01 setembro 2007

 

Não deixemos que este homem se suicide


Este homem está deprimido.

Ele tem defronte um país arruinado. Os jovens foram enviados numa aventura mesopotâmica, afundados no deserto a suportar uma mochila cheia de mentiras. A economia histérica pelos sobressaltos bolsistas, debilita-se com a galopante dívida do Estado, o dólar em saldo e a desequilibrada balança comercial. Até o Grand Old Party dos valores da família e do evangelho abriga-se de escândalos de solicitação de prostitutas e de financiamentos dúbios.

E ao olhar para a ruína, a ruína invade-o. Eu estou preocupado.

É critico que um suicida não seja deixado sozinho, mas a Casa Branca esvaziou-se. Ontem saiu o imaginativo delegado de imprensa Tony Snow, seguia o desmemorado procurador público Alberto Gonzales, e antes desse fora o arquitecto, o genial, o cérebro, Karl Rove, malas feitas e a fugir.

Imagino o Bush, chávena de cacau na mão, pantufas arrastadas a soar pelos corredores abandonados.

Em casos de aguda depressão deve-se ouvir a pessoa com atenção. É importante ser apoiante, compreensivo, terno, e não fazer juízos de valor. Se existirem armas de fogo na proximidade do suicida, chamar de imediato a polícia. Sobretudo, é urgente aconselhar o sofrido homem a consultar um especialista e talvez fazer umas longas, intermináveis férias.

Comments:
O melhor é trancar os pretzels a sete chaves. Ou talvez escondê-los com as armas de destruição massiva no Iraque...
 
Amilcar,

Saboreando toda a tua irona, esta de "Ele tem defronte um país arruinado" parece-me um bocadinho perigosa.
Os "states" estão longe de estar em ruínas, até pelo contrário: o l'argent está lá, como todo o poder económico, cultural...etc..etc....... you name it. Undermind them is an error.
 
E' certo que os EUA nao estao na penuria. Mas sera que serao senhores do mundo por muito mais tempo? A confianca que tinham no seu poder economico e militar esta em clara depressao.

Se nos anos 50 e 60 o que movia a propaganda nacional era a utopia e o partilhar da sua afluencia com o mundo, a propaganda actual e' o medo e o querer preservar o que tem. E' esse pais de duvida e fragilidade que o Bush ajudou a construir.
 
Am�lcar,

Claro que o imp�rio est� em clara decad�ncia, mas n�o vai cair por si, nem eu vejo presentemente for�as que o derrube. Primeiro, era o Jap�o; depois a China. A Europa n�o ata nem desata, e ainda por cima, copia o pior do imp�rio. Talvez a "globaliza�o" se tornasse no "feiti�o contra o feiticeiro" mas tu mesmo j� aqui disseste que j� a abandonaram. V�s como s�o espertinhos!
O que est� aqui em jogo n�o � o pa�s de duvida ou fragilidade, mas sim um imp�rio; e este o Bush nada tem com ele. O imp�rio � econ�mico e n�o pol�tico.....bem desculpa l� essa, as ele n�o � uma coisa nem outra.
 
Entao isso: e' o imperio que esta fraco. Pode ate nem ter substituto pelos tempos proximos, mas deixa de ser hegemonico, de mandar o que mandou e piratiar o que piratiou.

A questao complementar e' se havera EUA sem imperio - sem importacoes baratas, sem dolar todo-poderoso, sem lucros mirabolantes nas neo-colonias. Os Ingleses tem grande dificuldade em viver sem o deles, hoje, passado quase um seculo.
 
De acordo, mas mais um reparo: que ingleses têm dificuldade em viver sem o deles (império)?
Tal e qual como aqui nos states: a maioria dos americanos não sente que vive num império. A situação é a mesma como em qualquer parte do mundo:rendas de casa, ensino deficiente, alimentação e transporte carissimos, etc.etc.
De maneira que há ingleses e ingleses, como há americanos e americanos. A classe mais poderosa do mais pobre país do mundo vive melhor do que a maioria dos americanos.
Esta merda não está dividida em países/nações, mas em classes. Essa história de nações foi uma saída felizarda do capital de Smith, Hobbes e companhia limitada.
 
Atenção que para cairem os impérios não precisam de uma força que os vá substituir...
 
Os pobres Americanos sao comparaveis com os pobres doutros paises. Mas eu que tb passo por ca uma temporada noto uma imensa classe media que vive melhor que as classes medias doutros sitios (com ou sem duplas hipotecas). Os ingleses no imperio tinham criados para tudo. Os americanos tem soccer moms, SUVs, plasmas tvs, e jardins, e todo o outro luxo que se tornou sinonimo de ser Americano. No consumo e na ideologia precisam do imperio.
 
