27 julho 2007
Macacadas
Voyerismo naturalista não me move. Tenho o mesmo interesse na programação do canal Odisseia como pelo Televendas. Por isso o que sei dos Bonobos aprendi pela revista New Yorker. O artigo é uma crónica de um jornalista que toma notas sobre primatologistas que tomam notas sobre Bonobos. (Aos puristas: sei que os Bonobos não são macacos. Sentiram o impulso de me corrigir, não foi?)
Os Bonobos são nativos da densa floresta da República Democrática do Congo. E como outros mistérios do coração africano são um objecto de mitologia. No contraste com os seus primos genéticos, os Chimpanzés, diz-se que o Bonobo não é violento, com uma sociedade matriarcal onde a resolução de conflito se faz pela partilha de alimentos, sexo e mais sexo. Será o único animal além do homem que fornica por prazer, face para face, em posição de missionário e com sexo oral. A descoberta deste desvio à moralidade judaico-crista fez grande furor nos anos 70 e 80, e colocou o Bonobo nos posters dos movimentos gay e feminista. Para justificar notícia, o ensaísta da New Yorker reporta que nem tudo é cor-de-rosa. A nova primatologia revela que o animal é inclemente e sanguinário na caça, mesmo quando a presa é o seu semelhante entre assassínios e mutilações várias.
Depois de descontar a “realidade” recém descoberta, porque a malta antes não sabia o que sabia, ficamos com um défice cultural. Conclui-se que o Bonobo foi feito exemplar de virtude por engano. O entusiasmo publicitário foi promovido por quem queria encontrar na natureza animal um argumento contra a moralidade conservadora. (Sacana da sociedade a intrometer-se onde não devia.)
É para mim dificil entender o fascínio pelo Bonobo. Parece sugerir que nos movimentos progressistas há um recuo: uma busca de uma ordem natural que desautorize a ordem metafísica das religiões. A padralhada evangeliza que Deus criou o mundo como está, os emancipadores respondem que a natureza animal exige novas regras. Aos movimentos da contra-cultura não bastou dizer “quero ser assim” e crer na possibilidade que a sociedade humana é o que inventamos e criamos. É um jeito de ansiedade. É um temor antecipado de que a comunidade de afectos e partilha resulte em desastre. É assim que a liberdade permanece reprimida e vacilante.
Comments:
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Parece que o Frank de Waal so estudou bonobos em cativeiro e forcou um pouco a dicotomia com o chimpanze. Embora quem o diga e' quem quer publicar nova primatologia e ninguem publica concordando.
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