações àqueles países;
- Defenda a saída de Portugal da NATO, a retirada imediata dos militares portugueses noutros países e a anulação do acordo com os EUA sobre a base das Lajes;
- Se pronuncie pelo direito do povo da Palestina a uma independência plena e pelo levantamento do ilegal bloqueio dos EUA à República de Cuba
- Se oponha às medidas de reforço policial, ditas “antiterroristas”, à militarização, à limitação das liberdades democráticas na União Europeia e se bata pela igualdade plena de todos os seus trabalhadores.

Por último: se mantenha coerente com estas posições, comprometendo-se, no caso de ser eliminado à primeira volta, a não apelar ao voto em nenhum dos candidatos responsáveis pelo rumo desastroso que tem sido imposto ao país.


Lisboa, 2 de Dezembro de 2005"

 

David Davis: um homem às direitas


O candidato à liderança do Partido Conservador Britânico entretanto derrotado David Davis bem que se esforçou por ganhar. Especialmente no que diz respeito ao eleitorado feminino. No programa Woman's Hour "não apenas se vangloriou de nunca ter cozinhado na vida, como explicou pormenorizadamente porque prefere as louras, apesar de a sua mulher, Doreen, ser morena. E também fez questão de se deixar fotografar junto de jovens apoiantes mais generosas envergando camisetas com a expressão: "It's DD for me" (Para mim, é DD, numa referência às iniciais do candidato). Escusado será dizer onde os dois dês estavam estrategicamente colocados, o que escandalizou feministas britânicas."* Pena que se fala pouco de conteúdo, embora seja suficiente para termos uma ideia da besta.

"Felizmente" que ganhou sangue real, mesmo que ilegítimo. Afinal eles foram feitos para governar...

*citação do DN de 6 de Dezembro

 

Os Raptos da CIA


Recentemente veio a lume a prática pela CIA de transferências secretas de suspeitos para prisões em países terceiros. A Amnistia Internacional denunciou que entre Setembro de 2001 e Setembro de 2005 mais de 800 voos sobrevoaram o espaço aéreo da UE com esse intuito. Para além do mais, algumas dessas prisões situar-se-iam em solo de alguns dos novos países aderentes. A UE decidiu investigar o assunto e questionar oficialmente os EUA.

Depois de um período inicial de silêncio, os EUA, país que se arroga o direito constitucional de intervir noutros países quando os seus interesses estão em causa, responderam pela Secretária de Estado Condoleeza Rice. Esta (sim, a mesma que deu o nome a um petroleiro...) sustentou que estas transferências seriam legais à luz do Direito Internacional. Acenando uma vez mais com a ameaça terrorista advertiu que “antes do próximo ataque [terrorista], devemos todos reflectir sobre as escolhas difíceis com que estão confrontados os governos democráticos”.

Segundo Rice a transferência de suspeitos para prisões em países terceiros é essencial na guerra contra o terrorismo, bem como o secretismo dessas operações. Isto mais parece uma reedição das mentiras sobre as armas de destruição massiva, no Iraque: Bush mostra as provas atrás de portas; líderes europeus garantem a sua veracidade - lembram-se das ”provas” vistas por José Manuel Barroso, então Durão Barroso? Onde estão elas?

Rice sossega ainda os povos europeus e recorda a algumas virgens ofendidas nos seus governos que esta prática é levada a cabo pelos sucessivos governos dos EUA há décadas e em cooperação com os seus aliados. Não temamos pois estas actividades não só são concerteza efectuadas com muito “profissionalismo” e com a “experiência” acumulada ao longo dos anos*, como também têm tido a complacência e participação de outros governos, incluindo muitos Europeus.

Num último esforço de sanar divergências, Rice acaba de proibir os funcionários dos EUA de torturar os prisioneiros, o que pressupõe que até agora tinham carta branca para o fazer. E quanto aos funcionários de países amigos, desempenharão estas funções por eles? Mas ainda alguém acredita na Administração Bush?

Estes líderes norte-americanos e europeus já repetidamente mostraram que são mentirosos e manipuladores. Se a Admnistração Bush se destaca naturalmente pela sua longa lista de velhacarias conseguida em tão pouco tempo, que dizer da hipócrita e colaboracionista atitude de inúmeros governos Europeus, incluindo o Português? Estas transferências não têm outro nome que não rapto, e todo e qualquer membro de governo que participe ou feche os olhos deve ser acusado e julgado por tal. Palpita-me que nós já devemos ter uma lista razoável de potenciais arguidos, incluindo o nosso saudoso Paulo Portas.

