31 janeiro 2007

 

Depois do massacre vem o saque


A ofensiva Israelita do Verão do ano passado deixou feridas profundas na sociedade e economia libanesa. A coberto da sua “missão”, apoiada pelo silêncio ocidental, de destruir o Hezbollah e resgatar os seus soldados, Israel arrasou escolas, estradas, fábricas, quintas. O inimigo era afinal o dito terrorismo insidioso de rosto árabe genérico, que pode habitar qualquer um, qualquer lugar. Em dúvida bombardeie-se. Quando Israel saiu derrotada, e sob pressão da indignação mundial, deixou um país de cinzas e votado à crise económica e social.

Só após a acção política do Hezbollah, encabeçando a oposição ao governo, é que vimos vontade ocidental em apressar a concessão de um pacote de empréstimos para a reconstrução do Líbano. Nos dias seguintes à ofensiva, o governo libanês estimou 3.6 mil milhões de dólares de danos materiais e uma provável quebra de produção de 9,5 mil milhões. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento estimou que esse último item poderá somar os 15 mil milhões durante os próximos anos. À uma semana, o congresso de quarenta dadores ofereceu 7.6 mil milhões em “ajuda.”

Deste acordo merece notar que: não haverá perdão de dívida; a concessão da ajuda é condicionada, e o estado de Israel é ilibado de responsabilidades.

Estes valores colocam a dívida externa do Líbano nos 180% do seu Produto Interno Bruto, isto é, quase duas vezes o que o país produz durante um ano. Mas em nenhum momento da negociação se pôs em causa o pagamento da dívida em atraso. Assim, e em perpetuidade, o Líbano terá que produzir para pagar os juros devidos aos seus dadores, uma perda de recursos que adia a sua reconstrução.

Algumas das generosas ofertas são condicionadas. Do empréstimo dos EUA mais de um quinto (ou 220 milhões de dólares) terá de ser gasto em despesa militar a adquirir à indústria Americana, e outro quinto (cerca de 180 milhões) em despesas com a presença internacional de segurança. Nem todo o montante em empréstimo estará disponível de imediato, 250 milhões do empréstimo Americano só serão atribuídos quando o governo Libanês cumprir com “reformas fiscais e económicas”, reduzindo os subsídios aos combustíveis e privatizando as indústrias de telecomunicações e produção eléctrica (Washington Post, 26Jan07).

Israel não passa factura, e não pagará um cêntimo do que destruiu. O que se desenha nesta história assim contada, é uma divisão de funções. Israel é o braço militar, que arrasa uma nação e a empurra fragilizada para a porta da finança mundial. Os caritativos dadores conferem mais títulos de dívida, cada vez mais impositivos na gestão do bem público, cada vez mais penosos no saque da riqueza nacional e na exploração do trabalho. É a insustentável leveza do imperialismo.

29 janeiro 2007

 

The Last King of Scotland e Blood Diamond (2006)


Convencida pelo sucesso de Constant Gardener, Hollywood fez da violência em África moda cinematográfica com The Last King of Scotland e Blood Diamond. O que aproxima os filmes é o enfoque na trama política: da ditadura de Idi Amin no Uganda, e do tráfico de diamantes na Serra Leoa; e das relações entre o branco e o negro: o turista ou o afrikaner. Pretendendo agradar ao grande público, prescrevem doses bem medidas de violência, sensualidade e o inevitável final feliz.

Os filmes manipulam os espectadores com emoções diferentes. Blood Diamond entrega uma orgia de corpos mutilados no primeiro quarto de hora de película, e a violência esbate-se com o decorrer do filme. A par com esta progressão temos a história moral do branco mercenário e vendedor de armas, Danny Archer, que encontra a redenção ao ajudar o refugiado negro, Solomon Vandy. Simetricamente, The King of Scotland começa com graça e despreocupação. Seguimos a aventura do imberbe escocês, Nicholas Garrigan, que visita o Uganda para aproveitar as paisagens e as mulheres. A narrativa revela que esta alegria é negligente e que o médico Garrigan, já membro da corte do ditador Idi Amin, é refém de um estado genocida e insano. O clímax do filme encontra-se num momento final de alívio, em que Garrigan sobrevive e escapa.

