13 novembro 2007

 

Não há espaço para todos


O mundo é pequeno. Se o mundo estivesse em expansão haveria lugar para todos, para a diferença e para a aventura. Mas como o mundo é conhecido e finito seguem-se atropelos e incómodos. Não estou a falar da explosão demográfica, estou a falar da esquerda.

A esquerda portuguesa preocupa-se hoje com a esquerda Venezuelana. Chama-se ao Chavez palhaço, pretendente a ditador (quando há cuidado), ou simplesmente ditador (quando não há). Porquê este anseio? Acontece que a esquerda é uma palavra singular e roça o paradoxo que hajam muitas esquerdas. É portanto preciso arbitrar quem é dono da esquerda e expulsar para os baldios todos os intrusos à definição preferida.

O Chavez desagrada à esquerda portuguesa. Usa o petróleo, esse inimigo carbónico do planeta, para financiar os partidos populares da América do Sul e Centro. Usa a religião e o mito bolivariano para romantizar a sua obra social. Usa o carisma para se fazer ouvir sobre as vozes dos média e dos interesses económicos que o combatem. Dinheiro, romance e carisma são elementos ausentes na esquerda portuguesa. Mas a principal perturbante característica é que a esquerda Chavista funciona. A América está a mudar por conta dos Venezuelanos e do seu barulhento anti-imperialismo.

É perigoso, perigosíssimo, que a social-democracia parlamentar seja substituída pelo presidencialismo populista. A mim não me preocupa, mas entendo que tudo isto incomode por causa da falta de espaço.


Comments:
A esquerda portuguesa???
Desde quando a esquerda portuguesa se resume aos sociais democratas de serviço???
Haja pachorra!
 
Achas mesmo que o Chavez é uma preocupação para a esquerda Portuguesa? O Daniel O. é, de facto, uma figura destacada da esquerda actual, mas reduzir toda a esquerda às postas de pescada que manda no arrastão(algumas até bem saborosas, verdade seja dito) é, no mínimo, redutor.
E mesmo o Daniel já foi mais maniqueíta qt a Chavez, de qq forma as suas análises são sobretudo quanto à forma, o problema é quando apenas apartir da forma se pula para análises de conteúdo...
De resto concordo bastante com o que dizes, a palavra que quanto a mim melhor descreve o que se está a passar na Venezuela é "consequente". Este processo mais do que qualquer outro dos dias de hoje tem tido consequências ao nível do quotidiano (saúde, educação, etc...), ao nível da alteração da relação de forças na América Latina e, sobretudo, tem fomentado o "empowerment", tem construído cidadania.
Quando a população, antes excluída, entra no círculo da tomada de decisão, as campainhas de alarme soam entre os defensores do status quo...
Para mais convido-vos a ler "O Mundo Em Guerra" http://www.mundoemguerra.blogspot.com/
 
Particularmente quando a questão do presidencialismo populista não é assim tão liquida. A formação do PSUV e o pendor comunalista da nova constituição venezuelana tendem a desmentir o excesso de peso da figura presidencial no aprofundamento democrático venezuelano ( resultados ainda muito longe de confirmados). Além do mais, o que mais parece irritar alguma esquerda, aquela que se assume como o lobby da irreverência orgânica da democracia liberal , é a substituição do paradigma telegénico e da democracia de hemiciclo por caminhos mais populares e menos elitista da construção do discurso da esquerda e da reconstrução de um projecto socialista.
 
"É perigoso, perigosíssimo, que a social-democracia parlamentar seja substituída pelo presidencialismo populista.", explique-me lá: é ironia?
 
ni, e' ironia, embora teriamos que esclarecer em que aspectos e' ironico. E' ironico que os partidos portugueses sem excepcao se tenham tornado adeptos da estabilidade constitucional como se fosse lei divina ou como se fosse um garante de participacao popular efectiva.

francisco e paco, estou totalmente de acordo convosco.
 
"É portanto preciso arbitrar quem é dono da esquerda e expulsar para os baldios todos os intrusos à definição preferida."
E como é que se faz isso? Não gosto de lhe chamar "dono", mas qual é de facto a correcta esquerda portuguesa?
Na actual hegemonia mundial do capital, qual é a alternativa correcta de esquerda?
 
Sao estas coisas que me fazem pos-moderno. Que interessa andar a discutir definicoes sobre o que e' a verdadeira ou falsa esquerda? Ou filosofar sobre o que e' a esquerda? Isto serve somente para reificar (como diria o Carlos Marx) um ideia, emprestar-lhe uma falsa materialidade.

Mais interessante seria discutir o que move os grupos e as pessoas em concreto. E vendo que sao motivos e causas diferentes, e vendo que sao motivos e causas que transformam a sociedade para melhor, deviamos concluir que ha muitas esquerdas. Assim talvez o mundo nao ficasse cada vez mais pequeno.
 
De acordo, mas a teoria é importante.
Presentemente, o pos-modernismo defende a resistência ao Estado e não a tomada dele. Chavéz tomou o Estado, o poder, o que julgo ser um princípio socialista.
Querer transformar a sociedade para melhor, como dizes, sem a tomada do poder do Estado, é irreconhecer as lutas do século passado.
 
Ó Cabral, mas esse teu comentário tem mais de anti-sectarista do que de pós-moderno. Aliás, não vejo aí a pós-modernice (e eu bem a persigo...)
 
