23 julho 2007
Meter água
Primeiro, o óbvio: a Grã-Bretanha é em quase todos os dias de todos os anos, uma ilha. Hoje é um arquipélago de aldeias isoladas, como denota a imagem, consequência de cheias anormais.
Segundo, o controverso: são as cheias anormais por motivos antropogénicos? Os cientistas dizem um “sim” impulsivo, seguido de um “ou sopas”. Estes admitem a possibilidade e sublinham a urgência de a investigar em detalhe, estão disponíveis para receber financiamento para novos estudos.
A modéstia é um valor simpático e delicado mas que não serve o interesse colectivo. A dúvida perante a emergência é negligente.
Mais por retórica do que por epistemologia, os cientistas encenam um enredo de “certeza adiada”. Funciona assim: a ciência é a única certeza. Todas as reclamadas e passadas certezas são véus sobre ideologias e misticismos. E o garante da certeza científica é ser perpetuamente provisória, em fuga constante, no horizonte.
Entretanto, enquanto esperamos pela “certeza financiada”, as águas sobem, as secas sufocam, e as tempestades abanam o mundo.
Comments:
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Como todo o intelectual portugues que se preze sou escravo de um intelectual frances, e convicto critico de todos os meus congeneres. O meu barao e senhor e' Bruno Latour.
Hum... Faz-me lembrar o outro tipo que andava a promover a energia nuclear, e que dizia que as pessoas não estavam dispostas a pagar a energia alternativa, "a verde", porque esta é mais cara no imediato. (Cada vez concordo mais com ele). Se bem te lembras o tipo também dizia que as pessoas só vão acordar quando estiverem a tomar banhos de sol no Canadá... Ou quando em Oxford ao invés duma Universidade tiverem um lago...
Sim, mas ai tambem ha um efeito de voz. E' facil que o empresario, o politico, o sociologo, o jornalista falem em nome do "publico". Ao "publico" nunca lhe e' permitido falar na primeira pessoa. E' um aspecto engracado destas nossas democracias que o homem da rua e' soberano so' atraves de mediacoes e especialistas. O homem da rua so' aparece para gozo e diversao, do genero: "ja leu o Harry Potter?".
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