04 setembro 2007

 

Em casa dos pais aos 30, a trabalhar aos 70


O humor e a imaginação são companheiros suspeitos da análise. Quando anunciei, com gráfica convicção, a esclerose Americana, convenci poucos com a panorâmica. Talvez a retórica seja mais eficaz por enxertos, arbusto a arbusto, ou seja Bush a Bush.

Um dos grandes avanços civilizacionais da última década é a chamada “transição demográfica.” Dizem os entendidos que uma pirâmide etária envelhecida corre o risco de desabar sobre o sistema de segurança social. E para precaver o cataclismo o Estado poupa gastos com os mais velhos e os mais novos. Só o ministério da defesa e da guerra tem torneira aberta no orçamento.

Nos EUA que nos alumia o caminho, para pagar a educação ou o primeiro tecto a solução é o empréstimo. A Banca delicia-se e os economistas justificam a dívida precoce com gráficos dos ditos “rendimentos acrescidos” ao curso da vida. Nos finais da década de 90 com o juro a engordar, e com o primeiro emprego a auferir parcos salários nos primeiros anos, as carteiras dos jovens ficaram vazias. Os tais rendimentos acrescidos demoram-se.

Por urgente necessidade forma-se uma nova segurança social, pré-estado providência, de clã: pagam os pais. Ficam os jovens graduados, apelidados pela prolixa imprensa de “geração boomerang,” em casa dos pais com muitos 20s ou 30s. Alguns tentam voar para longe mas depressa aterram com o peso da dívida. E esvaziam-se as bolsas dos mais velhos que com as poupanças em falta, admitem trabalhar mais anos e por menos.

É este o magnífico fulgor e terno conforto do império.

... e em próxima posta prometo uma foto do Bush de pantufas e cacau na mão...

Comments:
Contraditorio no ZdC. Abraco.
 
Amílcar, a 2 de Setembro, disseste que "um dos padrões actuais da sociedade americana é os filhos aos 30 e tal anos regressarem para casa dos pais"
Eu respondi-te que "desconheço casos de filhos aos 30 anos regressarem a casa......, a não ser em casos de divórcio". E finalizei, dizendo, "voltando aos filhos, esses nem saem de casa antes dos 30, por razões de insegurança e impossibilidade económica.

Agora, mostras um cartoon a confirmar o que eu disse e finalizas a repetir-me" Ficam os jovens graduados, apelidados pela prolixa imprensa de “geração boomerang,” em casa dos pais com muitos 20s ou 30s." Sem qualquer ponta de ironia, pois tenho muito respeito pelo que me tens oferecido no teu blogue, obrigado!!
Acredita que não me precisas convencer sobre a esclerose americana; tu falas dela e eu faço parte dela........25 horas por dia(um hora de overtime).
 
Houve algum mal entendido na nossa conversa anterior. Pela minha vista turva, so tardiamente percebi o teu argumento: que o imperio nao tomba sem um empurrao e sem oposicao.

Concordamos quanto 'a "adiada vida adulta." Sobre os jovens que voltam para casa dos pais aos 30, li num artigo do NYT de Julho (em papel e nao dou com ele online) que reportava casos de classe media que infelizes com o que faziam decidiam mudar de carreira e, sem novas oportunidades, tinham que regressar para casa dos pais. Admitindo que os casos de divorcio sejam os mais frequentes (vejam-se os cartoons) ha tambem esses.
 
Esse mudar de carreira, o que é um facto, é apenas temporário: não dura mais do que dois anos. Estrategicamente, regressam para poderem pagar alguns pequeno empréstimos ou poupar uns trocos para a compra duma casa ou duma pequena empresa. Mas a malta que faz isso tem os pezinhos no chão...muitos deles até mesmo têm os seus conselheiros económicos de família, etc ,etc. Não esqueçamos que não podemos interpretar a vida americana com óculos europeus, ou interpretar a vida europeia com òculos americanos.
Quando este pilgrim vivia em Portugal, ele não tinha carro por não podia, e até certo era um artigo de pequeno luxo. Quando aqui chegou precisou dum, não como luxo mas como pão para a boca. Assim, o carro tem um diferente conceito daquele para este país, tal como certas decisões num país ou região precisam ser analisadas com óculos daquele país ou região e não diferente.
O meu argumento era apenas que o império não tomba por si como também é perigoso dizer que ele pode cair por si.
 
Ha mais de um seculo que a esquerda adivinha que o capitalismo esta nas ultimas, e ainda assim ele da a volta. Nao quero ser outro arauto do apocalipse porque de certeza que estaria errado. Mais, nunca diria que cai por si.

Mas o imperio tem a sua vida, a sua vitalidade que avanca ou recua (mesmo sem resistencia). Sao as chamadas contradicoes do capitalismo, entre as quais estao as competicoes entre polos do capital. O meu ponto e' notar que o imperio Americano esta num momento de grande fraqueza o que altera os termos da luta anti-capitalista, altera a forma como o capital responde a resistencias.
 
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