* Segundo o The Guardian, os raptos terão começado no tempo de Ronald Reagan com os raptados a serem levados para os EUA para julgamento. Com Clinton e o “terrorismo islamita” terá começado a prática de transferência para países terceiros de forma a manter o secretismo. Durante este tempo há relatos de torturas, desaparecimentos e execuções. Depois da revisão desta directiva pela Admnistração Bush e do 11 de Setembro o número de raptos terá disparado.

 

Aquecimento global, chuva ácida, CFCs e tabaco


O George C. Marshall Institute foi constituído em 1984 pelo físico Robert Jastrow, para junto da comunidade científica congregar apoio à SDI (Strategic Defense Initative) de Ronald Reagan – popularmente conhecida por “Guerra das Estrelas.” Jastrow acusava a Union of Concerned Scientists que se opunha a proliferação militarista de Reagan, de conivência com os interesses soviéticos e da expansão mundial do comunismo. Eis a guerra-fria em todo o seu esplendor! O debate era público: cartas ao editor e artigos de opinião no Wall Street Journal, New York Times, Washington Post, Business Week e outras revistas de conteúdo económico ou político. O objectivo do Marshall Institute era de negar certificação científica aos argumentos dos académicos que viam a “Guerra das Estrelas” como um perigo para a paz, para o planeta, e para o adequado financiamento da investigação astrofísica.

Finda a guerra-fria, ou pelo menos afastado o papão soviético, o Marshall Institute permanece em funcionamento. A sua nova causa é o aquecimento global, ou antes, questionar as evidências de que um grave aquecimento antropomórfico do planeta está em curso. O instituto defende que nada de anormal se passa e que se algum ajuste tecnológico for necessário, o normal funcionamento dos mercados conduzirá aos necessários ajustes. No Instituto, a Jastrow juntaram-se Frederick Seitz e S. Fred Singer. Em meados dos anos 70, Seitz foi o principal investigador que a soldo das tabaqueiras procurou pôr em causa a associação entre o tabaco e o cancro. Singer foi uma das vozes solitárias mas ferozes que negou que a poluição industrial era a causa da chuva ácida, e que os CFCs estavam na origem do buraco na camada do ozono. E assim, esta clique de extremistas “cold warriors” a servir os “nobres ideais americanos” adiou a resolução destes debates e o legislar em defesa da saúde pública. E no reverso dos lucros das tabaqueiras e indústrias, vidas eram entregues à doença e abriam-se novas feridas no planeta.

A estratégia retórica deste grupo permanece inalterada após mais de trinta anos de actividade e foi exposta na sua genial simplicidade num famoso memorando da tabaqueira Brown and Williamson em 1969: “Doubt is our product…” Num estilo que não é anti-científico o Marshall Institute identifica limitações nos dados e analisa deficiências nos argumentos dos cientistas que criticam o curso da economia e politica Americana. O objectivo é criar dúvida e debate em questões que a comunidade científica já havia dado como assentes.

A guerra-fria não terminou. O projecto capitalista não é total, e combate ainda pela extensão do direito do proprietário para usar e abusar do planeta e dos povos sem restrição. Os oponentes, em várias cores e confusos programas, são aqueles que pagam pelos lucros, aqueles que bebem a água contaminada, que respiram smog, que tem de pedinchar por emprego, que morrem prematuramente. Com os direitos do proprietário nega-se o direito à sobrevivência: o mero sobreviver torna-se uma penosa conquista. Esta luta é o que move a nossa história.

08 dezembro 2005

 

Pinter: Blair criminoso de guerra


No seu discurso Nobel, Pinter apela para que Tony Blair seja acusado e julgado pelo Tribunal Internacional por crimes de guerra. O Reino Unido, ao contrário dos EUA, rectificou o tratado que instituiu o Tribunal, portanto a possibilidade legal existe. No Reino Unido, o mais sério esforço para a acusação de Blair vem da organização Action Against War, previamente Legal Action Against War. Internacionalmente, colectivos de vários países, incluindo um Português, redigiram um detalhado documento de acusação e encenaram uma audiência onde Bush e Blair foram julgados em absentia.

