09 maio 2007

 

Olhos na economia!


O novo jornalismo económico veio redefinir o discurso público.

Crescem as vendas dos diários: o Diário Económico foi de um share de 0.7 para 2% em sete anos, o Jornal de Negócios de 0.8 para 1.3% em 3 anos. Valores modestos, mas que bastam para assustar os ansiosos diários generalistas, que à pressa editam suplementos de economia para fortificar quota de mercado. E as tabelas de vendas compiladas pela Marktest não exprimem o mais significativo impacto desta nova imprensa. Na televisão, nos blogues, nos debates partidários, a nova consciência de que Portugal é mais que uma sociedade, é uma economia, renova o discurso público.

A “economia portuguesa” emerge como um valor em si, de contornos especializados. Neste ênfase de conteúdo, a liberdade de imprensa revela-se antidemocrática. O discurso económico, mesmo o de tom mais crítico e irreverente, mesmo o mais à esquerda, é exclusivista. É um discurso especializado em arcanas regras, de economia numerológica, e que manda calar quem só conheceu a economia da produção e as suas relações de poder. É um discurso para jornalistas, estudiosos, e gestores, fica demitido quem trabalha.

Todo o discurso sobre a economia, despido da sua aparente neutralidade em descrições numéricas e referências académicas, é comprometido. O jornalismo económico, desde as suas origens no império britânico, é um apologista do mercado livre e da sua narrativa de selva e conquista. Quando os apelos à unidade patriótica se esvaziaram de credibilidade, anuncia-se essa outra ficção unificadora. Esta é uma variante da mitologia estatal. Esta utopia não é a anulação do Estado nacional, é antes a sua metamorfose em Estado económico.

Comments:
Curioso, ainda ontem lia um "bloguer" que viu a sua discussão com um "economista", num blogue de economia, ser apagada completamente. Ao que parece ele acusara o dito economista de falta de neutralidade e rigor ao citar "Think tanks" claramente comprometidos.
Este bloguer sublinhava que se a ideia do economista era fazer avançar a disciplina devia usar a academia e publicações com "peer review" e não blogues e jornais "mainstream". (desculpem os anglicismos mas que facilitam, facilitam...).
Mas, como disse, toda a discussão foi apagada...
 
Quem sublinha essas distincoes, tao dramaticamente, e' porque sabe que sao tenues.

Ha um esforco de distanciar retoricamente e institucionalmente o trabalho academico do publico, porque o trabalho publico precisa da autoridade cientificista da academia, se estao demasiado proximos ja nao a pode reclamar.

E' por demais evidente que os intelectuais mais publicos manobram entre os dois foruns sem grande reflexao ou cuidado, mesticando argumentos: objectividade, moralidade, ideologia. E nao e' por acaso que os intelectuais publicos sao tambem os lideres da profissao academica.
 
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