27 novembro 2007

 

O maior espectáculo do mundo


Annapolis, Maryland, é uma cidade com belas vistas para o Atlântico, um clima moderado, e luxuriante vegetação. Na serena geografia e no conforto hoteleiro é o género de local que convida a um recatado congresso de dentistas ou revisores de contas, e expele convenções de fans do Star Trek.

A administração Bush com grande fanfarra mediática, convidou diplomatas e governantes do Médio Oriente para uma discussão sem agenda. Marcam presença 46 países, entre os quais: Israel, Jordânia, Líbano, Arábia Saudita, Síria, Quatar, Iraque, Líbia, Argélia, Emirados Árabes Unidos… Dados os eventos dos últimos sete anos, podia-se prever diálogo sobre a guerra assassina que os EUA fazem no Crescente Fértil ou a catástrofe que se abateu sobre o Líbano no ano passado, ou talvez os EUA pudessem substanciar as suas ameaças à Síria e confrontar mal entendidos. Nada disso. O tema é a Palestina, com os EUA no seu moralista papel de pai experiente arbitrando as brigas da criançada. (Como se sabe os EUA escreveram o manual da democracia a que chamaram Constituição. Com significado histórico, Annapolis foi lugar conspirativo no século XVIII para a preparação do Congresso Constitucional.)

Ehud Olmert, o líder da frágil coligação no poder em Israel, vai conversar com Mahmoud Abbas, o líder imposto pelos EUA à Fatah. Serão estes os artífices da paz e democracia. Quem não tem direito aos ares balneares de Annapolis é o Hamas, o partido que os Palestinianos votaram para os representar.

Comments:
Aparentemente, nesta lógica o voto das eleições legislativas palestinianas é o único que conta. O das eleições presidenciais já não interessa: Abbas foi imposto e mais nada. De resto, o facto de o Hamas não ter abdicado da destruição do Estado de Israel na sua declaração programática não parece ser suficiente para questionar a sua vontade em negociar um acordo de paz equilibrado entre ambas as partes.
 
E a destruição sistemática do "embrião" do Estado Palestiniano por Israel também parece não contar. Afinal, mais do que declarações programáticas, o que contam são os actos...
 
Esta vossa guerra aqui no bitoque devia ser transposta para os comentários da Boina Frígia, que abria o leque de informação e pontos de vista
 
nuno, ja contribui para o peditorio do Boina Frigia e fui acusado de matar pai e mae, anti-semita e ignorante. Nao tenho tempo para a algarviada.

pedro delgado alves,
A historia nao comecou em 2004. Abbas foi servido as colheradas aos palestinianos para isolar e castigar o arafat. Se Israel libertasse Marwan Barghouti veriamos quem era lider da Fatah.
 
Caro Nuno,
Podemos ter a discussão onde preferirem. Como sempre, estamos abertos ao debate onde for mais produtivo.

Caro a. cabral,
Do que escreve parece que foi gratuita e injustificadamente insultado em debate anterior. Se se reporta a uma discussão em caixa de comentários há uns meses, recordo-lhe de que as referências a anti-semitismo que ocorreram estavam documentadas nos comentários escritos, que, entre outras coisas, seguiam objectivamente esse caminho. Penso que na altura terá sido claramente afirmado que quem pretende evitar acusação de motivações anti-semitas deve evitar linhar argumentativas que acabam por sê-lo objectivamente.
Quanto ao parricídio, não me recordo de o ver elencado entre o que se disse. Quanto a ter sido chamado de ignorante, também não está a ser sério no que diz, porque aquilo que foi escrto foi sempre na lógica de apontar incorrecções factuais existentes.
Em suma, não procure enveredar por uma argumentação ad hominem, pintando os seus interlocutores como agressivos, mal-educados ou autores de insultos gratuitos, porque basta recuperar a discussão de então para concluir que a tónica foi a de um debate em que as divergências de opiniões são profundíssimas, mas em que a urbanidade e o civismo não foram postas em causa.

