04 março 2008
Doí-me aqui senhor doutor
Ouvia na rádio (sim, estava de novo a guiar) a conferência de imprensa da FENPROF sobre o ensino superior. Porque há pressa em dar a notícia, para dar muitas e dar primeiro, a reportagem foi um recorte de citações prefaciadas pelo título do press release. Muitos se queixam dos professores, mas eu queixo-me primeiro, segundo e terceiro dos jornalistas. Não tenho as queixas do costume: não os creio enviesados e não lhes vejo preconceito. E é esse o problema. Agradava-me ver uma qualquer paixão na sua molenga actividade. O jornalismo pode reclamar neutralidade porque deixou de fazer perguntas, é uma ignorância auto imposta que relata as ideias dos outros, é estenografia.
Num dos recortes da conferência de imprensa dizia o dirigente sindical que era inaceitável eliminar a regra antiga de que assistentes que concluem doutoramento automaticamente acedam ao cargo de Professor Auxiliar. Justificava o sindicalista que os assistentes tinham essa expectativa, e que era injusto mudar o sistema.
Segurança no trabalho é bonito, mas para quem fica de fora, como eu, isto não soa a direito, soa a privilégio de poucos, daqueles que são sempre os mesmos. Requerer para os intelectuais os mesmos direitos que se pedem a operários é uma obtusa teoria. Para intelectuais não há conflito trabalho-capital. Contudo, os académicos têm mais poderes para contestar a arbitrariedade do seu “capitalista” - o colega de gabinete que foi eleito para funções executivas - do que um soldador da Sorefame contra o seu gerente ou o distante acionista.
O que me transtorna aqui é uma crónica dor de cotovelo, tanto que desenvolvi um cubital tunnel syndrome (check it out). Eu estou cá fora, sem possibilidade sequer de ser comparado com quem está lá dentro. Se vamos forçar uma matriz de classe sobre este mercado de trabalho então quem se apropriou dos meios de produção foram os coitadinhos dos assistentes e os seus padrinhos catedráticos. O soldador sou eu que nem todos os graus do mundo me garantem trabalho.
|
|
|
|