31 janeiro 2008

 

Os 12 dias que mudaram o mundo


17 de Janeiro de 2008
«Tenho dúvidas que se esteja a salvar o Serviço Nacional de Saúde. Pode acontecer que o serviço público fique só com os coitadinhos».
Ana Jorge à revista Visão

29 de Janeiro de 2008
«Acredito na reforma em curso e no Serviço Nacional de Saúde».
Ana Jorge à Lusa

(Apanhado de arrastão)

 

PROFSEMLUTA - Divulgação


PROFSEMLUTA é um movimento de professores independente de qualquer filiação organizacional (partidária ou sindical) que contesta o Estatuto da Carreira Docente, o novo modelo de gestão escolar e o Decreto Regulamentar da avaliação de desempenho.

Já fez uma primeira reunião no sábado dia 12 de Janeiro nas Caldas da Rainha.

Encontra-se agendada uma segunda reunião, sábado dia 09 de Fevereiro, nesta mesma cidade.

Se concordas com o MANIFESTO divulga-o o mais possível.

Para mais informações usa o seguinte e-mail: profsemluta@hotmail.com

 

PROFSEMLUTA - Manifesto


MANIFESTO

Os professores estão a atravessar o momento mais negro da sua vida profissional desde o 25 de Abril. Com um pacote legislativo concebido em sucessivas fases, começando pelo novo Estatuto da Carreira Docente e culminando com o novo modelo de gestão escolar, passando pelo Decreto Regulamentar da avaliação de desempenho, a actual equipa do Ministério da Educação desferiu um golpe profundo na imagem social dos professores, na sua identidade enquanto grupo profissional e nas condições materiais e simbólicas necessárias para que os mesmos se empenhem na qualidade do ensino.

A um sentimento de enorme frustração soma-se hoje a insegurança quanto ao futuro profissional, uma insegurança decorrente de todos os mecanismos de fragilização da carreira e de instabilidade de emprego que o governo actual tem vindo a introduzir.

Torna-se agora cada vez mais evidente que os professores deste país foram as cobaias de um ataque aos direitos laborais, segundo uma receita de efeitos garantidos: uma campanha inicial de difamação orquestrada com a cumplicidade de uma comunicação social subserviente, que visou justificar, no plano retórico e propagandístico, a redução sistemática de direitos no plano jurídico.

Hoje é também óbvio que este programa teve como objectivo essencial a quebra do estatuto salarial dos professores, que passaram a trabalhar mais pelo mesmo dinheiro, que viram a progressão na carreira arbitrariamente interrompida, e que foram, desse modo, uma das principais fontes drenadas pelo governo para satisfazer a sua obsessão de combate ao défice.

Hostilizados por uma opinião pública intoxicada e impreparada para reconhecer aos docentes a relevância da sua profissão, desprovidos dos meios legais e materiais que lhes permitiriam dignificar o seu trabalho, é com fatalismo, entremeado por uma revolta surda, que os professores deste país encaram hoje o futuro mais próximo.

[+/-] continuar a ler o manifesto

Muitos consideram o Estatuto da Carreira Docente como um facto consumado, procurando adaptar-se-lhe o melhor possível. No entanto, as piores consequências desse Estatuto só agora começarão a revelar-se, e há sinais de que a ofensiva do governo contra os professores e contra a escola pública não chegou ainda ao fim:

• Este ano vai ter início o processo de avaliação do desempenho, pautado pela burocratização extrema, por critérios arbitrários e insuficientemente justificados que poderão abrir a porta para acentuar o clima de divisão e a quebra de solidariedade entre os professores, para «ajustes de contas» adiados, para a perseguição aos profissionais que se desviem da ideologia pedagógica dominante, para a subordinação dos resultados dos alunos à demagogia ministerial do sucesso escolar compulsivo.

• O governo prepara-se para aprovar, sem discussão pública que mereça esse nome, um novo modelo de gestão escolar que se traduz pela redução ainda maior da democracia nos estabelecimentos de ensino, já antecipada ao nível do Estatuto da Carreira Docente, pela diminuição drástica da influência dos professores, atirados para uma posição subalterna nos órgãos directivos, pela sua subordinação a instâncias externas, muitas vezes movidas por interesses opostos ao rigor e à exigência do processo educativo.

• Finalmente, o governo tem também a intenção de suprimir as nomeações definitivas para a grande maioria dos funcionários públicos, iniciativa que terá particular incidência numa classe docente cuja garantia de emprego já está, em muitos casos, consideravelmente ameaçada.

Tudo isto deveria impor, desde já, a mobilização dos professores e o abandono de uma postura de resignação. Não há processos legislativos irreversíveis. Por outro lado, não podemos esperar por uma simples mudança de ciclo eleitoral ou de legislatura para que o ataque à nossa condição profissional seja invertido. Ninguém, a não sermos nós, poderá lutar pelos nossos direitos.

Por tudo isto, e para contrariar a atitude cabisbaixa que impera entre a classe docente, consideramos importante lançar um conjunto de iniciativas, algumas delas faseadas, outras que poderão ser desenvolvidas em paralelo. Assim, propomos:

- apoiar o movimento, que começa a surgir na blogosfera dedicada à nossa profissão, no sentido de se alargar o prazo de discussão do novo modelo de gestão escolar, e organizar nas escolas espaços de debate desse projecto-lei, tendo o cuidado de o situar no quadro mais geral dos constrangimentos legislativos a que hoje se encontra sujeita a nossa actividade profissional;

- promover, nas diferentes escolas e nos agrupamentos de escolas, a discussão sobre as condições de aplicação do Decreto que regulamenta a avaliação de desempenho dos professores, tendo em conta a necessidade de se fixar critérios mínimos de rigor e de justiça nessa avaliação, e considerando que, se a avaliação dos alunos tem sido objecto de muita elucubração teórica, as escolas se preparam para avaliar os docentes sem ponderarem devidamente as dificuldades científicas e deontológicas que semelhante processo suscita;

- encetar um processo de contestação do Estatuto da Carreira Docente nos tribunais portugueses e nas instâncias judiciais europeias, considerando que esse diploma atinge direitos que não são simplesmente corporativos, mas que constituem a base mínima da dignificação de qualquer actividade profissional.

- pressionar os sindicatos para que estes retomem os canais de comunicação com os professores e efectuem um trabalho de proximidade junto destes, o qual passa pela deslocação regular dos seus representantes às escolas a fim de auscultar directamente os professores e de discutir com eles as iniciativas a desenvolver;

- contactar jornalistas e opinion-makers que, em diferentes órgãos de comunicação, tenham mostrado compreensão pelas razões do descontentamento dos professores e apreensão perante o rumo do sistema de ensino em Portugal, no intuito de os incentivar a prosseguirem com a linha crítica das suas intervenções e de lhes fornecer informação sobre o que se passa nas escolas;

- propor políticas educativas que se possam constituir em defesa de uma escola pública de qualidade, que não seja encarada como simples depósito de crianças e de adolescentes e como fábrica de «sucesso escolar» estatístico, políticas capazes de fornecer alternativas para as orientações globais do Ministério da Educação e para as reformas mais gravosas que o mesmo introduziu na nossa profissão.

30 janeiro 2008

 

Parvos


"O primeiro-ministro concluiu que «o Governo português nunca foi consultado sobre essa possibilidade» nem «autorizou» o sobrevoo do espaço aéreo nacional ou aterragem na base das Lajes de aviões transportando prisioneiros.

«Baseamos a nossa política externa nas regras do direito internacional e fico particularmente ofendido com um relatório que pretende colocar Portugal no centro ou na rota da infâmia. Não aceito isso e lamento muito que outros deputados levantem ou procurem incentivar este caminho», acrescentou Sócrates.
" (In TSF)

Devemos ter "parvo" escrito nas testas.