Nestas diferenças, os filmes tocam-se. Em ambos, o negro é incapaz de alterar o curso da sua história pessoal e colectiva. O branco é a fonte de consciência e acção. Solomon Vandy, o herói da história na Serra Leoa, é impotente senão pela ajuda do atormentado mercenário ou da idealista jornalista Americana. O terror de Amin só será denunciado porque por piedade, Garrigan é salvo por um médico negro. Mas sobretudo, onde filmes tão diferentes se tornam coincidentes é na sua incapacidade de apreender a violência em África. Ambos naturalizam esta violência, ela é África. Tanto que o traficante de armas Archer pode reclamar que Africa lhe pertence porque ele também verteu o seu sangue sobre a terra.

Estes filmes contam a mesma história, muito antiga, a mesma que Joseph Conrad, narrou em Heart of Darkness. O branco só conhece Africa pela loucura branca, do roubo, da guerra e do estupro, erótica e mortífera.

 

Assim Não...




28 janeiro 2007

 

Assassinos, ladrões e violadores


Há alturas em que a podridão é tão grande que se vê por todos os lados. É o caso de Israel. Não são só os 5 milhões de refugiados palestinianos, não são só os muros de apartheid ou os 1300 mortos e 90 mil deslocados no Líbano. Israel é governado por um primeiro-ministro corrupto, que é acusado de tráfico de influências enquanto ministro das finanças na venda do banco Leumi em 2005. Com ele, estão implicados os seus aliados mais próximos, como o presidente da autoridade fiscal, que já está preso. Os primeiros-ministros anteriores também não estão limpos. Benjamin Netanyahu, Ehud Barak e Ariel Sharon foram todos indiciados, embora não tenham sido acusados. O último escândalo afecta a presidência: o Sr Katsav é acusado de violação e abuso de poder.

Israel é um estado podre. A sua derrota no Líbano, depois da incursão assassina, foi vista por todo o mundo. Com cada vez mais inimigos no médio oriente, está também descredibilizado em todo o mundo. Para os próprios israelitas é um estado imoral e criminoso.

27 janeiro 2007

 

Fundação D. Pedro IV


A Fundação D. Pedro IV e o Eng. Canto Moniz continuam a dar que falar pelos piores motivos. Após os moradores, agora são as criancinhas...

26 janeiro 2007

 

Uma estalagem chamada Portugal




A imagem é do New York Times, e refere-se ao encontro de Richard Nixon com Georges Pompidou nos Açores em Dezembro de 1971. Nixon pedia a ajuda europeia para financiar o défice comercial imposto pela guerra do Vietname. Cerca de 20 anos antes da Cimeira da Guerra, estabelecia-se o precedente de usar o arquipélago para as negociatas entre os EUA e a Europa.

25 janeiro 2007

 

Lenda Negra


O companheiro Sexta-feira libertário enviou-nos um contributo, que aqui divulgamos:

"Lenda Negra, era um termo que se usava na Europa Moderna sobretudo protestante para designar os costumes dos povos ibéricos, fervorosamente católicos. A Inquisição era o principal visado neste epíteto que gostaríamos que fosse aplicado de forma injusta, mas infelizmente não o era.

A farpa não era no entanto um mero mimo anedótico para consumo interno de cristãos, a Lenda Negra dizia também respeito ao obscurantismo a que estavam votados os vários povos da península. No topo da pirâmide da Lenda Negra estava Portugal, surgindo como o povo mais atrasado de toda a península.

