30 agosto 2006
Adeus, adeus...
29 agosto 2006
Abandono
No seguimento da conversa de há dias, há sempre coisas em que estamos entre os primeiros...mas não devíamos. (cliquem na imagem para aumentar)
in Eurostat Year book 2005.
25 agosto 2006
Demolições
Há uns meses falei aqui da Maria que trabalha no bar. A Maria mora na Azinhaga do Besouro, na Amadora. Tem três empregos: limpezas de madrugada, bar durante o dia, e mais limpezas ao final do dia.
A Câmara Municipal da Amadora anda a demolir barracas sem aviso. As poucas que avisou foi com 8 dias de antecedência.
Com três empregos, como é que a Maria vai procurar um sítio para viver?
23 agosto 2006
Ando às "ninas"...
Num autocarro concorrido nos limites de Lisboa, dois rapazes entram e sentam-se juntos nos últimos bancos. Pouco depois, um terceiro aparece, pelos visto conhecido.
- Então pá? O que é que andas a fazer aqui? - pergunta um dos que estava sentado.
- Ando às "ninas" - sorriso.
- Andas o quê pá, és feio para caralho...
- Olha, e tu és lindo...
Mais umas paragens, e a conversa continuava.
- Tu tens que idade? - pergunta o inquiridor sentado.
- 18.
- Tens 18 o quê, não tens nada.
- Que idade é que tens? - pergunta o outro sentado, menos interventivo na conversa.
- 18, se não acreditas pergunta ao meu irmão.
- 18 o quê, tens 17 no máximo - volta o primeiro.
- Se não acreditas pergunta ao meu irmão...
Mais umas curvas, mais umas paragens, e a conversa continuava.
- Estudaste até que ano? - lança o curioso sentado.
- Quinto.
- Sabes ler?
- Ya.
Umas curvas depois:
- Então e o que é que andas a fazer?
- Vou agora começar a trabalhar nas obras.
Portugal, 2006
22 agosto 2006
A lei da força
O legalismo nas relações internacionais que se levanta dos destroços da II Guerra Mundial, e de que a Sociedade das Nações, e depois a ONU eram (supostamente) guardiões, foi mantida na podridão pelo equilíbrio da Guerra Fria até aos anos 90. Depois da queda do bloco soviético, essa máscara de bom comportamento e de respeito pela lei internacional já não era precisa, e portanto caiu. Hoje voltamos à lei da força, qual bárbaros da Idade Média, onde o mais forte dita a lei, conforme lhe convier. E a discussão é sempre na base de força. A actual questão do Irão é disso prova. Mesmo um país subdesenvolvido como este, a partir do momento em que tem (ou se suspeita que tenha, ou esteja em vias de ter) um arsenal nuclear, já é preciso dialogar, negociar, propor e convergir. O mesmo aconteceu com a Coreia do Norte. É apenas pela força que os países se relacionam. Neste concurso de quem mija mais longe, quem se lixa é o Afeganistão e o Iraque, o Líbano e os outros que hão de vir...
18 agosto 2006
Lajes e Israel
No Público de 10 de Agosto o Local perguntava:
«O que acha da utilização da base das Lajes por aviões israelitas?
Paula Rodrigues,
Escriturária, 39 anos
"Não concordo. Na minha opinião, este conflito entre Israel e Líbano não faz sentido."
José Pereira
Professor, 60 anos
"Se se verificar que não se está a violar nenhum princípio da República Portuguesa, não vejo problema nenhum."
Daniela Pamplona
Estudante, 22 anos
"Como sou contra a existência da base das Lajes, também não concordo que ela seja utilizada pelos israelitas."
Nuno Catarré
Oficial de Justiça, 35 anos
"Discordo plenamente. Acho que devíamos ter uma posição neutra no conflito."»
12 agosto 2006
Salas de chuto
O Local do Público de 21 de Julho pergunta: “Concorda com a criação de salas de chuto para toxicodependentes?”
“Guilherme Almeida
Polícia, 47 anos
Não concordo, porque essas pessoas cumprem as penas e depois saem ainda mais viciadas.”
“Carlos Parente
Administrativo, 45 anos
Ainda não reflecti sobre o assunto, mas acho que é uma matéria que deve ser ainda mais debatida.”
“José Costa
Encarregado construção civil, 47 anos
De certa maneira sim. Trata-se uma questão de privacidade e de não os expor perante os restantes.”
“Fátima Brito
Doméstica, 44 anos
Concordo, desde que sejam medidas que visem ajudar os toxicodependentes a lidar com a situação.”
09 agosto 2006
Das democracias
A superioridade moral da democracia é abundantemente anunciada por muitos comentadores do regime, com maior incidência nestes últimos anos. Alguns mais extremistas, como Vasco Graça Moura ou Pacheco Pereira, legitimam ainda a prática da barbárie na defesa desse bem supremo. Mas de que democracias falam eles?