Se não soube foi porque não quis saber. Parece que tinha o direito de verificar o interior dos aviões mas preferiu não o fazer.

Mesmo que não soubesse, parece que quer não saber. Afinal, mesmo depois de se saber da infâmia continua na cama com o criminoso e a dar-lhe toda a confiança. A isso chama-se ser cúmplice da infâmia.

 

É só barretes!



Dia 27
Dia 28

Aqui podem ler uma opinião sobre este assunto.

 

O homem visível


Se os candidatos à presidência americana fossem determinados pelo tempo de antena que recebem (claro que em grande parte são) ficávamos confundidos sobre quem está a concorrer. Barack Obama foi quem gozou maior tempo de antena na semana passada. Até aqui tudo ok. A seguir foi Hillary Clinton. Ainda tudo ok. Em terceiro vem Bill Clinton!


O homem não é candidato a nada, se for alguma coisa é candidato a primeira-dama, mas teve maior cobertura que John Edwards e que qualquer candidato republicano. Ainda por cima, para ouvirmos mentiras e conversa rasteira enroladas naquele insuportável e constante ar de engatatão. Acho que está na hora da Hill mandar o Bill para a cozinha.

 

Cabrões com lata


"[Os comunistas portugueses] Em vez de se prepararem para as grandes batalhas que aí vêm, sindicais e políticas (...), metem a cabeça na areia, como a avestruz, recusam-se a ver as novas realidades do mundo de hoje, em plena transformação e, em lugar de relerem Marx, com os olhos críticos de hoje e terem em conta a tão valiosa experiência adquirida, desde então, continuam apegados à cartilha stalinista e metem-se no bunker, prontos a morrer na sua, com os olhos vendados ao futuro. É lamentável!" (lido no Público, in DN)

Não sou do PCP, nem apetência para o ser, mas certamente não será este ex (primeiro-ministro, presidente e muito mais) que terá credibilidade para o que anda a dizer. É preciso ter lata...

 

O teimoso


"Maestro israelita Barenboim adopta nacionalidade palestiniana." (in Tribunal Iraque)

Vejam bem que há ainda quem insista na coexistência e paz entre povos. Tssss...

29 janeiro 2008

 

Onde é que eu já vi este filme? [II]



Aliás, Marinho Pinto, se conseguir abater os quilos do Natal, ainda pode ser que consiga prestar alguns serviços à Pátria...

 

Onde é que eu já vi este filme? [I]



Com tanta gente a pedir nomes ao Bastonário ou para se calar, parece que anda uma certa
confusão em relação ao papel de um advogado...

 

Como foi que disse?

 

Colaboracionistas


"A organização de direitos humanos britânica Reprieve garante que mais de 700 prisioneiros foram ilegalmente transportados para a base norte-americana de Guantánamo "com a ajuda de Portugal" e que pelo menos 94 voos passaram por território português, entre 2002 e 2006." (in Público Online)

28 janeiro 2008

 

Quais guerras quais quê


Há quem ande por aí a exagerar, a dizer que os americanos confundem árabes com terroristas, guerras civilizacionais e o camandro... mentira. Eles até têm lutadores de wrestling árabes...


 

Perguntar ofende?


Uma pergunta pede uma resposta?
O governo Sócrates parece não achar. Das perguntas feitas pelos partidos parlamentares apenas 33 por cento foram respondidas. O Governo ainda vai a tempo de remediar o silêncio de 25 por cento das perguntas (ainda dentro do prazo), mas 40 por cento ficaram mesmo por responder.

A quem responde mais Sócrates?
Ao PS, ao qual respondeu a 67 por cento das perguntas, seguido do CDS-PP, a 44 por cento das perguntas. Afinal, a falar é que a gente se entende. Já o PEV só viu respondidas 20 por cento das suas perguntas e o PSD míseros 13 por cento.

Quem são os melgas?
Engraçado, engraçado, é que os 121 deputados do PS perguntaram tanto quanto os 2 do PEV: 15 perguntas. Por deputado, os mais perguntadores são mesmo os do PCP com 24 perguntas por deputado: não admira que Sócrates telefone a Jerónimo para que o deixem em paz. São seguidos por BE e PEV com 9 e 7,5 perguntas por deputado.

Conclusões
As estatísticas (retiradas daqui) valem o que valem...

PS - Ao contrário do que o artigo diz, a diferença na taxa de respostas entre Admnistração Local e Central é mínima ou nula. Parece estar na moda limpar as práticas da Admnistração Central com as ditas piores práticas das autarquias...

 

Olha a novidade...


"Salazar era ditador e não enganava, mas agora temos uma democracia formal, que é uma ditadura que oprime os cidadãos."
Mendes Bota, "Correio da Manhã" (no jantar do PSD de Castro Marim), 28-01-2008

 

Dinheiro bem empregue


Um caça F-16 da Força Aérea Portuguesa em operações não identificadas, despenhou-se perto de Leiria. O piloto saiu ileso.

Portugal tinha 45 destes passarões, 20 entregues em 1994 como pagamento pelo uso da Base das Lajes e 25 aeronaves em segunda mão adquiridas em 1999 por 258 milhões de dólares, com mais 185 milhões de dólares gastos em reparacões e melhorias pela Lockheed Martin. Ou seja, cada um destes trambolhos custou bem mais de 12 milhões de euros.

Só lamento que não tenha caído em cima dos submarinos, mas esses ainda não foram entregues.

27 janeiro 2008

 

Solidariedade



Taça das Nações Africanas. Aboutrika marca o segundo golo do Egipto ao Sudão. Em vez de correr a apontar para si, o seu número ou qualquer outro gesto de festejo relativamente inócuo, levanta a camisa. A camisola interior tinha escritos em árabe e inglês. "Sympatize with Gaza". Perante uma próvável ameaça de castigo (mensagens políticas costumam ser particularmente proibidas...) Aboutrika não hesitou. Mostrou a sua solidariedade com o milhão e meio de palestinianos do gueto de Gaza e contra o cerco pelo Estado Israelita.

26 janeiro 2008

 

Choque monetário


O PS fez-se às eleições com a promessa de um choque tecnológico. Os eleitores, masoquistas, aceitaram submeter-se ao choque. Estes doutores ministros do terror, que encerram urgências, experimentam agora novos choques.

A decisão do governo de reduzir o rendimento da série B (a antiga) dos certificados de aforro é um choque monetário. Pelas contas do Diário Económico o rendimento passa de 3.72 para 2.79% uma quebra de 25%, mas contabilizando as novas regras dos prémios de permanência a 10 anos vai de 5.27% para 3.67% uma quebra de 30%. Quem fez contas à vida com as tabelas antigas foi subitamente roubado.

A motivação das finanças é explícita. O Estado decidiu que deve pagar menos pelas suas dívidas, contra aquilo que tinha acordado com os seus devedores. O Estado português não o faz com a dívida externa que contrata nos mercados financeiros internacionais, fá-lo com os contribuintes mais pobres nacionais. Assim garante os equilíbrios orçamentais do futuro.

Diz-se também que foi manobra para dar negócio à banca porque os certificados de aforro rendiam mais que os depósitos a prazo da banca. E assim a decisão premeia a banca que perante o aumento das taxas de juro internacionais nos últimos 3 anos pouco aumentou as taxas das poupanças.

Serve também o raciocínio de que este é um estimulo para o consumo. Mas penalizando desta forma a poupança e a riqueza das famílias, quem vai querer consumir? Nos EUA um partido dominado por uma ala neo-conservadora revê o código fiscal para devolver retroactivamente impostos e estimular o consumo. Em Portugal um partido socialista faz contas de merceeiro e trata a populaça com choques.

