10 janeiro 2008
Uma questão de sujeito
A política que temos é um regime de alienação. Se ainda restam dúvidas basta notar o sujeito do discurso político. Em todos os discursos da direita à esquerda, refere-se o “país“, o “povo”, os “eleitores.” Em forma gramatical é uma terceira pessoa. Em forma emocional é um objecto remoto por decifrar.
Que os políticos profissionais assim o escrevam e vocalizem, e os seus polícias e sacristães o repitam até se pode aceitar, mas que eu diga o mesmo é preocupante. Também eu às duas por três, falo do país como se não fizesse parte dele, como se estivesse fora. Também eu aceito essa abstracta autoridade democrática que tem de ser expressa em plebiscito ou sondagem para se tornar expressão nacional. Quando reclamo que haja referendo sobre o Tratado de Lisboa (Constitucional) não o devia exigir para que a população seja ouvida, devia-o exigir para que eu seja ouvido!
A política é uma conversa sobre um sujeito ausente. E aceitamos esses termos sem os entendermos. Quando dois marretas discutem a política nacional nestas páginas electrónicas acotovelam-se pelo papel de representante e intérprete da vontade dos muitos silenciosos. Se esse povo não somos nós então é quem? O silêncio da democracia é resultado de uma constante subtracção, sempre que alguém fala, protesta, exige, deixa de ser do povo.
|
|
|
|