28 outubro 2007

 

Contra a guerra


Ontem passaram 5 anos que o Senado Americano votou a favor da invasão americana do Iraque. Por todos os EUA milhares de pessoas saíram à rua em protesto. Não foram manifestações centralizadas em Washington D.C. ou Nova Iorque, foram descentralizadas para que as pessoas em várias cidades pudessem participar sem terem que se deslocar àquelas duas cidades: Nova Orleães, Boston, Chicago, Los Angeles, Orlando, Filadélfia, Salt Lake City, São Francisco e Seattle.

Mas o impacte na comunicação social não podia ter sido mais modesto: na BBC a notícia mal se vê, embora depois seja informativa; na CNN é para esquecer pois nem uma palavra sobre o assunto; New York Times idem aspas aspas...

No entanto, e lendo melhor a notícia, até que não é de surpreender: as manifestações ao nível nacional reuniram pelo menos 100 mil pessoas (dados da organização).

Mas 100 mil pessoas para um país com 300 milhões de habitantes é no mínimo uma desilusão.

Comments:
Já irrita esse vosso anti-americanismo primário: a imagem passa a mensagem que apenas 100 mil pessoas estavam contra a "guerra".
Primeiro, aconteceu pouco tempo depois da "guerra" e não é fácil mobilizar gente para esas grandes manifestações, devido ao deslocamento para essas cidades.
Segundo, precisamos analisar o conceito de "manifestação de rua" nos EU. Precisamente porque as pessoas manifestam-se doutra maneira.
E necessário não esquecer que na cimeira que deu carta branca para a invasão, realizada na Terceira/Açores, apenas estavam quatro pessoas a manifestarem-se contra. Onde estavam os milhares de portugueses?
 
Tens razao que este tipo de protestos e’ dificil nos EUA. Mesmo com 9 cidades ‘a escolha, a manif mais proxima da minha casa ficava a mais de 650 km de distancia. Era portanto impossivel ir.

Mas se isto explica a dificuldade dos protestos de rua, nao justifica a passividade noutros tipos de luta. Ha movimentos, ha muita gente contra a guerra. Mas nao vejo como e’ que “as pessoas manifestam-se doutra maneira”. Aqui nao encontro formas de luta de massas, muito menos uma consciencializacao anti-imperialista. A preocupacao e’ com os soldados americanos mortos, ou o receio de perder a influencia no mundo. Como se as vitimas fossem os americanos.

A impedir um sentido de auto-critica anti-imperialista esta’ a facil acusacao do anti-americanismo primario. Cidadaos, imigrantes, liberais ou conservadores todos se juntam ‘a mesa para amar o nacionalismo americano.
 
Como comentas as quatro pessoas nas Lajes, Terceira?
Depois, retribuo o teu comentário?
 
bandeirabranca,

parece-me que não me fiz entender bem no post. a manif foi ONTEM, precisamente 5 anos depois do voto do senado a aprovar a ida para a guerra. não percebo assim o teu comentário de que "aconteceu pouco tempo depois da 'guerra'".

ontem, só 100 mil pessoas se manifestavam contra a guerra em que o seu país está envolvido. foi apenas isto que eu disse. não disse em lado nenhum nem é minha intenção dar a entender que eram só essas pessoas na rua que estão contra a guerra. é óbvio que há mais.

para mim, não deixa de ser uma desilusão que apesar dos esforços para descentralizar as manifs, estas mesmo assim não consigam uma maior mobilização. daí a comparação com a população dos EUA.
 
Se com a questao das lages queres dizer que os portugueses protestaram (e protestam) pouco contra a guerra, concordo. As lages serviram e continuam a servir de apoio 'a guerra. Isto devia ser denunciado e criticado.

Mas isto nao desculpa que no pais que ha 5 anos ocupa e mata civis iraquianos nao haja um grande movimento anti-guerra, e que a preocupacao (daqueles a favor e contra a guerra) seja a defesa dos interesses nacionais.
 
