25 setembro 2007

 

Não os quero ouvir


Só tipos espertos ganham prémios Nobel. Mas Feynman não precisava do Nobel para saber que era esperto, sabia-o antes e sabia-o depois. Ora porque escrevia num formalismo que só os seus alunos entendiam, após dois semestres de esforço e uma triagem dos bons e maus, ou porque era Professor Catedrático de Física, o seu lugar primeiro entre a massa dos intelectos estava garantido.

Feynman era generoso e quis partilhar com a sociedade esse saber essencial, o que serve sobretudo para a exploração espacial e para a implosão nuclear. Escreveu muitos livros. Na televisão, rádio e jornais, foi polémico, divertido e determinado.

Sobre a sua missão social Feynman escreveu em 1959 que divulgar ciência para o público é como ensinar música a surdos. Talvez Feynman quisesse aludir ao prazer da percussão, um dos seus interesses menos académicos. Mais provável é que desabafasse a dificuldade em educar a massa popular, cognitivamente deficiente.

Em 1959, após o voo do primeiro Sputnik e durante o pânico americano que os comunistas os podiam ultrapassar tecnologicamente, o Professor Feyman proferiu e políticos e comunicação social concordaram. A democracia investiu fortunas no jogo intelectual de uma remota elite de virtuosi que agradecia garantindo que a populaça nunca iria compreender os seus sucessos.

Saiu a Física, chegaram as ciências Biomédicas com promessas ficcionais de mundos terríveis e curas milagrosas. Mudou o rosto mas a locução é a mesma. E a democracia continua sem entender em que é que eles gastam o dinheiro.

Comments:
Desculpa lá mas essa tenho mesmo de perguntar:
Quando dizes remota elite de virtuosi que garante que a populaça não compreeende os sucessos,
É uma crítica à classe em geral?

Quanto a dar a entender que a comunidade de física de partículas prometeu grandes descobertas e isso foi mais um elefante branco. Bom eu lembro-te que antes dos anos 50 a base da matéria eram os protões e tal. Faço-te notar tb que graças à necessidade de realizar enormes cálculos matemáticos a própria comunidade impulsionou o desenvolvimento do cálculo computacional e já agora foi no CERN que se desenvolveu a WEB.
Ao que adiciono diferentes ferramentas de cálculo utilizadas hoje em diferentes disciplinas.
Isso parecem-me coisas que as pessoas podem perceber.

É verdade que a maior parte das pessoas não aprende isso na escola e isso de facto tem de ser muito melhorado. E é responsabilidade dos interessados.
Essa crítica de resto alarga-se a todos os ramos da investigação fundamental e da teórica.

Um abraço,
João
 
Joao,

Nao quero dizer que a fisica de particulas e' uma fantastica perda de tempo, nao quero dizer que nao contribuiu em nada para a sociedade.

O que me revolta e' a pedante postura do genial cientista (e ainda tenho que me defender do Lumumba nessa acusacao) que promete curar a sociedade com ciencia. Com demasiada frequencia se admite que a tecnologia vai-nos salvar de todos os males. Igualmente falaciosa e' a ideia de que a ciencia pura e teorica e' responsavel pelo desenvolvimento dessa tecnologia. Como ideologia a ciencia e os seus padres, e' so' marginalmente (por acaso a margem ate' e' grande) melhor que as outras religioes.

Admite-se aqui um elitismo pernicioso. Sobre a ciencia so podem falar os cientistas porque so eles a entendem, sendo que o resto da populacao e' parvonia. E os cientistas exageram para o mundo o que estao a fazer.

Escolhi a fisica porque e' a que tradicionalmente se envolve no manto da genialidade e incompreensao. Mas o problema e' que a ciencia (globalmente) nao se quer abrir para a sociedade.

Abraco com calor de CERN,
A.
 
A ciencia tornou-se dificil de ler desde o inicio do u'ltimo se'culo. E mesmo entre a comunidade cienti'fica e' vulgar ver pessoas a trabalhar sem entenderem no fundo o que estao a fazer. Se ja' a comunidade tem estes problemas, imagine-se o pu'blico em geral...
 
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