29 setembro 2007

 

A casta inferior


Ainda na série de artigos sobre a mulher (começo aqui da Feminine e continuação aqui) falta analisar o mundo fora do contexto familiar.

No mundo do trabalho a mulher ganha em média 80% do que ganha um homem com a mesma qualificação e experiência. Genericamente fora das lideranças, é continuamente prejudicada no acesso a cargos superiores. O sobrecarrego da mulher em casa também é usado para "justificar" que seja discriminada no mundo do trabalho. Se tem de ir buscar os filhos à escola, levá-los ao médico ou ir cozinhar, a empresa não pode depender dela. Até simplesmente poder ter filhos lhe é imputado como um custo.

O acesso ao mercado de trabalho e a carreiras pessoalmente satisfatórias ainda é fortemente desincentivado até na dita "avançada" Holanda. Portugal tem uma das taxas de trabalho feminino mais elevadas normalmente justificada pela necessidade do rendimento para a sobrevivência das famílias. No entanto, a maior parte deste trabalho é apenas uma continuação do trabalho doméstico. Muitas das áreas onde trabalham são áreas como a assistência (saúde, etc) e o ensino, sistematicamente atribuídas à mulher.

E agora dediquemo-nos a criar esse tal mundo novo.

Comments:
Samir,

Referes o "mundo novo na esquerda seria as mulheres poderem falar dos seus problemas e das suas realidades sem ter que o justicar com analises de classe. Terem a liberdade de falar da sua intimidade, sexualidade e desejos na sua singularidade. Serem ouvidas sem preconceitos, ..." ao qual a Dolores re referiu, ou estás a pensar noutro "mundo novo?"
Por outras palavras, o da Dolores não passa de falar, falar e serem ouvidas; é o teu o mesmo ou o que, ao de leve, nos falou Cabral: "Os grandes avancos na emancipacao feminina fizeram-se na rua, em publico, quando as mulheres se organizaram para votar, para trabalhar, por melhores salarios, para serem respeitadas."?
 
O mundo novo � uma refer�ncia ao �ltimo par�grafo do post da Dolores. Talvez tenhas ido buscar isso aos coment�rios...

O que ela refere � a marca de um mundo masculino que � importante recusar. N�o creio que ela se refira ao lugar comum (que pessoalmente n�o me colhe grande simpatia) de "se as m�es governassem n�o haviam guerras" (como a Sally Field disse e eu postei por aqui).

Creio antes que se refere a ser dif�cil reformar o resultante de uma sociedade patriarcal, como � dif�cl reformar um pa�s constru�do na base do apartheid. T�o mais dif�cil quanto necess�rio. Eo todo n�o � a soma das partes. N�o lhe basta adicionar o feminino.

O �nico caminho, como tantas vezes, seria implodir concep�es e recome�ar numa base diferente em que todos contribu�ssem de forma igual.

Ela saber� explic�-lo melhor do que eu.

(As minhas conversas com ela permitem-me acrescentar ao que est� impl�cito no texto)
 
Lux,

Obviamente que a classe importa e muito na questão da mulher. Algumas das questões já foram abordadas anteriormente.

No entanto, é importante não ignorar que quase todas as mulheres tem uma condição genericamente abaixo dos seus companheiros.

Nesse mundo novo que tu referes, sem classes, não vejo qual a ligação necessária com a situação na mulher. Frequentemente em meios ditos progressistas a situação da mulher continua a ser uma de "secretária" como a feminine diria.

PS - atenção que quando me referia a 80% do salário é para trabalho igual! Só por se ser mulher lá se vai 20%...
 
Não tenho nada a acrescentar. O Lux já disse tudo. Mais claro do que que a forma que ele expos, nem aguinha da fonte.
 
Lux,tenho que louvar a tua clarividencia,puzeste este gajedo no lugar ,sim, porque tu ès Mulher.
 
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