Eu de facto percebi que foi hà cinco anos, mas não invalida a questão.
A conclusão da postagem é que "é no mínimo uma desilusão". Pois claro que é, mas não apenas nos States. O problema é mais profundo do que esse: é em todo o ocidente.
Nas Lajes, Dolores, foi a reunião dos presidentes, incluíndo o português claro, para a invasão do Iraque.
 
bandeirabranca,

a ver se a gente se entende.

eu lá por dizer que é uma desilusão isto que se passou ontem nos EUA não tenho que ir a correr dizer que nos outros sítios tb é, ou tenho?

é que não deixa de ser mais grave que no próprio país em que a guerra foi concebida, iniciada e promovida como necessária, mesmo depois de se perceber o atoleiro que aquilo é para os próprios americanos, as pessoas não se manifestem significativamente contra.

se isto é anti-americanismo primário, vou ali e já venho...
 
Nao foi so o sitio da reuniao dos primeiro-ministros com o presidente -- foi e continua a ser sitio de passagem e paragem da forca aerea americana e CIA.

Nao vamos diluir responsabilidades. A chamada coalition e' uma fantasia. Todos os paises do ocidente ja sairam ou estao a sair do iraque. So os EUA ficam.
 
Mystique,

Claro que tens que dizer que nos outros sítios também é. Se não o disseres, para mim, é miopia política. (Passa a ser parte da ilusão; e nós precisamos de saber a ilusão no seu todinho)
Isso nada a ver com o país que lidera, com o poder das armas, a salvaguarda e sobrevivência do capital. Precisamos duma análise correcta do capital para podê-lo combater.
Quanto ao "vou ali e já venho", é terminologia de chacha, de café, de palito de dentes, de copo d'água e jornalinho debaixo do braço..............enfim: pequena-burguesia como tem demonstrado alguns responsáveis deste blogue.
 
Sim Dolores,

A Base Aérea número quatro, situada nas Lages-Terceira, continua a ser o que dizes. E depois?!
Quantos viriatos estavam lá na tal conversinha abençoada pelo povo português? Sim, porque na perpsectiva de análise da tal "desilusão", foram os portugueses que votaram no Durão Barroso. Santa Democracia!!!!!!!!
Pelo que vejo, a desilusão não está em não manifestar-mo-nos por invadirmos o Iraque, mas sim por cruzarmos os braços ao ver a banda da democracia do capital passar.
 
So obscureces a realidade ao colocar o papel de Portugal a par do dos EUA. Ja agora porque nao acusar a Micronesia que tambem faz parte da coalition of the willing? Quem mata iraquianos? Quem e'?

O meter todos no mesmo saco no purismo analitico da relacao do trabalho alienado, faz esquecer que em Espanha e Inglaterra estiveram milhoes nas ruas, nas maiores manifestacoes da historia contra o inicio desta guerra. Esses paises por pressao popular ou se retiram por completo do Iraque ou estao a faze-lo agora.

Os EUA estao cada vez mais sozinhos. E o movimento popular nos EUA esta' muito muito atrasado.

E querendo retribuir em especie, aqui nunca te chamamos nomes mas ca vai: MALANDRO, aqui trabalhamos tanto ou mais do que tu, vai chamar burgues a outro!
 
Cabral,

Eu gostava que esse MALANDRO fosse o tal do Chico Buarque, mas sei que não é, infelizmente!
Não chamei alguém de burguês(mas sim pequeno-burguês)mas "vou ali e já venho" sabes bem que é terminologia de irresponsabilidade revolucionária.
Não é o quanto se trabalha que determina a classe a que pertencemos e que defendemos, mas quem mais beneficia com a mais-valia daquele trabalho. Mas quando dizes "aqui trabalhamos".........aqui onde?
Sim, o movimento popular pode estar muito mais atrasado, embora eu não tenha bem a certeza disso, mas falar nele é tocar no sintoma. Qual é a doença?
Já agora, como explicas apenas quatro pessoas nas Lajes? Não há uma alma caridosa desse blogue que me explique isso? Não te esqueças que a Terceira é a ilha com mais tradições revolucionárias, desde Briana Pereira do século 17 até aos nossos dias: primeiras sedes do PCP a serem destruídas depois do 25 de Abril, estruturas sindicais não-alinhadas com o PCP, etc..etc...
 
Eu que tinha ido antes de a conversa começar, só voltei agora.