 

A corrida


O sistema eleitoral Americano é barroco, ornado em festa, rituais e histórias. A campanha das primárias começou em Junho e meio ano depois não se aprendeu nada. A nomeação continua indeterminada e o debate marca passo. A soma dos representantes que vão ao congresso em Agosto, é feita com fórmulas bizarras. (Ajuda ver o gráfico de resumo da CNN)

A cada dia novas sondagens alteram a hierarquia dos candidatos que ganham e perdem pontos como nos segundos entusiasmantes de uma corrida. Sobre estas irregularidades estatísticas os comentadores colam conteúdos, sugerindo que cada ponto ganho ou perdido tem um motivo, e cada etapa uma narrativa. Vejam-se os Democratas. Começou com a vitória anunciada da Clinton, contra a surpreendente vitória de Obama no Iowa. Durante uma semana foi retratado o merecido triunfalismo de Obama e o contrastante desespero da Clinton. Depois Clinton ganha New Hampshire, e passamos para uma história de uma Clinton nova e humanizada e de um Obama que imita os heróicos gestos de Martin Luther King, Jr. Obama perde o Nevada e a história para as primárias da Carolina de Sul é a campanha suja dos Clintons a querer fazer notar a juventude e negritude de Obama.

E apesar da banalidade, é emocionante. A emoção está na forma atlética do exercício. Os candidatos participam em 4 ou 5 encontros por dia, entre 3 cidades, às vezes em mais de um estado. Repetem-se nas frases e ideias sem raciocínio, mas sempre com sorrisos frescos e conversam com quem lhes estende a mão. É um mar de diferença para Portugal onde os políticos que julgam ter uma visão tão mais elevada do que a populaça, preferiam dispensar a troca de suores e hálitos da rua.

 

Em boas mãos




apanhado de arrastão.

25 janeiro 2008

 

Vamos Nole!


Há 15 anos atrás, não havia secção de política de jornal nenhum que não defendesse a guerra na Jugoslávia. De forma mais ou menos sistemática, todos contribuiam para o imaginário do monstro sérvio e sancionavam a NATO que partia o país aos bocados. Hoje, as referências à Sérvia nas páginas de política são mais diminutas, mas continuam ferozes a alimentar o separatismo. Ao Kosovo chamam-lhe “nação kosovar”, uma província com 2 milhões de habitantes e 16 mil tropas da NATO.

No entanto, se nos virarmos para as páginas de desporto, surpreendemo-nos. A Sérvia torna-se uma fonte de atracção, de elogios e admiração. Como é que um país tão pequeno e destruído pela guerra produz três dos melhores jogadores de ténis do mundo? Dois deles, Ana Ivanovic e Novak Djokovic, estão na final do Australian Open. Jelena Jankovic chegou às semi-finais. E ainda há Janko Tipsarevic, que conseguiu levar o número 1 do mundo a jogar cinco sets.

Mas o mais supreendente é que a guerra contribuiu mesmo para este fenómeno. Se os bombardeamentos diários da NATO prejudicavam directamente o treino e as competições, foi a atitude do resto do mundo – o desrespeito, a desconfiança, o ódio aos sérvios – que lhes deu garra e vontade de ganhar. Daí que não seja de admirar que não queiram trocar a bandeira sérvia pela americana ou a inglesa.

 

HABITAÇÃO [2]: A margem


A habitação não é um negócio, são muitos. Um tecto para uma família dá a comer à indústria da construção, à burocracia municipal, e é um manjar para a banca.

O gráfico representa a diferença entre o juro pago ao banco pelos empréstimos à habitação e o juro pago pelo banco a particulares por depósitos a mais de dois anos. Para esses tantos clientes que têm uma hipoteca para pagar, e umas parcas poupanças para um dia nublado, esta é a margem que o banco arrecada entre os dois dinheiros. A notícia não é tanto a divergência entre os dois, mas que esta esteja a aumentar…



Fonte: Valores do juro das hipotecas, INE. Valores do juro dos depósitos a particulares, Banco de Portugal.

 

Encontrem as diferenças















Dean Hrbacek candidata-se ao Congresso dos EUA

 

Más refeições?


O Sr. Perdiz parece que não gostou do que lhe andaram a servir (ver aqui). Particularmente, da cozinha da "incorrigível ala direita do PCP" com "conversa fiada e poucas ideias próprias".

Não gostou? Não há qualquer inconveniente. Chame-se o Chefe.

Chefe? Ó Chefe?


24 janeiro 2008

 

As nossas vidas I


Ontem recebi um email de uma pessoa que se reformava após 40 anos de trabalho na instituição onde me encontro.

O que será trabalhar 40 anos? O que será trabalhar 40 anos na mesma instituição? Ainda restará algo de ti?

Não sei. Se esta ideia é assustadora, também não me preciso de preocupar com tal.

A minha geração não terá essa "benesse". Não trabalharemos 40 anos. Sobreviveremos de emprego em emprego, quando conseguirmos arranjá-lo, durante os anos que nos obrigarem.

23 janeiro 2008

 

Vídeo Novela


A corrida aos bancos do Northern Rock acabou por gerar uma situação já habitual. O privado vai à falência, solução privada, dinheiro público.

(ver aqui e aqui para mais detalhes).

No entanto, os tempos são outros de quando os directores do banco conheciam as pessoas pelos nomes...

(James Stewart em "It's a wonderful life")

Noutro registo, os accionistas que tivessem ouvido este peculiar economista a 13 de Dezembro tinham poupado muito dinheiro...

 

935


A administração Bush mentiu e usou falsos pretextos para a invasão do Iraque. O que muita gente denunciou foi agora contabilizado por dois jornalistas, que usaram uma base de dados compilando informação de discursos, entrevistas, briefings, relatórios, livros ou outros durante os dois anos posteriores ao 11 de Setembro de 2001.

Este estudo contabilizou 935 comentários falsos. As maiores reincidências (por 532 vezes) foram que o Iraque tinha armas de destruição massiva (ADM), que o estava a tentar produzir ou obtê-las, ou tinha laços com a Al-Qaeda, ou todas as anteriores.

Em termos de personalidades, Bush ficou à frente com 259 mentiras, 231 sobre ADM no Iraque e 28 sobre os laços com a Al-Qaeda. Logo, logo atrás ficou Colin Powell com 254, 244 sobre ADM no Iraque e 10 sobre o Iraque e Al-Qaeda.

Não consegui aceder ao relatório original, mas fica aqui a notícia com as referências.

 

Liquidez


Na manhã de 22 a Reserva Federal Americana anunciou um corte de 0.75% na sua taxa de juro de base, que ficou a 3.5%, o que os bancos privados pagam por empréstimos contraídos com o Fed. Foi uma decisão executada com urgência e drama, sem avisos para desarmar antecipações e um valor expressivo para que não digam que foi pouco. Sendo que a inflação americana é de 4%, a taxa de juro real é negativa. Da fonte jorra dinheirinho fresco e barato para irrigar novos investimentos e especulações.

Mas esta noite a finança dorme intranquila. A taxa de juro do Banco de Inglaterra é de 5.5% e a do Banco Central Europeu de 5%, e todos querem saber o que os dois vão fazer na manhã de 23. Se as taxas se mantiverem fixas, uma onda de capitais vai amanhã atravessar o Atlântico para banhar Wall Street.

