28 setembro 2006

 

Todas as razões



YO HE ABORTADO

Yo he abortado y siento alivio.
Yo he abortado porque no deseo más hijos.
Yo he abortado porque mi embarazo fue forzado.
Yo he abortado porque estoy sola y no tengo recursos.
Yo he abortado porque tengo 15 años y aún no quiero ser madre.
Yo he abortado porque me violaron. No quiero un hijo de un violador.
Yo he abortado porque no tuve acceso a métodos anticonceptivos.
Yo he abortado porque el condón se rompió.
Yo he abortado porque me negaron la anticoncepción de emergencia.
Yo he abortado porque el embarazo ponía en riesgo mi vida.
Yo he abortado porque mi hijo venía gravemente enfermo.
Yo he abortado porque en mi trabajo me podían despedir.
Yo he abortado y en el hospital me denunciaron.
Yo he abortado con mis hermanas, mis hijas, mis amigas.
Yo he abortado sola, con miedo y a escondidas.
Yo he abortado con mi pareja, y yo he abortado sin ella.
Yo he abortado en cuartos oscuros, sórdidos, donde las palabras no cuentan, y los dolores se callan.
Yo he abortado entre sábanas blancas y paredes impolutas, pero donde las palabras tampoco cuentan, y los dolores también se callan.
Yo he abortado porque la maternidad no está en mi camino.
Yo he abortado porque fue mi decisión.
Yo he abortado porque es mi derecho.

27 setembro 2006

 

Robert Kramer


Kramer foi um revolucionário americano que dedicou parte da sua vida a Portugal. O seu “Cenas de Luta de Classes em Portugal” (em conjunto com outro autor) é um dos marcos na filmografia sobre o PREC em Portugal. Acompanhando a evolução política do PREC em Portugal, o documentário só peca por falar apenas na esquerda em geral, optando por não evocar as inúmeras divergências de então.

Abarcando algumas das mais importantes movimentações em Portugal no período, especialmente no espaço urbano. Regista a questão do direito à habitação ou a questão dos tribunais populares em que as pessoas não se subjugavam à justiça dos fortes. O especial destaque vai para uma mulher, envelhecida pela vida dura que sempre teve, que o maior desejo era que os seus filhos não passassem pelas mesmas agruras. Kramer acompanha-a ao longo do PREC. No início, a militância, o entusiasmo e a esperança leva-a a muitas actividades para lutar pelos seus direitos. À medida que a correlação de forças se vai invertendo e as pressões para a normalização se acentuam, a esperança vai desvanecendo e é forçada a preocupar-se com as questões “práticas” da vida.

Kramer ficou inevitavelmente ligado a Portugal. No documentário “Um outro país” de Serge Treffaut, presta algumas das declarações mais comprometidas com as aspirações do PREC. Refere que então Portugal aparece na sucessão de uma série de países onde as atenções mundiais estavam viradas: Vietname, Chile, Portugal. Justifica a sua vinda pela revolução em acção e pelo desejo de participar nessa mudança. Acrescenta ainda que o a sua participação tem (diria eu naturalmente) bastante de egoísta por não querer viver num mundo como este: ele queria mudar o mundo também por ele. Perante a acusação que no período 1974-75 o país desbaratou as “riquezas acumuladas”, Kramer considera que, para um pais que se reinventava tentando concretizar sonhos novos e antigos, terá sido uma boa forma de gastar o dinheiro. Reflecte também sobre o consumismo que apodreceu a sociedade norte-americana, sendo interessante também questionarmos o que também tem feito com Portugal.

24 setembro 2006

 

Os “democratas” mentirosos


As mentiras voltaram a fazer vítimas. Desta vez, foi o primeiro-ministro húngaro apanhado em declarações compremetedoras, reconhecendo tendo mentido aos húngaros durante dois anos sobre a situação económica para ganhar as eleições. Aos protestos, alguns dos quais violentos, acusam de ser perpretados pela extrema-direita e hooligans. Não há nada como denegrir os outros para tentar esvaziar as acusações verdadeiras que lhes são feitas. Infelizmente, nas exemplares democracias ocidentais exemplos como estes não faltam.

Nos Estados Unidos da América, George Bush mente com quantos dentes tem e não tem. De torturas, raptos a massacres, exemplos abundam. Colin Powell foi apresentar provas falsas à ONU, enquanto Bill Clinton bombardeava países para desviar atenções de um bobó que lhe fizeram. No farol do ocidente, os exemplos são muitos e estendem-se aos diversos (dois) partidos políticos e ao longo das décadas.

