15 maio 2006
Quem sufoca quem?
Na era dos hidrocarbonetos caros torna-se respeitável (porque financeiramente sensato) questionar o “modelo energético”. O furacão Katrina, que arrasou uma cidade do clube dos ricos, foi portanto pela primeira vez interpretado como consequência do aquecimento antropogénico do planeta. O habitual gemido de dúvidas negando o aquecimento global deu lugar aos panicos dos políticos – “é urgente agir!” No Primeiro Mundo a estratégia é privatizar a atmosfera. O fulcro do debate é um sistema de “licenças para poluir” que podem ser transaccionadas entre empresas. Empresas que disponham de tecnologia limpa (mais cara) poderão financiar-se com a venda das licenças de poluição a empresas de tecnologia suja, que pagam este custo acrescido para manter a sua tecnologia inalterada. Em complemento cozinha-se um cocktail de diferentes tecnologias para a produção de energia doméstica, entre as quais reemerge o nuclear. Com memória nos anos 70, quer-se evitar “choques energéticos” (só o Sócrates de Portugal é adepto de choques). Sem mudanças súbitas, as petroliferas dispõem de mais umas décadas de lucro, enquanto se incentiva o colectivo industrial a antecipar o concorrente, a explorar novas alternativas energéticas.
O Primeiro Mundo, que descobre a ecologia com 30 anos de atraso, quer também legislar sobre as economias emergentes do longínquo Oriente. Numa contradição característica do capitalismo, os ricos fomentam o crescimento do Oriente porque recebem retornos milionários aos seus investimentos, mas querem igualmente, conter a promoção destas economias a superpotências que ponham em causa a hegemonia geo-económica do Norte. São muitos os que se queixam que a China em cada cinco dias constrói uma central eléctrica de 1GW – creio que o equivalente à termoeléctrica de Sines. Hipocritamente, grita-se alerta! ao “perigo” que o crescimento económico chines representa para o planeta. Nesta denúncia falta sentido de proporção e de história. Ainda que a China cresça a um ritmo sem precedentes, o consumo de carbono per capita fica abaixo de uma tonelada, contra três toneladas por cada europeu e cinco toneladas por cada norte-americano. O CO2 que na atmosfera nos vai servindo de estufa é um fenomeno acumulado de centenas de anos. Recentemente foram publicadas estimativas sobre os valores de CO2 conducentes a um aumento de temperatura do globo em dois graus centígrados, que terá efeitos climáticos quase catastróficos. O mesmo estudo notava que metade desse CO2 já está na atmosfera expelido pelas chaminés do Norte e das suas revoluções industriais. Isso sim é caso para alarme!
Comments:
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já há muita empresa ocidental a fazer dinheiro à custa da requalificação ambiental da China, ligada ou não aos mecanismos do protocolo de quioto.
é mais uma galinha dos ovos de ouro...
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é mais uma galinha dos ovos de ouro...
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