29 janeiro 2007
The Last King of Scotland e Blood Diamond (2006)

Os filmes manipulam os espectadores com emoções diferentes. Blood Diamond entrega uma orgia de corpos mutilados no primeiro quarto de hora de película, e a violência esbate-se com o decorrer do filme. A par com esta progressão temos a história moral do branco mercenário e vendedor de armas, Danny Archer, que encontra a redenção ao ajudar o refugiado negro, Solomon Vandy. Simetricamente, The King of Scotland começa com graça e despreocupação. Seguimos a aventura do imberbe escocês, Nicholas Garrigan, que visita o Uganda para aproveitar as paisagens e as mulheres. A narrativa revela que esta alegria é negligente e que o médico Garrigan, já membro da corte do ditador Idi Amin, é refém de um estado genocida e insano. O clímax do filme encontra-se num momento final de alívio, em que Garrigan sobrevive e escapa.
Nestas diferenças, os filmes tocam-se. Em ambos, o negro é incapaz de alterar o curso da sua história pessoal e colectiva. O branco é a fonte de consciência e acção. Solomon Vandy, o herói da história na Serra Leoa, é impotente senão pela ajuda do atormentado mercenário ou da idealista jornalista Americana. O terror de Amin só será denunciado porque por piedade, Garrigan é salvo por um médico negro. Mas sobretudo, onde filmes tão diferentes se tornam coincidentes é na sua incapacidade de apreender a violência em África. Ambos naturalizam esta violência, ela é África. Tanto que o traficante de armas Archer pode reclamar que Africa lhe pertence porque ele também verteu o seu sangue sobre a terra.
Estes filmes contam a mesma história, muito antiga, a mesma que Joseph Conrad, narrou em Heart of Darkness. O branco só conhece Africa pela loucura branca, do roubo, da guerra e do estupro, erótica e mortífera.
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