31 dezembro 2007

 

Porreiro pá!


A pasmaceira política portuguesa distrai-nos das distintas personalidades dos nossos governantes. Fascinados pelas semelhanças entre primeiros ministros e presidentes, insistentes na expansão pirata da economia privada, conservatismo fiscal, e repressão dos direitos sociais e laborais, não notamos que são todos gajos singulares em estilo e liderança. Assim, enquanto o país permanece inscrito em dura pedra no atraso social e democrático, o espectáculo da República está em constante re-invenção.

Vejamos os líderes do absolutismo democrático, quando no final da década de 80, os governos começaram a cumprir o termo dos seus mandatos.

Mário Soares sempre se imaginou como descendente final de uma linhagem ilustre, por direito filial e porque trabalhara na oficina do PSF a aprender a arte artesanal da social democracia. Enquanto presidente, Mário encarnou rotunda solenidade. Mário cumprimentava a calçada, os postes da estrada, os marcos do correio. Um D. Quixote a imaginar multidões que o vinham celebrar. Mário de resto era tão imóvel como a calçada e os postes, todo pose e ritual.

Aníbal Cavaco Silva tinha uma relação ingrata com a nação. O professor queria ensinar o país a crescer e a igualar as nações míticas dos manuais de economia. Porque o país não aprendia a tabuada, zangava-se, com um olhar duro e palavras atrapalhadas obrigava os portugueses a trabalhos para casa.

António Guterres foi um primeiro ministro curvado pela palavra leve, um abade da social democracia. Com ares castos, santificados e sofridos pedia ao pais para se reconciliar e o perdoar de pecados governativos. José Manuel Durão Barroso foi um primeiro ministro escapista. Um Houdini da política portuguesa que durante o mandato fintava responsabilidades com um golpe de mão e verbo rápido, e perante a morte certa entrou num beco escuro e reapareceu lá longe, Presidente da Comissão Europeia. Ficou o Pedro Santana Lopes, que assumia a chefia do governo como um carnaval da sua vaidade e da sua corte de meninos mimados e criminosos.

O mais distinto neste panteão é inesperadamente José Sócrates. O actual primeiro ministro distingue-se como o primeiro que é genuinamente e entusiasticamente feliz. O José sorri, abraça, beija, aplaude, auto-congratula-se. O José acredita que é o princípio e o fim do país, ele é o governo, o crescimento economico também, até a diplomacia europeia só existe pela sua intervenção. O José começa os dias a consagrar o seu corpo com uma corrida em cenários heróicos, e termina com discursos musculados que são odes de amor próprio. Finalmente, o poder reconciliado.

Comments:
Se estes filhos foram paridos pela ditosa Pátria, eu devo ter sido adoptado sem me terem pedido a opinião, porque com irmãos destes...
 
Força: o LFMenezes precisa da nossa ajuda...
 
Pois é anónimo. Com postagens deste estilo, temos o campo aberto para supor que Menezes, Santanas, Portas e Mendes são melhores.
 
Acho que não são melhores nenm piores são iguais.
FR
 
Se achas que são iguais, então o que precisamos de dizer o que está mal é o pano-de-fundo e não os artistas.
 
carlitos,

por tua vontade este blogue repetia ad nauseam a mesma posta. A politica actual e' refem da apropriacao burguesa da mais valia, que serve somente a repressao do movimento operario e a corrupcao dos valores colectivistas na cultura...

Se tudo isto e' verdade e contigo ninguem aqui discorda, a expressao desta politica faz-se de multiplas formas e nuances que merecem atencao. Afinal, o sistema e' tao repressivo como sedutor e falta perceber como Portugal permanece enrolado em si mesmo. Sao os lideres e a credibilidade do seu paternalismo que em parte o consegue. E' preciso gritar que o rei vai nu.
 
"apropriacao burguesa da mais valia, que serve somente a repressao do movimento operario e a corrupcao dos valores colectivistas na cultura", de acordo.
Acontece que aquela apropriação está em constante mudança, mesmo nos dias de natal e de ano novo. Quais as medidas de cada PM para cada momento? Claro que não se repetem e era isso que eu tinha vontade de ler aqui.
 
Como expresso numa posta acima nao faco parte da escola que examina a minucia do debate legislativo e governativo. Ha quem o faca melhor que eu sem se entediar de morte. Ha quem acredite que esse detalhe tem uma importancia real e imediata na evolucao social do pais.

Eu quero crer que os actos legislativos nao exagerados, enquanto estamos obcecados com essas tricas palacianas nao notamos as insidiosas opressoes que vao entre as linhas ou os conflitos que sao silenciados pela cupula (a politica internacional, as questoes de genero, as contradicoes da esquerda, e o que mais me der na gana de escrever).
 
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