15 fevereiro 2006
Verde por fora, vermelho por dentro
Num planeta onde ainda se matam milhões à fome, as militâncias verdes são por vezes caprichosas e erram o alvo. Não nutro simpatia pelas incursões paramilitares de grupos de defesa dos direitos dos animais - com atentados bombistas a centros de investigação universitários, ameaças e ataques a indivíduos. Não vejo mérito na campanha que se difunde das escolas e dos media, culpabilizando o consumidor por não comprar “verde”, como se a degradação ambiental fosse gerada pelos actos do consumidor indolente e pouco informado.
Pondo de parte estas diversões revela-se uma causa que não se pode ignorar. O modelo tecnológico formado pelo motivo do lucro envenena o planeta. Se o que dirige as nossas economias é a busca do lucro, este é cego às suas consequências ambientais. Se o que move as nossas economias é a força do trabalho alienado, é indiferente que finda a jornada os trabalhadores durmam entre o lixo, se molhem em chuva ácida, e sufoquem na poluição em massa. Que o planeta se faça num deserto não preocupa o capital, porque este só habita agoras, na sua cegueira o amanhã é sempre longe demais.
A esquerda não está sozinha em reconhecer que a causa ambiental é incompatível com o “mercado livre”. À direita, os mais libertários apoiantes do ideal americano recusam as evidencias do aquecimento global com retórica científica, criando controvérsia onde esta não existe. O seu objectivo é adiar acção, para mais umas décadas de lucro selvagem, mais biliões que se acumulam. É pela urgência de agir, que precisamos saber mais sobre as alterações climáticas que vivemos. É preciso provar, imune de qualquer dúvida, que ocorre um aquecimento antropomórfico do planeta. É preciso saber.
Antes de ir para a rua gritar, podemos participar na investigação. A proposta vem de uns senhores em Oxford que querendo publicar uns artigos na revista Nature, oferecem em troca umas simulações atmosféricas projectando o futuro da nossa sociedade global. Pedem tempo no nosso CPU quando saímos para ir beber o café, para aprender o efeito dos oceanos no aquecimento global. Querem constituir uma rede global de computadores pessoais para compor os cálculos dos seus modelos. A inventar formas de combater a tecnologia com tecnologia, o virtual contra o fabril. Será dialéctica?
Comments:
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"Não vejo mérito na campanha que se difunde das escolas e dos media, culpabilizando o consumidor por não comprar “verde”, como se a degradação ambiental fosse gerada pelos actos do consumidor indolente e pouco informado."
Correndo o risco de cair em frase feita: "O maior segredo do diabo foi convencer o mundo, que não existia"
Aqui está o segredo. Se conseguirmos convencer a população mundial que a degradação do ambiente de uma maneira tão acelerada é culpa de todos e não de uns pouco mega-poluidores, então ninguém nos vai chatear. Porque o poluidor sendo todos, não existe!
Correndo o risco de cair em frase feita: "O maior segredo do diabo foi convencer o mundo, que não existia"
Aqui está o segredo. Se conseguirmos convencer a população mundial que a degradação do ambiente de uma maneira tão acelerada é culpa de todos e não de uns pouco mega-poluidores, então ninguém nos vai chatear. Porque o poluidor sendo todos, não existe!
Acho que, um dia, vamos ter uma mudança radical da posição dos EUA e estes vão passar a estar na liderança do processo.
Sabes aquele ditado que um rapaz bom que faça uma asneira afinal sempre foi um falso mas um rapaz mau que faça uma boa acção afinal sempre teve um coração. Os EUA vão esticar a corda até deixarem de ter valor acrescentado e, de repente, vão mostrar todo o seu altruísmo. Por isso a resolução deste problema só vai começar quando a poluição deixar de ser um valor acrescentado. Será tarde demais quando isso acontecer?
Abraço,
P.S. Veja-se o que está a acontecer às paisagens e poluição do Canadá com a descoberta de petróleo em estado sólido lá. Mais décadas de dependência ao petróleo.
Sabes aquele ditado que um rapaz bom que faça uma asneira afinal sempre foi um falso mas um rapaz mau que faça uma boa acção afinal sempre teve um coração. Os EUA vão esticar a corda até deixarem de ter valor acrescentado e, de repente, vão mostrar todo o seu altruísmo. Por isso a resolução deste problema só vai começar quando a poluição deixar de ser um valor acrescentado. Será tarde demais quando isso acontecer?
Abraço,
P.S. Veja-se o que está a acontecer às paisagens e poluição do Canadá com a descoberta de petróleo em estado sólido lá. Mais décadas de dependência ao petróleo.
Sugiro que comparem duas medidas de eficiência, por exemplo, das emissões:
- emissões por unidade de riqueza produzida;
- emissões por habitante;
O mundo "desenvolvido" é muito eficiente na primeira, mas é um glutão na segunda. Não tenho dúvidas que com a tecnologia actual o mundo não aguenta 6 mil milhões de "norte-americanos".
Confesso que esclarecidas as minhas preocupações ambientais, muitos ambientalistas não dão uma palha por outros seres humanos, desumanizando-se dessa forma...
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- emissões por unidade de riqueza produzida;
- emissões por habitante;
O mundo "desenvolvido" é muito eficiente na primeira, mas é um glutão na segunda. Não tenho dúvidas que com a tecnologia actual o mundo não aguenta 6 mil milhões de "norte-americanos".
Confesso que esclarecidas as minhas preocupações ambientais, muitos ambientalistas não dão uma palha por outros seres humanos, desumanizando-se dessa forma...
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