Ignorar que:
- em todos os países (à excepção dos EUA) a maioria das pessoas estava contra a guerra antes do seu início;
- ainda hoje maioria, mesmo dos que estão contra, só se preocupam com o seu umbigo;
- a responsabilidade dos EUA na agressão ao Iraque é inacreditavelmente maior que todos os outros países (e não, não há necessidade de um trado sobre todos os outros países, os outros são só chaperons);
- E que naturalmente tal acaba por se reverter na responsabilidade e necessidade dos seus cidadãos se demarcaram da guerra.

Ignorar tudo isto é um grande erro. Ainda me lembro de antes de a guerra (ou pouco depois) uma amiga minha espanhola me dizer que apesar de não lhe ser difícil ia às manifs anti-guerra. Ela queria mostrar como havia espanhois contra a guerra, não queria ser confundida com a política criminosa de Aznar.

E desculpem lá mas 100.000 é muito pouco. Talvez seja porque as manifs são mal vistas (não conheço a realidade). Mas não deixa de ser muito, muito pouco.
 
Sabemos que é muito pouco, mas dizer que esse tipo de fenómeno é apenas americano, é um erro. A apatia política está em todo o ocidente neo-liberal. Ignorar que não existe presentemente uma alternativa política ao neo-liberalismo é miopia política. E claro que os EU não é excepção.
Imaginem que nas próximas eleições americanas ganha um democrata; e se ele ganhar é claramente um manifestação contra a guerra. E que nas próximas eleições em Portugal ganha o senhor Menezes/Santana, porque o pessoal está farto do engenheiro e a esquerda não é alternativa. Olhem lá que desilusão!!!!Num abrir de fechar d'olhos o povo americano ficou mais esclarecido do que o português.
E outra, não vejo milhares de portugueses a manifestarem-se quando mandamos tropas para o Kosovo, Timor e Afeganistão? Missões de paz? Não nos parece.
 
Se é miopia política diferenciar os países de acordo com a responsabilidade nos mortos que as suas políticas causam nos outros países, não sei o que será igualá-los: cegueira? loucura?

Um Presidente "democrata" nos EUA será sempre muito mais militarista que qualquer seu lacaio por terras de Portugal (PSDs ou PSs). Veja-se as bombas democratas de Clinton ou toda a história americana. Em tempos no Bitoque ou algures vi a história dos EUA em que se comparava democratas e republicanos e as "guerras" resultantes. Nenhum se escapava...
 
Meu amigo,

Eu disse que se ganhar um democrata é um claro sinal de manifestação contra a guerra. E se ganhar o senhor Menezes é falta de alternativa de esquerda.
Como vês, não aqui ilusões e desilusões, terminologia usada na postagem.
O que temos aqui é uma falta de alternativa das forças opostas à guerra, sejam elas de que país neo-liberal for.
(E Europa não está lá em força porque lhe convém não estar.)
Apontar apenas o povo americano é pouco para um bloque que tem nomes tão dignos como os vossos.
 
bandeirabranca

disseste "Sabemos que é muito pouco, mas dizer que esse tipo de fenómeno é apenas americano, é um erro."

Eu NÃO disse que o fenómeno era apenas americano. limitei-me a relatar o que se tinha passado nos EUA. até porque neste caso concreto não fazia sentido estar a olhar para outros países pela simples razão de que se assinalava o voto no senado... AMERICANO!!!

caramba, voltámos à velha história do contraditório em que para se dizer qualquer coisa tem que imediatamente mostrar também todos os outros pontos de vista, mesmo que indirectamente relacionados??!!!
 
Então espero pela tua postagem para quando houver votos na Assembleia da República sobre o envio das nossas tropas para Timor, Kosovo e Afeganistão. Espero que digas que é uma desilusão não haver um português a manifestar-se contra.
 
- Este é um post e não um tratado ou uma encicplopédia.

- Até parece que por aqui não se denuncia/denunciou toda uma série de questões. Por exemplo, como em Timor pactuámos com um golpe de Estado.

