17 setembro 2007

 

Terreiro do Paço


Eu bem que me quis juntar à festa. Num destes domingos, fui até ao Terreiro do Paço. Afinal, parecia que havia por lá actividades para todos nós, e o sítio estaria fechado ao trânsito automóvel.

(Era bom, não era?)

Chegada da Rua Augusta, percebe-se logo a dimensão da coisa: pequena, muito pequena. Debaixo das arcadas à esquerda, alguns (poucos) jogos tradicionais para quem quisesse. À direita, uma banca de livros, e outra com velharias: fotos de agências de fotografia, livros velhos, incluindo um Curriculum vitae de mil novecentos e troca o passo.

Em frente, ao se tentar atravessar para o terreiro propriamente dito, contávamos com a tolerância dos condutores da Carris. Mas só desses, que os táxis estavam apostados em matar alguém.

(“Táxis? Mas não era sem carros?” Ah, pois!...)

Em 15 distraídos minutos percebia-se a dinâmica da coisa. Os jogos ficavam vistos em 5 minutos, os livros em 10. Dois autocarros antigos da Carris levavam 10 generosos minutos, e restava ainda o que afinal era a única coisa que valia a pena.

A música. Uma banda que tocava para quem quisesse ouvir nas arcadas já quase junto ao Tejo.

Mais um camião da PT com internet à borla, uns banquinhos de uma biblioteca itinerante com livros para miúdos, 10-15 mupis com fotos do Terreiro do Paço do início ao fim do século XX, e estava a coisa feita.

Deu para perceber que há 50 anos o Terreiro era rodeado por uma linha de árvores - deve ter sido a única coisa que aprendi. E que, tal como agora, ninguém tinha ideia do que fazer com o terreiro, além de lugar de passagem. Ah, mas a CML lembrou-se: três vendedores de gelados Olá, os três a cerca de 10m de distância uns dos outros.

A lista de coisas até parece ser comprida, mas para o espaço que é, fica a saber a pouco. A mim, soube a mais uma medida “emblemática” que ninguém soube implementar como deve ser.

Palavras leva-as o vento...

Comments:
Sem dúvida que é emblemática. Integra o conjunto de políticas a levar a cabo nos primeiros dias do mandato, para jornalista ver.
Mas o seu carácter simbólico também vale por si.
Lembrem-se que João Soares conseguiu também fechar a Avenida da Liberdade ao domingo por umas semanas. Foi engraçado, mas foi também logo acusado de falta de animação. Moral da história: chegou Santana e acabou com a brincadeira.
Espero sinceramente que não acabem agora também com a brincadeira de António Costa. Paradoxalmente ou não, a medida "emblemática" também tem o seu valor.
 
Só mais uma coisa: deixem o homem respirar pá... :) Toma uma medida interessante e começa-se logo a bater, ainda por cima vindo da esquerda. Calma, calma, a coisa vai ir lá.

Activista de Sofá
 
mas de que serve uma medida emblemática se se fica por aí?
eu preferia ter o terreiro - mas mesmo o terreiro, não só as arcadas - ocupadas com outras mil coisas que se poderiam fazer.

e não deve faltar aí gente com vontade de fazer coisas no terreiro do paço...

medida interessante? sim, se se fosse longe com a dita. agora com isto, para mim não tem interesse nenhum. os 35 minutos que levo a chegar ao Terreiro do Paço fi-los uma vez ao domingo. não volto a lá ir a não ser que se faça mais do que aquilo que eu vi.
 
Se há situações que não dependem exclusivamente da Câmara (como os ministérios ocuparem as arcadas), outras compete a esta.

Isto não é má vontade. As coisas ou fazem-se com um mínimo de dinâmica ou morrem pelo seu próprio ridículo.

E passa apenas a ser mais um evento (ocasional) neste país de eventos...
 
Certo. Ou se faz bem, ou corre-se o risco de a coisa morrer na praia.
Mas acho que não estou a ser demasiado pragmático se disser que a agenda política é marcada com este tipo de actividades. São tomadas de posição com um simbolismo grande. Claro que o seu abuso leva-nos rapidamente ao "país dos eventos".
Vejamos o caso do ataque aos estacionamentos em segunda fila e em cima dos passeios. Sim, é verdade que tal só existiu em duas ou três ruas da cidade. Mas a mensagem conseguiu passar ligeiramente. É preciso sim, e isso concordo, torná-la sustentável.
Claro que estou convosco na mensagem do "quero mais, muito mais". Mas não esqueçamos como se faz o jogo político hoje. O "fazer" é importante, mas o "parecer" tem também o seu papel. Por estranho que seja, o "parecer" também consegue mudar comportamentos e formas de pensar das pessoas.
 