"Mais interessante seria discutir o que move os grupos e as pessoas em concreto. E vendo que sao motivos e causas diferentes, e vendo que sao motivos e causas que transformam a sociedade para melhor,"
G.mbeki, aquele "o que move os grupos" julgo que referindo-se a algo fora do poder estatal é uma posição pos-modernista. Aliás, Cabral anteriormente,tinha tomado uma posição semelhante quando aqui foi referido "O outro" e "Identidade" (Negri)
 
Enquanto o Estado tiver autonomia e poder deve-se militar pela sua tomada. O que nao aceito e' que se afunile e triture tudo o que nao sirva para a tomada do Estado. A estrategia do assimilar ou destruir em busca de 1 partido, de 1 programa fez dos militantes soldados pouco criticos e cinzentos. Tudo isto e' pos-moderno porque recusa 1 verdade, e 1 estrategia. Haja diferenca. Haja *multitude*.
 
Resistir é uma coisa e transformar é outra. Assim, tudo o que não sirva para a tomada do poder estatal é resistir ao Estado, é subjectivamente aceitar a situação. Temos os casos das guerras culturais como o feminismo, o racismo, o protesto dos homosexuais.
Essa dum partido não é essencial porque pode haver um partido e haver uma intensa luta ideológica no seu seio. Temos o caso da China na segunda metade do século passado.
A verdade é só uma, mas apenas pode ser verificada na prática, o que muitas vezes acontece ser incorrecta. Por isso, uma análise das forças involventes é necessária e importante (teoria) onde se baseia a estratégia e a táctica.(Uma passo em frente, dois atrás)
Quanto à diferença e *multitude", regressas novamente à estratégia moralista e ética de rogar à hegemonia capitalista que nos considere seres humanos. E é precisamente isso que eles querem para nos adocicar com esmolas filantrópicas e coisas do género. Assunto para os doutores se masturbarem nas graduações, pós-graduações e teses de doutoramento.
 
Enganas-te. Eu exijo 'a esquerda que nos considere seres humanos.

E' uma falsa esperanca crer que o Estado pode transformar a sociedade por decreto. O capitalismo transformar as pessoas em automatos da producao e da extracao da mais valia. Temo que os partidos arrogantes de verdade transformem as pessoas em soldados sem espirito critico, e sem imaginacao.

E' por isso que precisamos de ser maus alunos e chumbar no exame ideologico.
 
Se és de esquerda, tu mesmo é que te tens considerar humano. Ela, a esquerda não está fora de ti, é tu mesmo.
Tinha dito que os partidos não são essencias. Quando chegar à altura do rebuçado, uma vanguarda com os avanços e recuos próprios de cada processo de transformação actuará correcta e incorrectamente.
O Estado não transforma por decreto mas cria as condições necessárias.
As ideologias, como as verdades, apenas estão correctas ou não depois de se aplicarem. Há uma diferença entre o "pensar" e o "ser".
 
A esquerda portuguesa é contra Chavez. Não que não haja portugueses de esquerda que apoiem as políticas de chavez, mas a grande maioria, como dizia o post, não suporta o chavismo.

O PS não apoia Chavez, e não é preciso esplicar porquê...

O PCP também não. Jerónimo de Sousa já disse que "Chavez não é um comunista" e que "a revolução não pode ser feita sem um partido". Apesar de reconhecer que faria muitas das medidas de Chavez, não o apoia, porque este não tem a estrutura partidária que o PCP exige para aopiar uma revolução (já a China, não é nada comunista, mas tem a tal "estrutura partidária"... Tenho pena de ver o PC ao lado de Hu Jintao, o ditador que está a tornar a China a sociedade mais capitalista do mundo, e não ao lado de Chavez, que está a afrontar o imperialismo e a fazer uma revolução democrática...).

O Bloco... o Bloco não é nada. É uma estrutura política tão desfragmentada e com tantas visões diferentes, que não se sabe o que apoia ou o que pretende. Começo a ficar farto da falta de clareza, e da esquerda-merchandising, que só espera nunca chegar ao poder, que isso era uma chatice e uma trabalheira. Não se apoia nada, não se toma riscos, ficamos com os votos de descargo de consciênciae fazemos boa oposição.
Mas, de quem vê de fora, o Bloco não apoia a revolução na Venesuela. A facção APSR, de Louçã, e Política XXI, de Portas e Oliveira não estão lá muito viradas para o Chavez, e isso é evidente. Quanto à UDP e Ruptura/FER não sei, mas de qualquer modo, o grosso do BE não apoia Chavez.

Portanto temos 3 partidos de esquerda, com 3 motivos diferentes para não apoiarem Chavez: um porque não é um partido de esquerda, outro porque não há uma estrutura partidária estalinista na revolução venesuelana, e outro porque o Chavez é católico, é populista e não tem boas maneiras.

Eu apoio Chavez porque ele está a fazer uma revolução socialista pela democracia, está a distribuir os lucros dos recursos naturais nacionais pelo povo e não pelos magnatas gringos, está a dar uma alternativa aos povos do continente, e sobretudo porque foi eleito pelos venesuelanos, que são quem mais manda na Venesuela.

O meu critério para apoiar uma revolução socialista é: ser socialista e ter apoio popular. E esta, meus amigos, é socialista e tem apoio popular.

Sabem o que é populismo? É não apoiar uma revolução só porque se perdia muitos votos com isso.
 
A Europa ainda tem muito mijo na cabeça. Chama-se a si própria de Velho Mundo e acha que a civilização começa e acaba nela: monopólio das ideias e pensamento. Tem problemas em aceitar filosóficos, cientistas e políticos de todo o continente americano. Do norte, não sabem falar, são bruscos e percebem pouco de política; do centro e sul: são palhaços, populistas e mal-educados.
A europa ainda não se libertou da sua era colonizadora e colonialista. Afunda-se, mas agarrada ao mastro de verdade única, paciência.
Como a esquerda portuguesa ainda não se arriscou na Jangada de Pedra e, com a Espanha, continua colada à Europa, não se pode libertar da mentalidade desta.
 
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