22 janeiro 2008

 

HABITAÇÃO [1]: Os especialistas


Vai haver um plano estratégico para a habitação. É patrocinado pelo Instituto Nacional de Habitação mas de momento tem só “níveis de análise”: 1. clarificação das necessidades de habitação; 2. clarificação dos recursos disponíveis, nas famílias, noutros parceiros privados e no Estado; 3. elaboração de Estratégias Globais Para A Política De Habitação consonantes com a politica governamental; 4. elaboração de um Processo de Planeamento Estratégico para a Habitação. Traduzido, isto é: 1. vamos ver se há gente sem tecto, 2. vamos ver se eles têm dinheiro e se há sobras no orçamento de estado, 3. vamos perguntar ao governo o que quer fazer, 4. vamos fazer um desenho para que outros façam alguma coisa sobre o assunto.

Para desempenhar estas difíceis tarefas, a que o INE facilmente daria resposta, o INH contratou especialistas: sociólogos do ISCTE; arquitetos da Universidade do Porto; e economistas da Augusto Mateus & Associados. Nada como um antigo ministro da economia do governo Guterres, agora sem bigode, para estudar com calma e isenção o futuro da politica de habitação em Portugal.

 

Jornalismo de algibeira


"A tendência está à vista. O fenómeno de violência contra idosos tem vindo a aumentar em Portugal. Os mais recentes números conhecidos revelam que, nos últimos cinco anos, os registos deste tipo de violência triplicaram, dos mais de oito mil casos para os quase 25 mil em que a vítima do crime tem mais de 64 anos. Segundo fonte oficial da PSP, em 2007, "a tendência é a de que se registe um aumento da criminalidade denunciada neste contexto". "Não necessariamente pelo aumento de crimes, mas antes pelo aumento das queixas", explicou a mesma fonte ao DN." (Aqui)

 

Escondê-las no quarto escuro


Já se sabia que não podiam fumar ou beber álcool e que deviam evitar o stress. Insistem agora que as grávidas não devem beber café. Mas sabiam que também devem evitar a água da torneira, aspirinas, raios X, micro-ondas, marisco, cachorros quentes, saunas ou banhos longos? Aliás para uma mulher grávida tudo deve ser entendido como ameaça mortal a mãe e feto. O melhor é não arriscar, enfiá-las no quarto dos fundos a bolachinhas sem sal e água mineral. Tudo em prol da prole.

21 janeiro 2008

 

Para que a vida não continue em Gaza


Depois de quatro horas sem electricidade, cinco doentes morreram nos hospitais de Gaza. A correr o mesmo risco estavam centenas de doentes em diálise, doentes cardíacos, bebés prematuros e outros cuja sobrevivência dependente de máquinas eléctricas. O resto da população passou a noite no escuro e ao frio, depois de Israel ter cortado o fornecimento de energia. Ehud Olmert justificou assim este crime sobre um milhão e meio de pessoas:

“No que me diz respeito, os residentes de Gaza podem andar, não têm gasolina para os carros, porque mantêm um regime terrorista assassino que não deixa as pessoas no sul de Israel viver em paz (…) Daremos à população o que for preciso para prevenir a crise, mas não vamos fornecer luxos que permitem uma vida mais confortável (…) Não permitiremos que os palestinianos nos atinjam e destruam a vida em Sderot, enquanto em Gaza a vida continua”.

 

"Cinema" na blogosfera


Destaque para "O Bom, o mau e o vilão" de Pedro Sales, "O Pátio das Cantigas" de luikki e o documentário de Shift, em blogs perto de si.

 

Rádio Macau


Quase 20 anos (1988, 2007) separam as duas gravações, mas continuam óptimos.




20 janeiro 2008

 

Jornalismo a pique


A um título cabe ser informativo, claro, simples e sucinto. O que nos diz este?

"Acidente mata três notáveis empresários" (in DN)

19 janeiro 2008

 

Piece of me




A economia americana pode estar em recessão, mas a Britney Spears está a fazer a sua parte para a manter à tona. Britney faz 9 milhões de dólares por ano, coisa pouca a comparar com a indústria que a suga.

O maior pedaço vai para os media. Entre Janeiro de 2006 e Julho de 2007, Britney Spears apareceu 175 vezes em capas de revistas, e as vendas renderam 360 milhões de dólares. Cada vez que é tema de capa, o tablóide vende mais 33% . O total anual para os media: 75 milhões.

20% do negócio dos paparazzi faz-se das fotos dela no cabeleireiro, no jacúzi e no Starbucks. Para estes freaks, a Britney vale 4 milhões de dólares por ano. Outro grande pedaço vai para os seus distribuidores e promotores. Os discos já renderam 400 milhões, os concertos 150 milhões, e os perfumes 100 milhões. A soma chega a 40 milhões de dólares por ano.

Finalmente o último pedacinho, vai para K-Fed, o ex- mais famoso da América. Recebe uma mesada de 35 mil dólares por mês. E cada vez que é convidado para aparecer em discotecas, restaurantes e novelas leva mais 30 mil, totalizando 1 milhão de dólares por ano.

Contabilizar este proxenetismo dá para ter pena da miúda. Mas a dificuldade é que ela é esta indústria, é um pedaço de texto, imagem e som. Até a música que aborda esta obsessiva atenção pública, Piece of Me, trivializa a sua gravidade e transforma a sua vida em refrão.

 

Dear New York Times


As you read these words I will have cancelled my subscription. This is my goodbye, my “Dear John…” letter.

You’re right; we had good times together, and the price was right. I recall with fondness seeing you on the doorstep on those cold mornings. I remember turning your pages over coffee and finding Lisbon to be your number two destination for 2008. And although my mind is filled with sweet and wandering pleasures: the book review, the economic commentary, the magazine; your betrayal casts a dark cloud over it all…

You hired Bill Kristol as op-ed columnist? Why? What can he possibly offer in insight or prose? Adding insult to injury, you ask Kristol to write on Mondays alongside Paul Krugman, as the week starts and one calls for a flashlight of reason to guide us through.

If I can’t trust your opinion columns then why read you? The Wall Street Journal has better feature articles! BBC News has better coverage! The magazines are better written!!!!

Putting aside this bitter taste of betrayal, I am still left with a clear, material reason: I don’t want to pay Kristol’s wages.

Yours unfaithfully,
A.


 

I fought the law...


Pel'o Bitoque já passou a Clash History. Como, entretanto, o fantástico videoclip de Bobby Fuller deixou de estar disponível e o Saboteur tinha expressado o desejo pelos Dead Kennedys, aqui vai:

Bobby Fuller live


Dead Kennedys


E ainda vai um bónus de Mano Negra e amigos

18 janeiro 2008

 

Salários de miséria


"A Audi Bruxelas confirmou hoje à agência Lusa que a fábrica de Forest deixará de produzir os modelos Volkswagen Pólo, mas desconhece se esta produção será transferida para a Autoeuropa de Palmela, como noticia hoje a imprensa belga." (Diário Digital)

A esta notícia o 31 da Armada pergunta:
"Se assim for, a Wolksvagen é culpada de deslocalização, ou é Portugal que tem uma enorme capacidade de atrair investimento estrangeiro?"

Ao qual eu respondo:
Se eventualmente a deslocalização ocorrer, Manuel Pinho tinha afinal razão...

 

Do "bom comportamento"


A minha tentativa de fazer ironia nestes posts (1,2) terá sido falhada (pelo menos no segundo). A incapacidade foi minha e só me resta esclarecer a situação.

Devia fazer confusão como dois partidos que se dizem de mudança aceitam tão bem as regras de compostura do status quo. Só assim se pode compreender a sã convivência entre uns e outros, de como demasiados deles se consideram como iguais. Em suma, todos uns cavalheiros, que tomaram muito cházinho quando eram pequeninos.

Já com o trabalhador ou com o desempregado, com o emigrante, o ocupado ou mesmo o massacrado, nas ruas ou nas prisões, os mesmos senhores democratas a quem tão gentilmente se apertam as mãos são bem menos civilizados, diria mesmo a perder qualquer réstia de humanidade...