Que comece por simbolismo tudo bem, mas ou evolui rapidamente ou morre.

Num país com baixas expectativas e descrença generalizadas não tens muitas tentativas para falhar...

Esta história do parecer e do ser faz sempre lembrar o inevitável futebol. A partir do momento que o método Mourinho ficou popular, era ver os treinadores todos a mostrarem a certeza que iriam ganhar no jogo seguinte. O problema é que chegando ao domingo, não havia declaração que chegasse. Domingo após domingo passavam de ganhadores a palhaços.

Mais cedo ou mais tarde o parecer vai ter de se encontrar com o fazer, senão...

(combater as segundas filas é uma óptima medida!)
 
JRV

Não consigo compreender essa do parecer é tão importante como o fazer. Estou farta da política do espectáculo, em que se fala muito do que se faz, apresenta-se tudo muito bem embrulhadinho num papel bonito, e quando se vai ver como é que as coisas estão relamente a correr, é uma tristeza.

E podes crer, quero mais e muito mais. Estou farta de me contentar com o aparentemente pouco que se pode fazer. Pode-se fazer muito, haja coragem para isso.

Se falta a coragem, a leitura que faço é muito simples: anda-se a ganhar tempo para garantir a vitória nas autárquicas de 2009, por isso "convém" não mexer em muita coisa de uma só vez.
 
o que mais me chateia é que aquilo só é das pessoas ao domingo. e durantes os outros dias é de quem?

também me chateia a manobra de diversão por detrás desta medida de fachada: fechar um espaço ao trânsito a um dia da semana, remetendo para um lema do estilo "Terreiro do Paço aos domingos é das pessoas".

Ora bem, aqui parte-se do princípio que durante os outros dias é de um outro qualquer agente que não as pessoas. isto significa que os milhares de pessoas que por lá passam de carro ou moto não são pessoas.

Esquecem-se que também o são. e não são os maus da fita, nem os ricos. são os mesmos milhares de pessoas, trabalhadores na sua maioria que não encontram nos transportes públicos a solução para os seus problemas de mobilidade. são os mesmos milhares de pessoas que perdem quase um terço do seú tempo útil presos em filas de trânsito, ouvindo a mesma rádio, as mesmas notícias, as mesmas faixas, over and over.

O terreiro do paço e as cidades deviam ser das pessoas todos os dias. as pessoas deviam poder morar nas cidades em que trabalham, deviam poder andar a pé e de autocarro, de bicicleta e de metro.

Infelizmente, para esconder tudo isso, nada melhor que tomar decisões "emblemáticas" que deixem tudo na mesma, trazendo apenas a pequena ilusão de que alguma coisa mudou.
 
Feminine Mystique e Samir Machel:

Concordo claro que a coisa tem de evoluir, tem de ser sustentável, que não existem muitas hipóteses para falhar, que queremos mais (muito mais), que estamos no país do embrulhadinho bonitinho". Claro que sim.

Acho, no entanto, que a medida sendo boa (embora simbólica) deverá sim merecer apoio, ter uma critica construtiva (não estou a dizer que a vossa não o seja), gerar boa receptividade com vista ao seu alastramento a outras zonas da cidade. Caramba, este executivo (e não é, a meu ver, um executivo qualquer) só lá chegou há um mês... :) Merece o benefício da dúvida, não?

E claro que o simbolismo é uma chatice... Mas move consciências. Qual foi o papel do Verde Eufémia?
Não era marcar a agenda? Não o conseguiu da melhor maneira, mas era uma acção simbólica... O mesmo papel de marcação da agenda, com os devidos ajustamento claro, pode ser aplicado às políticas públicas.
Este é, pelo menos, o meu ponto de vista. E acho que não estou a ser excessivamente pragmático, pois não?

PS: Não disse que o parecer é tão importante como o fazer.
PS2: Boa discussão.
PS3: Adicionei já o presente blog ao www.activismodesofa.blogspot.com
PS4: Para as mentes mais perversas, esclareço que não sou relações públicas do António Costa. Longe disso...
 
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