14 maio 2007

 

A pureza do comentador


Um peixe é peixe, bicho é bicho e um comentador é um comentador. E aí do audaz que sugira que as baleias são quase peixes, ou que um comentador pode acumular identidades contra o princípio da sua exclusividade.

Daniel Oliveira, aka Arrastão, cometia a transgressão de ser comentador e dirigente do Bloco de Esquerda. Agora que Daniel abandona funções dirigentes no Bloco, explica que:

“Fui gerindo como pude este duplo estatuto, nem sempre fácil e nem sempre justo. Injusto para o Bloco, muitas vezes conotado com as minhas posições públicas, para o qual nunca foi tido nem achado. Injusto para quem me leia, que nem sempre consegue descortinar onde começa a minha opinião e acaba a posição do dirigente político. E até, se me permitem, injusto para mim, tendo que responder enquanto dirigente a polémicas que começo enquanto comentador, e vice-versa.”

Daniel promete que vai “enriquecer” a sua opinião com mais autonomia. Acabou-se a caldeirada de peixe, vai-nos oferecer só peixinho grelhado.

E com esta metáfora de restauração, quero sugerir que visitamos os tascos pelo prato da casa. Visitamos o Arrastão pela iguaria de misturar o compromisso partidário com o convencional exercício do comentário político. É o caldo que nos agrada, com a mistura de identidades, e a incerteza do que se segue. Nessa receita e naquilo que engendra, está muito significado político (e espectáculo, entretém). Escorrido isso temos somente convencionais variações do cânon do comentário político: o indignado alarme, a convicção moralizante, a dramática farpa trocada entre protagonistas da comunicação social, a intriga das liberdades de expressão reprimidas ou libertadas. Há casos em que mais é mesmo melhor.



   

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