17 janeiro 2008

 

Capacidade procura-se


"Faço um apelo a quem tem capacidade para resolver a questão dos terrenos em Mangualde para o fazer rapidamente, uma vez que a unidade é extremamente importante em termos de emprego, em termos nacionais e regionais", declarou Manuel Pinho no final do Conselho de Ministros. (In Público)

 

Há festa na aldeia



 

Queres ganhar um Nobel?


Jovem, estás a estudar economia? Tens ambição de futuro? Queres ganhar um Nobel?

Tens dois percursos possíveis à tua frente: o de economista teórico, e o de economista empírico. Se queres ser um teórico de sucesso, despacha-te. Um teórico atinge o pico da sua productividade aos 28.8 anos. Daí para a frente é só cair.



Se queres enveredar por uma carreira de empírico, tens ainda muito que pedalar. Espera atingir o teu máximo de productividade aos 56.9 anos de idade.



Depois de tanto trabalho mantem-te vivo, porque não recebes o prémio antes dos 70.

Fonte: Weinberg e Galenson. 2005. Creative Careers. NBER Working Paper.

16 janeiro 2008

 

Corpo de texto


O meu escritório é numa biblioteca. À minha esquerda está uma parede de ladrilhos branca. Um passo largo em cada direcção e um placa de metal cinzento fosco barra o meu movimento. Quando deixei de fumar, sem desculpa para sair da cela, deixei de ver o sol. A única janela, na porta, tem vista para os volumes da Revisa de Filologia Espanola e do Philologische Studien und Quellen.

Não me devo queixar. Tenho mais que muitos: a reclusa paz, o espaço de arrumação, o ar maciento que aquece no Inverno. A minha penitente existência é talvez um investimento para um escritório com vistas para o mar numa reforma equidistante.

As bibliotecas são entes vivos. Estes corredores animam-se com espécies raras. Um dos bibliotecários, altíssimo, curva-se no pescoço e balança um cabelo em sino branco, com barbas a condizer. Outro bibliotecário, tem um olhar curioso que esconde atrás dos livros que vai arrumando, parece-me que é gozado pelos alunos pouco mais novos que ele. Outro ainda, tem paralisia cerebral, arrasta o andar e tem ataques de fúria e frustração. Os utentes, estudantes sobretudo, passam pelos corredores sempre em pares ou grupos maiores, a encher o silêncio com interesses além do livro. São corpos que habitam um espaço que parece ser anti-corporal, feito de papel, capa e contra capa, e o aconchego do betão que preserva o texto. Aliás, creio estar nos pulmões deste ser, estes corredores são alveolares, com a intricada circulação de gente que aqui procura aérea o que não encontra no google.

A minha janela na porta também tem vista para este incerto corropio.

 

Arrábida


No país do faz-de-conta os pescadores não podem pescar na área do Parque da Arrábida porque destroem o habitat. No Parque, os pequenos proprietários também pouco ou nada podem fazer, afinal aquilo é uma área protegida. Já a casa do Nobre Guedes, as pedreiras e a Secil fazem bem ao ambiente. Como não era suficiente pode-se sempre adicionar a co-incineração, um método caído em desuso noutros países. Uma verdadeira co-incineração do futuro de Setúbal e das terras à volta, com a contribuição de tribunais faz-de-conta.

15 janeiro 2008

 

Micro-filmes


Steve Jobs diz que foram vistos 7 milhões de filmes em iPods/iPhones em 2007. David Lynch acha que não...


 

Conversa de café...


... nos bastidores da TVI...


 

Foi um macaco no rádio


Uma publicação dedicada à Marinha Americana, Navy Times, reporta que a origem da mensagem de rádio ameaçadora no estreito de Ormuz não foi de oficiais iranianos. Face às evidências dos vídeos apresentados pelos iranianos surge a hipótese que o som rádio seja de um conhecido provocador chamado “Filipino Monkey”. Não se espera que a marinha americana peça desculpa ao Irão.

14 janeiro 2008

 

Os míopes


Parece que em 2007 houve dez, SIM, SIM, LERAM BEM, DEZ referências a Portugal no New York Times! Isto, ao contrário de 2006, em que não tinha havido nenhuma. Mais, as referências terão sido todas positivas, a um Portugal moderno e dinâmico. Aqui, Francisco Veloso, professor numa universidade nos EUA, fala desse admirável mundo novo que desponta em Portugal. Por cá, só mesmo os preços impossíveis dos óculos, pouco ou nada comparticipados pelo SNS, podem justificar a miopia de algo que salta à vista do outro lado do Atlântico.

 

Ainda a "arruaça" no Parlamento Europeu


Chamaram-me a atenção para que o "bom comportamento" da esquerda não se esgotava no PCP. Afinal parece que o BE também se portou à altura das expectactivas. Nas palavras de Miguel Portas:

"Os restantes deputados dissociaram-se dessa forma de manifestação. O líder do meu grupo parlamentar, Francis Wurtz, demarcou-se mesmo, em termos muito duros, da arruaça. (...) No que me respeita, usei da palavra de manhã para exigir o referendo. Durante esse minuto usei a t-shirt com a palavra referendo."


vídeo retirado de novas torres

"No mais, não aplaudi nem apupei a intervenção de José Sócrates. Fiquei sentado, que é o modo normal de ouvir intervenções em plenário…"

13 janeiro 2008

 

Ser não sendo


Quando o Chávez aceitou a derrota no referendo sobre a constituição Venezuelana, li um comentário que dizia que Chávez era “um ditador pouco esperto.” Um ditador esperto não vai a eleições mas o palerma do ditador Chávez corre estes riscos desnecessários. Hoje li algo semelhante, em forma, sobre os iranianos, que os hostis islamitas só não atacam os americanos porque são covardes. Um hostil ataca em palavras e actos, mas um hostil covarde .... bem, não sei precisar o que fará um hostil covarde. Sabido que vivemos num mundo contraditório, já o diziam os dialéticos alemães, esta é uma nova ordem de contradição. Afinal, estabelece-se hoje que a prova de X é o não-X. Democratas são aqueles que invadem países e violam o direito internacional. Pacifistas são aqueles que tem os maiores arsenais do planeta. Culpados são os inocentes.

 

A Esquerda Responsável


Pedrascontracanhões regista que, "ao contrário do amplamente veiculado na comunicação social dominante, nenhum comunista participou nos apupos e gritarias montadas no Parlamento Europeu enquanto Sócrates debitava os seus disparates.

(...)Na bancada da Esquerda Verde Nórdica / Grupo Unitário da Esquerda apenas um cartaz se levantou silencioso enquanto alguns deputados intervieram respeitosamente vestindo uma t-shirt "referendum".

Os senhores do capital, que vão construindo uma Europa a seu gosto cada vez mais distante das pessoas, dos povos e das nações, terão as suas respostas nas lutas que crescem!"
. Como diria o Marco Paulo, umas ladies no parlamento, uns loucos na rua...

Fica registado!

PS - Chama ainda a atenção que mesmo "depois de ter sido desmentida a participação dos comunistas naquele espectáculo, a comunicação social" insistia na mentira.

 

Fazer as contas


Fui calcular quanto é que o governo sacava em juros por repartir em 14 prestações o aumento extraordinário das pensões de reforma. Pelos dados que foram amplamente divulgados o pensionista médio tem a receber 9.6 euros em pedacinhos de 68 cêntimos. Usando o valor da taxa de juro do Banco Central Europeu, 4% ao ano, a taxa mensal é de: 0.327%. A cada 68 cêntimos adiados calcula-se o devido juro e tudo somado são 18.69 cêntimos. Não é muito. Mesmo multiplicado pelos 1.76 milhões de reformados são 318 mil euros, que já é dinheiro mas pouco, contrastado por exemplo com os 2 mil milhões de euros de orçamento do ministério da defesa. O que choca aqui não é o furto mas a mesquinhes da intenção.

