17 maio 2006

 

Walter Benjamin


Nas últimas semanas tenho insistido em ler as teses históricas do filósofo alemão Walter Benjamin. As poucas páginas que li, revi-as várias vezes, em duas traduções, frase a frase, palavra a palavra, co-adjuvado pelo “Walter Benjamin for Beginners”. No final, a confusão ou indefinição venceu.

Para exorcizar esta frustração quero ao menos descrever a impressão que Benjamin me deixou – Benjamin é um jogo de Legos. Em miúdo recebi umas tantas vezes jogos de Legos: carros, aviões, casas; que com fascínio desmontava para construir novos objectos imprevisíveis e não formulados. Inevitavelmente, ao fim do dia, as peças eram depositadas numa caixa onde se misturavam os jogos e de onde misteriosamente algumas desapareciam. Semanas depois já não havia carros ou aviões somente o empilhar das suas partes. Eu lutava para construir algo com esta impossível totalidade de pedaços. Eu persistia na busca de um projecto que desse emprego a todas as peças.

Os textos de Benjamin são como o meu jogo de Legos. Pedaços retirados incompletos de outros conjuntos, que casam incompletamente e desajeitadamente entre si. As construções de sentidos de Benjamin negam uma forma ou totalidade.

Comments:
The Dialectics of Seeing, da Susan Buck-Morss é uma boa forma de te guiares com WB e o grande projecto inacabado das Arcadas. É sobretudo aí que ele tenta fazer sentido de Marx na discussão da estética da mercadorização. Tens razão quanto à forma e estrutura da escrita, e é por isso que conceitos como 'aura' são tão mal-tratados na crítica literária e estética. Mas às vezes os aforismos são mesmo o melhor kit para pensar...De resto, conceitos como 'dialectical image' têm alguma utilidade.

Quanto a negar totalidades, dá para perceber o encanto com que foi recebido na academia 'pós-moderna'.

Abraços,
F
 
Tambem notei que parte do fascinio pos-moderno no Benjamin e' a sua plasticidade, "multi-purpose". Como o meu jogo de legos, da para construir muita coisa e terminar dizendo que mesmo isso o texto permite outras leituras, basta que entremos no texto por outros caminhos.

As inacabadas Arcadas servem um pouco de desculpa, nao? Os de Frankfurt que o conheciam bem e com ele discutiam pelos cafes europeus nao pareciam estar mais iluminados sobre o que o homem dizia do que nos ha' distancia de 7 decadas...

Abraco.
 
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