Antes de mais, a nível externo, qual a legitimidade destas democracias para agredirem outro país? Simplesmente por a agressão ser decidida por governos “democraticamente” eleitos? Mais a mais, os seus dirigentes escondem freqeuentemente a sua veia belicista quando vão a votos.
Depois, nem todos os votos parecem ser aceitáveis para a comunidade dita democrática: veja-se o apoio a golpes contrários a governos eleitos como na Argélia ou as pressões inaceitáveis sobre o Hamas. Os EUA têm um maior historial neste aspecto, destacando-se o apoio ao golpe de Pinochet, a recusa de aceitar Chavez (Venezuela), entre muitos outros.
Para além disso, a importância dos valores democráticos é inversamente proporcional à amicidade dos países em causa. Chavez e Ahmedinajad (Irão) são flagelados internacionalmente pelos EUA embora tenham sido eleitos democraticamente, enquanto a colaboracionista Arábia Saudita e alguns adjacentes mais parecem um retrato da época medieval.
Finalmente, “democracias” há muitas. Por exemplo, poder-se-á comparar as democracias nórdicas com a dos EUA, a qual acompanha frequentemente os ditos Estados-pária nos relatórios de direitos humanos? Nos EUA veja-se a esperança média de vida de negros e latinos ou a sua taxa de encarceramento, ou ainda estarem no top das execuções. Agressões a outros países, raptos, Abu Ghraib ou Guantánamo também merecem referências. Israel também não é nenhum anjinho. De assassínios, raptos a agressões a outros países, pouco falta no seu currículo. O regime de apartheid também não abonará a seu favor. E que dizer das suas máquinas de produção e controlo da informação?
A recente eleição presidencial em São Tomé e Príncipe é também bastante elucidativa da ilusão da democracia em muitos países. Perto das urnas, juntavam-se muitas pessoas com um único fim: trocar o voto por dinheiro. E Fradique de Menezes foi eleito.
Assim se vão fazendo as democracias...
08 agosto 2006
Se correr o bicho pega...se ficar o bicho come
A democracia em Israel
Israel é para muitos um exemplo de sucesso na “barbárie” do Médio Oriente. O alto nível de vida de uma boa parte dos israelitas provém da sua capacidade de organização e do generoso apoio dos EUA, mas também da apropriação e exploração dos recursos locais: do uso de mão-de-obra barata ao controlo dos recursos hídricos (Montes Golã), passando pelo roubo de terras a palestinianos - neste caso, não parece haver oposição internacional como no Zimbabué ou outras reformas agrárias tão prontamente combatidas. Esta desigualdade e o desejo de manutenção dos privilégios é um dos aspectos que dificulta a viabilidade de um estado único e laico, mas também de dois estados separados, um pobre e outro rico, num contexto de rivalidades de décadas.
No entanto, na democracia em Israel nem todos são considerados iguais. Primeiro discriminam-se os árabes residentes em Israel mas sem nacionalidade, e de seguida os árabes israelitas. Mesmo entre judeus, a discriminação é muito forte. A sua proveniência, por exemplo, se da Europa ou se de África, corresponde a uma forte hierarquia. A ascensão de Peretz foi neste sentido visto por muitos analistas como um avanço (embora tal não o impeça de matar tanto quanto os outros).
Uma das histórias mais elucidativas e extremas da diferenciação da proveniência judaica relata a criação de judeus em orfanatos especiais. Durante anos, filhos de judeus africanos (Etiópia/Eritreia) foram transferidos para estes orfanatos especiais, enquanto aos pais era dito que os filhos tinham morrido durante o parto. Nestes locais, eram educados como cidadãos israelitas exemplares, evitando a influência nefasta dos incapazes pais mas garantindo a pureza da raça.
07 agosto 2006
Depois de Fidel
A revolução cubana tem sido um caso de estudo desde o seu início. Depois de deixarem de ser um bordel dos EUA, conseguiram construir um estado social, um sistema de ensino público de qualidade, uma assistência médica com qualidades inigualadas, mesmo nos países mais ricos, uma garantia de segurança social, emprego, e um nível mínimo de condições de vida acima da miséria para toda a população. Tem sido um caso de estudo pela relação beligerante com os EUA, pelo embargo a que se encontra sujeita há décadas, pelo que conquistaram com uma economia de planificação socialista num mundo ferozmente capitalista.