12 janeiro 2008

 

A greve dos não produtivos


A Writers Guild of America, o sindicato dos argumentistas da televisão e cinema, está em greve desde 5 de Novembro de 2007. O sindicato exige uma percentagem sobre os rendimentos dos programas difundidos nos novos media, i.e. internet, cabo “on-demand” e telefone multimédia. O impacto da greve assiste-se na programação: os “late-shows” de variedades do horário nobre foram suspensos por quase dois meses e agora regressaram com improviso dos apresentadores (David Letterman é o único com argumentistas porque chegou a acordo com o sindicato), as séries deixaram de filmar novos episódios e repetem antigos. O vazio na programação foi preenchido por uma praga de concursos, reality shows e desporto. As produtoras cinematográficas abriram os baús e usam argumentos esquecidos. A cerimónia de prémios Globos de Ouro foi cancelada quando os actores em solidariedade com os argumentistas recusaram-se a aparecer.

Os produtores associados têm no seu sítio online um contador com os custos da greve e, dirigido aos grevistas, assinalam quanto lhes está a custar a paragem: 195 milhões de dólares em salários. A convidar divisões de classe, os produtores indicam também 336 milhões de dólares de perdas para os outros assalariados dos programas e filmes cancelados ou suspensos. O custo da greve pode ainda ser ampliado com as perdas das indústrias subsidiárias, estimado em 500 milhões a 2 de Janeiro. Os produtores não partilham contas do que eles estão a perder em lucros...



Vivemos na sociedade do espectáculo, onde o produto é virtual, a engenharia é digital e o ditador é a propriedade intelectual. E contudo neste mundo novo, pós-pós-moderno, o trabalho paraliza a etérea máquina. Uma greve de colarinho branco tem um impacto tremendo sobre a indústria no coração do império.

 

O negócio é onde eles quiserem


Ota ou Alcochete. Alcochete ou Ota. Do que era mais barato ao mais caro, as diferenças rapidamente se atenuaram. O óbvio passa a disparate e de disparate passa a escolha. Os senhores do status quo andam às cabeçadas, mas rapidamente fazem as pazes, ou o negócio não acabasse sempre por ser entre eles.


11 janeiro 2008

 

Guantânamo: 6 anos de terror


Passam hoje seis anos que os primeiros presos entraram em Guantânamo. Dos mais de 500 encarcerados, só 10 têm acusações formais. Os outros 98% tiveram o azar de estar no Afeganistão ou Paquistão no momento errado. Mantém-se presos sem oportunidade de julgamento público e justo.

A maior parte do tempo, os detidos estão confinados a uma caixa de metal com paredes de arame pré-fabricada por uma subsidiária da Halliburton associada ao vice-presidente Dick Cheney. Cada caixa tem cinco metros quadrados, onde cabe uma cama e uma casa de banho – um buraco no chão voltado para a parede aberta de arame, e um lavatório tão baixo que só pode ser usado de joelhos (segundo o pentágono este é um exemplo de sensibilidade cultural – o lavatório foi desenhado para acomodar os hábitos muçulmanos de lavar os pés). Os guardas inspecionam cada cela de 30 em 30 segundos. Dependendo do grau de cooperação, os detidos podem saír da caixa entre duas a cinco vezes por semana durante 30 minutos. No calor tropical e metálico de Guantânamo não há ar condicionado e as luzes estão ligadas toda a noite.

A maior parte das “confissões” surgem depois de centenas de horas de interrogações e tortura. O paradeiro dos detidos é frequentemente perdido quando são transferidos entre campos e centros secretos da CIA. Estes homens não sabem se ou quando vão ser postos em liberdade e estão impossibilitados de qualquer contacto com a comunidade. Não têm acesso a aconselhamento legal, não conhecem o estado do seu processo nem as supostas justificações para a sua detenção.

 

Quando o Céu e a Terra mudaram de lugar


Como num filme com final feliz, Chávez negociou a libertação de duas prisioneiras das FARC, depois de seis anos em captividade nas selvas da Colômbia. O filme sobre o resgate já se preparava há semanas e ontem podemos finalmente conhecer o desenlace.

Chávez (esse maníaco que leva Constituições a referendo) tem-se empenhado na libertação de reféns da FARC. Em contactos com a guerrilha, negociou a entrega de Clara Roja, ex-candidata a vice-presidente, e Consuelo González, membro do parlamento. Para filmar o final feliz, chamou Oliver Stone, com quem colaborou no filme Comandante sobre Fidel Castro. O que ninguém previa era que o desenlace fosse também o clímax. Depois de quatro dias e quatro noites à espera das coordenadas que conduziriam à localização das duas prisioneiras, a guerrilha anunciou que a entrega estava suspensa. Numa carta a Chávez disseram que não era possível continuar porque as forças militares colombianas, ao contrário do que tinha sido estabelecido, estavam a comprometer a segurança dos reféns e dos captores. E assim, sem actores, sem história e sem filme, Oliver Stone voltou para Hollywood.

Ontem o esperado final aconteceu. As FARC entregaram as reféns à Cruz Vermelha venezuelana. “Benvindas à vida” foi o que Chávez lhes disse. Quanto a Oliver Stone, não culpa as FARC pelo colapso e o atraso das negociações, culpa sim o presidente Uribe da Colômbia e a sua ligação a paramilitares de extrema direita e ao imperialismo americano.

10 janeiro 2008

 

Uma questão de sujeito


A política que temos é um regime de alienação. Se ainda restam dúvidas basta notar o sujeito do discurso político. Em todos os discursos da direita à esquerda, refere-se o “país“, o “povo”, os “eleitores.” Em forma gramatical é uma terceira pessoa. Em forma emocional é um objecto remoto por decifrar.

Que os políticos profissionais assim o escrevam e vocalizem, e os seus polícias e sacristães o repitam até se pode aceitar, mas que eu diga o mesmo é preocupante. Também eu às duas por três, falo do país como se não fizesse parte dele, como se estivesse fora. Também eu aceito essa abstracta autoridade democrática que tem de ser expressa em plebiscito ou sondagem para se tornar expressão nacional. Quando reclamo que haja referendo sobre o Tratado de Lisboa (Constitucional) não o devia exigir para que a população seja ouvida, devia-o exigir para que eu seja ouvido!

A política é uma conversa sobre um sujeito ausente. E aceitamos esses termos sem os entendermos. Quando dois marretas discutem a política nacional nestas páginas electrónicas acotovelam-se pelo papel de representante e intérprete da vontade dos muitos silenciosos. Se esse povo não somos nós então é quem? O silêncio da democracia é resultado de uma constante subtracção, sempre que alguém fala, protesta, exige, deixa de ser do povo.

 

Opinião de quem?



09 janeiro 2008

 

Gentil mas desonesto


Sócrates o magnânime, decidiu após longa e ponderada reflexão o que já todos sabíamos: não haverá referendo sobre o Tratado de Lisboa. Obrigado a justificar os seus motivos, oferece três: (1) há uma ampla maioria em Portugal a favor do projecto europeu; (2) um referendo em Portugal teria implicações negativas em outros Estados-membros, colocando em causa processos de ratificação por via parlamentar; (3) e não há qualquer compromisso eleitoral de fazer uma consulta sobre o Tratado de Lisboa, cujo conteúdo é diferente do conteúdo do defunto Tratado Constitucional da UE.