Volvidos muitos anos… (passo agora a transcrever um excerto da História de Portugal de José Mattoso) «Em 1890, os estudantes universitários portugueses (2,3 por cada 10 000 habitantes) formavam, aparentemente uma pequena população, se comparada com a dos países ricos da Europa: por 10 000 habitantes, o número de estudantes universitários era de 5,7 na Alemanha, 5,1 na França, 6,2 na Holanda e 9,3 na Bélgica. Para os contemporâneos, porém, havia até demais.

Desde 1890 que as novas admissões no funcionalismo ficaram congeladas. Em 1896, Fernandes Costa, no Comércio do Porto, notava com inquietação: “ Em todas as profissões liberais estão tomados os lugares para muito tempo.” Ora, nunca houvera tanta gente em Coimbra como então. “ Para que se preparam esses homens novos?” E previa o pior: “Dentro de 10 anos, a continuar isto assim, a Universidade terá expelido do seu seio, no mínimo, uns 500 homens, sem ocupação nem emprego possível, todos mais ou menos enfronhados em doutrinas sociais e políticas.”

Costa fornecia assim a explicação mais simples para o radicalismo político e para a revolução de 1910: o “proletariado intelectual”, como lhe havia de chamar João Franco em 1903. Procurou-se arranjar empregos para os bacharéis, como fez o decreto de 5 de Janeiro de 1900, que reservou o exercício do notariado para os bacharéis em Direito, separando-se do serviço de escrivão dos tribunais e tornando-o incompatível com outras funções públicas.»

Se há 100 anos podia haver (ponto sensível e discutível também), muitas razões para desculpar a falta de infra-estruturas nacionais não se compreende que hoje em dia este texto continue a ser tão actual e paradigmático.


Sexta feira libertário"

24 janeiro 2007

 

Fórum Social Mundial

O Fórum Social Mundial está a realizar-se de 20 a 25 deste mês em Nairobi no Quénia. Deixo-vos um relato de um amigo:

“we have being fighting neolibralism, imperialism and globalisation from all front. I am in Nairobi to continue the fight and to join comrades in the struggle. For some of us, the fight goes on despite some guys seem to accept the status quo. Don't be sorry to say most African are docile and tend to feel that nothing can be done to change this world into a better place especially for us Africans. We believe another world is imperative. (…). thanks to all comrades in the struggle. keep the fire burning.

in solidarity

XXX”


23 janeiro 2007

 

Debate sobre IVG na FCUL


Os silêncios têm destas coisas: não se está propriamente ausente, mas sim noutras lutas. Aqui fica a que me tem afastado daqui nos últimos tempos.

Debate "Interrupção Voluntária da Gravidez"
25 de Janeiro (5.ª feira) às 17h00

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Sala 6.2.56

Presenças confirmadas:
Pelo SIM | Médicos pela Escolha | Isabel do Carmo | Médica endocrinologista
Pelo NÃO | Plataforma Não Obrigada | José Diogo Ferreira Martins | Cardiologista Pediátrico

 

* Violação dos direitos humanos a pretexto da luta antiterrorista *


Sessão pública de informação e debate
Projecção do documentário "Objectivo Iraque" de Rashed Radwan e Carmen Marques

Quinta-feira 25 de Janeiro, às 21:30
Associação 25 de Abril, Rua da Misericórdia, 95, Lisboa


Intervenções:
Carmen Marques, jornalista
Eduardo Maia Costa, juiz do Supremo Tribunal de Justiça
Vítor Nogueira, Amnistia Internacional-Portugal
Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril
Manuel Raposo, membro do Tribunal-Iraque

Iniciativa conjunta da Associação 25 de Abril e do Tribunal-Iraque

Documentário "Objectivo Iraque" de Rashed Radwan
Através dos testemunhos de homens e mulheres que passaram pela cadeia de Abu Ghraib, de um grupo de adolescentes iraquianos, estudantes da escola Al Amal, em Bagdade, ou dos clientes de um banho público da capital iraquiana, este documentário dá-nos a conhecer o outro lado da chamada guerra ao terrorismo. Nesta viagem ao coração do Iraque encontramos também homens e mulheres membros de grupos armados que contam as suas experiências, revelam porque pegaram em armas e porque recusam o estatuto de terroristas. Filmado entre 2005 e 2006 no Iraque e emitido pelo canal espanhol La Sexta, este documentário foi premiado em vários festivais de cinema.

