09 dezembro 2005

 

Aquecimento global, chuva ácida, CFCs e tabaco


O George C. Marshall Institute foi constituído em 1984 pelo físico Robert Jastrow, para junto da comunidade científica congregar apoio à SDI (Strategic Defense Initative) de Ronald Reagan – popularmente conhecida por “Guerra das Estrelas.” Jastrow acusava a Union of Concerned Scientists que se opunha a proliferação militarista de Reagan, de conivência com os interesses soviéticos e da expansão mundial do comunismo. Eis a guerra-fria em todo o seu esplendor! O debate era público: cartas ao editor e artigos de opinião no Wall Street Journal, New York Times, Washington Post, Business Week e outras revistas de conteúdo económico ou político. O objectivo do Marshall Institute era de negar certificação científica aos argumentos dos académicos que viam a “Guerra das Estrelas” como um perigo para a paz, para o planeta, e para o adequado financiamento da investigação astrofísica.

Finda a guerra-fria, ou pelo menos afastado o papão soviético, o Marshall Institute permanece em funcionamento. A sua nova causa é o aquecimento global, ou antes, questionar as evidências de que um grave aquecimento antropomórfico do planeta está em curso. O instituto defende que nada de anormal se passa e que se algum ajuste tecnológico for necessário, o normal funcionamento dos mercados conduzirá aos necessários ajustes. No Instituto, a Jastrow juntaram-se Frederick Seitz e S. Fred Singer. Em meados dos anos 70, Seitz foi o principal investigador que a soldo das tabaqueiras procurou pôr em causa a associação entre o tabaco e o cancro. Singer foi uma das vozes solitárias mas ferozes que negou que a poluição industrial era a causa da chuva ácida, e que os CFCs estavam na origem do buraco na camada do ozono. E assim, esta clique de extremistas “cold warriors” a servir os “nobres ideais americanos” adiou a resolução destes debates e o legislar em defesa da saúde pública. E no reverso dos lucros das tabaqueiras e indústrias, vidas eram entregues à doença e abriam-se novas feridas no planeta.

A estratégia retórica deste grupo permanece inalterada após mais de trinta anos de actividade e foi exposta na sua genial simplicidade num famoso memorando da tabaqueira Brown and Williamson em 1969: “Doubt is our product…” Num estilo que não é anti-científico o Marshall Institute identifica limitações nos dados e analisa deficiências nos argumentos dos cientistas que criticam o curso da economia e politica Americana. O objectivo é criar dúvida e debate em questões que a comunidade científica já havia dado como assentes.

A guerra-fria não terminou. O projecto capitalista não é total, e combate ainda pela extensão do direito do proprietário para usar e abusar do planeta e dos povos sem restrição. Os oponentes, em várias cores e confusos programas, são aqueles que pagam pelos lucros, aqueles que bebem a água contaminada, que respiram smog, que tem de pedinchar por emprego, que morrem prematuramente. Com os direitos do proprietário nega-se o direito à sobrevivência: o mero sobreviver torna-se uma penosa conquista. Esta luta é o que move a nossa história.



   

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