Por baixo do verniz de chefe de estado, dos discursos estudados ao detalhe, Bush e Blair são vilões genocidas. Uma das petições do Action Against War destina-se a recolher assinaturas fora do Reino Unido, a ser entregue nas embaixadas britânicas. E as conclusões do World Tribunal on Iraq merecem difusão mais extensa. Não podemos permitir que os crimes Americanos e Britânicos sejam esquecidos. É preciso dar-lhes um fim combatendo o hipócrita discurso de justiça com que Bush e Blair mentem justificações para as suas guerras.

 

Harold Pinter, Nobel da Literatura 2005


São raras as vezes em que ouvimos denunciar e condenar publicamente o imperialismo americano como no discurso de Harold Pinter, durante a entrega do prémio Nobel da Literatura.

“(…) my contention here is that the US crimes (…) have only been superficially recorded, let alone documented, let alone acknowledged, let alone recognised as crimes at all. I believe this must be addressed and that the truth has considerable bearing on where the world stands now.”

“The invasion of Iraq was a bandit act, an act of blatant state terrorism, demonstrating absolute contempt for the concept of international law. The invasion was an arbitrary military action inspired by a series of lies upon lies and gross manipulation of the media and therefore of the public; an act intended to consolidate American military and economic control of the Middle East masquerading – as a last resort – all other justifications having failed to justify themselves – as liberation. A formidable assertion of military force responsible for the death and mutilation of thousands and thousands of innocent people.”

06 dezembro 2005

 

A defesa da tortura


Que os EUA enviam prisioneiros para cadeias secretas em países da Europa de Leste, Afeganistão e Tailândia já ninguém contesta. Que esses prisioneiros são sujeitos a maus-tratos também ninguém nega. Pelo menos não é isso que se discute. Ao que parece, o que é importante é a definição de tortura. Segundo a ONU, tortura envolve “dor severa”. Citando o procurador público adjunto dos EUA, Jay Bybee, “o adjectivo severo refere-se a uma dor ou sofrimento tão intensos que é difícil o sujeito suportar” e chegou a sugerir que “dor severa” tem que ser tão severa que resulte em morte. Portanto, quando os interrogatórios incluem puxões, estaladas, murros no estômago, permanecer de pé durante 40 ou mais horas, ficar nu numa cela gelada ou simulação de afogamento, não se está a torturar, aliás tratam-se de “técnicas de interrogatório melhoradas”. E assim, enquanto se faz debate da definição, a tortura sai impune.

 

Ainda o 25 de Novembro (ou a democracia dos chefes)


No seguimento do anterior texto no bitoque sobre o 25 de Novembro saído na mesma data, venho atirar mais umas achas para a fogueira. Ontem realizou-se mais um daqueles execráveis "debates" ferreamente conduzidos por Fátima Campos Ferreira sobre «A Encruzilhada do 25 de Novembro». Neste "debate" tinha-se de um lado o general Eanes, o general Tomé Pinto, Júlio Castro Caldas e mais um outro militar (para além de uma ou mais intervenções da audiência e das conversas gravadas com Melo Antunes). Do outro estava o Otelo. Ficámos a saber que a 25 de Novembro de 1975:

- A democracia (burguesa) foi salva - Não sei se valeu de muito. Afinal, 30 anos passados, o vencedor mais que anunciado das próximas eleições jura a pés juntos que não é político para ganhar credibilidade e votos. O que é que correu mal...

- Resolveram-se as "desordens" de então no exército e nas fábricas. Tomé Pinto demonstrou a sua preocupação perante estes aspectos, havendo um outro general preocupado com o quebrar da cadeia de comando. De facto, de facto. Imaginem que a democracia também chegasse às fábricas e quarteis, deixaríamos de ter a democracia dos chefes. O que dirão estes senhores sobre a AutoEuropa? Corramos com os sindicatos?

- Evitou-se um banho de sangue - Ainda bem que houve "bom senso". Um general revelou os detalhes da transferência dos aviões militares do Montijo para Cortegarça. Conta ainda como enganaram os esquerdistas. Quando Otelo questiona-o sobre para que é que queriam 20 caças bombardeiros, ele responde meio incomodado que "aproximava-se uma operação militar" e os aviões eram "para o que fosse preciso". Falou-se ainda da armas entregues a civis, nomeadamente ao Grupo de Segurança do PS do qual Edmundo Pedro fazia parte. Afinal, quem preparava a guerra civil.