Na Europa, Tony “Bliar” Blair inventou um novo conceito de crápula. Perante lágrimas humanitárias e de coração bondoso, inventa provas da posse de armas de destruição maciça pelo Iraque e envolve o povo inglês numa guerra que não queria. Aznar viu e asseverou da credibilidade das provas falsas e fez a Espanha apoiar a invasão do Iraque, apesar de uma das mais fortes, senão mesmo a mais forte, oposição à guerra. Ambos os governos atiram os respectivos povos para a linha da frente, dando a desculpa para os posteriores ataques da Al-Qaeda. Aznar mentiu uma vez mais e tentou atribuir os ataques à ETA. Foi punido numa reacção impressionante do povo espanhol.

Cá por Portugal também temos um historial longo. Do nosso então Durão Barroso, agora vulgo José Manuel Barroso, não só nos garantiu a veracidade das ditas provas das armas de destruição maciça como fechou os olhos aos voos da CIA e ao uso das Lajes para razões bélicas. Enquanto Santana Lopes dispensa comentários, José Sócrates merece alguns. Ao ser eleito finge-se surpreendido com a situação do país, o que o faz esquecer as promessas eleitorais. Empreende um enorme pacote de reformas que na campanha nunca tinham sido referidas e muito menos o seu teor. Enquanto isto, nas presidenciais os dois maiores responsáveis pela história recente de Portugal o mudo Cavaco e o enérgico Soares degladiavam-se, não referindo também as suas mentiras: do oásis às conspirações com a CIA e Carlucci.

Cada vez é mais importante denunciar estes mentirosos. Habituados a mentir e a raramente serem punidos por tal, estes democratas manipulam-nos, garantindo o poder de alguns e o cacete a todos os outros. Mas de vez em quando a história prega partidas e alguns deles são apanhados. Façamo-la um hábito!

 

Um outro país nos ‘Docs da revolução’


Venho recomendar “Um outro país” de Serge Treffaut, exibido no ciclo ‘Docs da revolução’ no novo espaço Os bacalhoeiros. Este documentário é um importante complemento na cinematografia do tema, ao apresentar uma síntese das mais importantes obras sobre o PREC e ao entrevistar vários dos realizadores e fotógrafos que se deslocaram na altura a Portugal. Como o realizador explicou, a sua concretização resultou duma inviabilização de uma exposição sobre o tema devido ao desinteresse e questiúnculas levantadas por diversas forças políticas.

A alegria da época é não só constantemente referida como demonstrada pelas imagens. Sebastião Salgado e a mulher relatam a transformação presenciada aquando das suas passagens por Portugal do lúgubre ano de 1969 para 1974-75. A esperança de Custódia, envolvida na reforma agrária, e de muitos num mundo melhor é algo que hoje dificilmente reconheceríamos. Uma fotógrafa francesa resumia a subversão da autoridade tradicional na imagem de um soldado com a camisa desabotoada a arrastar a sua espingarda. Também registada fica o outro mundo onde nada se passava, na ditadura, durante o PREC e com o actual regime. Menos atenção foi dada à organização da reacção culminada no 25 de Novembro (ver aqui e aqui).

Portugal estava agora no centro do mundo. Militantes de esquerda afluíam a Portugal para ver a revolução em acção, de americanos como Kramer, mas essencialmente europeus. Da França, Alemanha e Suécia vieram vários, como de muitos outros. Queriam participar e aprender na oportunidade de recomeçar de um povo. Muitos acabaram por documentar as suas experiências sem o terem planeado.

Mas os protagonistas eram os portugueses. Cansados de décadas de opressão, miséria e desigualdade as pessoas saíam às ruas, exigiam e conquistavam direitos, construíam alternativas e sonhavam. Muitos organizaram-se, para resolver as questões da habitação (ocupações e construções de novas casas pelos próprios), agricultura (ocupações de terras), produção e outros. Os militares (constituídos pelos ‘filhos do povo’) eram parte activa do processo em acções de dinamização cultural, cívica e educativa. O próprio Estado organizava-se para fornecer alternativas como os SAAL para a habitação, as nacionalizações, entre outros.

