12 dezembro 2007

 

Uma estrada fácil


Nos anos 30, um intelectual austríaco, aliás um economista austríaco, refugia-se em Londres. Quando a Segunda Guerra começa, o valente voluntaria os seus préstimos como locutor para a propaganda aliada. Os ingleses, primeiros na suspeição xenófoba, não confiam no mau sotaque inglês para ser a sua voz alemã.

Sem melhor missão para a guerra, Friedrich Hayek escreve um livro. O livro não é fuzil aliado, tem na mira o que se segue à derrota nazi. Em polémica com os socialistas democráticos ingleses, agrupa o Nacional Socialismo com o Socialismo Bolchevique. Diz que planear a economia, qualquer forma de intervenção que não seja para fomento da competição privada, conduz à servidão dos homens, The Road to Serfdom. Diz que o planeamento excepcional em tempo de guerra é uma necessidade, mas que deve ser seguido da normalidade e tradição liberal.

Escreve o livro para ingleses lerem, mas envia uma cópia para outro emigrado nos EUA. Este faz chegar o volume à University of Chicago Press e com o patrocínio dos liberais do Midwest, o livro é publicado também nos EUA. O livro vende, mas não mais que umas dezenas de milhares.

Numa viagem de comboio um ex-socialista, Max Eastman, lê o manuscrito. Este desiludido ex-trotskista é um espécime perigoso, um editor da Reader’s Digest. Uma versão condensada aparece na revista em 1945, com mais de oito milhões de cópias distribuídas. Caso não chegasse, a revista Look, uma competidora meio histérica da Life, publica uma versão do livro em vinte vinhetas ilustradas.

A mensagem liberal, depois ultra-liberal, depois libertária de direita, teve sempre uma estrada aberta, pavimentada com "greenback." Não lhe faltaram amigos que pelo caminho a acarinhasse e financiasse. E foi essoutro trilho de liberal opressão que nos impuseram.

Hoje, o livro tornou-se um fetiche histórico. Um daqueles titulos que produz salivação entre os endoutrinados. Não o lêem, mas conhecem a história do seu sucesso e influencia, e usam-na para ilustrar a certeza das suas ideias. A versão condensada e os cartoons estão online no think tank do partido Conservador inglês, Institute of Economic Affairs.

Comments:
O que será um ex-socialista?!!?!?! Pena esses pecados veniais de linguagem, cometidos numa mensagem de esquerda.
 
Nao entendo...
 
Tal como eu ser ex-mudo...impossível!
Esse senhor, que desconheço tudo sobre ele, nunca
deve ter sido socialista. Para tal,era preciso ter vivido numa sociedade socialista e estar comprometido até às suas últimas causas.
Por outras palavras, ser anti-capitalista, pertencer a uma organização socialista, ter um blogue de esquerda (essa é para ti), ou algo do género não basta para se ser socialista.
 
Entendido... ca espero entao esse sonho de lugar onde o nectar brotara da torneira, e onde os seres serao renomeados.
 
Onde o néctar brota da torneira não conheço. Se fosse das paredes diria que seria no Pátio das cantigas, onde o palheto jorrava e todos arranjavam um recipiente para se abastecer...
 
Sonho é acreditar que todo o bicho-careta dito socialista o é de facto. E a razão, a maioria das vezes, não é por culpa do dito.
Conforme o processo, a origem, a consciência e os interesses de classe fazem dar muitas voltinhas, principalmente aos imbuídos duma ideologia pequeno-burguesa. Não faltaram socialistas no dia 26 de Abril.........onde estão eles?
 
A experiencia do 25 de Abril e' de facto traumatica, quem os viu e quem os ve: Durao Barroso, Jose Manuel Fernandes, Joao Carlos Espada... Mas dai dizer que socialista e' o calhau que nao muda de ideias, ficamos igualmente em fracos fundamentos. Gente e' gente, muda de conviccoes, refaz solidariedades, ha uns que escolhem trair os camaradas, as vezes depois de muito tempo a sacrificar-se pelos camaradas.
 
Não achei nem acho nada de traumático no 25 de Abril. Para os sonhadores talvez.
Ser socialista não é ser crente religioso, não é convicção; não é pertencer a grupos ou instituições de solidariedade.
Trair....em que situações? Aqui há pano para mangas!!!
 
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