 

Nem Cavaco nem Soares


Numa época que a esquerda tradicional nos vem uma vez mais vender a ideia do tudo ou nada, é necessário romper os falsos consensos. Pedro Goulart enviou o seguinte texto ao Bitoque sob o título de “Nem Cavaco nem Soares”. Espero que contribua para a introdução deste tema na blogosfera.


"Está aberta a caça ao voto para as presidenciais. Os dois candidatos mais badalados pelos media e acarinhados pela burguesia são, naturalmente, Mário Soares e Cavaco Silva. E o tempo dirá se alguma ou algumas outras candidaturas não se virão a traduzir, essencialmente, numa forma envergonhada de canalizar votos para um destes candidatos. Apesar de um e outro mais não serem que dois representantes do capital, com eventuais divergências (para além das ambições pessoais) sobre a melhor forma de dar continuidade à exploração das classes trabalhadoras.

Mesmo em termos do sistema dominante, Cavaco e Soares são dois dos principais responsáveis pela triste situação a que Portugal chegou. A incompetência e o esbanjamento dos recursos económicos e financeiros do país em obras não prioritrárias, inúteis ou de fachada, levadas a cabo por ambos os candidatos e respectivos partidos, estão hoje bem à vista de todos.

Em termos de luta de classes, é longa a lista das malfeitorias por eles cometidas contra as classes trabalhadoras e dos actos de submissão de Portugal aos centros imperialistas. A forte ofensiva anti-trabalhadores e a grande repressão das últimas décadas, assim como a permanente subserviência em relação às multinacionais, são a marca clara da governação PS e PSD (e do CDS), com Soares e Cavaco à cabeça na presidência e/ou na chefia dos sucessivos governos. Quem não sabe do conluio deles e dos seus partidos com a CIA e os EUA, da subordinação de Portugal ao bloco agressivo da NATO, dos sucessivos esbulhos das conquistas e direitos dos trabalhadores (em paralelo com o enriquecimento dos grandes capitalistas e dos altos funcionários das administrações das empresas e do aparelho de estado), da forte repressão exercida sobre os explorados, aqui incluídas as mortes de trabalhadores perpetradas pelas polícias, da prisão de militantes de esquerda, etc, etc! Ambos os candidatos já demonstraram sobejamente (por palavras e actos) serem determinados inimigos do poder democrático dos trabalhadores.

Nos próximos tempos vamos ser amplamente bombardeados por reformistas de cores várias sobre a necessidade de “todas as forças de esquerda” votarem em Soares para P.R. E, com a 2ª volta das presidenciais, surgirão com mais força as já estafadas teses catastrofistas, habitualmente usadas por certa gente de esquerda, visando amedrontar os votantes e assim melhor justificarem o voto em Mário Soares.

Os trabalhadores e os militantes de esquerda devem denunciar com firmeza o papel desempenhado por ambos os candidatos na cena política portuguesa (se a memória não for curta) e recusar publicamente dar cobertura à opção entre estes dois representantes do capital. Assim, estarão a contribuir para que trabalhadores e gente de esquerda não sejam, uma vez mais, arrastados para a enganadora e nefasta política do “mal menor”. Que é uma política coveira dos interesses de classe dos trabalhadores e dos objectivos perseguidos por quem defende a ruptura com a ordem económica, social e cultural vigente.

1-10-2005"

 

Term(in)os


we have to let you go, i.e. está despedido.

she was made redundant, i.e. ela foi despedida.

I am between jobs, i.e. estou desempregado.

Como explicar este eufemisar do desemprego na cultura anglo-saxónico, paradigma da sociedade portuguesa contemporânea? A minha hipótese é de que serve a pedagogia e o pudor. A lição oferecida é simples, conter a revolta. Impõe encarar o desemprego como uma oportunidade, como quem repete obsessivamente: “isto é bom! Isto é bom!” E sobre o imperativo da submissão, o pudor em reconhecer que esta sociedade “tritura e cospe” vidas sem emoção. Será que sociedades que tratam gente como mercadoria merecem o adjectivo de humanas?

05 dezembro 2005

 

Para o vazio democrático-televisivo...


Como compensação do exercicío de telegenia de Cavaco Silva e Manuel Alegre na SIC, com fraco conteúdo e sem debate algum, veio o programa Choque Ideológico na RTPN. Ao menos discute-se realmente. Bem conduzido por Vítor Gonçalves.


Nota à equipa de campanha de Cavaco Silva: Portugal utiliza as unidades do Sistema Internacional, e não as medidas imperiais. O aeroporto da Ota tem um custo estimado de 3600000000 €, ou seja, 3,6 mil milhões de euros, e não biliões. Para economista...