Quanto ao primeiro ponto, desconheço inquéritos de opinião da UE que tenham feito qualquer pergunta sobre o tratado, que aliás não foi ainda descrito com detalhe aos cidadãos (veja-se o Eurobarometer de Dezembro de 2007). O apoio ao “projecto europeu” é se tanto aquele emocional desejo inconsequente por uma Europa de nações cooperantes.

O terceiro ponto revela que Sócrates valoriza uma leitura à letra do seu programa eleitoral, que diz, p. 154: “No curto prazo, a prioridade do novo Governo será a de assegurar a ratificação do Tratado Constitucional. O PS entende que é necessário reforçar a legitimação democrática do processo de construção europeia, pelo que defende que a aprovação e ratificação do Tratado deva ser precedida de referendo popular, amplamente informado e participado, na sequência de uma revisão constitucional que permita formular aos portugueses uma questão clara, precisa e inequívoca.” Como se trata de um Tratado de Lisboa e não de Tratado Constitucional, estamos conversados. Se pudéssemos assumir a convenção de chamar “des-trabalho” ao “desemprego” talvez o governo se desculpasse também da sua politica económica. Estes argumentos são portanto desonestos.

Manuel Alegre, a auto-proclamada oposição de esquerda do PS, falou com o primeiro-ministro que “teve a gentileza” de pedir a sua opinião e de lhe explicar as razões porque fará o que lhe der na real gana. Manuel Alegre sente-se referendado. Eu e os outros milhões ficamos à espera do telefonema do primeiro-ministro para sentir o mesmo. E chego ao segundo motivo de Sócrates e o único genuíno, a “ética de responsabilidade” perante a Europa. Sócrates coloca os interesses da Europa acima dos interesses daqueles que o elegeram. Que não surpreenda ninguém, perante a abalada do Durão Barroso a nossa classe política percebeu que há crescentes oportunidades de carreira em Bruxelas. Não referendar é uma entrevista de emprego.

 

Batalha naval com precedente




O estreito de Hormuz já foi golfo de Tonkin.


08 janeiro 2008

 

Batalha naval sem tiros


Segundo as notícias, no dia 7 de Janeiro de 2008, barcos iranianos provocaram e ameaçaram explodir três navios militares americanos que estavam no estreito de Hormuz. No momento em que os navios se preparavam para retaliar, os iranianos viraram as costas e foram-se embora.

Este não-evento, mal-entendido ou totalmente fabricado, foi divulgado como uma provocação séria que poderá levar a incidentes graves no futuro. O estreito fica na costa iraniana, mas são os americanos que estão a ser provocados.

Só porque os EUA invadiram um país vizinho e há quatro anos que o ocupam, isso não justifica que o Irão se sinta em perigo e reaja à presença de navios americanos na sua costa. Nem o facto do EUA terem uma longa história de violência e guerra deveria alarmar o Irão. Afinal Bush não disse que os ia invadir, simplesmente disse que não descartava essa opção.

 

Como ficar bêbado em 5 minutos?


Com um simples jogo: beber sempre que um candidato à presidência americana disser a palavra “change”...

 

Flexisegurança


"O desemprego está a aumentar, mas o número de pessoas que recebe o respectivo subsídio é cada vez menor, denunciou ontem o economista Eugénio Rosa." (DN, 7/1/2008)

 

Todos diferentes, todos iguais



Se há tema em que todos os candidatos a candidatos à presidência americana concordam é Israel. A “experiente” Clinton acha que “este é um momento de grande dificuldade e ameaça para Israel... o que é vital é que nos mantenhamos do lado do nosso amigo e aliado (...). Israel é o farol do que está bem na região, ensombreado pelos males do radicalismo, extremismo, despotismo e terrorismo”. John Edwards garante que “o vosso futuro é o nosso futuro” e que esta ligação “nunca será quebrada”. Pela “voz da mudança” de Obama ouvimos que “a relação especial que os EUA têm com Israel obriga-nos a ajudá-los na sua procura de parceiros credíveis para a paz, assim como a apoiar Israel na defesa contra inimigos comprometidos na sua destruição”.

Porque que nunca se ouve uma crítica dirigida a Israel ou às pressões do lobby israelita? Em Março passado, o ainda ingénuo Obama teve o deslise de dizer que “Ninguém sofre mais do que o povo palestiniano”. Imeditamente o comité de relações públicas americano-isrelita (AIPAC) caiu-lhe em cima, denunciando o comentário e descrevendo-o como “profundamente preocupante”.

Um puxão de orelhas, uns trocos no bolso, e a paz do silêncio. O Center for Responsive Politics, que monitora a influência dos dinheiros na política americana, diz que grupos israelitas já doaram mais de 845 mil dólares aos candidatos presidenciais, 70% dos quais aos Democratas. Ainda faltam 11 meses para as eleições... nas presidenciais de 2004 interesses pro-isrelitas contribuíram com 6.1 milhões.

07 janeiro 2008

 

Charlie Wilson’s War (2007)


Adivinhar as intenções de um autor, como todas as outras artes mágicas, é convidar o engano. As intenções do autor raramente contam na interpretação do público, e mais importante, não têm que contar, senão respiramos espartilhados.

Charlie Wilson's War, ou Jogos de Poder no título português, pode até pretender ser uma simpática e carinhosa narrativa sobre um político menor que, por acidente, assoma o palco da história e tem nele um papel cimeiro. Charlie Wilson, um congressista vindo de uma parte menor do Texas, terá sido o responsável pelo aumento do orçamento de contra-insurgência que sustentou a Jihad contra o exército vermelho no Afeganistão dos anos 80. Como é sabido o caldeirão que em lume alto cozinhou os novos inimigos prediletos do império: os Taliban e a Al Qaeda.

Aos meus olhos as peripécias de Wilson não o consagram nem absolvem. Wilson é um sujeitinho menor sem brilhantismo ou humanidade, levado pela força das vontades dos outros: uma magnata texana da extrema-direita cristã, um agente da CIA sedento de protagonismo, e o Presidente Paquistanês que quer cobrar portagem ao financiamento dos mujahedin. A política não é aqui inocente, nem bem intencionada vítima das circunstâncias. A política é meramente um veículo onde se inscrevem vontades ditatoriais. A política é patética. A política é podre.

 

Aqui não há exclusivos


OBiToque nunca assinou manifesto. Escrevemos neste espaço sem objectivo expresso, assinando com identidades que nunca justificámos. O título do blogue é uma graçola que sobrepõe referência para carolas da informática com barato repasto lisboeta. É uma confusão desgraçada. A maioria dos blogues é como este, assim contraditório, caprichoso e mal-humorado.

Outros blogues são mais reflectidos. Alguns concebem-se como publicações. Tal como o Reader’s Digest de outros tempos, digerem as notícias e o comentário cultural, e às vezes até têm exclusivos. Este é um valioso serviço: mastigar o festim informativo. Estes blogues conseguem uma vizinhança com o debate jornalístico e partidário e são citados na comunicação social. O interesse é recíproco porque os blogues seguem com atento zelo as novidades noticiosas. Eles têm o tempo e o conteúdo da “actualidade” “real.”

Os blogues não têm todos que viver nesse tempo e formato emprestado. Há muitos tempos no tempo. A mim agrada-me o quarto dia após o evento. Pelo quarto dia, ai pelo lusco fusco, as indignadas opiniões já se expressaram, e já elegeram novo tema para a sua paixão. O que ficou, se algo ficou, merece exame.

Não podemos todos viver na espuma dos dias.

06 janeiro 2008

 

Louvor Americano


Os Estados Unidos são tudo o que Portugal devia ser. Sendo esta frase feita por um esquerdista convém lê-la com indirectas intenções.

