05 setembro 2007

 

Oedipus Tyrannos


O filme The Graduate (1967) é um registo histórico, pelos actores, pela banda sonora, pelas representadas alienação e conflito de gerações que explodiram mundialmente no ano seguinte. Em 2007 as gerações estão mais tranquilas. Os jovens diz-se que são menos rebeldes (se esquecermos a desobediência civil de Seattle a Silves, e tudo o mais que por ser contra a democracia não merece reportagem). Há quem diga até que são mandriões, dolentes meninos mimados que vivem às custas dos pais. E deprime que o equivalente de The Graduate possa ser Failure to Launch.

A origem do ruído vem da imprensa Americana em torno do fenómeno do "boomerang," filhos adultos que voltam para casa dos pais ou de lá não saiem.

Enquanto os jornais oferecem exemplos, a investigação numérica tem sido encarregada a um grupo da Universidade da Pennsylvannia: The Network on Transitions to Adulthood. (Financiado pela MacArthur Foundation, uma fortuna feito nos seguros, e onde genuinamente se preocupam com os jovens que tardam a assumir por inteiro o papel de consumidores) Em 2005, o grupo publicou um livro: On The Frontier to Adulthood. No capítulo 12, p. 414, "Material Assistance from Families During The Transition to Adulthood", encontramos o seguinte gráfico:



[Young Adults Living with Parents, Proportion Living with Parents v Age, dados do Panel Study of Income Dynamics]Lê-se no movimento vertical das curvas de 1970 a 1990, que mais adultos vivem com os pais. No sumário do capítulo acrescentam os autores que corresponde a um aumento de 50% (dois resumos: aqui e aqui).

Dito isto, há quem contra-argumente que o "boomerang" foi inventado pelos jornalistas. Um demógrafo de Stanford escreveu um livro para mostrar que a tendência é de mais e não de menos independência, com os dados dos censos dos EUA de 1880 até 2000. Um vizinho nosso fez as mesmas contas com dados do Current Population Survey e não vê tendência em qualquer sentido. O grupo de U.Penn. está alerta para a curiosidade popular com os "boomerang", e para os dados contraditórios, e mantem que o fenómeno existe. Sejam casados ou solteiros a preferência por ficar em casa dos pais não se alterou em décadas recentes. Só que há mais solteiros. E há mais solteiros porque casar e arranjar casa, já com a dívida escolar às costas, torna-se cada vez mais difícil.

Algo se passa. E se os censos e os dados de longo período não o denotam não significa que o resto está errado. Uma base de dados não resume a realidade, nem mesmo os censos, e é preciso cruzar evidências, na batalha da produção dos gráficos.

A comunicação social tem insistido com o "boomerang." Até saiem manuais para os pais lidarem com os filhos que regressam. E as narrativas dos adultos em casa dos pais, o matulão a coçar-se enquanto come a papa, parece distrair-nos do essencial: as dificuldades que se avolumam para a juventude, para a minha geração, enquanto nos culpam do nosso fado.

É que eu tenho 29 e não sou mandrião nenhum, mas não tenho casa própria e não tenho emprego certo, e não me chega.



   

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