04 dezembro 2005

 

Epá, isso é que não!


Na Primavera de 2001, a administração dos EUA tornou público que desaprovava a política do Presidente Venezuelano, Hugo Chavez. Em Setembro desse ano uma equipa de filmagem partiu para Caracas para conhecer a nova adição à lista dos “enemies of the free world” – ou nas palavras do porta-voz da Casa Branca aqueles que “don’t have the best interests of the United States at heart.” Inesperadamente as câmaras documentaram o fazer e desfazer de um golpe de Estado.

Em 11 de Abril de 2002, com o aval da Casa Branca e a coberto do boato que os apoiantes de Chavez disparavam sobre uma manifestação oposicionista, altas patentes militares e líderes do patronato tomaram o poder. Dois dias depois, uma multidão fez do seu fim-de-semana uma festa política. Os populares cercaram o Palácio Presidencial e a guarda militar em solidariedade amotinou-se, aprisionando o governo golpista e repondo o poder em mãos chavistas. O golpe das elites foi deposto pelo golpe das classes trabalhadoras de Caracas. Neste triunfo, Hugo Chavez anunciou sem manifestos uma nova política para a América latina.

A revolução de Simon de Bolívar libertou a América do Sul da administração colonial. A “revolucao bolivarista” de Chavez, clama pela soberania económica dos povos Americanos. O movimento que Chavez encabeça pede além de uma independência formal, o direito de colher os benefícios da riqueza nacional e de os distribuir justamente. No tempo presente, esta ideia é subversiva. A doutrina que instaurou-se no lugar do colonialismo (chamemos-lhe liberalismo ou neo-colonialismo), considera os cidadãos de um Estado como meros inquilinos na casa da burguesia. Tudo deve ser sujeito a preço e transacção, e ao titular do bem cabem todos os direitos, todos os benefícios. Àqueles sem propriedade cabe a penosa luta de sobreviver, a todo o momento comprando a sua existência com suor e sangue. É esta ditadura do proprietário que Chavez ofendeu.

As rendas dos recursos petrolíferos venezuelanos, a 4ª maior reserva do mundo, são hoje canalizadas para programas sociais, que dão pela primeira vez a 80% da população direito à educação, a uma reforma agrária, e ao micro-crédito. Chavez não oferece um programa socialista de nacionalização e de planificação produtiva, antes almeja a uma social democracia, aquilo que na Europa tem (tinha) como direito adquirido. Mas pelo caminho, Chavez vai fazendo muito mais. A sua “revolução bolivarista” educa politicamente aqueles que antes não tinham voz, com consciência da sua posição de classe e do seu imenso poder. Essas são lições perigosas que saltam fronteiras e mares e que não são no “best interest” do império…

Comments:
Democracia ? Onde ? Na Venezuela ?

> For you to understand what is happening here in Venezuela, just
> > yesterday our automatic voting system, which uses fingerprint
> > automatic facilities, is prepared to know who voted, for whom he
> > voted and so on.
> >
> > So opposition leaders are quiting to go to elections, because what is
> > elections for without any secret at all.
> >
> > Best, Jose

çãçõçéááA.M.
Mora y Leon at Publius Pundit reports the breaking news that all political
parties except for Hugo Chavez' MRV party have withdrawn from the upcoming
December 4th elections because "the electoral setup is utterly tainted. It
lacks transparency, it lacks secrecy and it lacks integrity." There's more
from the AP:

"Under these circumstances, we cannot participate in the electoral
process," Democratic Action Secretary-General Henry Ramos told reporters.
"We propose the suspension of the process next Sunday. We cannot go on
like this."


É isto democracia ?
É isto democracia squeal ?

Isto dos blogs permite fazer leituras que antes pareciam extremamente distantes .
Leituras sobre as pessoas que escrevem , sobre o que elas dizem, e perceber a teia criada por elas . E perceber que afinal estão perto..mas ao mesmo tempo tão atrás...

Afonso Henriques
 
Se a oposicao a Chavez fosse a eleicoes era derrotada no plesbicito!

Com essa derrota desfazia-se a ilusao de que contra Chavez esta' a maioria da populacao venezuelana. Mais vale boicotar, com a razao de uma alegada fraude eleitoral que nem teve oportunidade de se realizar (o crime que antes ser cometido ja o era). E mais uma vez Chavez e' condenado pelo que nao fez, por uma fraude eleitoral que nao aconteceu...
 
A ingenuidade do Afonso Henriques chega a ser infantil. Acreditar textualmente em tudo o que dizem os meios de comunicação sobre a Venezuela, sobretudo depois de se olhar para a história da relação entre os EUA e a América Latina, ou mostra uma inocência infantil, ou mostra uma vontade explícita de enviesar a informação para melhor sustentar uma opinião. Haverá melhor exemplo do que o de Salvador Allende, deposto pela CIA, porque não era do interesse dos EUA? Se as citações tivessem sido identificadas, e fazendo uma rápida pesquisa, seria fácil de ver a ligação dessas agências noticiosas aos interesses americanos. A CNN não fez censura explícita sobre a guerra do Iraque, por encomenda da Administração Bush? Vamos pensar o que é democracia, e não cair numa cegueira infantil de apoio aos EUA.
 
Talvez o Afonso Henriques não saiba ou não se recorde - afinal a idade não perdoa!, mas na Venezuela existe provavelmente a maior diversidade de media anti-governamentais permitida no mundo. Todas as televisões privadas (obviamente controladas pelas elites que sugaram a Venezuela durante décadas e hoje se sentem ameaçadas por Chavez) são anti-chavez e têm feito 100% de trabalho de oposição. O convívio embora difícil foi-se fazendo. Como na maior parte dos outros países nunca aconteceria.

Como diz o anónimo censura é coisa que não falta, por exemplo nos EUA. Aqui tivemos o caso mais sensacionalista do Marcelo, mas as mais graves não se ouvem falar. De todos os tipos de censura a auto-censura é mesmo a pior.


PS - desculpem o argumento da idade, mas fui contaminado pela moda actual. Hoje em dia quem é velho é:
- por um lado torna-se inimputável, sendo desculpado pelos crimes que fez (Pinochet). Já não é inimputável para ter contas na Suiça, etc.
- por outro, deixa de ter credibilidade para poder candidatar-se (Soares), ignorando-se o facto de este ser um dos maiores responsáveis pela actual desgraça do país.
- Por último não merece uma verdadeira protecção. Num país com a histeria da protecção das criancinhas, os velhos são deixados ao abandono (e não me refiro ao candidato presidencial). A acção da Segurança Social vem muitas vezes ainda complicar mais as coisas. Em suma, uma loucura...
 
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