E Cuba prepara-se agora para dar mais um exemplo, para gerar mais um caso de estudo. A sucessão de Fidel é provavelmente o maior desafio à Revolução Cubana. Neste aspecto, o que mais intriga é o leve sentimento de caciquismo demonstrado pela possível sucessão de Castro, Fidel, por Castro, Raul. Este sentido de dinastia, provavelmente exacerbado pela pouca informação que vem de dentro e pela muita propaganda que vem de fora, pode indiciar qualquer coisa de negativo no exemplo cubano. Mas Raul Castro também pode ser, de facto, o mais indicado sucessor na liderança da Revolução Cubana, e ser, por acaso, irmão de Fidel. Ou não.
Se o socialismo cubano resistir à morte do carismático Fidel, é um sinal de que ela já não depende da elite, do estado, da ditadura, da vanguarda, mas sim das pessoas. Significará que cada cubano é um revolucionário socialista, que cada um compreende e defende o socialismo, apesar das dificuldades que ele tem gerado, sobretudo devido ao embargo. Significa que cada cubano abdica da (remota) possibilidade de ascensão pessoal, de riqueza e satisfação dos mais exorbitantes desejos, por uma partilha e distribuição dos recursos, para que ninguém fique para trás.
De qualquer modo, o que se passar em Cuba será sempre um exemplo político, um caso de estudo valioso. Porque o estado cubano não é uma "uma ditadura anacrónica sem lugar no Mundo moderno", é antes uma prova de que a política não está morta, e que esta é muito mais do que a podre alternância dentro do modelo neoliberal.
Adivinha
Quem disse “Eles matam vidas inocentes para atingir os seus objectivos” e a quem se referia?
Soluções para o conflito
Diferentes soluções têm sido apontadas para o mais recente conflito no Médio Oriente. Israel e os seus aliados têm declarado ser contra um cessar fogo que não resolva as razões do conflito, as quais segundo eles residem nos recentes ataques a Israel. Tal posição também é partilhada pelos numerosos comentaristas que fazem coro com os falcões israelitas, de Vasco Graça Moura a Luciano Amaral. Mesmo a posição dos países moderados é perfeitamente inútil ao sugerir uma força de intervenção que caso vá para o terreno terá inevitavelmente de intervir num conflito. Nao me refiro a este, mas ao que tem ceifado muitas vidas ao longo de muitas décadas. Tal força só poderia resolver o problema pelo esmagamento de um dos lados e adivinha-se qual seria.
Mas outros têm sugerido ao longo dos tempos propostas mais equilibradas da resolução deste conflito de décadas: da separação entre Palestina e Israel a um único estado laico. Recentemente, no “Clube de Jornalistas” da RTP 2, Pezarat Correia observava que a afirmação, por parte de Israel, de os judeus estarem permanentemente ameaçados de serem atirados ao mar era desmentida pela transição pacífica do Apartheid da África do Sul para o regime democrático. Infelizmente, e apesar de inequívocas melhorias, a transição não resolveu ou chegou mesmo a aumentar as assimetrias como John Pilger registou em documentário. Tal não é inédito e basta recordar, mais de 100 anos depois do fim da escravatura, as assimetrias brutais dos negros nos EUA.
No entanto, se Pezarat destrói o argumento de Israel, depara-se com a irredutibilidade de Israel em não abdicar da natureza religiosa, neste caso judaica, da sua fundação. A concretização do projecto sionista que o Irgun começou à bomba (o mais famoso ataque foi a um hotel) e que os tanques do Tsahal continuam hoje não se coaduna com maiorias alheias. Assim se explica a expulsão de palestinianos e a importação de cidadãos, judeus de outros países, desde a sua criação.
Deste modo, não se antevêem grandes perspectivas de paz para a região nos próximos tempos e para os problemas que preocupam os árabes, nomeadamente os ataques à Palestina, o retorno dos refugiados ou as fronteiras reconhecidas pela ONU (tão importante no acesso a recursos locais). Caso os israelitas não se decidam por um caminho de paz e reconciliação com os seus vizinhos, a guerra será longa e voltará ciclicamente.
02 agosto 2006
Vamos bien!
A especulação à volta da saúde de Fidel Castro, a propósito da recente operação médica, é inacreditável. E vai daí já se sabe tudo sobre o futuro de Cuba e o fim daquele estado “ditatorial” e “opressor” (o mesmo estado que envia mais médicos para ajudas internacionais do que OMS inteira). Os EUA, claro, já começaram a afiar o dente, desejosos de sangue e nos jornais há debates sobre se o irmão Raul será a porta para um mundo “democrático” e “livre” (o mesmo mundo que violenta o Iraque, a Palestina e o Líbano).
Epá, larguem! Ainda não perceberam que não há arsenal militar que vença aquela ilhota minúscula, mesmo nas barbas da maior potência do mundo? Ainda não perceberam que entre ser o bordel dos ricos ou um estado independente e solidário, os cubanos já fizeram a sua escolha?
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