Quanto ao caso em análise, a história não começa, de facto, em 2004: Abbas fora primeiro-ministro em 2003 (funções das quais se demitiu acusando Israel e os EUA de minarem o processo de paz e o seu governo), era dirigente destacado da fatah, do círculo de influentes junto de Arafat desde a década de 70 (onde representou desde cedo uma via moderada), foi um actor relevante na assinatura dos acordos de Oslo, e na Fatah sempre foi visto como o sucessor natural de Arafat, muito antes da segunda intifada e da falência de Oslo. Pintá-lo como o homem imposto por Washington parece esquecer o curriculo de várias décadas.

Quanto a Marwan Barghouti, o mais carismático e popular político da Fatah até à sua saída, não tenho dúvidas de que as suas posições relativamente moderadas podem representar uma via alternativa ou complementar à liderança de Abbas e travar o extremismo do Hamas, ajudando a construir uma solução negociada e aceite pela população palestiniana. Sucede, porém, que as ligações de Barghouti às brigadas dos mártires de al-aqsa (aliás, a sua eventual liderança da organização)e a consequente condenação a pena de prisão têm travado as iniciativa que em Israel visam alcançar a libertação e oferecê-la como prova de boa vontade e de capacidade de ultrapassar o passado (Yossi Beilin, por exemplo, defende esta via há quase 3 anos). A não libertação em 2003 assentou essencialmente no facto de a condenação ser recente, de não haver clima na opinião pública para sustentá-la e de a liderança de então não estar interessada em provas de boa fé e no aparecimento de um líder mais carismático que Abbas. Contudo, daí a dizer por esse motivo que Abbas é um fantoche dos americanos é que me parece excessivo e desajustado da realidade.
Hoje a questão da libertação poderá ser colocada noutros termos e ao tardar em reconhecer-se a relevância de Barghouti e arranjar uma solução (Peres afirmou que estaria disposto a emitir um perdão uma vez eleito presidente, por exemplo) não se abre um caminho alternativo para o processo de paz.

Caro samir machel,
Desde logo, discordo da premissa em que assenta a sua afirmação, a de que tem para si como inegável que Israel quer destruir o Estado palestiniano, e que todas as suas acções se movem com esse móbil. Não penso que corresponda aos factos históricos, nem às intenções, nem às declarações de Israel. O estado de Israel comete erros com frequência, abusa da força, viola o direito internacional em diversos aspectos, ninguém o nega. Daí a retirar a visão maniqueista de que Israel quer destruir o embriao de estado palestiniano e impedir uma solução pacifica é que não me parece legítimo dar um passo lógico.
No caso do Hamas, a destruição de Israel não só corresponde à prática terrorista, como às declarações públicas e ao programa político.
Pergunto-lhe então quais se os requisitos para participar numa conferencia de paz são ou não a predisposição para a aceitação de um compromisso e o reconhecimento do interlocutor. Apesar de todos os seus defeitos (e tem vários) Israel sempre se mostrou disponivel para procurar uma solução, que hoje passa claramente pela edificação de dois Estados. Já o Hamas, que o não faz, parece dever ser convidado para a mesma conferencia sem que esteja sequer disposto a reconhecer o direito de Israel a existir.
 
Israel vai a conferências, mas não reconhece o direito de retorno. Milhares de palestinianos partiram, segundo Israel de livre vontade, e quem vai ao ar perdeu o lugar.

Israel vai a conferências, mas não congela os colonatos. O máximo que já fez foi congelar os "ilegais" (pela lei Israelita), mas os outros, ilegais pela lei internacional, continuam a engordar.

Israel vai a conferências mas destroi, bombardeia e mata o o que quiser na dito futuro estado. Já destruiu por várias vezes as infraestruturas mais básicas desse estado, lançando os palestinianos na mais completas trevas.

Se isto não é a destruição de um estado, mas mais importante de um povo, não sei o que é.

O Hamas até iria à conferência, se o deixassem.
 
E' argumentacao por geometria. Diz-me "seguiam objectivamente esse caminho""linhas argumentativas que acabam por sê-lo objectivamente." Como conclui nunca foi o que eu disse, foi o que eu quase disse, na progressao geometrica em limite interceptaria os patologicos anti-semitas.

