01 dezembro 2007

 

A força paralisante da praxe


"São tudo brincadeiras de estudantes" - esta é provavelmente a frase mais dita por quem está de fora das praxes.

Mas desta vez as "brincadeiras" acabaram mal, mesmo muito mal. Se já há alunos que com coragem apresentam queixa na polícia pelos tratamentos humilhantes a que são sujeitos na praxe, ainda há muitos que se calam perante a boçalidade que lhes apresentam como ritual de entrada no ensino superior.

Apresentada muitas vezes como uma forma de "preparação para a vida" - porque alguém deve ter entendido que a "vida" era andar com penicos na cabeça, CDs pendurados ao pescoço, simular relações sexuais com outros colegas de 1.º ano, ou entoar cânticos homofóbicos - não passa no fundo do exercer de prepotências alicerçadas numa autoridade não conferida a pessoas que ainda o ano passado estavam naquela posição: a de alunos recém-chegados ao ensino superior.

Acontece que estas "brincadeiras" para "integrar" (não sei bem como, talvez o fazer passar um mau bocado seja para estas bestas a ideia de situação que cria laços de solidariedade...) também correm mal. Para além das humilhações, surgem agora dois casos de danos físicos gravíssimos para dois alunos, um em Elvas e outro em Coimbra, com este último em risco de ficar paraplégico.

As praxes que decorrem nos vários estabelecimentos de ensino superior não são só coisas de miúdos, não são só coisas dos alunos. Por se pensar que são é que nunca vi um Conselho Directivo proibir as praxes, ou sequer instituir e assegurar o cumprimento de regras que pelo menos restrinjam a duração das mesmas e o tipo de comportamentos.

Incrivelmente, até Mariano Gago que tinha feito declarações duras sobre as praxes antes deste governo PS se remeteu ao silêncio depois das eleições. Mas hoje já voltou ao assunto, naturalmente motivado pelos casos graves já referidos.

É pena que seja preciso haver alunos a sofrer danos físicos permanentes (já nem falo dos psicológicos, que também os há) para que haja uma declaração pública sobre o tema. Ficamos à espera das acções.

Comments:
Boas, se ainda não viu um conselho directivo a proibir as praxes, ABRA OS OLHOS E OUÇA COM ATENÇÃO!

Na minha escola, realizou-se o tradicional dia de baptismo dos alunos do 1º ano, na passada 4ª feira! Este dia foi ensombrado pelo acidente que aconteceu com um aluno mais velho que quis fazer a tradição de passar no túnel quando se entra no ultimo ano, comemorando assim a alegre vida de estudante que teve. No meio da azafama e do calor dos festejos ele magou-se seriamente ao tentar realizar uma proeza.
Mas voltando ao facto do inicio, o conselho directivo da escola onde ando proibiu algumas das practicas que se têm vindo a utilizar como praxe e eu, como orgão maximo praxistico, aprovei visto que a tradição tem também de evoluir com os tempos. Logo existem escolas com orgãos de direcção que, em vez de proibirem a praxe, acabando assim também com a tradição da mesma, tentam acompanhar e ajudar, fazendo o que se calhar não fizeram consigo, ou seja, criando maneiras que não haja o abuso por parte de alunos mais velhos sobre os mais novos e que estes sejam integrados no meio académico onde estão a começar uma vida que os vai marcar.

Em suma apenas quero deixar claro que sei da existência de praxes académicas onde se abusa quer moralmente, quer fisicamente dos caloiros, mas isso não é geral. E não se pode criticar o todo por um. O aluno não é obrigado a entrar na praxe, ele tem esse direito, mas também não tem o direito de marginalizar, ou de sequer reprovar as actividades praxisticas ou os alunos pela praxe. Vivemos num mundo livre onde todos podemos escolher, qualquer que seja a escolha!
 
Das muitas praxes que vi, nenhuma incluia a não ser na desgraça de pertencer ao grupo a que fazem todas as porcarias...

Nesse teu "mundo livre onde todos podemos escolher, qualquer que seja a escolha", vi gente ser insultada, ameaçada e agredida por não querer fazer parte da "brincadeira". O abuso é a regra, não a excepção.
 
Já agora, se em qualquer outro se sítio se fizesse o que se faz nas universidades a propósito das praxes ia tudo de cana.
 
Enviar um comentário

<< Home


   

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

   
   
Estou no Blog.com.pt