22 janeiro 2007

 

A nova (velha) estratégia Americana para o Iraque




Baralha e baralha e sai sempre duques.
Ilusão por Incrível Sandino.


 

e continuando na tónica "Nós podemos mas vocês nem pensem nisso"

18 janeiro 2007

 

Drama, medicina e TV


O hospital é o tema predilecto do drama televisivo. A moda começou com o E.R. (Serviço de Urgência). O foco desta série estava sobre uma novela de relações entre médicos e enfermeiros. Os doentes eram efémeros visitantes que ao final do episódio sobreviviam ou não. Em geral, nenhuma outra série violou este princípio de ausência: os doentes são consumíveis. No E.R. os médicos fazem o seu diagnóstico com firme velocidade de decisão e salvo raras excepções, eficácia. O veloz raciocínio clínico certamente advêm de uma timidez em utilizar um vocabulário que aliene o público, e resulta em tornar a medicina numa prática de geniais autómatos que reagem soluções sem pausa.

A mortalidade como cenário do E.R. fascina e impõe um drama quase sempre trágico. A inversão deste esquema de cores e emoções e a comédia Scrubs. Aqui também a clínica é acessória face às relações, que são tão mais fortes porque vocalizadas pelos aprendizes de feiticeiro, os estagiários. Scrubs é um M.A.S.H. do século XXI, onde as brincadeiras de quartel e os conflitos hierárquicos são fonte de peripécias. Há aqui lugar para a falibilidade médica, no diagnóstico e no tratamento, e o “corpo” parece suportá-lo. Também há corpos que perecem no Scrubs, mas são mais sorridentes e de faces mais rosadas.

Onde o corpo parece ser imune a todos os males é no House. A série evoca mais o Sherlock Holmes do que a novela de médicos. Os corpos de House são sempre decadentes, afligidos por uma indecifrável doença que após 20 minutos do episódio e nunca antes desse limite, Gregory House e seus ajudantes curam. Não há mortalidade, só a vertigem de um corpo que existe em frágeis equilíbrios. Com a clínica (ou o totem desta) no centro, a medicina é um processo de perigosas incertezas mas que triunfa. O enredo de relações é secundário e cómico, para contrapor o apodrecimento dos corpos. E a personagem de Gregory House, o previsível excêntrico, encarna nos seus humores variáveis e coxear sofrido esta contradição de sentidos trágicos e cómicos.

Uma síntese destas diferenças encontra-se na Grey’s Anatomy. Uma narrativa na primeira pessoa (sempre filosófica) como Scrubs, e como Scrubs a voz de um estagiário. Cuidada sobre o detalhe e dificuldade dos casos clínicos, evitando imediatismos aproxima-se das incertezas de House. Mas sobretudo, o modelo é ER, ao tecer uma teia relacional de paixões impossíveis. O amor sempre irresolúvel, e como em ER a mortalidade é crucial para este efeito. Parece-me que a narrativa se resolve com um tema quase cristão. Os médicos são um Messias cuja função é curar o mundo, sofrendo constantes agressões pela morte dos seus doentes. Uma personagem de tão nobre função, castigada pelas falhas dos corpos mortais dos outros, deixa de ser capaz de amar. O médico está impedido de ser pessoa.

17 janeiro 2007

 

Faz todo o sentido...


Um país invade um outro país, manda o regime abaixo, caça os ex-governantes pelo deserto, mete-os na cadeia, mata uns outros pelo caminho, desmantela o exército e a polícia, treina novas forças de segurança, coloca um novo governo, organiza as eleições,... e depois vem acusar os países vizinhos de atentarem contra a soberania do país ocupado.

13 janeiro 2007

 

"Keats and Yeats are on your side, but you lose..."