Repete-se que sou ignorante porque nao sei os factos, mas em "name-dropping" e detalhes, datas e lugares, nao nos distinguimos (tb dei um olhada ao wiki).

Nao ha nada semita ou judaico no sionismo, por mais que este queira tornar-se proprietario politico dos primeiros. Nao ha nada na politica de Israel que nao tenha sido ensaiado em 300 anos de colonialismo e xenofobia.

Uma classe media amedrontada e de consciencia pesada quer vestir um manto de moralidade com quixotismos. Veem anti-semitas em todos aqueles, sem apelido, que com eles veem debater.
 
Caro samir machel,
Israel reconheceu em Camp David o direito de retorno sem limites à Cisjordânia e a Gaza e o retorno ao território do Estado de Israel em casos de reagrupamento familiar.

Quanto aos colonatos, trata-se de um ponto incontornável da violação sistemática por Israel do direito internacional. Apesar dos congelamentos ocasionais de construção quando os trabalhistas lideram o governo, trata-se de facto, do maior erro em que Israel insiste em persistir. A retirada de Gaza devia ser suficiente para demonstrar que mais cedo ou mais tarde terá de haver desmantelamento em larga escala, mas, infelizmente, ainda o não foi para a liderança política, dependente de alianças políticas frágeis num parlamento fragmentado. Na sociedade civil, contudo, o reconhecimento da necessidade de abandono de colonatos é cada vez maior, enquanto contrapartida para paz e segurança.

Quanto à ideia de que Israel mata e destroi tudo o que quer voltamos à sua linha argumenativa diabolizante, na qual Israel se move por um interesse oculto em destruir os vizinhos, que não está interessado na paz e que usa arbitraria e indicriminadamente a violência.

"O Hamas até ia à conferência, se os deixassem". Curiosamente, o que o Hamas disse sobre a conferência de Annapolis foi: "Let the whole world hear us -- we will not cede an inch of Palestine and we will never recognise Israel,"

Caro a. cabral,
Se quer apresentar factos e deles retirar conclusões enquadradas no contexto histórico devido, devia fazer mais do que uma olhadela na wiki. Se quer pintar Abbas como o homem dos americanos, é livre de o fazer. Não pode é ficar à espera de não ser desmentido pelos factos.

Depois, quanto ao facto de nada haver de semita ou judaico no sionismo e de se tratar apenas de colonialismo e xenofobia, pura e simplesmente está a reproduzir propaganda, não tendo em conta a realidade e a história do movimento sionista, nem sequer os conceitos de colonialismo ou de xenofobia.
 
Linha argumentativa diabolizante? Não é verdade que Israel decide quem vive ou quem morre em Gaza ou Cisjordânia? Ministro a sem-abrigo eles tem esse poder e usam-no quando querem...

"Israel reconheceu em Camp David o direito de retorno sem limites à Cisjordânia e a Gaza e o retorno ao território do Estado de Israel em casos de reagrupamento familiar."

Retorno a Israel!!!! Se os palestinianos que fugiram em massa não tiverem direito a voltar a Israel, com que direito reclamam a existência de Israel após 2000 anos?
 
Caro samir machel,
Se o objectivo final do acordo passa por criar dois Estados viáveis para que israelitas e palestinianos possam viver em paz, insistir no regresso de todos os refugiados a Israel não é uma exigência séria.

Os factos que provocaram o fenómeno dos refugiados conta-se entre os mais trágicos do século XX? Sem dúvida.
(Já agora, cumpre não esquecer que esses mesmos factos também provocaram centenas de milhares de refugiados judeus, expulsos dos países árabes entre 1948 e o final da década de 50). Se a intenção for a de reescrever a história, por mais negativa que esta tenha sido, exigir o regresso dos descendentes dos refugiados (que é aquilo de que hoje se trata) poderia fazer sentido. Como o que está em causa é construir a paz na região, manter a exigência sem atender aos 60 anos que entretanto decorreram reconduz-se a uma aposta na extinção de Israel a longo prazo.
 
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