08 maio 2006
O trabalho esquecido
A história social do movimento operário é mal conhecida. O passado precisa de registo para ser visitado e os historiadores da corte capitalista vêem ignorando tudo o que dê razões à revolta. Temos assim na nossa respeitada elite, muitos profissionais da celebração do vencedor, a inscrever como inevitável e genial o “agora” sobre as alternativas que se esvanecem da memória.
Os historiadores da corte perduram com vastas honras amovíveis - “a ordem das coisas” deve agradecer a Filomena Mónica pela sua gerência da história social Portuguesa. E se hoje nos EUA se faz história de classe sem precedente, este trabalho é ainda lento e parcial. O acto do esquecimento neste país faz-se não só nos livros que não se escrevem mas em destruir as evidências do crime histórico.
Quem visitar Homestead em Pittsburgh encontrara um condomínio privado ostensivo no seu luxo. O que não se percebe a vista desarmada (e a arma é um livro) é que se trata de um luxo sepulcral. Estes belíssimos condóminos foram erigidos para enterrar um monumento à resistência operária. Em 1892, os trabalhadores de Homestead barricaram-se na metalurgia do milionário Carnegie exigindo melhores contractos de trabalho (dado o termo de contractos anteriores). Pela primeira vez na história social Americana, a de que temos registo, operários brancos e negros, sindicalizados e não sindicalizados, actuaram em solidariedade. Em resposta, o patronato contratou um exército mercenário de 300 homens, “detectives”, para combater os ocupas. Durante um dia de batalha, com 3 mortes de mercenários e de 7 trabalhadores, os invasores renderam-se aos proletários. Semanas depois foi a National Guard que surgiu no horizonte em defesa do patronato, muito temida pelos massacres sobre os amotinados de classe. Mas face à determinação da comunidade, os militares recusaram-se a disparar. O trabalho vencia contra o capital! Que terrível memória esta: não só a evidência de uma luta entre classes, mas a vitória do combatente errado.
Comments:
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vendo hoje realidades como a postura laboral da walmart, onde se é despedido apenas por pertencer a um sindicato vemos quanto regrederiam os direitos cívicos nesta américa globalizada e ultramontana...
eu sempre desconfio quando falam em "flexibilização", "modernização", ou o famoso "temos de nos adaptar para fazer face às forças globais".
ainda por cima ouvimos isto outra e outra vez.
trabalho com menos direitos? não, trata-se de uma medida para criar empregos...
trabalho precario? vá, não sejam assim, tem de dar oportunidade aos que estão fora do sistema, não sejam egoistas...
é tudo uma palhaçada. os outros tambem tinham uma placa a dizer: trabalhar liberta.
hoje tens uma a dizer "o patrão salva."
bem vindos à walmartização do mundo.
ainda por cima ouvimos isto outra e outra vez.
trabalho com menos direitos? não, trata-se de uma medida para criar empregos...
trabalho precario? vá, não sejam assim, tem de dar oportunidade aos que estão fora do sistema, não sejam egoistas...
é tudo uma palhaçada. os outros tambem tinham uma placa a dizer: trabalhar liberta.
hoje tens uma a dizer "o patrão salva."
bem vindos à walmartização do mundo.
Em tematica relacionada, saiu um livro sobre a destruicao da memoria pela destruicao arquitectonica.
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