25 janeiro 2007

 

Lenda Negra


O companheiro Sexta-feira libertário enviou-nos um contributo, que aqui divulgamos:

"Lenda Negra, era um termo que se usava na Europa Moderna sobretudo protestante para designar os costumes dos povos ibéricos, fervorosamente católicos. A Inquisição era o principal visado neste epíteto que gostaríamos que fosse aplicado de forma injusta, mas infelizmente não o era.

A farpa não era no entanto um mero mimo anedótico para consumo interno de cristãos, a Lenda Negra dizia também respeito ao obscurantismo a que estavam votados os vários povos da península. No topo da pirâmide da Lenda Negra estava Portugal, surgindo como o povo mais atrasado de toda a península.

Volvidos muitos anos… (passo agora a transcrever um excerto da História de Portugal de José Mattoso) «Em 1890, os estudantes universitários portugueses (2,3 por cada 10 000 habitantes) formavam, aparentemente uma pequena população, se comparada com a dos países ricos da Europa: por 10 000 habitantes, o número de estudantes universitários era de 5,7 na Alemanha, 5,1 na França, 6,2 na Holanda e 9,3 na Bélgica. Para os contemporâneos, porém, havia até demais.

Desde 1890 que as novas admissões no funcionalismo ficaram congeladas. Em 1896, Fernandes Costa, no Comércio do Porto, notava com inquietação: “ Em todas as profissões liberais estão tomados os lugares para muito tempo.” Ora, nunca houvera tanta gente em Coimbra como então. “ Para que se preparam esses homens novos?” E previa o pior: “Dentro de 10 anos, a continuar isto assim, a Universidade terá expelido do seu seio, no mínimo, uns 500 homens, sem ocupação nem emprego possível, todos mais ou menos enfronhados em doutrinas sociais e políticas.”

Costa fornecia assim a explicação mais simples para o radicalismo político e para a revolução de 1910: o “proletariado intelectual”, como lhe havia de chamar João Franco em 1903. Procurou-se arranjar empregos para os bacharéis, como fez o decreto de 5 de Janeiro de 1900, que reservou o exercício do notariado para os bacharéis em Direito, separando-se do serviço de escrivão dos tribunais e tornando-o incompatível com outras funções públicas.»

Se há 100 anos podia haver (ponto sensível e discutível também), muitas razões para desculpar a falta de infra-estruturas nacionais não se compreende que hoje em dia este texto continue a ser tão actual e paradigmático.


Sexta feira libertário"

Comments:
A diferenca entre 1900 e 2000 e' que nao se teme que os profissionais liberais no desemprego se constituam em forca revolucionaria contra o regime. Ninguem duvida que os produtos das Universidades sao doceis. Portanto, ha menos necessidade para os coaptar com empregos no Estado.

A ligacao com a Lenda Negra entendo menos bem. O exemplo de 1900 sugere pelo contrario a ansiedade do regime perante forcas progressistas que nao consegue controlar.
 
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