Portugal não será a Califórnia ou a West Coast da Europa, ou outras múltiplas variações ao tema que têm fascinado a nossa fantasista elite. Tais associações só podem ser paródia de quem desconhece a economia do Oeste Americano (armamento e petróleo) e de quem pretende desfigurar o atraso económico português.

Onde Portugal devia ser mais Americano é no populismo. Apesar de uns pozinhos de indisciplinada inventividade, muitos vindos de um Portugal emigrado (Saramago, Rego, etc...), a cultura portuguesa é ditada por um vigilante e reacionário elitismo. A sua expressão máxima é o endeusamento da língua portuguesa. Os currículos escolares e até a TV, aceitam o papel de taxidermistas da língua. Apregoa-se o “falar bem português” como acto de conservação e usa-se o prontuário e a gramática como armas na luta de classes. O professor e o educado ensinam a ralé a falar, e tudo o que vem de baixo sobe conspurcado e inaceitável. O professor não tem nada a aprender com o dia-a-dia da população, e as suas soluções linguísticas para específicos e novos contextos sociais. O professor estuda a biblioteca para destilar um álcool puro de português e depois engarrafa as regras para engrossar a língua da malta.

Nos EUA admite-se que a língua seja aquilo que se fala e escreve lá por baixo. A American Dialect Society todos os anos elege uma ou várias palavras do ano, que surgiram em uso corrente e público mas que ainda não se registaram em dicionários. 2007: “Sub-prime”; 2006: “pluttoed”; 2005: “truthiness”. A expressão linguística é uma invenção social, e devíamos ser indiferentes quanto à origem de classe, género ou idade. Porque não é a imposta uniformidade da língua que garante a compreensão. Para nos entendermos precisamos somente de conversar e para isso é melhor despir o colete do cânone.

 

O casino da democracia


Chamam-se Iowa Electronic Markets. Quem participa adquire títulos (ou “futuros”) que auferem uma recompensa de 100 dólares se o candidato presidencial escolhido for nomeado. Os títulos podem ser comprados e vendidos. Hoje um título “Obama” compra e vende a 55 dólares, e um título “Clinton” compra e vende a 41 dólares. O racional é que um título que rende $100 a 30% de probabilidade merece ser adquirido se estiver à venda a menos de 30 dólares, o que a seu tempo eleva o preço do título ao nível de probabilidade prevista pelos aderentes.



Os enamorados do mercado, consagrado como a relação social feita das mais puras e sinceras vontades, argumentam que estes Political Prediction Markets são melhores agregadores de informação que as sondagens e aptos previsores dos resultados eleitorais. Talvez sejam, até porque quem participa estuda bem as sondagens.

A mim interessa-me mais esta banal semelhança entre mercado e jogo. Nas casas de apostas também se vendem títulos, sendo a relação entre aposta e remuneração fixada pela banca. Ladbrokes dá 1/3 para uma aposta em Obama e 9/4 a apostas em Clinton para a candidatura presidencial Democrata. A metamorfose de uma “aposta” em “futuro” é subtil: permitir a compra e venda do título. A banca que emitiu os futuros sacou no primeiro momento um rendimento garantido, e só reemerge para redimir os títulos vencedores. Depois a banca torna-se invisível, porque os participantes trocam, baixam e sobem preços, fazem ganhos e perdas especulativas, e a dinâmica parece ser uma democrática criação dos jogadores . Em vez de um momento único de drama e revelação, no mercado-jogo acumulam-se perdas e ganhos. O apostador perde-se da contabilidade direta do que ganhou ou perdeu.

O mercado é a engenharia social da amnésia e da miopia, até quando pretende prever o futuro.

 

Nona Lição


Se todas as lições passadas falharem, não há nada como uma mousse de chocolate. Uma especialidade de vários Bitoqueiros.


04 janeiro 2008

 

Rali na garagem


O ano de 2008 começa bem com o cancelamento do Lisboa-Dakar. A aventura automobilística foi assustada pelo banditismo na Mauritânia.

Desde que Lisboa substituiu Paris na partida para Dakar, a obcessão nacional pelas corridas tornou-se exasperante. Os jornais e revistas produzem suplementos e dedicam à cobertura jornalistas em exclusivo. Os telejornais reservam quase um sexto do noticiário e ao fim do dia, mais de uma hora de programa entra na minúcia das entrevistas e vídeos de viaturas afundadas no deserto.

Portugal, um país socialmente e culturalmente estagnado, vive a velocidade automóvel com luxúria e espanto fetichista. Num país onde as estradas matam, por graça de condutores negligentes e alcoolizados, glorificar a velocidade é ser cúmplice desta mortalidade. Se querem velocidade vão correr para o Estádio Nacional para emagrecer os excessos da consoada!

 

Apologia ao pânico


Somam-se vacilações e obscurações, enquanto as autoridades financeiras e os partidos do regime tentam sacar o BCP da crise.

Não tranquiliza que as autoridades financeiras (CMVM e Banco de Portugal) sejam congenitamente cegas às falcatruas, aos favorecimentos nepotistas, e às habilidades contabilísticas. E da elite política ouve-se unicamente a urgente preocupação de repartir o saque, e distribuir cargos entre os fieis. Ninguém tem uma palavra para os depositantes, ou para quem contraiu empréstimos com o BCP mas não mereceu o beneficio do perdão paternal. Se tanto tentam agradar o Berardo ou a bolsa de valores.

É caso justificado para uma corrida ao banco, para um pânico bancário, levar o dinheiro do BCP.

03 janeiro 2008

 

Esperança de vida, natalidade, rendimento per capita




Os objectos para representar a pobreza ou a saúde são habitualmente os índices e as percentagens. Para visualizar o mundo em evolução estes objectos comunicam mal. O vídeo releva novas representações das estatísticas mundiais com surpreendentes conclusões - afinal já não há primeiro e terceiro mundo?

 

Na TV, a selva


As imagens do conflito no Quénia misturaram-se com o Natal. Uma travessa de filhoses embebidas de vinho espirituoso e na TV negros de pedras na mão.

A notícia só a ouvi pela rádio, teve que ser em inglês pela BBC: o actual presidente Mwai Kibali reclamou vitória eleitoral depois de ter sido segundo em quase todas as sondagens, e descobri que nalguns distritos eufóricos a participação eleitoral ficou acima dos 100%.

Quando se diz que as imagens contam histórias, esquecem-se de acrescentar que contam sempre as mesmas histórias. Para o Telejornal trata-se de uma reposição do filme Hotel Ruanda, ou a mesma confusão escura que os olhos brancos não querem aprender a interpretar, e que o racismo luso trata com indiferença. O tribalismo é acusado pela violência que soma já centenas de mortes. E fica-nos a conclusão que os quenianos são interesseiros colectivistas, presos pelo laço étnico, e dispostos ao genocídio para usufrir de corrupto privilégio. “Matam-se por umas migalhas, os desgraçados. Que bem que se está aqui entre as filhoses.”

Inventou-se a matriz étnico-tribal para ocultar que em África há ricos e pobres, lacaios das vontades do lucro nacional, ocidental e oriental, contra gente que luta por uma democracia genuína. No ocidente, a violência é um tabu e um fetiche. Por um lado, distrai-se da violência que está bem perto, aquela que é perpetrada pelos ocidentais contra outros povos e contra os seus. Por outro, oferecem-nos uma orgia do crime e do sangue distante, daqueles que nos são estranhos em cor de pele e geografia, como tempero para a janta.

01 janeiro 2008

 

Progresso


Resoluções para 1918:
Acabar com a guerra na Europa,
Construir o socialismo.

Resoluções para 2008:
Expandir a guerra no Médio Oriente,
Reconciliar o neoliberalismo e o neoconservadorismo.



   

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