05 dezembro 2005

 

Novo Puritanismo


A SIDA é cada vez mais um padecimento do atraso económico. A pandemia da SIDA é hoje localizada na África e na Ásia com cerca de 35 milhões de doentes, enquanto o primeiro mundo tem cerca de 2 milhões. Espera-se que esta diferença aumente na próxima década com a difusão dos cocktails anti-virais que adiam o progresso da doença e com as campanhas para sexo seguro a favorecer a prevenção nos países desenvolvidos.

A questão politica da SIDA é farmacêutica. Os novos anti-virais que permitem alguma qualidade de vida com o HIV são patenteados pela indústria farmacêutica do primeiro mundo. O custo de aquisição destas drogas, que são uma doação à vida, é proibitivo para a maioria das populações não-ocidentais. Para impedir que no desespero os direitos de patente sejam violados, os EUA e a UE vêem-se forçados a “ajudar”, ofertando umas esmolas químicas para manter o respeito pelas regras da propriedade intelectual. Esta é uma “ajuda” com um motivo económico, mas também tem regras morais.

A caridade da mais poderosa nação do mundo não se distribui sem condições. A Casa Branca de braço armado de Wall Street torna-se braço armado do Evangelismo. Porque é com “boas obras” que se abrem as portas do céu, só boa conduta moral se premeia com o direito a vida. Os EUA só oferecem os seus anti-virais gratuitamente para países que se comprometam a não as usar em “sex workers.” Aos bons cristãos do Bible Belt Americano não lhes fere a moral que estes morram sem apelo. Eis uma verdade tanta vezes esquecida: nem todos são iguais aos olhos do Senhor.

Comments:
Sem tirar nem pôr!

Não é de esquecer também as falsas crenças que se perpetuam pela elite política sul-africana (como a de que a SIDA não existe) e de outros países (como a de que manter relações sexuais com virgens impede o contágio).

Mais, na África do Sul, um dos países mais atingidos pela SIDA, nem o próprio Nelson Mandela - lutador de outras lutas e que vai dando o seu toque nesta questão - foi capaz de admitir em tempo útil que a sua família também foi ela atingida pela doença. Foi preciso que o seu filho morresse de SIDA para que o confessasse.

Se o tivesse feito mais cedo, em tempo de vida do seu filho - se mesmo este o tivesse publicitado - quantos passos não se dariam no sentido do reconhecimento da SIDA como uma doença real, que pode atingir qualquer pessoa?

O silêncio destes senhores mata.
 
Deixa acrescentar que o apoio financeiro dos EUA a ONG's que actuam na área sexual e reprodutiva está condicionado a ques estas não apelem ao aborto. Confesso que não me recordo se há imposições relativamente ao preservativo, mas certamente há preferência por métodos de abstinência.

E que dizer do terrorismo da Igreja Católica sobre a questão do preservativo. Não chegando ordenar aos bons católicos que não o usem, diz ainda que o preservativo não impede o contágio de doenças sexualmente transmissíveis. Segundo a Igreja, os vírus passam pelos poros dos preservativos...

Quem é que mata mais?
Resultado:
Igreja 24 - Bin Laden 1
 
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