30 maio 2006

 

Enfiar o barrete


Portugal é um pais de “eventos”. O vício vem da Expo 98 e fixou-se bem. Seguiu-se o Euro 04 e o Rock in Rio (este último que nega o sono a alguns bitocantes). O germe desta dependencia é, numa leitura bem abstracta: o desejo de combater a pequenez nacional, hospedando acontecimentos de alegada projecção internacional. Após décadas de teimosa insistência de empresários e políticos, finalmente os portugueses se resignaram à sua “vocação turística”. Se o mundo exterior está cada vez mais próximo dos portugueses, e em igual medida cada vez mais distante, porque se impõe todo-poderoso, alienado e em horário de verão. A quimera de que Portugal pode contribuir para a direcção do mundo desmorona com grande estrondo.

É o desespero pelo evento e pela atenção internacional que motiva a recente febre nacional por recordes do Guinness. Sempre atentos e parasíticos a estas tendências, a Federação Portuguesa de Futebol, a SIC e o grupo Espírito Santo encenaram uma manifestação de massas com motivos nacionalistas – “a mais bela bandeira do mundo”. A bandeira seria naturalmente feita de mulheres, e ninguém se atreveu a duvidar que assim o exige a regra da beleza. Os homens querem-se feios, porcos e maus, indignos para a pose e para a contemplação. O homem é portanto ser de acção, para a mulher ser de fotogenia e quietismo.

Na sua generosidade colectivista, ou talvez para combater a monotonia, milhares de mulheres compareceram no Jamor para desenhar com os corpos (e barretes) a bandeira lusa. E a pátria retribuiu. Os testemunhos de algumas participantes são de um caos organizativo que desprezou as festivas intenções de quem compareceu. As participantes foram castigadas com uma longa espera de horas ao sol. Brindes eram atirados em estilo de circo romano para o meio da multidão, que entretanto lutava pelos nadas que lhe era dado (ou como uma participante notou como amendoins atirados para a aldeia dos macacos). Sem comida e só com o refresco da ocasional mangueirada, houve quem desmaiasse. Na TV, o organizador SIC em exclusiva reportagem, passava a falsa imagem de uma serena e eficiente execução, entre os apelos dos bombeiros que apelidavam o espectáculo de “catástrofe”.

É esta a lógica do “evento”. As pessoas feitas em pedaços de carne para abuso do regozijo nacional. E querem continuar… Propõe o site que as portuguesas facam promessas em “apoio à selecção”, para mostrar “amor à camisola”. É uma ida a Fátima em versão web.

Em resposta unissexo: bardamerda para a camisola (e para o barrete)!

Comments:
os barretes, é isso! enfiaram-lhes os barretes.....
Que gente tão pobre....quem diria que aqui haviamos de chegar...
 
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