Mas um dia acabou “E o mês de Novembro se vingou” (de “Eu vim de longe,…”, Zé Mário Branco). Sebastião Salgado refere como encontrou as pessoas numa sua visita em 1976: as pessoas tinham perdido aquela vivacidade, aquele brilho da alegria. Nós acrescentaríamos que os soldados voltaram para os quartéis, os “de baixo” (como diria o Brecht) para os postos de trabalho e as decisões para os gabinetes. O poder já não estava nas ruas.

Muitos destes documentalistas foram às suas vidas. Dois militantes da LCI recusam-se a voltar os antigos lugares de combate em Portugal, pois recusam-se a ser ex-combatentes. A fotógrafa francesa evoluiu para a moda, enquanto outros mantêm algumas relações afectuosas com Portugal ou alguns portugueses. Muitos portugueses viveram então os seus dias mais felizes. Por minha parte, tenho pena de nunca ter tido a oportunidade de conhecer esse outro país.

21 setembro 2006

 

Volver (2006)


Um frenesim de gestos femininos, decididos e económicos. Uma legião de mulheres que escova as lápides de um cemitério num exercício que é menos de emoção que de trabalho. Sabemos de seguida que na aldeia deste cemitério os homens morrem cedo. Almodôvar encena em Volver um mundo de mulheres, viúvas de abandono ou morte.

O feminino não é o negativo do masculino, e estas mulheres não são prisioneiras dos ausentes pais e maridos (neste filme não há filhos). Os homens que vão episodicamente invadindo este enredo são incestuosos violadores, para serem pelo espectador sumariamente condenados. Assim, para estas mulheres o ser masculino é jamais objecto de desejo, se tanto nutre-se por este um misto de ódio e pena. Sobretudo, o homem é ausência e indiferença.

Almodôvar não pretende explicar porque os homens não têm lugar neste espaço de mulheres. Será que todo o desejo masculino conduz ao estupro? Será que é porque os homens não tentam visitar o mundo feminino, preferindo manter uma simétrica independência? Ou será porque as mulheres os excluem, só se servindo deles por pragmática necessidade?

A questão do “feminino” e como se constitui, com ou sem o “masculino”, incita a reflexão, mas não é o melhor comentário que se pode fazer a este filme. O grande mérito de Volver está no retrato afectivo que oferece desta tribo de Amazonas. Estas mulheres nutrem uma solidária ternura entre si, oferecendo-se umas às outras sem reservas ou maquinação. Esta sólida união vence a avalanche de desafios que lhes caiem sobre o colo. O restaurante que é erguido da penúria com trabalho e solidariedade. A mãe que se sacrifica (“morrendo”) como enfermeira primeiro para uma irmã, depois para uma vizinha. Esta é uma união que rompe os mal entendidos e os segredos que o tempo vai depositando. Estas são mulheres que assassinam por justiça e em que não lhes pesa fardo da culpa.

São elas uma enorme vontade que irradia em sorrisos e lágrimas: “The sisterhood is powerful.”

 

Omissões


Em Outubro de 2005 ardeu parte do centro de detenção de imigrantes ilegais do aeroporto de Schiphol, em Amesterdão. Onze imigrantes ilegais viram-se encurralados nas chamas e morreram.

O inquérito levado a cabo pelas autoridades holandesas concluiu que houve falhas na aplicação de regras de segurança relativas a incêndios. Concluiu ainda que o Ministério da Justiça tinha falhado ao não dar o treino adequado aos seus funcionários nesta matéria e que o Ministério da Habitação não tinha avaliado correctamente o edifício. Ambos os ministros se demitiram.

Até aqui esta seria a reacção que se esperaria dada a situação e as suspeitas que recaem sobre os dois ministérios e os seus dirigentes máximos.

Mas há algo de errado em tanta perfeição. A Holanda também tem os seus esqueletos no armário. Na altura do incêndio, houve vários relatos por parte dos imigrantes e outros detidos que referiram a indiferença dos guardas aos seus gritos de ajuda e a sua resposta lenta quando se aperceberam que havia mesmo qualquer coisa de errado.

Mas no inquérito, a julgar pelas notícias, não se fala em nada disso.

16 setembro 2006

 

Simon says... creationism


Finalmente, já chegou... a direita portuguesa inicia o seu namoro ao criacionismo. Demorou um certo tempo mas é inevitável, os piores exemplos que a América dá tornam-se moda por estas bandas.

15 setembro 2006

 

Joana não come a papa



O papa deu a papa dele ao mundo.

A papa que foi dada pelo papa ao mundo baseou-se no comportamento de algumas Joanas.

As Joanas deste mundo não gostaram.