 

O capitalismo da Autoeuropa


Depois de em finais de Setembro a Volkswagen ter usado a Autoeuropa para pressionar os trabalhadores alemães, eis que temos mais notícias de Palmela, um previsível conflito entre administração e trabalhadores. Cito do Público:

..."Já Von Ingelheim sublinha que "só as fábricas com elevados padrões de flexibilidade, salários competitivos e baixos custos com o pessoal têm hipótese" de sobrevivência.
Ingelheim disse que os "óptimos índices de desempenho" da fábrica "não garantem a sua permanência para o futuro", pelo que defendeu reduzir custos com o factor trabalho "onde é possível" sem que "com isso se comprometa os pagamentos regulares"."...

Os trabalhadores da Autoeuropa estão há dois anos sem revisão salarial, querem aumentos entre 3% e 4% e a não redução do valor das horas extraordinárias. A administração da Autoeuropa quer apenas trabalho barato. Não é esse um dos principais problemas da economia portuguesa? Mão de obra pouco qualificada e salários muito baixos? Não há uma falta de poder de compra nos bolsos dos portugueses? Apesar da Autoeuropa não se encaixar completamente no padrão da mão de obra pouco qualificada, esta posição da administração mostra bem o que é o capitalismo moderno: a fábrica de Palmela é repetidamente apontada como um exemplo no grupo Volkswagen, e em troca o que os trabalhadores recebem são congelamentos salariais e perda do poder de compra. E o problema que o mundo das grandes empresas invoca para estas medidas já não são os prejuízos, mas sim a quebra nos lucros...

 

Novo Puritanismo


A SIDA é cada vez mais um padecimento do atraso económico. A pandemia da SIDA é hoje localizada na África e na Ásia com cerca de 35 milhões de doentes, enquanto o primeiro mundo tem cerca de 2 milhões. Espera-se que esta diferença aumente na próxima década com a difusão dos cocktails anti-virais que adiam o progresso da doença e com as campanhas para sexo seguro a favorecer a prevenção nos países desenvolvidos.

A questão politica da SIDA é farmacêutica. Os novos anti-virais que permitem alguma qualidade de vida com o HIV são patenteados pela indústria farmacêutica do primeiro mundo. O custo de aquisição destas drogas, que são uma doação à vida, é proibitivo para a maioria das populações não-ocidentais. Para impedir que no desespero os direitos de patente sejam violados, os EUA e a UE vêem-se forçados a “ajudar”, ofertando umas esmolas químicas para manter o respeito pelas regras da propriedade intelectual. Esta é uma “ajuda” com um motivo económico, mas também tem regras morais.

A caridade da mais poderosa nação do mundo não se distribui sem condições. A Casa Branca de braço armado de Wall Street torna-se braço armado do Evangelismo. Porque é com “boas obras” que se abrem as portas do céu, só boa conduta moral se premeia com o direito a vida. Os EUA só oferecem os seus anti-virais gratuitamente para países que se comprometam a não as usar em “sex workers.” Aos bons cristãos do Bible Belt Americano não lhes fere a moral que estes morram sem apelo. Eis uma verdade tanta vezes esquecida: nem todos são iguais aos olhos do Senhor.

04 dezembro 2005

 

Epá, isso é que não!


Na Primavera de 2001, a administração dos EUA tornou público que desaprovava a política do Presidente Venezuelano, Hugo Chavez. Em Setembro desse ano uma equipa de filmagem partiu para Caracas para conhecer a nova adição à lista dos “enemies of the free world” – ou nas palavras do porta-voz da Casa Branca aqueles que “don’t have the best interests of the United States at heart.” Inesperadamente as câmaras documentaram o fazer e desfazer de um golpe de Estado.

Em 11 de Abril de 2002, com o aval da Casa Branca e a coberto do boato que os apoiantes de Chavez disparavam sobre uma manifestação oposicionista, altas patentes militares e líderes do patronato tomaram o poder. Dois dias depois, uma multidão fez do seu fim-de-semana uma festa política. Os populares cercaram o Palácio Presidencial e a guarda militar em solidariedade amotinou-se, aprisionando o governo golpista e repondo o poder em mãos chavistas. O golpe das elites foi deposto pelo golpe das classes trabalhadoras de Caracas. Neste triunfo, Hugo Chavez anunciou sem manifestos uma nova política para a América latina.