Há rumores de que Morrissey pode representar Inglaterra no Festival da Canção, esse programa épico da melhor categoria.

Eu percebo que a BBC esteja desesperada para Inglaterra ganhar. Afinal é o país com melhor produção musical e nos últimos anos só tem enviado para lá patetas. Mas, Morrissey, sabes que para ganhar tens que fazer música que só surdos conseguem ouvir, com letras que andem ao nível dos três anos de idade? Porquê que não mandam para lá o Chris Martin dos Coldplay?

Morrissey, não te metas nisso!

12 janeiro 2007

 

A bondade do soberano


Fez notícia ontem a decisão do governo de descongelar as reformas de trabalhadores com mais de 42 anos de descontos para a segurança social. Com 42 anos de descontos e 64 de idade, um trabalhador pode receber a reforma por inteiro. Quem tem 63 também tem direito se tiver descontado 44 anos, e para quem tem 62, os descontos terão de totalizar 46 anos.

Esta medida não devia merecer destaque de primeira página, nem mesmo em dias sem futebol, apito dourado, ou Dakar. Uma rápida aritmetica que ficou por fazer, clarifica que quem tem 62 anos e descontou 46 anos terá começado a descontar aos 16 anos de idade. Rapidamente esbarramos com o absurdo se dermos mais uns passos nesta lógica, com 61 anos e 48 de descontos, teria que ter começado os descontos aos 13. É uma medida que não abrange ninguém, e só serve para fazer letras gordas da generosidade governamental. Mais uma vez os jornalistas engolem inteirinho, espinhas e tudo.

11 janeiro 2007

 

O povo não é sereno


Ontem, o primeiro-ministro fez duas afirmações à comunicação social. A primeira, em resposta aos jornalistas, garantia o seu contributo à campanha do “Sim” no referendo, mas acrescentava que o faria sem prejuízo para as suas responsabilidades governativas. Quer o Sócrates garantir ao país que compreende que referendos são interesses menores, que não entram nos cálculos da governação nacional, a dos negócios da China e da redução do défice. Para o nosso líder, há os referendos, e as coisas das mulheres, e há as governações e as coisas dos ministros.

De seguida, Sócrates fez um apelo à moderação e serenidade no debate referendário. Esta é a gaguejada mensagem com que todos os papagaios do partido socialista começam a sua cantiga. Dizem que temos que permanecer calmos, pacientes, e evitar as posições estremadas. Quem esteve envolvido no primeiro referendo e agora vê a procissão deste a passar, percebe que a posição estremada a evitar é: “o corpo é nosso!”

A violência com que este país resiste ao direito da mulher ao seu corpo é medida do seu moralismo de hóstia e testoterona. Neste país o corpo não é das mulheres. O corpo da filha é do pai, que está no seu direito de lhe dispensar uns tabefes. Depois a filha casa e o corpo é do marido, sempre às ordens do seu sémen. O corpo da mulher depois é dos filhos que lhe nascem sem que ela os escolha. E o ciclo conclui quando o corpo da mulher regressa aos pais, como a enfermeira sem folgas que socorre o vazio do Estado Providência.

Na cultura deste país, a mulher e o seu corpo são colectivos. A liturgia é de que o corpo da mulher tem funções a cumprir que são maiores que ela: ela é a fonte da vida; ela é a assistência social. Ela é escrava. Os homens apressam-se a culpar as mulheres de individualismo ou egoísmo quando se atrevem a falar na primeira pessoa. A mulher existe só no plural. E é nesse plural que lhe roubam a voz.

O primeiro motivo para votar sim à despenalização é devolver o corpo às mulheres.

 

Que bom que é fazer planos…


Hoje vejo um país cheio de planos públicos e privados, e são todos conspirativos. Em cada plano está um exercício de manipulação onde o alvo real nunca é o anunciado. O Plano Tecnológico que formalmente pretende desenvolver o país, perpetua-se como um plano de planos, sempre espectacular e de actos efémeros. As areias que o Instituto da Água despeja em S. João da Caparica para impedir que as pessoas entrem no mar e não, como declara, para impedir o mar de entrar nas casas. Todo o plano se contradiz.