As Joanas (e também algumas não-Joanas) sabem que não foram só algumas Joanas a ter esse comportamento ao longo da história.

As não-Joanas, onde se inclui o papa e a papa que ele representa, também o fizeram.

As Joanas (e também algumas não-Joanas) recusam-se a comer a papa do papa.

 

Mais sombra que sol


Ainda não saiu, mas já se viu tudo. Até o nome é de tabloid. O novo jornal Sol, patrocinado pelo BCP (o padrinho Balsemão desta vez cortou-se) promete encher as bancas aos sábados com mais cretinices de direita e páginas cor-de-rosa, como se as que já existem não chegassem.

Nos anúncios é só personalidades de direita, desde José Hermano Saraiva (o tio do director) até ao Sócrates, passando pelo Marcelo Rebelo de Sousa, ao lado de adjectivos tão falsos como rigor, vivo, luminoso e combativo. Ontem Zezinho Saraiva deu uma entrevista à RTP. Chamou de originalidade aquilo que me deixou perplexa – ter uma secção de entrevistas a pessoas famosas sobre um tema que nada tem a ver com a sua área de interesse ou especialização. Não só isto não tem nada de original – é o que mais se vê por aí – como, pergunto eu, qual é o interesse disto? A mim parece-me mais uma promoção descarada da ignorância. Outras partes do jornal que parecem ser mais interessantes, como entrevistas a presos que estão a cumprir pena, vão ser seguidas das secções de etiqueta, animais e moda.

Não esqueçamos que o director José António Saraiva foi aquele que disse que escrevia para receber o Nobel da Literatura, porque no fundo o que o move não é escrever melhor nem informar, é a ânsia de receber prémios.

 

Cuba by Korda


Lançado hoje, um interessante livro sobre a Revolução Cubana, pelo autor da fotografia mais copiada do mundo.

06 setembro 2006

 

O fisco e a utilidade do futebol


Ora então, a Liga não tem de pagar as dívidas que tem ao fisco. Pergunto apenas: se são ilibados porque o pagamento inviabiliza a organização do sacrossanto campeonato de futebol, o que é que impede a Liga de utilizar repetidamente este mecanismo, e nunca mais pagar impostos na vida? O brio dos seus dirigentes? Não me parece...

05 setembro 2006

 

Pequeno aparte


Sobre o pedido de demissão de Carlos Sousa pelo PCP não tenho muita informação sobre o assunto e pelo qual não me atrevo a fazer grandes considerações. No entanto, parece-me que o PCP deveria ter gerido melhor a situação entre si e Carlos de Sousa, mas também explicar a decisão aos Setubalenses. Se muito crápula aproveitou para fazer demagogia, ouve outros sinceramente incomodados com a questão.

Apesar de críticas de gente esquerda, também não alinhadas com o BE, a comportamentos menos correctos da actual maioria, seria importante que os Setubalenses continuassem a manter a CDU como força maioritária. Mais importante, seria que esta aproveitasse estas oportunidades para fazer coisas verdeiramente transformadoras e não simplesmente para serem autarcas mais “eficientes”. Especialmente quando o termo de comparação é tão rasteiro.

 

Afiam-se as facas em Setúbal


Em Setúbal o IGAT acusa a Câmara de comportamento incorrecto pela aposentação compulsiva de funcionários. Este mecanismo terá sido usado de forma a viabilizar uma Câmara exangue de vários mandatos socialistas dos quais destaco os últimos por Mata Cáceres.

Esta acção identifica o carácter o polvo que garante a continuação do status quo em Portugal (não, não estou a citar o Luis Filipe Vieira). A geração partidária de Abril, ou melhor, de Novembro, substituiu os cães de guarda do fascismo por uns mais “democratas”. Quer usando-se legalismos (das finanças ou às votações dentro dos partidos, perseguições judiciais a organizações e pessoas,...), seriedade, profissionalismo e “bom-senso” (media, comentadores,...) ou mesmo o humor (tendencioso do Contra-informação e Inimigo Público na forma de representar a Esquerda). No entanto, continuam a ladrar e a morder conforme lhes mandam e garantindo a ordem “natural” das coisas.

A actuação do IGAT em Setúbal num país pejado de corrupção (alta e pequena, gorda e magra), em que das autarquias há relatos permanentes de luvas, compadrios e favorecimentos é escandalosa. Ainda mais escandalosa quando não se investiga quando o PS estava na Câmara, o qual qualquer anónimo Setubalense pode enumerar alguns do rol de crimes então cometidos. Tal só se explica por ordens superiores para tentar travar o avanço da CDU na margem sul do Tejo (e a Norte do Sado). Quer PS, quer PSD não veêm com bons olhos esta concorrência.