A revolução de Simon de Bolívar libertou a América do Sul da administração colonial. A “revolucao bolivarista” de Chavez, clama pela soberania económica dos povos Americanos. O movimento que Chavez encabeça pede além de uma independência formal, o direito de colher os benefícios da riqueza nacional e de os distribuir justamente. No tempo presente, esta ideia é subversiva. A doutrina que instaurou-se no lugar do colonialismo (chamemos-lhe liberalismo ou neo-colonialismo), considera os cidadãos de um Estado como meros inquilinos na casa da burguesia. Tudo deve ser sujeito a preço e transacção, e ao titular do bem cabem todos os direitos, todos os benefícios. Àqueles sem propriedade cabe a penosa luta de sobreviver, a todo o momento comprando a sua existência com suor e sangue. É esta ditadura do proprietário que Chavez ofendeu.

As rendas dos recursos petrolíferos venezuelanos, a 4ª maior reserva do mundo, são hoje canalizadas para programas sociais, que dão pela primeira vez a 80% da população direito à educação, a uma reforma agrária, e ao micro-crédito. Chavez não oferece um programa socialista de nacionalização e de planificação produtiva, antes almeja a uma social democracia, aquilo que na Europa tem (tinha) como direito adquirido. Mas pelo caminho, Chavez vai fazendo muito mais. A sua “revolução bolivarista” educa politicamente aqueles que antes não tinham voz, com consciência da sua posição de classe e do seu imenso poder. Essas são lições perigosas que saltam fronteiras e mares e que não são no “best interest” do império…

01 dezembro 2005

 

Do choque ao plano


Campanhas eleitorais são fáceis de esquecer, sobretudo, quando se é um mero espectador do circo eleitoral – tão rico em malabaristas, palhaços e bestas. Da última campanha recordo-me, já em contornos sumidos, da promessa de um “choque tecnológico.” Na altura a ideia divertiu-me porque simbolizava o amadorismo dos nossos políticos. Eis o previsto partido do poder, eis a sua principal ideia programática, e de todas as possíveis descrições escolhem “choque.” O PS prometi-nos assim um embate, uma súbita alteração, um golpe violento sobre o pais – que sinceridade!

Meses passados e deu-se uma correcção no marketing. Não se trata de um “choque” mas antes de um “plano tecnológico.” Antes de existir, o plano já tinha site, e prometia-se: “acção para levar à prática um conjunto articulado de políticas que visam estimular a criação, difusão, absorção e uso do conhecimento, como alavanca para transformar Portugal numa economia dinâmica e capaz de se afirmar na economia global.” Fomos assim de “choque” para “alavanca,” que sempre é melhor como imagem, já que nos eleva para o topo da economia mundial.

Agora, finalmente, a longa espera pelo plano - de que tanto se falava mas pouco se dizia – terminou. O primeiro-ministro divulgou com orgulho uma volumosa colecção de documentos de trabalho que pretendem concretizar a nova estratégia. Para quem tem a paciência de ler (e eu tive alguma) é difícil encontrar o plano no “plano.” Os documentos de trabalho lêem-se como introduções a cadeiras de mestrado em economia industrial e da inovação (agradecimentos ao departamento de economia do ISEG), engalanadas com muitas e muitas tabelas, coloridos, variados e complicados esquemas. De sonora convicção não há falta, com frases bonitas e heróicas como: “vencer o atraso científico e tecnológico”, o “desafio dos recursos humanos”, “imprimir novo impulso à inovação.”

Este não é ainda um plano. A grande ideia dos documentos e dos académicos é: criar e reforçar “redes de transmissão tecnológica e da inovação.” Do diagnóstico não se segue acção, não se anunciam mecanismos de comando ou de controlo. O que se projecta é mais uma série de mecanismos de crédito para insuflar pequenas e médias empresas, que prontamente se autodestroem deixando um rico patrão e uma mão cheia de jovens desempregados. Entretanto o orçamento de estado para o ensino superior e para a investigação vai bem cortadinho este ano porque “o combate contra o défice” é mais importante.

Sócrates é um gestor de terceira categoria a dar poses de sábio timoneiro, que inventa campanhas cosméticas para adiar o inevitável reconhecimento da sua nulidade. O “choque-plano” é uma diversão que se tiver efeitos reais será o de rechear bolsos em fatos Armani. E assim se vai fingindo que Portugal tem uma política de desenvolvimento económico.



   

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