24 julho 2007

 

Imagens


Os anos passam e levam consigo o pudor. Estou disposto a admitir que tenho os meus momentos de peito pesado, ventre contrito e até discreto olhar humedecido. Vou cultivando um apetite por literatura ou cinematografia introspectiva, sagas sobre emoções e a sua anatomia. Todos estes são crimes contra a minha masculinidade e racionalidade. Afinal, nada se aprende com “imaginação.” Este mundo emocional é espectacular e alienante. Verdade?!

Entre as minhas despudoradas obsessões está uma expressão ou expressões que me assombram no seu inglês original: “Live with abandon.” “Make love with abandon.”

Quero traduzir, que é querer anunciar a minha descoberta. Mas o português resiste à conclusão. Será que os portugueses por genética incapacidade linguística não podem viver “with abandon.”

“Abandono” é curto de significado. É o desprezo da casa decrépita, ou do desgraçado descalço à berma da estrada. Devia ser a liberdade heróica e negligente, sem cálculos ou sentido de consequências. Devia ser o movimento total.



A queda livre ou a dança são as imagens que mais reflectem a coragem deste estado de alma. Mas em ambos perde-se a simplicidade e força da máxima no inglês original.



Caramba, sou tão pequeno-burguês!

Comments:
... e estás a precisar de férias, dir-te-ia um qualquer "bem-pensante".

sabias que pensar demais faz mal?
 
De facto, apareceram-me umas borbulhas debaixo do braco mas pensei que fosse do calor...
 
já não se pode mandar uma piadinha foleira, que me respondem com borbulhas debaixo do braço. cena nojenta...
 
Amílcar,

Quando chegar a altura do rebuçado, esse teu fardo (do caramba)pequeno-burguês de certeza que abraçará as forças revolucionárias, da matéria e do espírito (ou da alma como eles dizem) representados na segunda imagem.
Essa segunda imagem é qualquer de fenomenal.
Um abraço!
 
E que tal "viver em entrega"?

Ou ainda "entregares-te à vida"?

Ou até mesmo, "Viver em oferta?"

Ok, nenhuma funcionará em pleno, mas sabes como é, a tradução é um dos meus quirks favoritos.

Amigo Cabral, a racionalidade é importante, mas também o são o instinto e as emoções. Aliás, tenho para comigo que uma das lacunas do marxismo se prende exactamente com isso: é tudo Razão em Marx, tudo se explica por factores "racionais" e os sentimentos, quiçá fraquezas "pequeno-burguesas" das pessoas, são ignorados, menorizados.

Ora, isso, não pode ser. Até a própria razão tem razões que a razão desconhece.

PS - Boas férias, com ou sem borbulhas debaixo do braço.
 
Abraço ao bokassa (sao boas as sugestoes embora um pouco possessionais) e ao "estrangeiro"!
 
Enviar um comentário

<< Home


   

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

   
   
Estou no Blog.com.pt