Machel,

Não para os substituir, embora fosse essa a ideia que dê ao citar outros países, mas para os destruir julgo eu que é preciso, e eu não vejo maneira dele, o império, criar a sua própria antítese.

Amilcar,
Concordo que esta malta cá, indirectamente, beneficia pelo facto de ter nascido no império. Quanto à classe média, tem sido o suporte interno do país,o que não acontece nos outros países. Com SUV, TV, etc....achas um "país arruinado"?
Não entendi "soccer moms"; podes-me explicar?
 
Com SUVs e TVs e tudo o mais, mas cada vez menos disso tudo. E com o muito repetido aviso que no futuro os filhos terao menos do que os pais tiveram. Um dos padroes actuais da sociedade americana e' os filhos aos 30 e tal anos regressarem para casa dos pais que com o encargo extra adiam a reforma. Isto e' um pais muito diferente do que foi.

Quanto 'as soccer moms, para que fiquem em casa tem os maridos que receber salarios confortaveis, para a casa, os putos e os carros. E' para manter esse estilo de vida que eles estao endividados ate' 'a careca.
 
(Isso est� a ficar um bocadinho comprido...)

Desconhe�o casos de "filhos aos 30 anos regressarem a casa......", a n�o ser em casos de div�rcio. O que existe � um tipo de financiamento em que os pais, � beira da reforma, "contraem um empr�stimo" usando a sua casa como fian�a. Ao falecerem, o banco toma o dinheiro da venda da casa, herdando os filhos o restante.
Voltando aos filhos, esses nem saem de casa antes dos 30, por raz�es de inseguran�a e impossibilidade econ�mica.
Afinal em que ficamos? Eu diria que nem tudo s�o rosas nas terras do imp�rio.
 
eia, eia, 11 dentadas e ainda temos bitoque na mesa.

Amilcar, pardon me, mas estou do lado do peregrino. Gostava que sustentasses "os filhos aos 30 anos regressam a casa" ou "os ingleses tem grande dificuldade em viver sem o seu império".

Achas mesmo? Acho que é errado confundir a decadência de Bush com os EUA; as mesmas questões se punham no pós Vietname e estamos onde estamos. Serão a potência eterna? Não. Haverá EUA sem império? Sim, claro que sim, pelo menos para mim.

O capital acumulou-se, e muito, nos últimos 2 séculos e não se deprecia assim. A conta corrente, a dívida externa ou o dólar serão importantes no curto a médio prazo, mas não vejo o histerismo que tu vês.

Finalmente, não imagino Bush "chávena de cacau na mão, pantufas arrastadas a soar pelos corredores abandonados". Aliás, acho que deve estar muito contente: não vejo líder no mundo que tenha tido mais sucesso em implementar as suas prioridades; como poucos, soube tirar partido de um contexto volátil e aproveitou os cenários inesperados (?) para alavancar a sua posição.

Falamos.
 
Parece-me que o arruinado refere-se a um país que se endivida pelo seu "American way of life". No entanto, importa cada vez mais enquanto o seu alimento, o dólar, enfraquece.

Particularmente importante parece-me o conceito de estar na defensiva como o Amílcar referiu. É através do medo e de nenhum projecto "civilizador" que tenta manter a união. Enquanto isso isola-se do mundo e a aventura no Iraque parece hoje um buraco sem fim...
 
Para mim nao e' interessante que a linha de fronteira com a bandeira Americana exista. Havera EUA. Mas que EUA?

"As mesmas questoes se punham no pos-vietname" e foi o fim dos 30 anos gloriosos e foi o fim do padrao dolar. Estas marcas sao importantes para perceber qual a forca do imperio e como ele decai. E a marca actual nao e' irrelevante. E' uma ilusao crer que o descalabro desta guerra e a fragilidade economica (financeira e competitividade industrial, i.e. Toyota e Siemens) e' um problema de ma gestao do Estado. Isso e' crer que o tempo pode voltar para tras.

O programa do Bush, the New American Century, era reafirmar o papel da America como potencia mundial e omnipresente. As portas do New American Century estao fechadas.
 
Não deixa de ser valiosa a troca de opiniões sobre se os states estão em ruínas ou em decadência, mas o meu primeiro contributo era sobre o perigo de se subestimar o poder americano.Perigo na medida que pode levar alguns de nós a acreditar que os impérios caem por si, quando não é assim.
O mesmo perigo, mas noutra escala, que subestimamos no 26 de Abril, quando acreditamos nos cravos do dia anterior. Não nos bastou a lição do Setembro Chileno.
 
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