15 fevereiro 2008
Atonement (2007)
Tem dias em que trabalhamos sete horas de enfiada, sem distração para os olhos, membros, estômago ou mente. Uma unidade em movimento. Olhamos o caminho de casa, entre a fome e o cansaço, silenciosamente a agendar as tarefas para amanhã. Ontem, escusei-me ao apelo do sofá, e fui ao cinema ver Atonement (Expiação). Cinema durante a semana tem uma significação diferente. Não é festa. Não é erudição. É às vezes somente o mero conforto da cadeira face ao grande plano e a privacidade da sala escura. Ontem contudo, e apesar do cansaço ou talvez por conta dele, não fui indiferente, e o filme aparentemente banal atingiu-me com total e inexplicada emoção. No final comovi-me e queria comover-me.
Conta a história de dois jovens que se amam mas que a classe social separa e vitima. Portanto, não foi por paralelo biográfico que me agarrou. A história é narrada na perspectiva de uma romancista que tenta expiar o seu crime contra a intuitiva paixão do par. Ela intromete um contínuo exame de palavras. O que me fascinou foi a simplicidade do afecto. Tantas vezes o drama da paixão se representa em atormentadas ambivalências e hesitações. O amor como o sexo nos livros do Ian McEwan tem esta beleza de serem destilados de culpa e encenação, são pura vontade.
Sentado, sendo todo corpo de um dia que me pesava ainda, o filme tocou-me porque não vendia ideias. O filme gritou-me porque do martelar da máquina de escrever da narradora, soava uma constante e quente vontade.
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