23 abril 2007

 

Os donos do possível


Vários políticos, intelectuais e quejandos constantemente frustram as aspirações das pessoas através da defesa de uma dita política do possível. Ao longo dos anos, habituámo-nos a ouvir inúmeras personagens, umas mais sinistras do que outras, a estabelecer os limites do pensamento, do razoável e do aceitável. Peças-chave em constrangir esse possível são determinadas palavras como “sustentabilidade”, “credibilidade”, “competitividade”, “produtividade”, “globalização”. Autênticas caixas de Pandora, a sua ambiguidade permite que signifiquem tudo e nada.

Em determinados meios da classe media/média-alta este dito bom senso (dos bem pensantes) torna-se ele mesmo um senso comum, da forma acrítica e acéfala com que é repetido. E assim vemos os rebanhos que aplaudiram o betão do Cavaco e do Guterres, os ditos cortes da Ferreira Leite e as reformas do Sócrates. Sobre este e a recente política do possível haveria muito a dizer. Da forma como fez promessas antes das eleições e depois a surpresa ao encontrar a situação “real” das contas. Da institucionalização do roubo das pensões (aqui, aqui e aqui) baixando os seus valores e aumentando anos de contribuição, ao avaliar funcionários de organismos sem objectivos atribuídos.

Com a mesma facilidade de quem define o que é possível (e impossível), acusam os opositores de irrealistas e irresponsáveis. Pedem propostas alternativas, concretas e “possíveis” e quando lhas dão, ridicularizam-nas. No tempo de Cavaco, os que advertiram da importância da formação e da educação, no entanto, eram tratados como os velhos do Restelo. Agora é ver os fazedores a falar a boca cheia de educação e formação, enquanto vêem as empresas fechar com passividade. Outro exemplo, depois de se ouvir sucessivos governos falar sobre a corrupção, não deixa de ser caricato, vermos mais uma vez a incapacidade de se legislar sobre a mesma.

E assim, uns atrás dos outros, vão subindo, enquanto nos enterram um bocadinho mais.



   

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