09 março 2008

 

Melita


Melita é moçambicana, mulher, mãe solteira e pobre. Trabalha a dias na casa de uma senhora que, além do ordenado miserável, lhe dá o almoço que ela própria cozinha. Melita vive mal pois o ordenado dá para o chapa e pouco mais, mas mesmo assim a senhora faz questão que ambas comam da mesma comida. Não há muitos patrões assim. A senhora assegura que Melita se alimenta bem, mas Melita só folga ao Domingo.
Melita viveu durante 12 anos com o mesmo homem, pai de seu filho. Separaram-se mas continuaram a viver juntos por mais um ano, até que foi tudo tão insuportável que Melita pegou no miúdo e foi para casa da mãe. Aí construiu um anexo para as suas coisas, para dormir. Não teve direito a nada com a separação porque não estavam casados. Mas mesmo que tivessem casado, Melita dificilmente conseguiria recuperar aquilo a que tem direito: a família do homem tem um papel dissuasor e Melita diz que “sorte teria se apenas apanhasse porrada deles pois há aí quem morra por causa disso”.

Melita fartou-se dos homens: desde que se separou que não esteve com outro homem. Quer alguém que a respeite e que não seja só para fazer filho. Diz Melita que “homem aqui casa ou vai viver junto e diz que só há amor com filhos”. Melita não concorda: “há amor com ou sem filhos, os filhos vêm porque há amor, não são a prova desse amor”.

Melita tem a 6.ª classe mas na sua argumentação bate aos pontos muitas mulheres com formação superior.

Melita é feminista e não sabe.

Comments:
Outro tipo de feminismos, invenções para mulheres segundo uma jornalista regional:

http://ailusaodavisao.blogspot.com/2008/03/as-mulheres-vistas-pelo-ponto-final.html
 
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