Conspirar é um prato de notável sabor e sustento. É prato que pede café num tasco de luz trémula, ou uma imperial numa esplanada de grandes vistas. E o seu prazer é na totalidade, proveito do momento.

Planear serve bem para quando nada parece possível, e vai adiando o desespero. Planear serve bem para adiar a vontade, sempre por chegar.

06 janeiro 2007

 

Crime e Castigo


Se algumas dúvidas restassem, o vídeo exibido nas televisões até ao enjoo deixa claro que a execução de Saddam Hussein foi na verdade um linchamento xiita, em nome do governo americano. Saddam não foi enforcado pelos crimes que terá cometido. Aliás, ele ainda estava a ser julgado por muitos deles (porquê então esta execução apressada? Até parece que têm alguma coisa a esconder). O seu enforcamento foi a imputação de mais um crime sobre o Iraque ocupado. A sua morte é só mais uma para juntar aos 650 mil massacrados por Bush e Blair.

Bush tratou logo de dizer que este foi um passo para a democratização do Iraque. Não surpreende, afinal ele é o homem que mais sentenças de morte assinou enquanto governador do Texas. 152 execuções em seis anos, é o peso que Bush leva nas costas. E se isto constitui democratização, bem se vê o que o ocidente quer para o médio oriente.

Em Março passam quatro anos do início da guerra. É preciso denunciar os verdadeiros criminosos: Bush e Blair. Não esqueçamos também a cumplicidade activa do governo português, desde o estalajadeiro Durão Barroso, até ao uso da base das Lajes e o envio de GNRs para o Iraque. A luta dos iraquianos por um país livre e independente continua. É altura da população portuguesa se juntar a eles e aos milhares de europeus e americanos que neste início de ano protestam com uma mensagem clara: retirada imediata do Iraque.


05 janeiro 2007

 

Escalada nos Açores


Numa notícia do Público:

Ana Gomes adiantou que, no encontro que manteve com o comandante da Zona Aérea dos Açores e comandantes português da Base das Lajes e do destacamento norte-americano, "foi abordada a questão relacionada com os voos da CIA que escalaram os Açores".

Como disse? Acautelem-se os alpinistas tradicionais, vêm aí os vôos da CIA.

01 janeiro 2007

 

Começou o moralismo rasteiro


No dia um, a estrear o ano de 2007, o Papa filosofou sobre “as mortes silenciosas provocadas … pelo aborto, pelas pesquisas sobre os embriões e pela eutanásia" e equacionou-as com as vítimas das guerras genocidas. Temendo que a pedagogia papal fosse ignorada, o Cardeal de Lisboa apressou-se na repetição afirmando que as violências "contra as crianças, mesmo antes de nascerem" são origem de outras violências numa espiral de agressões. O santo argumentário é uma tentativa de associar um ataque de míssil israelita contra um bairro residencial de Gaza a um aborto na Maternidade Alfredo da Costa. Actos que são tão distantes em geografia como em agência, motivos ou consequência.

Os púlpitos dão início à sua campanha contra a despenalização do aborto. Ensaiam já à manipulação sem escrúpulos de emoções. E vão reforçá-las com mentiras, apelos aos paraísos que esperam os pios depois da morte, aos olhares desiludidos do Todo-Poderoso pesando sobre os aborcionistas, ou à Bíblica missão de fornicar somente em prol de abençoada procriação contra o desejo e o gozo pessoal. Esta é a nobre e esclarecida padralhada!

Já da campanha institucional do “Sim”, dá-se a vitória como quase certa. A estratégia é evitar confrontos morais e preservar o tom educado e desapaixonado. Parece-me que não querem combater. Está sem raiva esta esquerda que quer ganhar a pontos e passar ao lado dos corpos e das consciências.



   

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