- Por último, é um disparate comparar a oposição na Europa à guerra no Iraque com a dos EUA. À data da invasão, todos menos os EUA eram na maioria contra a guerra. Na Espanha, chegava-se perto dos 80%. Mais, estás a insultar os milhões que se mobilizaram para manifs contra a guerra/
 
Criticar o envio de tropas portuguesas para o Afeganistão do mesmo modo que se critica a invasão americana do Iraque é falacioso; é pelo menos fazer tábua rasa da situação semiperiférica e dominada de Portugal, um "maria vai com as outras" na política internacional. Sim, é muito desgradável e deixa um amargo na boca, mas a questão é esta: não depende em nada de Portugal invadir o Iraque ou o Irão, mas sim dos Estados Unidos.
Parece-me evidente que uma grande parte das razões da invasão do Iraque, da crise da esquerda, do neo-liberalismo tem a sua origem nas evoluções da política americana.
Daí a importância fundamental dos movimentos anti-guerra nos EUA.

Agora aqui entre nós, já cansa ver o princípio do "ou comem todos, ou não comem nenhum" em resposta a qualquer crítica dirigida aos Estados Unidos. É óbvio que os EUA não são o diabo à solta, e os outros países anjinhos imprevidentes, mas a verdade é que há muita coisa para chamar os EUA à pedra, o que é um bom começo para as nossas críticas. Afinal, e esta é uma boa lição do mundo globalizado, os Estados Unidos são o começo de tudo, o ponto alfa.
Podíamos falar, por exemplo, da esquerda americana, esse fenómeno que tem tanto de eloquente como de inócuo. A esquerda americana existe? Há um movimento anti-guerra forte, actuante? Não me parece.

bandeirabranca, dizer que um voto nos democratas são um voto contra a guerra não vale, porque já sabemos a posição ambígua deles quanto ao Iraque, ou melhor, nem sequer sabemos as manobras que a Hillary Clinton irá preparar.
 
Gogol,

De acordo contigo.
Respondendo à tua primeira pergunta. Não, não existe! Mas também não vejo uma alternativa de esquerda em 99.9 % dos países.
Segunda pergunta.Não, não há! Como também não existe em 99.9% dos países.
Gogol,eu não disse que os democratas iam acabar com a "guerra". Eu disse que se os americanos votarem nos democratas, o que significa não votar nos republicanos, é uma manifestação contra a invasão americana do Iraque. Uma coisa é a razão porque se vota, e outra é o que os eleitos fazem nos pelouros.
Mas aceito inteiramente o teu comentário no seu "todo". E porquê? Porque não culpas o povo americano de nada, o que se faz aqui lá de vez em quando. Não vejo ataques ao povo português. Porquê? Porque não é correcto! Também não é correcto culpar o povo americano. Não se pode ignorar o conceito de "classes".
Força prá aí!!!!!!!!!
 
Gogol,

Julgo que estou a ser, aqui e agora, incorrecto quando digo que "o voto nos democratas é uma manifestação contra a invasão". Disse-o num contexto diferente do teu.
Pelo que noto, da pouca percentagem que vota, há uma percentagem que vota diferente depois de oito anos de mesmo governo. O raciocínio, brilhante, é o seguinte: quantro anos não são suficientes para se fazer algo...............oito BASTA!!!!
Mas por detrás daquele raciocínio, há algo de esperto: "o outro que vai entrar pelo menos vai modificar alguma coisa".
 
bandeirabrranca, é aí que eu desconfio muito, ou muito me engano, ou a Hillary Clinton vai continuar o trabalho sujo dos neo-cons no médio Oriente.

E voltamos ao problema de sempre: tudo podia ser muito diferente caso a esquerda americana e o movimento anti-guerra tivessem outra força e outra capacidade de actuar.

Depois, dado o estatuto dominante dos Estados Unidos no mundo, verdadeiros exportadores de ideologia, não surpreende que a coisa pegue e, por contágio, as alternativas de esquerda se desagreguem por todo o mundo.
 
Gogol,

Claro que Hillary ou quem quer que seja, com outra máscara (a propósito aqui é Halloween) ou com outra cara, vai continuar a mesma coisa, duma ou doutra maneira.
Quanto ao domínio dos EU e a desagregação de alternativas não é algo do outro mundo. Isso é tudo deste mundo.............o que é necessário é fazer uma análise correcta da situação, talvez começando pela relações de produção.
 
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