Na imprensa e na televisão, comentários não faltaram a esta situação. Sob a capa de democratas, alguns discípulos dos mandantes apressam-se a condenar, a acirrar os ódios contra os “anti-democratas comunistas” que só não comem criancinhas porque certamente se lhes acabou o alka seltzer. Uma das críticas mais frequentes foi de que teria de haver eleições antecipadas pois nas eleições escolhem-se caras. Mudando a cara teria de haver eleições. Para estes democratas as eleições de governantes tornaram-se em simples concursos de beleza em que se votam caras e personalidades e assinam-se cheques em branco.

No entanto, nem uma palavra para quando os partidos não cumprem as promessas. Alguém faz ideia de quantos políticos, a nível autárquico, nacional ou europeu têm sistematicamente mentido, rompido com promessas feitas e gozado com as nossas caras? Para esses também não teria de haver também eleições?

04 setembro 2006

 

Quem é o chefe?


No tempo de Salazar todos os manuais tinham determinadas frases obrigatórias umas das quais era a seguinte: "Na família o chefe é o pai; na escola o chefe é o professor, no Estado o chefe é o Governo."

No Portugal de hoje acrescentaríamos: "Em Portugal e no PS o chefe é o Sócrates..."

 

Invencíveis ou talvez não


No basquetebol não entram aviões, porta-aviões, bombas inteligentes ou bombas atómicas e os Estados Unidos da América perdeu. Já não há Dream Teams nem mesmo no basquetebol...

01 setembro 2006

 

A dureza dos números


No seguimento da longa e interessante discussão que se vem tendo num texto anterior sobre a Cuba de Fidel, e porque a argumentação intuitiva não é política, essa tem de se basear em factos, ficam algumas estatísticas para contrariar os argumentos:

"Existe um problema muito mais profundo, que é a visão igualitária do regime comunista, onde não há um estímulo ao progresso individual e, como consequência, não há progresso colectivo."

ou então:

"O regime actual, foi implantado a custo de muito sofrimento e que não trouxe melhorias para os cubanos. Antes, Cuba era conhecida como a "pérola das antilhas", uma das economias mais fortes da América Latina. Abusos, obviamente que haviam, mas muito menores do que os de hoje, aos quais muitos fecham os olhos..."

Ora, se fizermos uma busca rápida pelos dados disponíveis sobre Cuba, e se pegarmos, por exemplo, no Indíce de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas e fizermos uma pequena comparação entre os dados de Cuba, na posição 52 do IDH e o México, na posição 53, chegamos a algumas conclusões interessantes, sobretudo se pensarmos que são dois países da América Latina, um desmesuradamente maior que o outro, ambos terrivelmente atrasados no período após a II Guerra Mundial (só para estabelecer um período de comparação), um com uma economia capitalista fortemente apoiada pelo gigante EUA, e outro com um modelo socialista com um embargo há décadas (que se fosse assim tão irrisório, seria de questionar porque é que a ONU aprovou a resolução A/RES/47/19 em 1992, apelando ao levantamento do embargo, e o tem reafirmado todos os anos desde então).

O problema destas discussões é admitir que o modelo cubano até funciona. Não tem a mesma eficiência do capitalismo na criação de riqueza, mas tem a capacidade de criação de igualdade, que o capitalismo não tem.
Dizer que os cubanos estavam melhor com Batista do que com Castro é dar um tiro no pé e perder a credibilidade argumentativa. É atirar areia para os olhos, que a dureza dos números rapidamente limpa. Cuba desenvolve-se, e a opção, que só os cubanos podem validar, de prescindir de algumas liberdades individuais em prol do progresso colectivo e igualitário (progresso que se pode dar em colectivo, Cuba é a prova; no entanto nunca foi provado esse dogma da mão invisível - pelo contrário, os dados estão a negá-lo), é a grande questão política desta fase de transição do poder em Cuba. E o que pode custar a admitir ao Ocidente é que os Cubanos possam preferir manter o sistema, apesar do resto do mundo...

E vejamos então quem é que tem uma "visão é puramente ideológica" e quem é que quer "adaptar a realidade ao teu modo de pensar". Dados, vamos a eles.



   

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