02 março 2006
Roubaram a carteira ao Big Brother
Tímido confesso um juvenil fascínio pela aventura criminosa. Interessam-me os crimes, os seus géneros, famílias, ordens, classes, filos, reinos, com que faço distinções. O assalto à mão armada, o roubo de puxão, a burla a idosos fazem parte de uma classe de terror que não me agrada. Estes são participantes numa guerra civil dos pobres contra os pobres, em que se acordou que se agridam entre si enquanto as elites vivem protegidas e confortáveis. Refém desta guerra civil, o criminoso é tantas vezes um miserável a que se deve uma culpa circunstancial e desesperada, e que na lógica da incessante agressão tem que ser exemplarmente punido.
Noutro reino ou pelo menos noutro filo, estão os roubos épicos. Quando alguém foge com 53 milhões de libras (equivalente a 78 milhões de euros) sinto uma nervosa vontade de aplaudir. Ninguém foi morto ou ferido, embora o gerente do depósito da Securitas e a sua família tenham que lidar com o trauma dos eventos da noite, que começou com o seu sequestro. Quem ficou a sangrar foi a companhia de seguros e a empresa Securitas.
Aos olhos do meu romântico aventurismo, há algum valor simbólico num roubo que humilha uma das grandes empresas da vigilância, Securitas. Dos criminosos, na era do Big Brother, perdeu-se o rasto. Ninguém sabe quem são, nem onde estão. Não nos ensina este roubo que não estamos ainda esmagados pelos olhares policiais, pelo menos não com o totalitarismo que nos querem vender? Ainda é possível iludir a autoridade, e o movimento sem vigilância!
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