13 julho 2007

 

Fear and Loathing in Economics


De vez em quando vejo passar uns economistas à porta do blogue a espreitar timidamente cá para dentro. Convido-os a entrar para uma reportagem sobre a infâme profissão económica. Tiro o gorro de A. Cabral e enfio o panamá de Hunter S. Thompson.

Uma livraria de montra ampla brilhando com o colorido das capas é como um obstáculo na estrada. É uma lomba para os pedestres que são forçados a abrandar convidados pela curiosidade. Dois títulos pontificam do outro lado do espelho: Happiness: Lessons from a New Science, e Freakonomics. Depois de décadas de recluso esquecimento há economistas no topo de vendas de livros.

Foi a teoria económica que se tornou popular? Ou foram os economistas que aprenderam a comunicar?

Entre dentes afiados, a revista Economist proclama uma "renascença" e vai dizendo que a teoria económica descobriu os temas da emoção e da irracionalidade. Para trás ficaram as penitentes afirmações da razão e da frugalidade. Quem acha que pouco mudou na Babel do pensamento económico assinala a presença de "heróis renascentistas" como Paul Krugman, que é gigante da teoria e da comunicação pública. Para estes é o charme individual que explica a cor da montra livreira. Ambas as justificações parecem dispensar leitura do texto, a atenção vai ou para o sistema ou para os protagonistas.

Comprei um Freakonomics baratito para fazer a prova e confirmar o sono em noites de insónia. Com surpresa descobri que é legivel e quase me convenci que economistas sabem escrever, não fosse a muleta do co-autor ser jornalista na New York Times Magazine. Quem abre Freakonomics a meio encontra o "paradoxo do traficante de droga." Os autores explicam-nos que na actividade do tráfico só o lider do gangue tem acesso a riqueza e privilégio, enquanto os seus soldados vivem com as mães e recebem menos que o salário mínimo. Contudo, não faltam aspirantes a traficante, enamorados pela quimera de um dia dominar a matilha e ocupar o lugar cimeiro. Para um economista à antiga esta observação seria motivo para um sermão sobre a irracionalidade dos agentes, enquanto permanecia confiante que com tempo o mundo se auto-corrigia. Mas para o novo elenco económico não há utopias mercantis. Basta-lhes contar a estória em termos inesperados, como em improviso. O primeiro tema da peça evoca imaginários sombrios de moralidade ofendida, a criminalidade e o guetto. Mas o economista reduz o ritmo, troca a escala, introduz uma distonia: a criminalidade transforma-se em empresarial e o guetto em praça financeira. Robert Frank no New York Times anotou que a ambição dos seus alunos em serem gestores de hedge funds é semelhante à dos aprendizes de traficante. É de cortar a respiração!

Entre o velho e o novo erege-se a diferença entre ser engenheiro ou ser músico. Lamentavelmente, estes intérpretes são todos maestros. Não abandonam o expresso desejo da ditadura, ao querer suplantar os sociólogos, psicólogos e cientistas políticos na análise social. Sem esse vício de autoridade o improviso seria mais desprendido, e a teoria económica podia ser até ser como o jazz.

Comments:
Há muito tempo aguém escreveu que uma ciência só atinge a maioridade quando assume formalismo matemático.

Podemos também dizer que uma religião só atinge a maioridade quando assume o formalismo matemático e, neste sentido, a Economia é a mais perfeita das religiões.
Como qualquer religião explica tudo e não prevê nada mas, quando o explica fa-lo usando um formalismo matemático de cortar a respiração.
 
Marketing. Acho que há mais marketing no som do que outra coisa qualquer. Com um arranjo pop em torno da escala da teoria dos incentivos. A propósito, gostei da instrumentação do Robert Frank. Crítica detalhada e sintetizada da teoria musical do self interess.

O marketing é mau em si? Há quem diga que sim e há quem diga que não, mas, por mim, prefiro indubitavelmente o jazz à música pop, particularmente os blues.
 
Enviar um comentário

<< Home


   

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

   
   
Estou no Blog.com.pt