16 julho 2007
A vida é uma correria
Provavelmente a mais eficaz metáfora económica é o ciclismo. O seu uso original é de ingrata tradução. "Cycle" (bicicleta) em inglês denota ciclo, como por exemplo um ciclo económico. Foi com esta evocação que a bicicleta entrou no imaginário económico dos anos 30 (ver os cartunes do David Low, em baixo).
Depois, a metáfora ganhou novos adeptos e usos. Nós por cá tivemos um Primeiro Ministro Cavaco, político de superfície e economista de substância, a abusar da expressão "pelotão da frente" para vulgarizar o debate sobre a UE. Nesse uso já não é o isomorfismo semântico, a circularidade ou o pneu cheio e vazio que explicam o sucesso da metáfora, é a corrida. Em apelo nacionalista, que elucida as contradições liberais do nosso Cavaco, deviamos todos pedalar com mais esforço para avançar no ranking económico. Competir é um esforço fisico, manual, laboral.
Não foi o Cavaco que inventou a roda. A economia política clássica (A. Smith e afilhados) entendia a competição como uma corrida, embora a locomoção fosse outra. O papel do capitalista era antecipar os seus adversários. Esta mensagem cultural permaneceu inalterada. A visão económica está fundada numa demarcação de vencedores e vencidos, de rankings e contabilidades, uma infernal Volta (Vuelta, Tour) ao Mundo. E regista assim a sua pobreza. Afinal que desperdício estar sentado nesta bicicleta a correr para chegar a primeiro, olhos fixos na roda do adversário, enquanto as paisagens e as gentes se escapam numa indefinida mancha periférica. É uma péssima forma de viajar.
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